O resto das aulas passaram voando e como eu dormi em todas, não tive aperreio. Eu não via a hora de ir embora desse inferno. Jade se despediu de mim no final da saída e lá estava o carro me esperando.

— Pela sua cara de quem quer matar alguém, já vi que o dia foi péssimo. – Felipe comentou me olhando do retrovisor.

— Pior impossível. – Comentei e ela riu como resposta.

O caminho de volta pra casa foi tranqüilo e sem transito, vantagens de não morar em Manhattan. Parados no portão de casa tinha dois seres humanos parados falando com o porteiro. Felipe abriu o vidro do carro e perguntou qual era o problema. Os dois seres humanos se viraram e eu quase explodi de raiva. Não era possível.

—Ah não!- o idiota do Jake soltou rolando os olhos.

—Ah não digo eu! O que você tá fazendo no portão da minha casa?

— O dono da casa me pediu para fazer uma visita. – Mais velho e provável pai daquele ser idiota se intrometeu.

—Pra...? – Eu olhei confusa para eles.

—Somos os novos vizinhos e conheço seu pai pelo contato das empresas.

Eu grunhi de raiva. Não acredito que aquele inútil é o novo visinho da mansão da frente.

—Era só o que me faltava. – Eu disse.

—Como? -  Disse o Pai.

— Meu pai não está em casa. Hora errada. – Eu disse ignorante para o mais velho.

Ele me olhou pela janela do carro.

—Olha como você fala com meu pai, sua mal educada!– Jake disse trincando os dentes. O pai dele olhou pra gente espantado.

—Vai se foder, ô garoto! – Eu disse irritada.

—Ei, parou! – Disse o mais velho. – Me desculpe o incomondo, eu vou ligar para o seu pai para saber melhor o horário.

Ele disse e acenou pra mim indo embora. Jake virou as costas e atravessou a rua pisando duro.

— O que aconteceu? – Felipe perguntou incrédulo.

O ignorei e entrei em casa batendo a porta com força. Fui pro meu quarto tomar um banho, desci para almoçar sozinha como sempre. Meu telefone toca e é o meu irmão Sammy me ligando pra saber como estão as coisas, ele estuda na NYU, e mora em um prédio perto, ele é filho apenas da minha mãe, ela o teve muito nova, ele morou grande parte da infância com a minha vó materna, e depois que meus pais casaram ele morava com a gente, mas depois do que aconteceu com minha mãe, ele voltou para morar com a nossa avó e agora ele vive só. Marco com ele de ir na casa dele hoje a noite para jantar com ele e a sua namora Rachel, eles namoram desde o colegial, e são bem nojentos juntos. Depois de desligar o telefone, subo pro meu quarto e vou tirar um cochilo até a hora de sair.

Acordei atrasada, fui me arrumar para sair. Vesti uma calça jeans normal, uma blusa preta lisa, um bota cano baixo também preta com um saltinho, uns colares, passei um pouco de mascara pros cílios um batom cor de boca e desci. Dei de cara com um monte de estranhos, ou quase todos. Lá estava o Jake e seu Pai, Sr. Johnson pai da Miranda, e a Miranda e o pai numa conversa super animada. Quase que eu dei meia volta e ia pular pela janela pra não ter que passar por aquele povo, mas meu pai me viu antes.

— Sophie! – Ele me chamou. – Venha aqui, temos visitas.

Eu sorri falsamente.

—Tô saindo. – Eu disse simplismente.

Meu pai me olhou duro e sorriu. Conheço esse sorriso. Fodeu.

— Sophie, não seja mal educada. Cumprimente as pessoas. – Ele forçou um sorriso calmo.

Acenei com  mão sem fazer muito caso.

— Eu estou atrasada. Bom jantar. – Eu disse apressada. Meu pai fez sinal para eu parar. Argh.

— Filha, aonde quer que esteja indo, não irá mais. Vai jantar conosco hoje. – Ele disse com a voz calma com o olhar me desafiando a desobedecer.

Suspirei tentando ficar calma.

—Eu vou jantar com o Sammy, papai.

—Você pode jantar com o Samuel outro dia. Hoje você irá jantar comigo. – Ele disse firme e eu rosnei de raiva.

— Tenho escolha?- Não podia baixar a guarda tão fácil também. Ela negou com a cabeça.

—Ian, essa é minha filha, Sophie. Acho que vocês se conheceram hoje mais cedo, e vocês dois jovens estudam juntos, certo? Conhecem-se também. – Meu pai fez as apresentações rápidas e eu fuzilava todo mundo com o olhor. Jake me lançou um olhar de divertimento. Idiota. Marta chegou avisando que o jantar ia ser servido e fomos todos para a sala de jantar. Jake fez questão de sentar do meu lado. E Miranda do lado dele. O Ian começou a explicar a ausência de sua esposa, mas eu não dei muita atenção. Mandei uma mensagem morrendo de raiva pra Sammy canelando a janta.

O jantar foi um tédio, Jake e Miranda conversaram o jantar inteiro, as vezes Jake tentava me incluir na conversa, mas eu dava uma resposta atravessada até que ele desistiu de tentar  e me ignorou.  Os mais velhos ficaram jogando conversa fora depois do jantar até que o pai do Jake disse que precisava ir embora.

—... Vamos manter contato, afinal, temos filhos amigos. Isso já é alguma coisa. – Meu pai disse sorrindo para o pai do Jake.

—Eu e essa coisa nunca seremos amigos. – Eu murmurei já irritada e sem paciência para aturar essas chatices.

—Sophie! – Meu pai me repreendeu. Eu ignorei.

—A recíproca é verdadeira. – Jake sorriu falsamente pra mim.

—Jake! – Foi a vez de Ian o repreender.

Fuzilei Jake com o olhar e ele retribuiu. Eu só o conheço a um dia e já o odeio. Bateu um recorde.

Ao sair pela porta Jake me lançou um olhar debochado e soltou um : Mal posso esperar para amanhã.

Como resposta eu o mostrei o dedo do meio. Ela riu e foi embora.

Realmente, esse jantar foi a cereja do bolo para o pior dia do ano. Tudo o que eu quero é dormir e fingir que nada disso hoje aconteceu. Como eu faço com o resto da minha vida inteira.