POV Kyle

Eu estava um pouco nervoso por ter que falar de um assunto tão delicado assim com a minha mãe. Eu e Chloe nos entreolhamos e eu comecei a falar.

– Mãe, a gente tem que te falar uma coisa.

– Podem falar crianças.

– O Brian... ele tinha escapado da clínica e estava vindo na frente dessa casa, todos os dias, tentando nos observar. Ninguém sabe muito o por que. Mas o importante é que ele se envolvia com drogas e matou a mãe da Chloe. No dia em que ele fugiu, ele viu uma mulher que se parecia com ela e matou-a também. – Meredith estava com os olhos arregalados de pavor, mas eu tinha que continuar. – Brian foi achado hoje e levaram ele de volta á clínica. Querem prendê-lo por assassinato, mas precisamos de uma testemunha da família dele, contra ou a favor, é só para acompanhá-lo. O homem que conversou com a gente vai te ligar depois, ele disse que te leva até o julgamento.– Chloe estava com lágrimas nos olhos e minha mãe também. Não sabia qual delas eu abraçava primeiro.

– Tudo bem... eu vou. – disse Meredith, gaguejando. – obrigada por contarem.

– Se você precisar de alguma coisa... pode falar com a gente. – Chloe disse.

– Tudo bem, obrigada. Podem me deixar um tempo sozinha?

– Claro. – disse, pegando Chloe pela mão e deixando com que ela saísse do quarto primeiro.

A noite já tinha caído e teríamos aula amanhã. Fiquei tentando distrair Chloe por umas duas horas, mas ela não se animou muito. Meredith veio nos avisar que o tal do Mason ligou e disse que iria passar aqui em casa para levá-la para o julgamento, que seria amanhã de manhã. Depois disso fomos dormir, pois estávamos muito cansados e teríamos que descansar para as aulas. Porém, Chloe demorou para dormir, e quase toda vez que ela caía no sono ela tinha algum pesadelo e acordava chorando e gritando.

A noite passou devagar, mas passou. Nos arrumamos e fomos para a escola com Tyler e seu pai. Quando chegamos na escola, várias pessoas olhavam para mim e para Chloe, principalmente para Chloe. Fomos pegar o material necessário em nossos armários, o sinal bateu e fomos para nossas respectivas salas.

POV Chloe

Entrei na minha sala e todos se voltaram para mim. Sentei em minha carteira e comecei a pegar o material da primeira aula, a qual a professora ainda não tinha chego.

– Como foi? Como ele é? Vocês se protegeram né? – minhas antigas amigas me cercaram, cheias de curiosidade.

– O quê? Do que vocês estão falando? – perguntei a elas.

– Não finja que você não sabe. – uma delas se manifestou. – o 9º ano e o 1º colegial inteiros estão sabendo.

– Sabendo do quê?? – perguntava eu, que a cada palavra passava a entender um pouco menos.

– Que você e Kyle estão namorando, e vocês dormem na mesma casa e no mesmo quarto, e que já fizeram... – ela parou.

– O QUÊ? – não pude evitar que o grito escapasse da minha boca. De onde elas tiraram essas coisas? Eu nunca fiz isso. – A gente não tá nem namorando, e olha quantos anos a gente tem, a gente nunca faria isso. – eu tinha que esconder que estávamos namorando, se não elas nunca acreditariam em mim.

– Não acredito em você. – disse outra menina.

– Nem eu. – disseram as outras, quase em uníssono. Eu já estava muito irritada. Odeio quando inventam coisas sobre mim.

– Vocês não precisam acreditar. – comecei. – eu sei o que eu fiz e o que eu não fiz. Eu sei e ele também sabe que a gente não fez isso.

– E qual seria o outro motivo de vocês andarem tão juntos, e de vocês ficarem sozinhos o tempo inteiro naquela casa, e até faltarem das aulas um pelo outro?

– Além de meu irmão ele é meu melhor amigo. – e isso é verdade. Além de irmão e namorado, ele é meu melhor amigo.

Elas fizeram uma cara de deboche, como se não acreditassem em mim.

– Pelo menos vocês estão se prevenindo né?

– Vai se foder. – eu estava muito irritada. Eu não costumava falar palavrão, mas escapou.

Levantei da minha mesa e só aí eu percebi que a classe inteira estava ouvindo a conversa. Entrei na classe de Kyle – o professor dele também não tinha chego, acho que os professores estavam em algum tipo de reunião na sala da diretora, isso acontece ás vezes. – e todos olharam para mim. Cheguei até onde Kyle estava sentado e comecei a falar baixo.

– A minha sala e a sua sala inteiras acham que a gente transou. – parecia que a classe inteira se calou, esperando ouvir nossa conversa. Não me dei o trabalho de mover um músculo.

– Mas não é verdade. – ele disse, de imediato. Ele estava surpreso, dava pra ver pela sua expressão.

– Tenta falar isso pra eles. – aumentei um pouco meu tom de voz. – eles não vão acreditar. As minhas “amigas” – fiz um sinal de aspas com meu dedo, quando mencionei a palavra amigas – me contaram agora. Quem foi que espalhou o boato? – perguntei retoricamente, olhando pela sala. Realmente, toda a sala tinha parado para escutar.

Vi os professores saindo da diretoria, então saí da sala de Kyle e entrei na minha, que era ao lado. O primeiro tempo passou muito devagar, mas até que enfim chegou o intervalo. Por onde quer que iríamos, eu e Kyle atraíamos a atenção de algumas pessoas.

– É questão de minutos pra escola inteira ficar sabendo. – Kyle disse.

– E o que a gente faz? – perguntei.

Kyle não respondeu. Sentamos em uma mesa qualquer, e alguns minutos depois Tyler e Annie chegam. Suspeitei um pouco de onde eles estavam, será que Tyler havia se declarado para ela? Não iria fazer qualquer comentário agora, depois eu conversaria com a Ann. Começamos a conversar quando uma mão feminina vinda de trás de mim coloca um preservativo na mesa.

– Vocês vão precisar, pelo o que dizem por aí. – Savannah tinha um sorriso maldoso.

– Ah, é? Eu sou a vadia da escola sendo que é você que trás uma camisinha até pra escola? – eu retruquei.

– Então quer dizer que você não tem uma? Você tá grávida? – ela aumentava seu tom de voz, e atraía cada vez mais pessoas.

– Cala a boca. – falei entre dentes, me segurando na mesa.

– Vem calar. – falou ela, segura.

Eu não aguentei mais. Levantei de minha cadeira e acertei um soco em sua bochecha. Savannah cambaleou e se ajoelhou no chão, já chorando de dor. Sua boca sangrava. Todo o refeitório tinha parado para olhar, e todos estavam um pouco surpresos com a minha atitude, até eu mesma. Então Savannah se levantou e correu em direção ao banheiro que ficava perto do refeitório.

Segundos depois, o sinal bateu e fomos para nossa sala. Quando estávamos quase chegando, um garoto do 1º colegial passou perto de nós e falou:

– Nossa, ela tá estressada. Isso é o efeito de algum remédio ou é gravidez mesmo? – riu ele e entrou na sala.

Kyle sussurrou um “não liga pra ele, não liga pra ninguém aqui. A gente sabe que gente não fez.” E então corri chorando para o banheiro. Me tranquei em uma “cabine” e deixei que as lágrimas caíssem sem cessar.

Então me lembrei do meu pai, de tudo o que ele me fez passar, coisas boas e ruins. Se todos soubessem tudo o que eu estou passando, o problema é que eu não posso falar o porque Kyle e eu sermos tão grudados, o porque eu preciso tanto dele. Porque no momento mais frágil da minha vida ele está me ajudando, e ele é o único que consegue me fazer sentir bem. Então eu lembrei que teria aula agora, enxuguei minhas lágrimas e fui até a sala.

Quando cheguei, o 1º colegial também estava na minha sala. Não entendi e tomei meu assento. Então a professora de ciências começou a falar.

– Bom pessoal, devido a alguns acontecimentos que eu e os outros professores estamos sabendo, vocês vão ter uma palestra. E o tema é adolescência e sexo.

Todos se voltaram para mim e Kyle.