Conversando Com Os Anjos escrita por glassmotion


Capítulo 5
Capítulo 5




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“The leaves will fall,

and so will you
when you do bury me under them too.
Seconds pass; we’ll make it through.
Eventually we all go home.
It won’t be long… it won’t be long…

We walk along the wire tied between horizons,
you close your eyes like it’s nothing at all.
Throughout the rise and fall, everything, everything changes,

I will be here when you die.

It won’t be long… it won’t be long,
until we find our way home.”

[Autumn Leaves - Thursday]

~~

            Quando Gerard acordou naquele domingo, a primeira coisa que viu ao abrir os olhos foi o rosto de Frank. Sentado no chão, encostado à parede, abraçando os próprios joelhos, observando Gerard dormir. E assim que o maior abriu os olhos Frank sorriu para ele. “Bom dia.”

            “Bom dia,” Gerard respondeu.

            “Oh, bom dia,” respondeu Mikey, que vinha entrando no quarto. Foi até o irmão. “Como você está se sentindo?”

             “Okay,” disse baixinho, vendo Frank levantar os polegares pelo canto do olho. Frank estava mesmo ali. Não foi um sonho. Talvez estivesse demente, é claro, mas o fato era que ele não foi embora e por isso Gerard era grato.

            Mikey pôs a mão na testa do irmão. “Você está com febre? Acho que você está com febre. Você tem que tomar seus remédios, o médico - ah, mamãe.”

            Donna veio entrando no quarto a passos rápidos, vestida em roupas pretas muito formais. Sentou-se na cama de Gerard e estendeu a ele uma mão cheia de pílulas, um copo d’água na outra. “Aqui, querido.”

            “Tudo isso?” Ele questionou, contando sete - ou oito? - comprimidos diferentes na mão dela. Donna lançou a ele um de seus olhares impenetráveis e Gerard soube que não se discutia com ela. Foi pegando os comprimidos de dois em dois, tomando-os com a água enquanto ela falava.

            “Meu bem, você está se sentindo bem? Dói muito o corte? Bem, então talvez você possa ir. No funeral de Frank, querido - se você não quiser, eu entendo. Oh, Gerard, não faça essa carinha, nós já conversamos sobre isso. Eu sei, eu sei que eles não entendem e que isso é muito triste, e eu não vou te forçar a ir, mas ele era seu amigo e creio que você vai querer estar presente. Mas a decisão é sua.” Ele finalmente tomou a última pílula. “Bom menino.”

            “Não sei, mãe...” divagou Gerard, segurando de volta a mão que Mikey havia pousado sobre a sua.

            “Eu quero ir,” disse Frank do canto do quarto, atraindo o olhar somente de Gerard, já que os outros estavam oblíquos a sua presença ali. “Por favor?”

            “Pra quê?” Gerard questionou a Frank.

            “Ora meu bem,” Donna respondeu. “Será o último momento de Frank entre nós. Um dia você vai olhar para trás e desejar que tivesse ido. Por ele.”

            O rapaz olhou de Donna para Frank, que ainda o encarava com olhos pidões. Sabia que parecia estar olhando para a parede, mas não se importava. O que lhe preocupava era a idéia de estar ao lado do corpo machucado - afinal de contas, a merda tinha acontecido, não importava se ele estava tendo alucinações com Frank perfeito e sorridente ao seu lado. Preocupava-lhe saber que tudo provavelmente estaria vazio, já que Frank não tinha família e pouquíssimos amigos. Mas hey, você o matou, Gerard. Se o garoto quer ir ao próprio funeral, é bom você realizar a vontade dele.

            “Okay, eu vou me vestir,” concordou finalmente, e Frank bateu palmas de onde estava.

            “Muito bem,” aprovou Donna, levantando da cama. “Mikey te ajuda, certo, Michael? Estarei preparando o café, seu pai quer falar com você.”

            Ela saiu do quarto. Gerard sentou-se de lado na cama, a perna engessada caindo no chão com um baque seco. “Vou pegar sua roupa,” declarou Mikey, indo até o closet e sumindo dentro dele. Onde diabos estaria a roupa social de Gerard, afinal? Provavelmente não serviria nele, mas Gerard o deixou ir - precisava conversar com Frank, que continuava sentado no mesmo lugar de antes.

            “Eu disse que ficaria por perto,” Frankie declarou com um sorriso. Parecia tão tranqüilo. Não havia nada negativo nele. Nada. Mais puro do que nunca. Emanando paz e infestando Gerard com ela.

            “Acho que eu devo me acostumar com a idéia de que eu estou maluco,” sussurrou o maior.

            “Hey!” Franziu a testa. “Eu estou bem aqui, eu posso te ouvir, sabia?”

            “Mas...”

            “Você não está maluco. Eu estou aqui. Acostume-se com isso,” retrucou sarcasticamente, e Gerard riu.

            “Sim senhor,” cedeu, batendo continência, incapaz de manter o humor muito negativo. Era como se Frank tivesse poderes sobre ele. Talvez tivesse. Provavelmente.

            “Com quem diabos você está falando?” Veio a voz de Mikey repentinamente. Estava parado à porta do closet, roupas em mãos, uma expressão muito confusa no rosto.

            Gerard suspirou pesadamente e não respondeu.

*

            Quando Gerard chegou à cozinha com Mikey, encontrou os pais sentados à mesa, expressões tão fúnebres como as roupas que usavam. Os dois rapazes se sentaram; Gerard entre a mãe e o pai, Mikey do lado oposto da mesa.

            “Como você está se sentindo, filho?” perguntou Donald, abaixando o jornal.

            “Bem,” respondeu Gerard, assistindo Frank sentar sobre o balcão de mármore da pia com um pulinho, pondo-se a balançar os pés alegremente.

            “Nós precisamos conversar.”

            “Vá em frente,” Gerard murmurou, encarando suas mãos cruzadas sobre a mesa.

            “Muito bem.” O tom de Donald era sério, porém não era ríspido. “Você perdeu sua carteira.”

            Gerard meneou a cabeça em silêncio, reprimindo o amargo impulso de congratular o pai pela descoberta do ano.

            “O consumo de álcool foi inibido,” ele continuou, o vinco em sua testa aumentando. “Nem você nem os outros jovens irresponsáveis dessa festa-”

            “Donald.”

            “Bem, eles são!” explodiu de repente, batendo a palma direita na mesa. Os talheres tilintaram e Donna o encarou. Trocaram uma série de expressões faciais que ninguém mais entendia além de eles mesmos. Donald passou a mão pelo rosto, exasperado. “Certo, desculpe.”

            “Você tem razão, pai,” Gerard disse, ainda encarando as próprias mãos. “Eu sou um imbecil.”

            “Não é,” Frank protestou do canto da cozinha.

            “Não é,” entoou Donna, colocando a mão de dedos longos sobre a do filho. “Você estava tentando defendê-lo. Foi só...” - ela hesitou na escolha das palavras, e Gerard lançou-lhe um olhar cético. “Um infortúnio.”

            “O que você fez foi errado,” Donald voltou a falar, e finalmente alguém fazia sentido naquela mesa, pensou Gerard. “Beber, pegar o carro. Foi errado. Mas todos os jovens fazem merda, e até pior,” ele continuou, suavizando o tom. “Você tentou defender seu amigo e deu azar. Fez isso sem pensar, e foi um erro, mas sua motivação foi de boa índole. Foi uma burrice, mas não foi culpa sua. Você é um bom rapaz, um bom filho.” Donald falava num tom de quem tentava lembrar aquelas coisas para si mesmo, encarando a mesa.

            “Pai...”

            “Uma moça foi estuprada naquela festa. Havia drogas, também. Filhos dos meus colegas...” ele divagou, coçando a testa calva. “Eles mereciam o reformatório. Mas tudo foi encoberto. Uma mão lava a outra...

            “Donald.” Donna lançou a ele mais um olhar silenciador. Voltou-se para Gerard. “O que seu pai quis dizer é que o acontecido certamente foi um evento infeliz e com conseqüências terríveis, e eu sei que você sabe disso melhor do que ninguém. Mas não foi culpa sua e nós estamos do seu lado.”

            A mão de Donald se juntou a deles. “Sim.”

            A vista de Gerard ficou embaçada e ele tentou não piscar, a visão do café intocado ficando desfocada. Não sabia se merecia o apoio da família. De ninguém, na verdade. Era extremamente reconfortante - um puta alívio, na verdade - saber que nem todos o iriam crucificar. Porém, isso não mudava o fato de que Frank estava morto, pelo amor de deus. Ele odiava a si mesmo por ser o responsável pela tragédia.

            Mikey se levantou, deu a volta na mesa e se colocou atrás do irmão. Deslizou as mãos pelos ombros dele e o abraçou, o queixo magrinho contra a têmpora do mais velho, que finalmente piscou os olhos. As lágrimas escorreram e sua visão voltou ao normal,  mostrando Frank ainda no balcão, um sorriso doce colado em seu rosto.

*

            “Isso é ridículo.”

            “Sua aparência é ridícula.”

            “Uau, valeu, Mikey, quais são as outras novidades?”

            Michael suspirou. “Eu não estou falando tipo, da sua cara,” explicou, encarando a pele cheia de pequenos cortes e arranhões do irmão. “Eu estou falando desse gesso imenso.”

            “Eu estaria melhor dentro de um caixão, não é mesmo?”

            Mikey abriu a boca, um som de incredulidade saindo de sua garganta. “Por deus, Gerard, você é tão babaca às vezes,” reclamou, puxando o celular do bolso e afundando-se no assento.

            Gerard balançou a cabeça, mal-humorado. Apoiou o cotovelo no suporte da porta do veículo, o polegar entre os dentes, e observou as ruas passando pela janela.

            Estava num carro de luxo. Um maldito carro preto, com brancos de frente um para o outro e um mini-bar entre eles. Tinha um chofer. Transporte de primeira classe para o cemitério conde havia uma cova, um maldito buraco no chão esperando por Frank.

            Quando Gerard perguntou à mãe pra que diabos arranjaram aquele carro (dois, na verdade), ela disse que era respeitoso e seria mais confortável para a perna engessada dele. Colocou os filhos em um e foi com Donald no outro.

            A casa dos Way era velha, com móveis velhos, gatos de porcelana espalhados por todo canto (os meninos eram alérgicos aos animais de verdade e Donna os adorava). O lugar tinha um ar de porão. Gerard sabia que os pais ganhavam bem. Donald era delegado, Donna tinha dois salões de beleza - podiam reformar a casa e transformá-la em algo parecido com as revistas. Mas não o faziam porque estavam acostumados à casa. Gostavam daquele jeito, sombrio porém acolhedor. Era o jeito dos Way.

            Dessa forma, o carro amplo e moderno estava incomodando Gerard. Tudo era perfeito e polido. Bancos de couro e teto solar. Uma tremenda farsa.

            “Eu gostei desse carro,” Frank declarou de repente, como que lendo os pensamentos do outro. Estava sentado no canto oposto do banco. “Não gostou?”

            Gerard balançou a cabeça negativamente.

            “Ora Ger, é legal. Vamos lá, não seja rabugento.” Gerard arqueou as sobrancelhas. “Vai ficar mal-humorado? Se você não melhorar essa cara, eu vou embora.”

            Os olhos de Gerard se arregalaram e ele balançou a cabeça, fazendo ‘por favor não’ com a boca em silêncio. Sabia que Mikey iria começar a ficar desconfiado se o visse falando ‘sozinho’ - de novo.

            “Então sorria para mim,” Frank pediu, recebendo um olhar de ‘fala sério’ em retorno. “Por favor? Por favorzinho?” Levantou um pouco o rosto e olhou para a ponta do próprio nariz, as pupilas cruzadas finalmente arrancando um sorriso de Gerard.

            “Pára,” pediu o maior.

            “Huh?” veio a voz de Mikey. Gerard se virou para ele.

            “Nada.”

            “Oh, Gee.” Michael largou o celular e pegou uma caixa que estava no canto do banco. Gerard não havia reparado nela antes. Era uma caixa pequena, de pouco mais de um palmo de comprimento e não muito funda. “Mamãe pediu para te entregar.”

            Gerard se esticou e pegou a caixa. “O que é isso?”

            “As coisas do Frankie.”

            Imediatamente Gerard lançou um olhar a Frank, que sacudiu os ombros e fez um bico, obviamente não sabendo de nada. Gerard voltou a olhar o irmão. “Como assim?”

            Mikey já estava mexendo no celular novamente. “O orfanato mandou pra gente. Desocupar espaço, sei lá.”

            Uma faísca de raiva se acendeu dentro de Gerard. Não havia nem 48 horas desde o acidente e já estavam tentando se livrar das memórias de Frank. “E só mandaram isso? E o resto, e as roupas?”

            Michael olhou para o irmão por cima dos óculos. “Foi pros outros órfãos, animal,” declarou com um tom impaciente de quem explica o óbvio. “Roupas, materiais da escola, essas coisas, passaram pra frente. E as coisas pessoais, mandaram pra mamãe. Ela não abriu.”

            Gerard passou os polegares pela tampa da caixa. “O que tem dentro?”

            “Não sei,” Frank respondeu baixinho enquanto Mikey dizia que oi, você não ouviu, a gente não abriu a maldita caixa, poxa, Gerard, presta atenção, você ta bem? Gerard levou o dedo à base da tampa para abri-la, mas parou quando sentiu o motor do carro sendo desligado.

            “Vamos,” disse Mikey, passando por Frank ao sair do carro e quase pisando no pé descalço dele. Gerard imaginou se seria como nos filmes, quando as pessoas passam por dentro de um fantasma sem sequer perceber. Achava que seria assim. Decidiu que não queria experimentar a sensação. Acabaria com toda a falsa impressão de que Frank ainda estava ali. Guardou a caixa no bolso interno do paletó e seguiu Frank para fora do carro, contando com a ajuda do pai para se equilibrar nas muletas e na perna boa.

            Donna olhava firmemente para uma das pequenas capelas. Havia uma fileira delas, feitas para os velórios, e só uma delas estava ocupada. Lotada. “O que diabos...”

            Donald seguiu o olhar dela. “Aquela não é a que nós reservamos?”

            “Sim, e Frank só deveria ser trazido daqui a meia hora,” ela declarou, pondo-se a avançar em direção à multidão. O dia estava chuvoso e a grama molhada, dificultando firmar as muletas no chão. Quando Gerard finalmente alcançou a entrada da capela, sua mãe já discutia com uma mulher em tons sussurrados porém nada suaves.

            “Quem diabos você acha que é?” Donna ralhou. Suas sobrancelhas finas formavam uma única linha sobre seus olhos furiosos.

            A mulher com quem ela falava mantinha o rosto empinado, os imensos óculos escuros equilibrados na ponta do nariz. A roupa dela era obviamente mais cara do que o carro que Gerard... tinha. Antes de virar sucata. “Eu sou a presidente da Associação de Pais e Mestres da Saint Peterson, e acho que a senhora não deveria desrespeitar-”

            Parou de falar quando Donna a cutucou no ombro com força, o dedo fino e forte, a unha comprida machucando a mulher, que abriu a boca, ultrajada. “Escuta aqui, sua perua imbecil, eu sei muito bem o que vocês e seus filhinhos falavam do Frankie quando ele chegou à escola.” A mulher fez menção de falar de novo, mas foi interrompida. “Você estava dentro do meu salão quando a sua filha te contou sobre o novo ‘perdedor frutinha’ que chegou à escola, não lembra? Ahh pois é. Eu escutei tudo, sua cobra, e não me venha fingir que se importava com ele.”

            “O que n--”

            “Eu acho bom você calar essa sua boca colagenada e sumir da minha frente antes que eu te mostre quem é o Way encrenqueiro da família.”

            “Oh snap!” fez Frank, rindo. Donna cruzou os braços daquela forma ameaçadora que assumia quando os filhos se recusavam a arrumar o quarto/tomar banho/comer salada. A outra mulher abriu e fechou a boca algumas vezes, como um peixe, mas desistiu de retrucar. Bufou e deu as costas, desaparecendo no mar negro de falso luto. Gerard não pôde deixar de sorrir.

            “Cara, sua mãe é incrível,” Frank disse, ainda rindo, mãos no rosto. Ele não tinha rido daquele jeito desde que ‘apareceu’. Encantava Gerard, que decidiu que queria ouvir aquele som para sempre, olhando para o rosto sorridente do pequeno.

            “... responsabilidade? Quem contratou o serviço porco de vocês fui eu, e sou eu que estou pagando!” - Donna falava ao celular. “Se sabe, por que receberam ordens de outra - ela poderia ter intenções muito ruins!” Pausa. “Quer saber, vocês vão conversar com o meu advogado em breve.” Ela fechou o celular abruptamente e correu os dedos pelo cabelo de forma exasperada.

            Gerard estendeu uma mão para tocar o braço dela. “Mãe...”

            Donna balançava a cabeça, testa franzida, murmurando para si mesma algo que incluía ‘piranha’, ‘irresponsáveis’ e ‘fingidos’. E alguns palavrões pesados.

            “Diga a ela que eu sou muito grato,” Frank pediu, mãos nos bolsos da calça branca. “Não quero que ela se irrite.” Mesmo que o dia estivesse nublado, a pele de Frank parecia iluminada e sadia como se o sol estivesse brilhando forte no céu.

            “Mãe. Mãe. Você está fazendo o seu melhor, e Frank é muito grato a você.”

            Donna mordeu o lábio fino, olhando para o filho com carinho. “Um menino tão bom,” ela lamentou. Levou uma mão ao rosto de Gerard, acariciando a bochecha arranhada dele. “E você também é.”

            Gerard encarou o piso da entrada, ainda sentindo-se culpado por estar sendo bem-tratado depois do que fez. Continuava achando que não merecia.

            “Bem, eu tenho que ir brigar com alguns idiotas,” disse Donna, se recompondo. Esticou o pescoço, espiando pela multidão. “Seu pai e seu irmão entraram. Frank está lá... se você quiser vê-lo.”

            O queixo de Gerard se travou e ele meneou a cabeça rapidamente, mas o ‘oooi’ que Frank cantarolou para Donna forçou um projeto de sorriso em seus lábios. “Estou pensando, mãe.”

            Ela beijou a testa do filho e se afastou, deixando Gerard na entrada da capela com o fantasma/anjo/espectro/alucinação do rapaz que ele matou. Sem querer.

            Gerard via diversas costas e nucas viradas para ele. Podia imaginar o caixão no centro da capela, algumas cadeiras, pessoas sentadas, acabam cadeiras, pessoas em pé, alunos e pais e professores, todos com óculos escuros imensos para esconder o fato de que quando levavam o lenço de papel para detrás das lentes, não havia uma só lágrima a se secar.

            “Ger?” Frank chamou. Balançava o corpo de um lado para o outro, mãos ainda nos bolsos. “Nós vamos lá me ver?”

            Gerard expirou fortemente, o lábio inferior preso entre seus dentinhos afiados. Queria balançar a perna, mas não dava. “Não sei, Frankie. Acho melhor não.”

            O menor franziu a testa. “Por que não?”

            “Porque pelo que eu sei, você não ficou nada bem e eu não sei se quero te ver assim.” Observou os pezinhos descalços dele. “E porque...” - hesitação medo incerteza isso é ridículo.

            “Porque...?”

            Suspirou. “Eu tenho medo de a gente entrar e...” - os verdes encontraram os avelã. “E você sumir.”

            Frank riu de leve. “Ger, deixa de ser bobo. Eu já disse que não sou coisa da sua cabeça. Eu só vou embora se eu quiser.”

            “E você quer?”

            “Nunca.”

            Gerard meneou a cabeça lentamente, tentando reunir coragem e forças para o que teria de enfrentar. Uma voz no fundo de sua cabeça continuava a dizer ‘não vá, é burrice, é desnecessário, vai te fazer mal’. “Você quer mesmo ir, Frankie?”

            “Sim senhor,” o menor respondeu. “Curiosidade matou o gato.”

            “Gerard matou o Frank,” o outro murmurou amargamente. Odiava-se intensamente por isso. Frankie lançou a ele um daqueles olhares céticos que o faziam sexy - uma sobrancelha levantada, boca puxada para um lado. Havia lançado aquele olhar a Gerard algumas vezes quando era vivo. Todas as vezes, Gerard mordia os lábios e sorria, pensando em como Frank era atraente. Dessa vez, Gerard não sorriu.

            “Okay,” foi tudo o que disse antes de dar meia volta e começar seu caminho por entre as pessoas.

            Por conta da perna quebrada e das muletas, Gerard tinha que pedir licença e abrir caminho para conseguir passar. Isso chamou a atenção das pessoas. O garoto viu uma mulher lendo uma revista de dentro da bolsa, e teve vontade de acertá-la no nariz com a muleta. Reconheceu ali vários rostos - inclusive o de Kevin - num falso luto comandado por etiqueta, tão, tão hipócrita que causava ânsia em Gerard. Tentou concentrar-se no chão, tomando cuidado para não pisar ou apoiar as muletas em ninguém - mesmo que eles merecessem.

            Finalmente chegou ao círculo vazio ao redor do caixão. Onde Frank estava. Morto. Sem vida, sem respirar, prestes a ser enterrado. Frankie morto debaixo da terra, nada plausível, nada bom, não não por favor não, é um pesadelo por favor.

            “Eu não posso fazer isso,” Gerard sussurrou e deu meia volta. Estancou de súbito, Frank em sua frente.

            “Não ouse não se despedir do meu corpo,” Frank disse de forma firme e, pela primeira vez, Gerard pensou ver um lampejo do que parecia mágoa nos olhos amendoados do rapaz.

            Doeu, mas foi uma dor quase reconfortante - aquilo não era uma alucinação. A covardia patética de Gerard não o permitiria confrontar a si mesmo daquela forma (ou era o que ele achava). Frank não era uma alucinação. Frank estava ali, e estava exigindo que Gerard desse adeus ao corpo que ele amou e destruiu. Nada mais justo.

            As dezenas de pessoas na capela observavam Gerard com expressões acusatórias. Algumas tiraram os óculos, relevando maquiagens perfeitamente intocadas e olhos venenosos. Algumas cochichavam entre si. Frank aguardava, braços cruzados. Gerard se virou que pôs-se em direção ao esquife.

            Havia uma imensa coroa de flores atrás do caixão, uma fita indicando que era dos Way. Gerard foi se aproximando, tentando adiar ao máximo o momento de abaixar o olhar, até que não tinha mais para avançar e viu o que tanto temia.

            Era Frank. Mesmo com as mudanças, era Frank, e o corpo de Gerard foi sacudido ao que as lágrimas se formaram em seus olhos já inchados. As muletas caíram no chão, o barulho da madeira atingindo a cerâmica ecoando contra as paredes. Levou as mãos ao rosto; quis enfiá-las na boca. Quis desviar o olhar. Forçou-se a mantê-lo firme.

            Havia dois cortes que pareciam fundos no rosto de Frank: um na têmpora direita, outro saindo da curva do nariz e descendo até bem perto do lábio superior. Ambos costurados com linhas transparentes. Gerard contou doze na têmpora, sete sobre o lábio. Vários arranhões superficiais. O cabelo penteado para frente, como Frank o fazia quando vivo - Gerard imaginou quem haveria informado isso à artista funerária -, a franja falhando em encobrir completamente uma trilha de grampos metálicos na lateral da cabeça do pequeno, usados para fechar o crânio partido.

            O rosto de Frank estava um pouco mais redondo que o normal. Gerard tristemente imaginou se haveria algodão na boca dele. Esperava que não; achava isso horrível. Frank estava vestido com uma camisa preta e uma gravata lilás, um lenço da mesma cor saindo do bolso. Um suporte plástico transparente saía do colarinho da camisa, discretamente evitando que o maxilar de Frank se abrisse - definitivamente menos ruim que o lenço que haviam usado para amarrar o queixo de vovó Elena alguns anos atrás.

            O caixão em que Frank estava era pequeno como ele, feito de madeira escura, anjos de gesso pintados à mão decorando as bordas, babados de seda sobre o travesseiro macio. Ambos os garotos sabiam que, em vida, Frank nunca esteve em nada tão luxuoso. Amarga ironia.

            Gerard enxugou os olhos com a manga do paletó.

            “Eu queria que tivessem feito em preto,” veio a voz de Frankie-anjo/fantasma/espectro/não-alucinação. Estava parado do outro lado do esquife, olhando para sua versão Frank-morto com uma expressão insatisfeita. “Sabe, os pontos. Para que eu pudesse ser Frankenstein.” Levantou o olhar para Gerard, um sorriso infantil no rosto.

            “Acho que eu prefiro você assim,” respondeu, não podendo evitar sorrir em retorno às observações despreocupadas de Frank. Olhou mais uma vez para o rosto ferido, a visão já não tão horrível. A maquiagem bem feita estava decerto funcionando.

            O olhar de Gerard caiu então sobre as mãos de Frank. Cruzadas de forma serena sobre o peito. Uma delas tinha a pele costurada onde houve uma fratura exposta. A outra tinha a luva que ele usava sexta-feira.

            “Você tinha que ver,” Gerard cochichou a Bert na escuridão secreta do corredor. Pensou na visão que estava mantendo seu corpo excitado como o inferno. “Ele sem camisa, abotoando o jeans com as luvas ainda nas mãos...” Suspirou, mordendo o lábio, o gosto de Frank ainda em sua boca. Doce. “Bertie, eu acho que eu amo esse garoto.”

            “Eu também. Por favor, me faça um vídeo da próxima vez.”

            Sem pensar duas vezes, Gerard seguiu o impulso de levar sua mão às de Frank. Tocou-o com a ponta dos dedos. Estava gelado. Gelado.

            “Hey,” chamou Frankie-anjo. Tinha a mão esticada e a encarava com a testa franzida. “Eu-eu posso sentir isso.” Olhou para Gerard, parecendo animado. “Eu senti isso. Eu posso sentir você.”

            “É?” Seu olhar ia de um Frank para o outro, um sorriso exibindo os dentinhos afiados, polegar acariciando a mãozinha fria.

            “Gee?” - Tão, tão doce. “Por favor?”

            E não foi preciso Frank pedir duas vezes, sequer explicar o que queria. A vontade dele se manifestou dentro de Gerard, juntando-se aos pensamentos que já corriam dentro de sua própria mente. Ninguém mais existia para eles quando o corpo de Gerard foi se abaixando, cabelos escorregando, mãos sobre as de Frank. O cheiro de formol passou despercebido quando os lábios se juntaram.

            O mundo não girou, sinos não tocaram, o pesadelo não terminou, Frank não voltou dos mortos. Apenas os lábios pálidos de Gerard contra a boca rígida e fria de Frank. A boca de Frank. Pela última maldita vez.

            A perspectiva da situação voltou a atingir Gerard como um tijolada na face. Ele afastou seus lábios dos de Frank numa vagareza dolorosa, sua mente sequer registrando o burburinho de vozes ultrajadas ao seu redor. Fitou o rostinho machucado - agora manchado pelas lágrimas que haviam caído dos olhos verdes. Roçou a ponta do nariz arrebitado contra o de Frank - íntimo, doloroso, o carinho mais leve que poderia alcançar. Quis dizer alguma coisa, tanta coisa, mas permaneceu em silêncio. Apenas pensou. E Frankie sabia como ele se sentia - tanta dor, tanta culpa, tanta lamentação...

            Gerard se moveu lentamente, pousando um beijo demorado na testa do pequeno antes de pegar as muletas no chão e começar o caminho para fora da capela.

            As pessoas não se incomodaram em manter a voz baixa ao blasfemar contra Gerard. Ele não se importou. Não se importava com mais nada. Não sentia nada. Nada.

*

            Onze túmulos separavam o local de onde Gerard estava sentado da cova onde enterrariam Frank. Um grupo o trazia, já na metade do caminho entre a capela e a sepultura. O caixão, agora fechado, era carregado pelos garotos do time de futebol.

            “Sabe o que é muito engraçado?” disse Frank, sentado na lápide de mármore ao topo da sepultura onde Gerard estava. Tinha um cotovelo apoiado no joelho e o queixo descansando na mão, entediado.

            “O quê?” - tragou de seu cigarro, não se importando com os pais por perto. Ele já tinha matado um garoto, que bronca um cigarro poderia trazer?

            “As poucas pessoas que se importavam comigo estão tentando ficar positivas,” falou devagar, como se o pensamento só estivesse lhe ocorrendo naquele momento. “E aquele bando de gente que não gosta de mim, barra, não me conhece, estão fingindo sofrer horrores porque eu morri.”

            Gerard aquiesceu. “É sempre assim, a dinâmica dos funerais. Quando vovó morreu, minha mãe teve que ficar consolando a sobrinha-neta que nem conhecia a gente. E ficou fazendo comida pra todo mundo o dia inteiro.”

            Frank riu. “Tipo uma festa, só que todo mundo de cara feia.”

            Tragou novamente do cigarro. “Puta festa bacana.”

            “Tinha uma mulher lendo uma revista lá dentro.”

            “É, eu vi.” Quis dar uma facada na vagabunda.

            “Ela estava lendo” - risada infantil - “’23 formas de alcançar um orgasmo sozinha’.”

            Uma risada ecoou na garganta de Gerard - longa, ritmada, atípica: ha ha ha ha. “Bert poderia ensinar a ela mais 20.”

            “Falando nele.”

            “Hey boneca,” veio a voz de Robert mal Frank terminou de anunciá-lo. Subiu na sepultura em que estavam, sentando-se atrás de Gerard e o abraçando. Beijou-lhe a têmpora. “Desculpe o atraso, isso era pra estar começando agora.”

            Gerard pousou uma mão sobre as de Bert, que estavam cruzadas sobre seu peito. “É, minha mãe ficou bem puta com a empresa.” Inclinou-se para trás, deixando o corpo relaxar contra o do amigo, um descansando a cabeça no ombro do outro.

            Frank sentiu ciúmes, mas ficou quieto.

            “E como você está se sentindo?”

            “Fabuloso,” Gerard respondeu ironicamente. Jogou o filtro do cigarro na grama. Olhou para Frank, que os observava em silêncio. Desejou que fosse ele segurando seu corpo. Fechou os olhos e fingiu. “Eu o beijei.”

            “É, eu fiquei sabendo.”

            “Surpreendente.”

            “Hey, Ger.” Moveu o queixo sobre o ombro dele. “O Jeph falou que você disse ‘eu acho que prefiro você assim’ pro Frankie.”

            “Eu não--”

            Ah.

            “Falou sim,” disse Frank, mas Gerard já havia lembrado.

            “Bert, não é o que estão pensando.”

            “E o que estão pensando é o mesmo que eu pensei quando te vi falando sozinho?”

            Gerard suspirou, frustrado. “É complicado,” foi tudo o que disse, observando a copa da árvore sobre eles. As folhas alaranjadas começavam a cair.

            “Não estou julgando.”

            O grupo em negro havia chegado à cova de Frank, e posicionavam o caixão enquanto um padre falava algumas coisas. Frank estava dentro da caixa de madeira. Frank estava ao lado de Gerard.

            “O Frank--” - não, espera, ele vai achar que você está louco. Reformulou. “Eu sinto como se ele estivesse sempre ao meu lado, sempre.”

            Bert fez um bico. “Sempre tipo desde antes da gente conhecê-lo ou sempre tipo desde que ele morreu?”

            “Ambos,” Frank disse com um sorriso orgulhoso.

            “Ambos,” entoou Gerard.

            “Hm. Vai ver é por isso que vocês se deram tão bem logo de cara.”

            De fato, Gerard havia estranhado seu próprio comportamento e sentimentos em relação a Frank antes da tragédia acontecer. Desde o primeiro dia, sentia como se sua afeição pelo garoto fosse algo antigo e trabalhado, sempre tão familiar, tão adorado, o encaixe entre eles parecendo perfeito - físico, psicológico e emocional. Talvez aquela história toda fizesse sentido. Talvez Frank estivesse mesmo ali, um anjo. Nunca notado a princípio, presente em carne depois, e finalmente intocável no atual estado.

            “É. Vai ver foi isso.”

            Caíram em silêncio. Ao longe, o esquife de luxo era lentamente abaixado para dentro do buraco, desaparecendo por trás da grama frondosa. Era definitivo. A terra sendo jogada - terra, sobre Frank, ele estava lá dentro... somente quem já passou pela dor de ver alguém que ama ser enterrado sabe como é a sensação. O mais puro horror diante da impotência de mudar o fato de que aquela pessoa que você amou já não passa de um pedaço de matéria, apodrecendo e se decompondo aos poucos. Alguém que lhe foi tão importante não vai fazer diferença pro mundo - vai somente virar adubo para a terra do lote, transformando o lugar da morte num jardim cheio de vida, regado pelas lágrimas daqueles que permaneceram vivos para sofrer as perdas.

            Lágrimas que Gerard se recusou a derramar. Por mais que o nó em sua garganta o estivesse machucando, ele estava cansado de chorar. Permaneceu com o rosto franzido, Bert atrás de si, Frankie sentadinho ao seu lado. Os três garotos assistiam à cerimônia do suposto fim de uma vida - vida fortalecida pelo amor espiritual que tumba nenhuma seria capaz de enterrar.

            **

            Gerard tentava enfiar uma régua dentro do gesso em sua perna. Uma coceira horrenda dominava a área detrás de seu joelho. Aquilo nunca havia coçado antes. Somente agora que o local era inalcançável, a pele dele cismou de fazer parecer que duzentas formigas passeavam por ali.

            “Maldito - urrrgh,” ele esbravejou, falhando em conseguir coçar a pele e perdendo a régua dentro do gesso.

            “Eu te avisei,” Frank disse, rindo, sentado em cima da cômoda. “E não adianta fugir do assunto.”

            Gerard se jogou de costas na cama, seu torso nu exposto, curativo do lado esquerdo protegendo o corte. “Frankie, sinceramente.”

            “Qual o ponto de não ir?! Você vai perder a vaga na faculdade por nada,” ponderou o pequeno. “E além do mais, eu quero tentar umas coisas por lá com aqueles bobocas.” - Gerard levantou o rosto, encarando o outro com uma sobrancelha levantada.

            “Tentar o quê?”

            Frank crispou os lábios e balançou os ombros. “Sei lá. Alguma coisa do tipo Ghost.”

            “Ew.”

            “Noite dos mortos vivos?”

            Gerard refletiu um momento. “Você não é um zumbi. Acho que Ghost cai melhor.”

            “E é mais romântico,” concluiu com um sorriso, mas Gerard não ficou satisfeito.

            “E você está planejando coisas românticas por um acaso?” Perguntou de forma pedante, encarando o teto, uma mão caída sobre a testa.

            Frank riu. “Não seja ciumento, bobo. Quero ver se consigo assustar alguém.”

            “Achei que você não fosse um fantasma.”

            “Não sou!” Pulou da cômoda - seus pés não fizeram barulho ou causaram impacto ao pousarem no chão. “Não sei se eu consigo, Gerard, só quero tentar.”

            O mais velho se sentou na cama, as penas estranhamente posicionadas - uma esticada com o gesso, a outra dobrada para fora. “Tente me tocar então.”

            Frankie ficou parado. “Não dá.”

            “Você nem tentou.”

            “Não posso.”

            “Tenta.”

            “Não, Gerard.”

            “Frank.”

            “Agora não,” disse de forma definitiva. Deu as costas e foi até o closet, sentando-se sobre alguns sapatos no chão, emburrado. “Não teima comigo.”

            “Ótimo,” Gerard retrucou, mal-humorado. Jogou-se de volta na cama, a coceira evanescendo.

            Frank suspirou. “É que nem... se tiver uma fogueira na sua frente. Você não vai enfiar a mão dentro dela.”

            Gerard riu. “Talvez eu enfie.”

            “Gerard. Eu estou tentando te explicar, caramba. Você sabe que não é pra você enfiar a mão no fogo, porque você sabe que vai dar problema. Ninguém precisou te contar isso... você simplesmente sabe.”

            “E você sabe que se você tentar me tocar vai dar merda?”

            “É, mais ou menos isso.”

            De súbito, Gerard se sentou novamente e agarrou um lápis de sua mesinha, enfiando-o no gesso - dessa vez, na parte da frente. “Bem, você volta lá pra de onde você veio - só uns dois minutos, daí volta pra mim - e diz pro teu chefe que ele é um puta de um babaca.”

            Frank lançou a ele um olhar de mãe. “Bonito.”

            Revirou os olhos. “Que seja.”

            “Você vai pra escola amanhã ou não?”

            Gerard fez uma careta, aumentando a velocidade dos movimentos com o lápis dentro do gesso. Coçou freneticamente por uns três segundos antes de soltar um ‘ah’ e parar os movimentos, olhando preguiçosamente para Frank. “Tudo bem, eu vou. Mas ai de você fazer o que não deve, Frankie, eu estou te vigiando.”

            “Nossa, sério?” Frank retrucou com ironia, lembrando que alô, Gerard, só você pode me ver. Gerard mandou-lhe o dedo. Frank esticou a língua. Gerard jogou o lápis nele - passou perto, mas não acertou. Frank riu e caiu de costas.

            “Gee?” veio uma terceira voz, de fora da porta. Era Donna. Ela abriu a porta e enfiou a cabeça para dentro do quarto. “Filho, você está bem? Está sentindo dor, quer seus remédios de uma vez?”

            “Nah, mãe, obrigado.” Pegou uma canetinha no mesmo lugar de onde tinha tirado o lápis e pôs-se a desenhar no gesso.

            Donna o encarou por mais alguns segundos. “Você quer ir lá pra baixo ver um filme? Quer que tragamos o DVD pra cá? Ou quer ligar para Bert? Você não deveria ficar sozinho agora, Gerard.”

            Ele não levantou o olhar para responder. “Eu não estou sozinho.”

            Donna meneou a cabeça lentamente, preocupação roendo seu coração. Ela fechou a porta e se foi sem dizer uma palavra.


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