Nós nos levantamos e pegamos nossas armas. Clove estava com suas facas na mão. Eu estava com a mochila nas costas e a espada no cinto.

- Vamos por ali. Ali tem comida – Ela fala apontando – E também foi pra lá que Marvel andou.

- Acho melhor não, Clove. – Eu falo fazendo careta. – Aquela é a parte mais escura da floresta. É melhor a gente ir para o rio.

- Mas...

- Clove, a gente não pode seguir o Marvel. Se ele viveu, ele vai nos achar mais cedo ou mais tarde. Se ele morreu, nós não vamos atrás da pessoa que o matou. Pelo menos não agora. Katniss tem um arma de longo alcance. Ela pode atirar aquelas flechas de cima das arvores, e quando nós percebermos, nós já estaríamos mortos. – Eu faço uma pausa para respirar e continuo – Eu tenho que te proteger.

- Não sei se você percebeu, mas SÓ UM SAI DAQUI VIVO, CATO! NÃO TEM COMO VOCÊ ME PROTEGER TODA HORA.

- Tá funcionando até agora. – Eu falo.

Ela revira os olhos e se prepara para dá uma resposta a altura quando eu a interrompo.

- Quer saber, esquece. Eu não quero discutir com você. Vamos para o rio.

Ela, mesmo com raiva, me acompanha até o riacho. Enquanto nós andamos, Clove ficava de olho em tudo. Qualquer barulho, qualquer sombra na floresta. Clove queria encontrar Marvel. Eles se tornaram bem amigos aqui. E eu não vou mentir, estava sentindo falta do palhaço, mas tenho que continuar em frente. Nós temos que continuar em frente.

Quando chegamos no rio, conseguimos pescar dois peixes. Nós os limpamos e comemos eles crus. Clove, comia sem dizer nenhuma palavra. Ela estava irritada. Ela estava com medo. Dava para ver isso em seus olhos. Eu conheço Clove mais que ninguém. Eu sei que por trás daquela capacidade de matar friamente, ela ainda é uma garota. Uma garota que sente falta da mãe e que odeia o pai com todas as suas forças.

A historia de Clove é longa. Após a morte de sua mãe em um dos jogos, o pai de Clove, que é um homem extremamente ambicioso, colocou Clove ainda pequena para treinar, na esperança de que quando ela estivesse pronta, ela fosse para os Jogos, ganhasse e trouxesse honra e dinheiro para ele. O ruim era que ela não era boa em nada. O pai de Clove deu as facas para ela, já que era as armas de sua mulher morta. Ele a mandou acertar os alvos, caso contrario, ficaria trancada no quarto sem comer. Clove sempre fugia pela janela e ia pra minha casa. Minha mãe gostava de Clove, então, sempre dava comida para ela. Eu, para ajudá-la com esse ódio e com as miras, mandava ela imaginar que os alvos eram seu pai. Depois de um tempo, ela já sabia atirar tão bem quanto sua mãe atirava. E depois, se tornou uma das melhores do centro de treinamento. Depois que ela mostrou seu potencial como uma verdadeira assassina, nenhum garoto nunca mais fez hora com sua altura ou estatura física. Clove agüentou muita coisa em todos esses anos. E todas essas coisas que ela enfrentou, a deixou mais forte.

- O que nós vamos fazer agora? Já está de tarde. – Clove fala.  Já passara da hora do almoço. Realmente estava tarde.

- Agora nós vamos arrumar nosso acampamento aqui. É melhor você encher nossas garrafas. – Eu falo para ela e é exatamente o que ela faz. Ela pega nossas garrafas, vai até o rio e enche elas. Depois ela se fica de costas para mim e tira a sua blusa.

- Dá pra parar de me olhar? – Ela fala.

- O que você vai fazer? – Eu falo rindo.

- Tomar banho. – Ela fala e depois joga a blusa em mim. – Você não vai virar?

- Porque? Não sei se você lembra, mas eu já ti vi nua algumas vezes.

Ela ignora isso e continua a me fitar. Eu viro e depois escuto um barulho na água. Depois volto a olhar pra ela.

- Satisfeita?

- Você não vai tomar banho também não? Sabe, você ta fedendo muito. – Ela fala.

O pior que é verdade. Meu ultimo banho foi depois da morte de Glimmer. Eu começo a tirar minha blusa e minha calça. Depois, entro na água. Depois que eu entro, ela sai da água e veste a minha blusa e começa a arrumar o acampamento.

***

- Agora sim, você tá cheiroso. – Clove fala rindo e afiando uma de suas facas.

- E quando eu não fico? – Eu pergunto.

- Depois que você treina. – Ela fala fazendo careta. Nós sorrimos.

- Não é verdade...

- Ah, é sim. Você fica com cheiro de suor e é horrível. Às vezes eu me perguntando que os garotos ficavam longe de você pelo seu cheiro ou pelo medo. – Ela fala rindo. Eu rio também.

Depois ela se cala. Ela fica um bom tempo sem falar. O único ruído é dela passando aquelas facas em uma pedra. Eu olho para ela. Ela estava com olheiras, com o cabelo sujo e meio bagunçado, mas mesmo assim, ela estava linda.

O que me tirou atenção dela, foi o hino. Clove, assim que escuta, olha para o céu de uma vez. Ela estava preocupada com Marvel. Não vimos nenhum sinal dele desde que ele foi atrás da magrela.

Mas infelizmente, ele morrera. O rosto dele foi o primeiro a aparecer no céu. Logo depois, o rosto da pequena Rue, a garota do distrito 11. Katniss a matou? Acho que não. Katniss não é assim tão má a ponto de matar uma garotinha. Principalmente porque ela tem uma irmã da mesma idade de Rue. Mas Marvel sim.

- Ele morreu, Cato. – Ela fala. – Eu... Eu to preocupada.

- Nada está saindo como planejado. - Eu falo - Mas vai ficar tudo bem.

Clove bufa e depois volta a olhar pra mim.

- Foi ele, não foi? Que matou a garotinha? Ele já comentou pra mim que já a viu algumas vezes pulando nas arvores, mas disse que não tinha coragem de mata - lá. Até o acidente com Glimmer. Ele disse queria matar as duas. Rue por dar a idéia e Katniss, por executar.

- É. Também acho que foi ele. – Eu falo.

- Sabe o que é mais estranho?

- O que?

- Ele morreu na parte mais escura da floresta. Onde quase não se via o Sol. – Ela fala olhando para mim – Ele tinha razão. A onde ele estivesse, Glimmer estaria com ele. O protegendo. Mas Glimmer, ou o sol, no caso, não tocava aquela área.