Undertaker [Hiato] escrita por biazacha


Capítulo 29
Conflitante


Notas iniciais do capítulo

Sim estou viva - não estou bem, mas estou viva.


Bom, para quem acompanha ABP, já sabe o que rolou comigo nos últimos meses, mas aqui vai um apanhado:

—Eu estava mal em algumas matérias da faculdade e precisava me focar, então larguei praticamente todas as formas de diversão que tinha. Funcionou, porque passei direto em tudo, mas nunca mais quero passar por um sufoco desses novamente.

—Menos de uma semana depois que entrei de férias (na verdade uns 4 dias depois) eu fiz uma cirurgia consideravelmente agressiva nos dois pés e aqui estou eu com dois cortes de mais de 15 cm em cada um deles e muita, MUITA dor.


Não vou negar, está difícil me concentrar em qualquer coisa por muito tempo por causa da dor e escrever dois caps pras minhas fics levou quase duas semanas - mas achei que vocês mereciam o esforço, pelo menos umas três meninas resolveram me stalkear por aí perguntando quando eu voltava, achei isso muito bonitinho.

Queria agradecer do fundo do coração a recomendação da linda da JulyBOP - se eu fosse minha leitora estaria me amaldiçoando e não elogiando a fic... ainda mais uma leitora nova! Sério, você não tem noção de como eu me senti lendo tanto o review quanto a recomendação, espero que você entenda agora a minha demora... muito obrigada MESMO! Você captou a Ray, odeio as protagonistas que esperam as respostas caírem do céu ou que o mocinho resolva tudo.

Desculpe se não citei mais nenhuma leitora nova, me foquei em escrever e só agora vou responder boa parte dos reviews... mas desde já obrigada pelo voto de confiança.

P.S.: eu aconselharia a ler o cap anterior novamente, mas pra quem tem preguiça, a Ray passou um dia inteiro vendo o Keane fazer absolutamente nada de útil no cemitério... isso até um bicho enorme e assustador, parecido com um grande cão negro, apareceu.

Boa leitura!



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Para sua completa alegria e alívio, Raven teve um sono profundo e sem sonhos; já imaginava o que de péssimo poderia ocorrer no corredor e não se animava com a possibilidade de voltar para ele. Por conta das corujas, sonhou que era perfurada por penas... aquele cão enorme abria possibilidades mais temíveis.

Nos primeiros raios de Sol, tomou um banho muito demorado, onde constatou que seus machucados nas costas já estavam cicatrizados o suficiente para não doerem na água. A vitória só não era completa porque ela imaginava as cicatrizes e o curativo incômodo em sua mão esquerda era um lembrete que ela ainda estava longe de ficar totalmente bem num todo. Ele pinicava, ardia e dificultava tarefas como dirigir, uma metáfora bem interessante de como andava sua vida desde o acidente.

Enquanto se vestia, focou seus pensamentos em coisas mais concretas. Segunda tinha saído mais cedo e com Keane a tiracolo... terça tinha saído mais cedo depois de Becky lhe contar a verdade e acabou o resto do dia enfiada num cemitério. Mesmo em recuperação, ela tinha que criar vergonha na cara e voltar a estudar de modo decente.

Seus pais tinham saído para trabalhar bem cedo, segundo um bilhete ao lado de um prato com ovos e bacon. Porque deixaram a comida pronta se ela teria que requenta-la de qualquer forma era algo que não lhe interessava no momento; sabia que seus pais estavam tratando-a como uma xícara de porcelana que pode se quebrar facilmente e não queria se aprofundar na questão, pois tinha certeza de que acabaria zangada com eles.

Ambos só queriam seu bem... e ela dera vários motivos para que a considerassem fora dos eixos. Mas o lembrete de que conheceria sua nova terapeuta naquela tarde não exatamente ajudou a melhorar seu humor – ela não tinha como desabafar com ninguém sem correr sérios riscos de parar em uma camisa de força.

Com a mente em branco, Raven completou sua refeição de modo totalmente automático: fazer um suco, preparar torradas, cortar um pedaço de bolo, tirar os ovos com bacon do fogo. O torpor era bom, seguro, simples.

Mas assim que se sentou, tudo veio com o peso de uma avalanche: o enorme cão negro, o diálogo improvável entre ele e Keane, o modo como os funcionários do cemitério não viam seu vizinho circulando pelas lápides, as corujas que pareciam se multiplicar, o resultado de sua última terapia...

“Não sentir medo? É a única coisa que faria tudo passar mais rápido.”

Ela mal se lembrava desse sonho, mas o conselho da menininha voltou forte e vívido na sua mente. Era sobre esse momento que ela falava? Raven não negava o pânico, mas não achava que tinha encarado dor e sofrimento, nenhuma provação arrasadora. Se era o momento, estava totalmente bem com isso.

Então se lembrou do modo como aquela criatura bestial disse casualmente que a observava atentamente, até mais que Keane... ela não teria paz, não teria sossego enquanto não tivesse respostas. O que até então parecia a solução de seus problemas se provou a fonte de mais perguntas – ele não fazia nada de revelador no cemitério, mas varava a noite ali cercado por corujas.

Ficou claro que a “visita” do cão era um evento isolado. Mas de todos os dias, ele surgir ali justamente quando ela observava não parecia um acaso. Não, em sua vida não existia mais espaço para o acaso.

Para sua completa descrença, ela se deu conta de que não havia assimilado quase nada do diálogo entre os dois; estava tão aterrorizada na hora que sua mente registrou perfeitamente a figura imponente do cachorro e não o que ele dizia, porém as provocações eram muito claras, praticamente feitas sob medida para ela.

Alguns minutos de conversa entre os dois e ela já sabia que o sonho com Kanel e Ravena não eram apenas um sonho sem sentido, que Keane a observava e o cão também... e o faziam há tempo o suficiente para palpitar sobre sua relação com seus amigos. Keane disse algo como trocar tudo o que eles poderiam ter, mas ela não entendia aquele conceito, ele parecia ter tanta certeza de que ela trocaria algo muito precioso se o rejeitasse que a fazia sentir dúvidas terríveis.

Mais que isso, o cão parecia ter feito as perguntas certas. Ela se lembrava da sensação familiar de seus olhos escuros, profundos e astutos.

Raven sabia que o conhecia.

–Respira Ray, respira... – murmurou ela pra si mesma.

A campainha tocou e ela quase caiu da cadeira com o susto; deu uma rápida olhada para seu café da manhã intocado e outra para o relógio na parede da cozinha. Ela ainda não estava atrasada, mas não tinha tempo pra comer.

Xingando baixinho, foi até a porta e a abriu sem pensar duas vezes. Por fora ela se limitou a dar um sorriso, mas por dentro ela se corroía por ser tão ingênua – é claro que ele apareceria ali do nada como andava fazendo; mal conseguia aceitar o fato de ele entrar no seu quarto na madrugada anterior (ela se recusava a aceitar que ele provavelmente fazia isso sempre) e lá estava ele, alto, bonito, elegante, relaxado, sem nada no olhar que entregasse o quão obcecado e estranho ele era.

Mas isso é o roto falando do esfarrapado, pois Raven também era obcecada e estranha... nos últimos dias, mais a segunda característica do que a primeira.

–Bom dia. - disse Keane com o sorrisinho de canto que fazia a capacidade de raciocinar dela evaporar.

–Oi. Bom dia. Legal tipo... te ver aqui de manhã e tudo o mais. – murmurou ela, para logo em seguida berrar internamente Posso me enterrar agora??!.

Mas ele continuava sorrindo.

–Quer entrar? – perguntou ela finalmente, se lembrando das boas maneiras.

–Não temos tempo. – era verdade; mas isso provavelmente significava que ele pretendia leva-la pro colégio novamente, o que era uma péssima ideia: ela não fazia ideia de como se sentia em relação a Keane e ficar perto dele só a confundia mais.

–Já comeu? – o modo como ele perguntava quase a fazia perguntar se ele já sabia a resposta.

–Na verdade não. – admitiu, com a impressão de que não adiantava mentir.

–Eu também não – respondeu ele – podemos pegar algo no caminho. Onde está sua bolsa?

A garota abriu a boca pra protestar, mas desistiu da ideia; ela sabia que aquela seria uma batalha perdida e tinha a sensação de que deveria guardar seu empenho para quando estivesse pronta para confronta-lo e exigir respostas, pois ela sentia que não seria fácil convence-lo a ceder.

Naquele dia, ambos estavam completamente de preto. Ela usava botas, uma legging e um suéter muito comprido que a forçava dobrar as mangas três vezes. Já ele usava a costumeira jaqueta sob um moletom fino, calças de sarja e Oxford. Nem mesmo os mais maldosos podiam insinuar que eles estavam andando combinadinhos, ou assim ela esperava – sua atuação para cima de Ramona parecia engraçada até então, mas ela começava a se arrepender porque sabia como aquela infeliz invejosa e desocupada podia ser cruel quando lhe convinha.

Raven tinha a impressão de que sair por aí com o garoto que ela queria se encaixava no “quando lhe convinha”. Mesmo porque ninguém acreditaria se ela dissesse que quem inicia a maioria das interações entre eles é ele e não o contrário – nem mesmo Becky e Susan acreditariam.

Durante o caminho ela ficou quieta e abraçada a sua bolsa com força, evitando pensar no dia anterior ou nos vários motivos que ela tinha para surtar com ele ao seu lado – já Keane parecia despreocupado, dirigindo devagar e olhando pelo caminho, provavelmente a procura de algum lugar para comerem.

Acabaram parando num café que John adoravam, o que fez o coração dela se apertar um pouquinho; ela sentia mais falta do irmão do que admitia e resolveu pegar seu favorito em uma silenciosa homenagem. Voltaram para o carro em silêncio, com ela equilibrando os rolinhos de canela e o expresso com creme, pois sua mão machucada não se dava bem com coisas quentes – ele se oferecera para levar as coisas dela também, mas a garota limitou-se a negar a ajuda com um aceno de cabeça.

–Até quando vamos ficar nesse silêncio desagradável? – perguntou ele suavemente assim que começou a dirigir.

–Desculpe, eu só... não tive uma boa noite de sono. – ela dormira como uma pedra, mas não podia dizer “desculpe, estou com medo que seu amigo canino e gigante resolva fazer uma visitinha ou algo do gênero”.

–Entendo. – murmurou ele – Está tão difícil voltar as aulas?

–Bem... é estranho sabe? Eu nunca tinha pensado na minha vida muito bem, mas depois de ver aquele carro vindo na minha direção ando ponderando essas coisas. – soltou ela sem pensar, para logo em seguida se repreender mentalmente; ela nunca se controlava muito bem perto dele, chegava a ser ridículo.

–Você quer dizer o futuro? – ele olhou de canto para a menina, com uma curiosidade evidente na voz.

–A morte. Eu quero dizer a morte. – eles ficaram em silêncio durante todo o trajeto depois disso.

Ela não sabia exatamente o que a levou a falar aquelas coisas, mas agora que as tinha verbalizado, tinha certeza de que estavam pesando em seu peito. Mortes estranhas, corujas, cães, sonhos malignos... Raven tinha a impressão de que uma morte por atropelamento teria sido um presente, algo simples – tudo na sua vida parecera tão sombrio desde então que ela se perguntava no seu íntimo se realmente ainda deveria estar respirando.

Quando ambos desceram do carro, ele parou defronte a ela e a encarou intensamente. Por conta do frio, as pessoas não se demoravam no estacionamento do colégio, mas ela tinha certeza de que alguns tiraram conclusões bem erradas daquela cena.

Organizando os pensamentos, Raven abriu a boca para lhe dizer que esquecesse o que ela dissera, que era apenas uma fase, mas ela interrompeu o ato assim que ele ergueu a mão até seu rosto e o tocou levemente com as pontas dos dedos muito frias. Era uma sensação boa e intimidadora ao mesmo tempo e ela estremeceu.

–Apenas... viva um dia de cada vez sim? – disse ele de modo doce.

No fundo de seus olhos incrivelmente azuis, ela via a preocupação que o garoto sentia, mas antes que pudesse responder ele foi em direção ao colégio, deixando-a sozinha com um mar de pensamentos confusos e conflitantes.


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Notas finais do capítulo

Viu só, até o final ficou mais de boas... seria mancada acabar com suspense no ar.

Beijos!! (*--*)//



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