Outra semana se passou desde que o Kyle foi internado. Ele ainda não tinha saído do coma. Todo dia, depois da escola eu ia lá no hospital e conversava com ele, como se ele estivesse aqui, me ouvindo, e todo dia eu falava como ele fazia falta na minha vida e eu sempre acabava chorando. Toda vez que alguém tocava no assunto na escola, eu não aguentava e desabava em lágrimas. Josh aparecia uma vez ou outra na escola me perguntando como ele estava, e era sempre a mesma resposta. “Ele ainda tá em coma. Parabéns Josh.” Ás vezes, ele também ia visitar o Kyle no hospital.

Eu estava “conversando” com Kyle depois da escola, quando alguém passa pela porta do quarto.

 - Como ele está? Ele vai ficar bem né? – Savannah perguntava entre lágrimas se aproximando do Kyle e tocando no seu rosto.

- Você não veio ver ele desde quando ele entrou aqui, agora você vem toda preocupadinha como se você fosse a namorada dele? Enfia isso no seu... – o médico entrou na sala, poupando minhas palavras que ficaram subentendidas no ar.

- Chloe, posso falar com você? – ele disse.

Olhei para a Savannah que não deu um passo.

- Só nós dois né doutor? Tchau Savannah, gostei de você ter vindo – dei um sorriso cínico.

- Eu não saio daqui! – ela disse.

- Ah é? Você vai deixar ele morrer porque o médico não me contou se o Kyle tá melhorando, mas não vai sair daqui. Entendi. – eu disse e ela saiu.

- Ele tá melhorando né? – o médico demorou um pouco para responder.

- Infelizmente... ele está no mesmo estado que estava quando chegou aqui. Sinto muito. Eu estou cancelando consultas pra ficar aqui vendo como ele está, mas ele não sai do lugar. – uma lágrima desceu pelo meu rosto.

- Tá bom. Obrigada, eu sei que você está fazendo o possível para que ele melhore.

Tyler entrou juntamente com Alexander.

- Oi meninos. Eu vou sair aqui, já que só podem duas pessoas ficarem no quarto. – eu falei.

- Não, podem ficar os três. Mas não contem para ninguém que eu deixei. – o médico disse. Agradecemos.

Nas horas seguintes que ficamos ali, os dois secavam minhas lágrimas carinhosamente, eles são meus melhores amigos, agradeci a eles por estarem me dando força, ficamos lá por mais um tempo, e saímos.

Eu estava sozinha na casa, então Tyler, Alex e Annie se revezavam alguns dias da semana para eles irem em casa para eu não me sentir tão solitária. Como era sexta, não tínhamos aula no dia seguinte, Tyler se ofereceu para ir dormir em casa, então, saímos do hospital, deixamos Alex na casa dele e fomos para minha. Ficamos conversando e rindo, mas nada me fazia esquecer do Kyle. Fomos dormir, eu deitei em uma cama e ele deitou na outra. Então, comecei a pensar na possibilidade de eu nunca mais ver Kyle consciente. De eu nunca mais poder sentir os seus beijos, seus toques, seus abraços, nunca mais ouvir a sua voz. Quando dei por mim, estava caindo em um choro desesperado. Tyler sentou ao meu lado e me abraçou, dizendo que tudo ia ficar bem, que tudo acontece por uma razão.

Ele se deitou ao meu lado e dormimos assim, não tão abraçados quanto eu e Kyle, mas mesmo assim abraçados. Acordamos na mesma posição, ele me olhava. Eu olhei-o e ele depositou um beijo no topo da minha cabeça. Tomamos café e logo Tyler foi embora e ele e seu pai me deixaram no hospital. Fiquei o dia inteiro lá e decidi passar a noite também. O médico já estava acostumado com minhas visitas, então ele me deixara ficar.

Tive minha conversa diária com Kyle e então, me sentei na cadeira do lado dele para dormir. Entrelacei nossas mãos e dormi um pouco, porém acordei alguns minutos depois. A preocupação que eu tinha era maior do que eu esperava, se é que isso era possível. Eu não lembrava mais da minha vida antes do Kyle se mudar para minha casa. Eu não conseguia pensar nele sem chorar, e o pior eram as minhas amigas da classe dizendo “tá, você gosta dele, mas algum dia, esse namoro vai acabar. Não vale a pena se preocupar agora, tem muitos meninos por aí, você garante que ele é o cara certo?”

Eu já estava ficando desesperada pois ele não dava sinal de melhora, eu estava perdendo as esperanças. Talvez todos estavam certos, eu tinha que esquecer ele e seguir minha vida. Mas como eu iria seguir minha vida se ela é o Kyle? Era isso que ninguém entendia. Eu amava ele, e ninguém sabia o quanto.

Enquanto algumas lágrimas escorriam pelo meu rosto, ouvi o barulho da porta abrir. Vi alguém entrar devagar, sem fazer barulho. Logo percebi quem era. Josh. Ele não tinha percebido minha presença pois estava escuro. Então, notei algo de relance, que não tinha visto antes. Ele carregava em uma das mãos um frasco com um líquido transparente dentro. Ele chegou perto do Kyle, abriu sua boca e despejou uma parte do líquido. Cheguei perto dele e dei um tapa em sua mão, fazendo o vidro cair no chão, mas sem quebrar.

Então, dei um soco nele. Ele não podia estar fazendo o que ele estava fazendo. Estaria ele envenenando Kyle? Ele me empurrou na parede e saiu correndo do quarto, fechando a porta sem fazer muito barulho. Notei algo perto da maca de Kyle. O monitor que mostrava seus batimentos cardíacos chamou minha atenção. A frequência de seus batimentos estava diminuindo lentamente. Chamei o médico, que estava naquele mesmo corredor.

Ele estava fazendo de tudo para fazer os batimentos de Kyle voltarem ao normal, mas eles ainda estavam caindo bruscamente. “Acabou”, pensei. “Foi bom enquanto durou.” Chorei desesperadamente enquanto o médico ainda estava lutando contra a morte de Kyle.

Tirei meu colar que se completava com o do Kyle e olhei para minha aliança. Mesmo ele não estando mais aqui, eu iria manter o anel no meu dedo anelar, como se fosse uma lembrança dele. Muito boa. Perfeita. Perfeita até demais. Então, as linhas que marcavam os batimentos cardíacos dele ficaram retas, indicando que não havia mais nada além de seu corpo.

O médico se afastou, olhando para mim. aproximei meu rosto do de Kyle e dei um beijo em seus lábios . O último, mas lembrando do primeiro. Então, algo inesperado aconteceu. Algo apitou e ele abriu os olhos.