Newie escrita por Dead Fate


Capítulo 1
Capítulo Único




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Era uma manhã atipicamente fria de outubro...

– Vamos até a banca comigo, Manu?? – perguntou Newie. Fez menção de segurar o braço esquerdo da amiga, mas o soltou rapidamente ao notar a expressão de dor que passou por seu rosto. – E-eu te machuquei? – perguntou preocupado

– Não, imagina. – ela respondeu sorrindo. – Vamos sim, minhas necessidades chocólatras me chamam!

Ele lhe lançou um olhar desconfiado, mas depois riu do comentário, se virou e repetiu o convite para sua namorada, Marcela, que aceitou, colocando-se de pé imediatamente.

A banca de jornal ficava a poucos metros da grande escadaria na qual passavam (todos os dias) os intervalos entre a terceira e a quarta aula do curso preparatório pré-vestibular que frequentavam, de modo que logo estavam de volta ao grupo de amigos que conversava animado.

Mal deu tempo para que os três voltassem a se sentar: o sinal tocou e todos se puseram de pé para retornar às salas de aula.

Manuela os acompanhava em uma caminhada lenta e preguiçosa quando sentiu alguém puxá-la pelas costas do moletom que vestia. Virou-se e deu de cara com Nee.

– Que aula você tem agora? – ele perguntou, parando de andar. Ela parou também. Eles ficavam para trás.

– Inglês, por quê?

– Eu queria falar com você. Tem problema perder essa aula?

– Não, tudo bem.

A porta de entrada do curso se fechou, só restavam os dois.

– Vem comigo então.

Ele a levou até a padaria que havia do outro lado da rua, pediu duas Cocas e se sentou, em uma mesa ao fundo, de frente para ela.

– Fala.

– Por que doeu quando eu encostei no seu braço aquela hora?

– Não doeu, eu só me assustei.

Ele a encarou, ela desviou o olhar.

– Olha para mim. – ela obedeceu. – A gente se conhece a pouco tempo mas você é a minha melhor amiga nesse lugar e uma das minhas melhores amigas em toda a minha vida, você sabe disso. E, junto com a Marcela, a pessoa com quem mais me importo por aqui. Então, por favor, não mente pra mim.

– Eu não quero falar sobre isso. – não era mentira.

– Deixa eu ver então? – ele já sabia do que se tratava

– Não. – estava irritada

– Por favor?

Ele segurou sua mão esquerda e a expressão de raiva que estampava o rosto da garota se transfigurou, dando lugar à dor. Não à dor física, seus olhos naquele momento deixava transparecer algo mais íntimo, intenso, profundo.

Delicadamente, ele subiu a manga do casaco que ela vestia, descobrindo parte de seu braço. Uma mistura de angústia e dor tomou conta do coração de Newie ao ver o braço da amiga como estava: marcado por cortes dispersos. Alguns eram apenas fios prateados trançados na pele, quase completamente cicatrizados. Outros, bastantes recentes, tinham um brilho vermelho e férreo que tendia ao rubi.

Ele então voltou a cobrir o braço da garota, se levantou e sentou ao lado dela. A abraçou.

– O que aconteceu?

– Nee, eu não quero... – ela começou. Era perceptível a força que fazia para segurar as lágrimas que se formavam em seus olhos.

– Por favor, eu quero te ajudar.

– Não tem como você me ajudar.

– Eu posso tentar... Por favor.

Ela lançou um olhar indeciso ao amigo e mordeu os lábios. Uma gota salgada percorreu o curto caminho até o seu pescoço. Ela suspirou, desistindo.

– Eu gosto de um garoto...

– Quem? É do cursinho? Ele fez alguma coisa pra você?

– Ele é do cursinho sim, mas você não sabe quem é.

– Humpf. Mas o que ele fez com você?

– Nada. Pra falar a verdade, até há pouco tempo ele nem mesmo sabia que eu existia...

– Me explica isso direito.

– Eu comecei a gostar dele no começo do ano. Eu já tinha reparado nele antes, mas o via apenas como um menino estiloso, bonito e que parecia ser muito simpático. Mas um dia aconteceu uma coisa: eu estava descendo as escadas e ele, subindo, nossos olhares se cruzaram e...

– E...

– Eu nunca, em todos os meus dezoito anos, tinha me sentido assim antes. Pelo resto do dia eu me peguei sorrindo só de pensar naquilo. - ela o fitava. Sorriu com a lembrança. – Pouco tempo depois, eu estava sentada nos degraus e ele estava conversando com os amigos e ele sorriu e, bom, aconteceu tudo aquilo de novo: passei dias pensando nisso e sorrindo só de lembrar.

“Depois disso, eu comecei a me sentar todos os dias no mesmo lugar, só pra poder vê-lo sorrir. Demorei um mês para entender que eu estava apaixonada.” Uma pausa. “Eu sei que eu não calo a boca quando estou do seu lado, mas é porque eu me sinto à vontade pra falar com você, porque na verdade eu sou muito tímida... Por isso, eu não falava com ele. Eu queria, mas não conseguia pensar em nada que eu pudesse dizer que não me fizesse me sentir uma tonta.”

“Além disso, quando eu fosse falar com ele eu ia acabar ficando nervosa, e com raiva de mim por estar nervosa, e eu sempre choro quando fico com raiva ou nervosa demais, então ia ser tudo um completo desastre!”

Ele riu. Ela compreendeu, ou pelo menos achou ter compreendido, pois achava a situação, no mínimo, ridícula. Só não percebeu que ele, na verdade, tinha achado fofa.

– Mas você nunca falou com ele?

– Falei...

– Então!

– Quer me deixar terminar? – ele se calou – O problema é que depois de uns dois meses assim, eu descobri que ele tinha, e ainda tem, uma namorada! Aquele foi um dos piores dias da minha vida, juro. Eu tinha finamente achado um assunto sobre o qual poderíamos conversar e...

– Qual?

– Eu descobri que ele gosta de duas bandas que eu também gosto: Suicide Silence e Asking Alexandria.

– Jura?!! Eu também gosto delas!!

– Eu sei, Nee... Bom, o fato é que eu estava decidida a falar com ele naquele dia. Eu estava sentada na escada, esperando que ele passasse por mim, quando vi que usava uma aliança no dedo. – lágrimas voltaram aos seus olhos. Ele voltou a abraça-la. – Eu fiquei um tempo encarando as mãos dele, tentando entender como e por que aquilo estava acontecendo... Quando finamente consegui processar todas aquelas informações, saí correndo, me tranquei no banheiro e chorei por quase meia hora. Naquele dia eu fiz o primeiro corte. E eu nem sabia o nome dele.

– Não?

– Não. Eu tinha um nome para ele, como um apelido, e sempre que pensava nele era por esse apelido...

– Você tem essa mania, né? Quero dizer, até você conseguir decorar meu nome só me chamava de Newie! E eu nem sei o que isso significa! – riu. Ele fazia de tudo tentando animar a amiga.

– É... – sorriu – Mas eu já sei o seu nome e você continua sendo o meu Nee!

Ele a apertou em um novo abraço. Aquela garota era muito fofa.

– Mas e daí? Quando você falou com ele?

– Só depois das férias de julho...

– Caramba! Demorou, né?

– É... – ela deu um sorriso triste – A gente acabou ficando muito amigo depois que nos falamos pela primeira vez. E depois de um tempo eu acabei por confirmar a minha tese de ele é muito feliz com a namorada. Ela é muito legal, sabia? Eu gosto dela. E eu descobri que gosto de vê-lo assim, feliz, e acabei me acostumando.

– Não parece. – ele comentou piedoso, lançando um olhar disfarçado para seu braço. Um olhar que ela percebeu.

– Às vezes eu só não aguento... Eu aprendi a conviver com a dor, a abrandá-la nos momentos mais difíceis, mas às vezes ela é mais forte que eu.

Ficaram em silencio. Um minuto se passou. Dois. Já fazia meia hora que estavam ali, as latas de refrigerante ainda cheias. Tinham ainda vinte minutos.

– Ele tem sorte. – disse Newie por fim.

– Hã?

– De ter alguém como você. Sei lá, mesmo que ele não saiba de tudo isso, tem sorte.

– É, pode ser... – respondeu pensativa

– Você nunca pensou em contar para ele?

– Já. Várias vezes. Pra ser sincera tenho vontade de contar toda vez que eu o vejo.

– E porque você nunca fez isso?

– Eu tenho medo de estragar a nossa amizade, de acabar me afastando dele. Eu prefiro vê-lo com outra pessoa, do que perde-lo. Isso sim eu não suportaria.

Silêncio.

– Afinal, quem é ele?

– Já disse, você não ia saber...

– Fala o nome dele pelo menos vai que eu conheço!

– Não.

– Ah, vai, me conta... Por favorzinho? – com um movimento da cabeça, ela negou. – Por que não?

– Você já sabe demais, ninguém nem imagina que eu consiga me interessas por alguém! – ele riu – Viu? Até você pensava assim! – sorriu. – Além disso, eu tenho vergonha...

– Ah, fala sério! Com vergonha de mim? Você mesma disse que se sentia à vontade pra conversar comigo! – ela o encarou. Séria. – Ok, ok. Eu desisto.

Um momento de silêncio. Ele não aguentou:

– Me fala pelo menos como ele é, vai? Eu provavelmente não vou descobrir...

Ela suspirou mais uma vez. Estava tentando evitar aquele momento, mas sabia o que ia acabar acontecendo. Tudo o que podia fazer afinal era torcer para que ele não se lembrasse de conversas anteriores, que não entendesse a comparação que faria...

– Nee................. Você conhece a banda Sleeping With Sirens?

– Sim, lembro que você comprou uma revista com o pôster deles.

– É, essa mesma... O que eu posso te dizer é que... Hum... Bom, não é que ele se pareça, na verdade eles não têm nada a ver um com o outro, mas... É. Foi a primeira pessoa a quem eu o associei quando o vi pela primeira vez... Sabe o cantor? O Kellin Quinn? – ele confirmou com a cabeça – Ele lembra ele...

– Hehe. Eu lembro que em uma das primeiras vezes em que nós conversamos você me disse que eu lembrava ele também e...

Sua expressão mudou à medida que ele repassava toda a conversa anterior e a compreendia. Ao final, ele a encarava surpreso. Ela chorava.

– Manu, eu... Sou ele? – perguntou devagar, a expressão em seu rosto se abrandava.

Ela confirmou. Seu choro se tornou convulsivo. À essa altura, toda a padaria assistia aos dois e às Cocas ainda lacradas na mesa.

– Nee... M-me d-desculpa...

Newie não conseguia responder, estava confuso, tentando encaixar tudo e pensar em algo que pudesse ser dito.

Porém, não teve tempo para tanto.

Ela se levantou bruscamente e foi rapidamente até a porta de vidro do lugar. Antes de sair, se voltou para ele e disse com firmeza:

– Eu te amo.

E antes que ele pudesse chamar por seu nome, ela já havia saído correndo, o rosto encoberto pelas mangas do casaco, e atravessado a rua.

Ou tentado atravessar.

Pois no momento em que estava na metade da faixa de pedestres, um ônibus que vinha em alta velocidade se chocou contra ela, lançando-a longe.

Ele, da porta da padaria, a tudo assistiu e nada pôde fazer, senão correr até o corpo caído a metros de distância, se ajoelhar sobre a poça de sangue que se formava no asfalto, segurar a mão da garota com força e ver a vida deixa-la.

Ao fundo, mulheres choravam, crianças gritavam, ambulâncias era chamadas e uma forte chuva começava a cair.



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Notas finais do capítulo

O que acharam???
Muito confusa?? espero-que-não...!!
Hummm, eu estava pensando em escrever uma Short-Fic com esse dois, o que acham?
Espero que tenham gostado!!!
Beijinhos ;**
Ps.: Desculpem, eu sei que sou uma merda em escrever na 3ª pessoa T_T



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