Acordei e olhei para o relógio. 7 da manhã. Cedo demais. Tentei voltar a dormir, mas a única coisa que se passava pela minha cabeça era o meu pesadelo. O mesmo pesadelo de sempre. O cara de preto, a casa, a floresta e Kyle me salvando. Esse sonho fica se repetindo durante todas as noites, como se eu tivesse que desvendá-lo, descobrir o que ele realmente quer dizer. Mas o que seria?

Desisti de dormir e fui até a cozinha, onde encontrei meu pai e Meredith no meio de uma conversa.

- Hoje terei que ir trabalhar amor, ficarei três dias fora pois terei uma reunião de negócios em outro estado – dizia meu pai. Sei o que “trabalhar” quer dizer hoje. Um sentimento de repulsa se espalhou dentro de mim.

- Mas você não estava de férias? As minhas começam semana que vem e você vai ter que voltar a trabalhar? – disse Meredith.

- Não, só alguns dias, eles me ligaram e terei que trabalhar nos dias que eles me ordenarem. Mas semana que vem estarei livre para ficar aqui em casa – explicou meu pai. Argh.

Os dois pararam de falar quando notaram minha presença, me desejaram bom dia e Meredith saiu para trabalhar. Meu pai foi até seu quarto para pegar as malas e voltou.

- Não se importa se eu ficar três dias fora não é? – indagou meu pai.

Não me importaria se fosse mesmo para o trabalho.

- Não. – respondi friamente.

- Você tá diferente, o que tá acontecendo?

Não estaria assim se você não estivesse traindo uma mulher que merece ser amada.

- Nada.

- É por causa da Meredith e do Kyle? Olha, eles são parte da família agora, você vai ter que se acostumar. – disse meu pai.

- Tá bom. Tchau. – não era por isso, óbvio. Mas se eu dissesse, ele iria querer saber o porque de eu estar tão fria.

- Tchau filha, te amo. – disse ele me dando um beijo em minha testa. Não respondi. Apenas observei um corpo descer pela escada, e que corpo. Kyle nos deu bom dia e meu pai avisou que iria ter que passar três dias fora, Kyle assentiu e meu pai atravessou a porta de entrada da casa.

Fomos para a sala, Kyle deitou em meu colo e ligou a TV, colocou em um programa qualquer e perguntou:

- Teve aquele pesadelo de novo né?

- Sim, o mesmo. É como se ele estivesse querendo me fazer descobrir o que significa o homem, a casa, minha mãe, você me salvando... mas é impossível juntar tudo isso, apenas... não tem sentido.

- Talvez não tenha sentido, talvez seja só um pesadelo, e como você não para de pensar nele, você vive sonhando isso. – disse Kyle pensativo.

- É, acho que você tem razão. – admiti.

Ficamos em silêncio por um tempo assistindo TV. O tempo estava passando muito devagar, ainda eram 8 horas da manhã. Nada estava me prendendo a atenção naquele programa, era algo sobre uma família que era meio fora do comum, todos eram meio loucos, era muito chato. Foi aí que reparei Kyle me olhando, com cara de sonhador. Olhei para ele e dei um sorriso, que saiu maior do que o esperado. Ele se levantou e eu dei um selinho nele, ele me olhou e me puxou para perto dele novamente me beijando. Ele foi deitando no sofá e eu estava me inclinando sobre ele, em um beijo urgente.

O telefone começou a tocar, me levantei e fui atender. Era Meredith, nos pedindo para tirarmos as roupas do varal e fecharmos as janelas, só aí que percebemos que o céu estava quase preto e um temporal iria começar a qualquer momento. Atendemos ao seu pedido e a chuva começou a cair quando estávamos tirando as roupas do varal. Acabamos e já estávamos ensopados.

 Subimos e fomos tomar banho, eu fui primeiro. Saí do banho e... droga! Esqueci que as nossas toalhas estavam no varal para secar, e as colocamos na lavanderia. Entrei no boxe de novo e chamei Kyle, ele entrou pois sabia que o vidro do boxe era jateado, ou seja, não dava para ver nada que estava atrás dele. Pedi a toalha e alguns segundos depois ele voltou com a mesma, pendurou-a no lugar de sempre e saiu.

Saí do banheiro e ele entrou, me dando um beijo na bochecha. Eu deitei em minha cama pois como tive uma noite muito exaustiva e acordei cedo demais, estava cansada. Kyle saiu do banho mexendo em seus cabelos molhados e desarrumados, com uma calça de moletom e sem camisa (nossa). Ele deitou ao meu lado.

- Cansada? – indagou Kyle.

- Um pouco, tive uma noite cansativa. – respondi. – Por mais que esse pesadelo possa não passar de um simples sonho, eu não consigo parar de pensar nele.

- Isso ajudaria? – disse e me beijou docemente.

- Só um pouquinho – brinquei. – Eu não consigo parar de pensar no que ele falou... “vou te matar do mesmo jeito que matei sua mãe”

- E como sua mãe morreu?

- Assassinato. Mas nunca pegaram o assassino, ele apagou as pistas e fez com que parecesse suicídio, mas a polícia não caiu.

- E você não tem nem ideia de quem possa ser?

- Eu não tenho nem ideia do por que mataram ela. Ela era tão boa, tão inocente, é quase impossível pensar que alguém poderia querer feri-la – eu disse, e uma lágrima escorreu pelo meu rosto.  

Kyle cessou minhas lágrimas (como sempre) e me abraçou de um jeito reconfortante.

- Calma meu amor, pensa: será que não aconteceu algo para que quisessem matá-la?

- Tipo o que?

- Não sei... mas não pensa nisso agora, dorme um pouquinho e vê se para de pensar nisso.

Aconcheguei-me mais nos braços de Kyle e fechei os olhos, pensando no que poderia ter causado a morte de minha mãe. Aconteceu algo para que quisessem matá-la. Ela poderia ter achado algo que a comprometesse? Acho que não. Ela poderia ter feito mal a alguém? Com certeza não. Ela poderia ter descoberto algo?

Não acreditei no que estava pensando. Liguei os acontecimentos e tudo começou a fazer sentido.