Undertaker [Hiato] escrita por biazacha


Capítulo 9
Delicioso


Notas iniciais do capítulo

Oi minha gente, estou aqui!
Depois da galera pirar com o fim do último cap, tentei caprichar nesse, mas não sei se ficou legal...
Já que essa cap está super Keaven, tire a camisa de força, saia do manicômio e divirta-se Kiss, pois dedico ele inteirinho a você!!
Boa leitura~~



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No segundo seguinte aos seus olhos se encontrarem, várias questões passaram pela cabeça da menina: “ai meu Deus, devia ter me arrumado para ter alta”, “bem que ele podia estar de vermelho”, “será que pergunto se ele quer comer aqui ou fora?” ou até mesmo “nós dois sozinhos aqui e ele é sempre tão... não Raven, você não pensou sexy!”. Apesar disso, ela continuou imóvel na entrada da sala observando ele sorrir, levantar e caminhar lentamente e com a graça de um felino em sua direção.

Seria um ótimo momento para o telefone tocar ou algo do gênero.

-Oi Raven... como se sente? – sua voz parecia normal, aquele tom que usamos para sermos educados com conhecidos; mas a menina não podia deixar de ver seus olhos, que brilhavam ao fita-la de um modo absolutamente vivo.

-U-um pouco cansada, mas estou bem. – além de ter gaguejado pateticamente, sua voz saiu extremamente baixa e insegura. Ele abriu um sorriso que lhe tirou o pouco fôlego que tinha.

-Sua mãe disse que você ainda iria almoçar certo? – ela confirmou com a cabeça, confusa em relação ao rumo da conversa – Então... o que quer comer?

-Não, de forma alguma! – Raven apressou-se a dizer – Não precisa ir comprar algo para eu comer, você já me trouxe o... – ela se calou no momento em que ele tocou seu maxilar com o polegar.

-O que quer comer? – sua voz macia a afagava, assim como sua mão; ela sentiu-se uma tola por arrepiar-se toda com aquilo.

-Macarrão?

-Você quem sabe. – agora ele segurava a ponta de seu queixo, obrigando-a delicadamente a olhar diretamente para seus olhos.

-Quero macarrão. – murmurou ela, tentando de todas as formas focar em outra coisa.

-Massa logo após sair do hospital? – ele parecia achar graça no pedido dela.

-Se for com molho branco, é light. – disse ela, instantaneamente percebendo, para o seu choque, que estava flertando com ele.

Flertando com Keane Morgenstern no meio da sala dela e com os dois sozinhos na casa.

-Gosta de yakissoba? – ele parecia completamente à vontade, provavelmente porque sabia que estava com a situação sob o seu controle. E é sempre bom lembrar... na casa dela.

-Gosto.

-É mais light que macarrão convencional, com molho branco, vermelho ou de qualquer outra cor. – um risinho doce surgiu no fim da frase; mesmo sabendo que aquilo podia piorar, ela se pegou pensando “ai, ele é tão lindo!” como uma garotinha de fundamental.

-Pode até ser, mas não tem restaurantes do gênero por aqui. Mora no bairro há mais tempo que eu, devia saber disso. – com a sanidade perdida em algum lugar no andar de cima, ela tocou de leve o peito do rapaz com o indicador, com um sorriso irônico no rosto.

-Você quer o yakissoba? – ele tirou a mão de seu rosto para prender uma mecha de cabelo sua atrás da orelha.

-Quero. – o olhar dele ficou mais intenso.

-Então venha. – colocando o braço na fina cintura da menina, ele a guiou até... a cozinha – Me diga onde achar as coisas.

-Vai cozinhar pra mim? – Raven até mesmo perdeu a pose com a constatação.

-Você quer yakissoba, não tem restaurante oriental por aqui, está com fome E cansada. – ele aproximou seu rosto do dela, até ficarem com no máximo três centímetros de distância – Então sim, eu vou cozinhar. Pra nós dois.

-Eu posso ajudar. – sua voz havia sumido novamente.

-E pode assistir. – ele era gentil, mas ao mesmo tempo definitivo; conformada, sentou num banco do balcão que ficava no centro do cômodo e começou a indicar onde Keane encontraria os utensílios e ingredientes; no fim faltavam algumas coisas, mas ele garantiu que poderia improvisar.

Quando supôs que não podia acontecer mais nada, ele tirou a jaqueta de couro que usava e a colocou num canto e começou a abrir os botões de sua camisa. A menina achou que teria uma síncope com a visão da camiseta igualmente preta e um pouco desbotada, justa o suficiente para marcar de leve a musculatura do rapaz. Se pegou mordendo o lábio inferior e disfarçou antes que se entregasse.

Mesmo assim, não pôde parar de olhar fixamente para o corpo dele, já que o garoto estava sempre de jaqueta (ou moletom nas aulas de educação física) e jamais havia visto a confirmação de que ele era tão gostoso quanto supunha.

Raven e provavelmente garota alguma de sua escola.

Ele a flagrou fitando-o de modo no mínimo desejoso e caçoou:

-Por ora eu sou o chef, mas – ele terminou de dobrar as mangas até o cotovelo, revelando braços igualmente definidos – se quiser algo mais – e vestiu o avental que estava pendurado – certifique-se de que tem dinheiro para colocar na minha cueca.

Vermelha até a raiz dos cabelos, ela foi obrigada a rir do comentário e notou, com uma pontinha de satisfação, que ele sorriu com a reação dela.

-Se eu disser que minha mãe tem umas joias de família... elas servem?

-Pode colocar o que quiser, contanto que use as mãos para fazê-lo. – ele deixou-a boquiaberta com essa; de corada agora ela se sentia em combustão.

-Devo lembra-lo de que estou cansada certo?

-Por isso estou oferecendo meus serviços como striper e não michê. – dessa vez ela realmente riu e o clima ficou bem mais descontraído entre os dois.

-Vamos nos ater ao chef ok? – disse ela com um pouco de vergonha.

-Seus desejos, são os meus desejos. – ela o encarou, tentando desvendar o que ele queria dizer com aquilo.

Era em relação à piada ou a vontade crescente que ela sentia de passar as mãos por seus cabelos, arranhar seu abdômen definido e sentir aqueles braços a apertando forte contra si? A garota não sabia dizer, aqueles olhos azuis pareciam sugerir tudo e muito mais.

Perdida em seus próprios pensamentos (que pairavam entre agarrar Keane e se controlar na frente dele com dignidade), quando deu por si ele estava picando os legumes e já tinha colocado água para ferver; percebeu com assombro que ele fatiava os alimentos rapidamente, como os chefs dos programas de televisão, e seu cabelo caído no rosto mexia de leve com os movimentos repetitivos. Ela se permitiu um sorrisinho ao ver como podia ser fofo e sensual ao mesmo tempo – era muito para um cara que nem chegou à maioridade.

Notou também que o garoto murmurava algo bem baixinho, e se concentrando ao máximo, viu que na verdade estava cantarolando; mas isso não é tudo: ela reconheceu a melodia de seus sonhos, aquela canção torturantemente familiar. Antes de decidir se perguntava o nome da música ou não, ele ficou em silêncio.

Observou-o deixando o montinho verde de lado, pegar a carne e corta-la em quatro pedaços, para logo em seguida começar a picotar cada um em fatias bem finas. De suas mãos com dedos longos finos habilmente preparando o almoço, ela seguiu para o avental em sua cintura, seu tronco parcialmente revelado pelo tecido de algodão, o pescoço rígido, o maxilar delineado e os lábios finos com os cantos curvados para cima de modo convidativo e então subiu mais um pouco e passou para os olhos.

Que a fitavam sem ao menos piscar.

Não era um olhar incriminador, sedutor, amável, brincalhão, incrédulo, confuso, amedrontado, carinhoso ou quente... nada disso, era algo além. Predador. Raven sentia como se aquelas íris azuis a examinassem por completo, sem barreiras ou falsas impressões; não era como se ele a desejasse, mas sim como se tivesse a certeza de que fitava algo seu. Se deliciava em cada contorno da menina, aguardando o momento certo para dar o bote – sem cogitar a possibilidade de ela recusar. E ele estava certo.

Aquilo estava ficando realmente perigoso.

-Você está bem? – sua voz parecia mais profunda e madura; em resposta, ela apenas confirmou com a cabeça.

Largando a faca no balcão, ele o contornou deslizando um dedo sob sua superfície de ardósia e indo até o banco onde a figura se encolhia cada vez mais – apoiou as duas palmas na pedra, uma em cada lado do corpinho da garota e observou com satisfação ela se arrepiar com a respiração dele em sua orelha.

-Estou demorando não é? Sinto muito. – disse num tom absolutamente doce.

-Não, que é isso. – a voz falha entregava o nervosismo – Você já trouxe o meu dever, e está cozinhando pra mim, pode demorar o tempo que quiser... – Keane percebia a tentativa dela de descontrair as coisas novamente, mas não dessa vez. Estava na hora de pressiona-la um pouquinho.

-Não, não posso – sussurrou ele em seu ouvido – se isso não ficar pronto bem antes de sua mãe voltar, não vamos poder fazer mais nada. – ela ficou estática como um cubo de gelo; ele usou de toda a sua concentração para não marcar aquele pescoço fino e alvo com os dentes, enquanto ficava quieto tempo o suficiente para ela se dar conta de que ele queria uma resposta.

-O que... poderíamos fazer? – a loirinha nem se deu ao trabalho de disfarçar a hesitação; pelo menos fazia o contrário em relação ao pânico, mas não adiantava. Não com ele.

-Muitas coisas - respondeu o garoto com a voz macia – está tão cansada quanto diz estar?

As mãos dela se fecharam sobre o colo, num gesto totalmente defensivo, mas isso não o impediu de vê-las tremendo; lentamente, a garota virou o rosto em sua direção e seus olhos eram como dois espelhos, de tão arregalados que estavam.

Como seria fácil beija-la, morder aquela boquinha de boneca, tirar seu fôlego, tomar o que por direito é seu... ah, como seria fácil. Mas ele se conteve, embora soubesse que assim como ela, seus olhos provavelmente o entregavam.

-Você não me respondeu. – disse ele, afagando sua bochecha esquerda com a mão direita – Realmente se sente cansada?

Por isso estou oferecendo meus serviços como striper e não michê.” Ele queria uma confirmação? Raven estava em um estágio além do pânico e antes da aceitação, no qual seu interior parecia trincar e vazar algo ardendo em chamas, deixando-a fora de si – mas com as provocações dele não tinha ideia de onde aquilo ia dar.

Por mais que o achasse perfeito, sentia medo; o modo como ele parecia diferente cada vez que ela o via; o jeito como a olhava neste instante, como quem desfruta de um prato particularmente suculento antes de devora-lo de fato e a maneira como ele subitamente se aproximou dela, depois de observa-lo por anos, completamente calado na escola – ela não tinha ideia de quem ele era, tudo o que Keane fazia era ir bem na escola, andar ouvindo música e...

Passar o resto do dia no cemitério da cidade. Não poia confiar nele.

-É claro que estou cansada – disse, com o fôlego renovado depois de se lembrar como exatamente se tornou obcecada por ele – sofri um acidente, passei dias no hospital e perdi um amigo muito querido. – antes que o menino dissesse algo, ela continuou decidida – Agora, o que nós podemos fazer depois de isso ficar pronto?

Ele não a respondeu de imediato; estudou as feições dela com atenção e logo a voracidade em seu olhar foi substituída por algo difícil de identificar, mas que para ela parecia carinho. E orgulho. Mesmo quando tirou a mão de sua face e traço o desenho de seu lábio inferior, ela não se deixou abater.

-Nós podemos – começou ele, sem tirar os olhos da boca dela – conversar até você adormecer.

E então ele a soltou.

Talvez por ironia ou por coincidência mesmo, depois daquilo tudo ficou pronto em menos de dez minutos; o cheiro delicioso a recordava da fome que sentia, a esta altura já convertida em uma dor de estômago desagradável.

Sem perder tempo, ele serviu duas porções generosas para ambos e sentou defronte a ela, observando em silêncio; depois de um instante no qual ela achou que ele iria ir pra cima dela novamente, se deu conta de que o garoto apenas aguardava seu parecer em relação a comida.

Pegando os hashis e se sentindo uma idiota desconfiada e ingrata, ela provou e teve de segurar uma exclamação: para quem disse que iria improvisar, aquele gosto estava idêntico aos dos restaurantes! Ela não fazia ideia de como ele tinha preparado o molho para refogar as verduras, mas estava envergonha demais para perguntar. Se limitou a dizer:

-Está divino, sério! – Keane sorriu, um sorriso amplo e verdadeiro, e também provou um pouco.

-Não é o melhor que já fiz, mas realmente ficou bom. – comentou o garoto despreocupado, fazendo-a estreitar os olhos.

-Bom? Quão bem você cozinha afinal?

-Todos dizem que muito bem, mas novas opiniões são sempre bem vindas. – respondeu ele, recuperando seu costumeiro charme: distante e insinuador.

-Que seja mais um muito bem para sua coleção. – respondeu ela, atacando sem timidez o conteúdo em seu prato. O sorriso dele ainda não tinha se esvaído.

-Você realmente estava com fome hein? – perguntou assim que a menina acabou, deixando o prato quase limpo – Mas não comeu nenhuma cenoura, não gosta?

-Odeio. – respondeu, mas apressou-se a acrescentar: - Mas sempre tenho de separar da minha comida quando minha mãe faz, então não se sinta mal, estava realmente gosto! Se tivesse mais, eu repetia. – ele riu de leve e pegou um pedaço de carne do próprio prato.

-Toma. – disse, oferecendo-o diretamente aos lábios dela; após o susto inicial, ela viu que ele não estava brincando e abriu-os, permitindo que a alimentasse como um bebê.

Ou como dois apaixonados.

Mal acabou de comer, ele bufou e olhou para a janela com um quê de desapontamento no olhar.

-Acho que nossa conversa vai ter de ficar para outro dia. Sua mãe vai chegar.

-Como pode saber? Depende se o caso estiver simples de resolver ou ... – ela mal se deu ao trabalho de continuar, pois o som do motor denunciava que Julia estava estacionando.

-Seus deveres estão na bolsa na sala; pode me devolvê-la depois, sem pressa.

-Ok, obrigada. – respondeu, querendo com todas as forças do seu ser que a mãe dê meia volta e só apareça depois de algumas horas.

-Raven! Cheguei! – a voz histérica dela deixava claro de que as coisas no trabalho iam muito bem.

-Estamos na cozinha mãe! – berrou a filha em resposta.

Em questão de segundos ela estava ali, olhando para o casal de jovens com uma curiosidade nem um pouco disfarçada; erguendo-se do balcão, Keane pegou a jaqueta e encarou as duas.

-Bem, acho que essa é a minha deixa. – disse ele.

-Obrigada por ficar com minha filha enquanto estava fora. – disse a mulher de forma sincera.

-É – disse a menina – muito obrigada. Por tudo.

-Sem problemas. – disse ele – Qualquer coisa, é só passar lá em casa.

Mesmo que cada minúscula parte do seu corpo implorasse que ela o impedisse de ir, Raven o levou até o hall e o observou partir. Quando voltou, encontrou a mãe a olhando de canto no batente da cozinha.

-É um ótimo rapaz, não sabia que colegas seus moravam na vizinhança.

-É, ele mora logo ali. – respondeu, se sentindo cansada novamente – Vou tirar uma soneca ok?

-Vai em frente.

Subindo e refletindo sobre o estranho início de tarde que havia tido, abriu a porta do quarto e constatou, feliz, que não havia nada de anormal lá dentro fora os presentes e mensagens de carinho que ela leria com mais calma depois.

Se jogou na cama, mas logo ficou irritada com seu cabelo se enroscando em seu rosto – com a disposição de alguém com obesidade mórbida, foi até seu banheiro pegar um elástico e conteve um grito.

Ali na sua pia estava a coruja, parcialmente depenada, com a cabeça tombando para trás, as entranhas à mostra e as asas quebrados, seu sangue no chão, no espelho e descendo pelo ralo. 


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Notas finais do capítulo

Não me odeiem... mas acho que no próximo cap o garotão aí não vai dar as caras!
Sei que parece drama, mas recebo bem menos reviews do que o número de leitores; podem apenas dizer se está bacana ou não?
Beijos! (*--*)//