All I Need escrita por Luce


Capítulo 6
Chapter 6 - Broken Angel.


Notas iniciais do capítulo

Queria agradecer a Isaa Salvatore pela recomendação. Muuuuito obrigada! Eu AMEI! ♥
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- Segundo vítimas do ataque dessa quinta-feira, a noite passou-se em branco. Dianna Michigan disse que estava em um bar próximo quando isso aconteceu e ouviu gritos. Quando saiu para fora do local, nada mais lembrou. Segundo a polícia de São Francisco, o ataque foi, provavelmente, animal. As vítimas foram mordidas nos pescoços e algumas extensões dos braços. Novas notícias sobre esse caso vão ser divulgadas assim que a análise do corpo da única morta, Lily Stone, for concluída.

Minha mente fazia uns cálculos consigo mesma depois do que acabara de passar na televisão. Já havia ouvido isso antes, aqui mesmo em Mystic Falls. É claro, não era ataque animal. Era nada menos do que a espécie em que eu pertenço agora: vampiros.

Por um lado, minha mente dizia que só podia ser uma pessoa: Damon. Por outro lado, ela dizia que podia ser qualquer um, já que existiam milhares de vampiros nos Estados Unidos e no resto do mundo.

Meu celular tocando tirou-me dos pensamentos. Peguei-o em cima do sofá da sala e atendi. Era Bonnie.

- Oi Elena. Será que podemos conversar? – Ela falou as palavras o mais rápido possível. Franzi as sobrancelhas, desliguei a televisão e corri para as escadas, sem força de vontade.

- Hm. Certo. Onde nos encontramos dessa vez? – Perguntei enquanto ia para meu quarto.

- Bem... – Ela começou, mas parecia tentar escolher as palavras. – É melhor ser em um lugar calmo. Estou indo para sua casa agora mesmo. Fique aí.

Bonnie desligou o celular. Ela estava nervosa.

Não era como se estivéssemos “tudo bem” depois do ocorrido daquela noite. Bonnie, na verdade, começou a pegar no meu pé. A cada lugar que eu ia, ela ia junto. Era impossível passar um dia sem ver Bonnie e eu diria que ela estava tentando agir como uma mãe. Quer dizer, eu não estava reclamando de sua companhia. Eu gostava de ter alguém como ela por perto, mas era diferente. Ela me encarava diferente e nossas conversas não eram como há algum tempo atrás.

Suspirei e desci as escadas, desistindo de procurar um casaco. Sentei-me no sofá e, alguns segundos depois, a campainha tocou. Levantei e corri até a porta, abrindo-a e revelando uma Bonnie com a respiração ofegante. Dei espaço para que ela entrasse e assim fez, porém eu não perguntei o que havia acontecido. Segundos depois, ela se virou e me encarou. Espremi os olhos em dúvida. Ela desviou os olhos e sentou-se no sofá, sem falar sequer uma palavra.

Estranhei no mesmo momento. Sentei-me ao seu lado e encarei minhas mãos. Não sabia se deveria falar alguma coisa, mas apenas fiquei calada. O clima ali começou a ficar tenso e, quando decidi dizer algo, Bonnie foi mais rápida.

- Vou precisar fazer uma viagem. – Ela finalmente falou. Arregalei os olhos para ela e quase gritei as próximas palavras.

- Uma viagem?! Bon, como assim?

- Não pergunte. – Ela revirou-se no sofá. – É... Complicado.

- Complicado? – Levantei as sobrancelhas. – Tenho ouvidos. Conte-me.

Pude sentir sua respiração desacelerar e ela revirar os olhos para um ponto no chão. Ótimo. Bonnie provavelmente iria inventar uma mentira. Eu a conhecia muito bem e sabia disso.

Porém, nada foi dito. Me surpreendi com isso e puxei o seu pulso, fazendo-a olhar para mim.

- Bonnie, tem algo a ver com o ataque em São Francisco? – Ao lembrar-me disso, parei de piscar. Ela bufou e voltou a revirar os olhos, mas, dessa vez, levantou-se e começou a andar por todos os lados da casa. Fui até ela.

- Sim, Elena. – Ela respondeu. – Você viu isso?

- É, eu vi. – Cada segundo que se passava eu ficava mais confusa e atenta as palavras.

- Então sabe que não é um ataque animal.

- Obviamente.

Ela me olhou e depois levou os olhos por todos os cantos da sala, como se estivesse checando se alguém, além de mim, estivesse ali. Logo depois, virou-se para mim e me lançou um olhar inexpressivo.

- Stefan e eu achamos que sabemos quem é... – Ela parou de repente, mas logo continuou. – Você também deve saber.

Dei alguns passos para trás e coloquei as duas mãos na cabeça. – É. Eu sei.

Olhei para Bonnie, que cruzou os braços. Ela encarou-me por uns segundos até finalmente se mover e ir em direção ao sofá. Ela sentou-se, porém eu fiquei parada onde estava.

Espere. Ela estava mesmo falando sobre Damon? Eu pensei que ela iria inventar qualquer mentira, mas não. Ela não inventou nenhuma e eu sabia que não.

Certo. Eu estava confusa até de mais.

- Então... – Resolvi quebrar o clima tenso que se formou ali. – Quando vai ser essa viagem?

- Hoje mesmo. – Disse e eu levantei as sobrancelhas para ela. – Como eu disse, é complicado.

- Eu entendi. – Falei. – Vou ser rápida para arrumar minha mala, só alguns minutos...

- O quê? – Bonnie gritou e levantou-se na hora, arregalando os olhos. – N-não, Elena! Eu não disse que você iria junto.

Aquilo havia soado rude, mas, invés de começar a ficar brava, não fiz nada. Na verdade, quase entrei em desespero. Eu sabia que havia algo errado.

Eu não via Damon há muito tempo e Bonnie sabia que eu estava tendo problemas com isso. Eu precisava ver ele. Minha alma precisava o ver e eu não aceitaria um não como resposta.

Fui até ela e lhe lancei um olhar fuzilador. – Por favor. O que está escondendo de mim? – Perguntei. Ela arregalou os olhos ainda mais.

- Nada. Mas é perigoso. Muito perigoso. Você precisa permanecer aqui, por mim. Você pode fazer isso?

- Isso não é justo! – Exclamei e corri até meu quarto, deixando Bonnie paralisada na sala. A raiva que eu não estava sentindo começou a correr por todo o meu corpo.

- Elena! – Bonnie gritou. Ignorei e abri o armário, pegando de lá uma mala pequena e enfiando poucas roupas dentro dela. Parei para dar um suspiro pesado e colocar na minha cabeça que ninguém iria me impedir de ver Damon. Ninguém mesmo. Muito menos Bonnie.

[...]

- Quantas vezes vou ter que repetir, Elena? – Stefan andara falando-me por, mais ou menos, duas horas. Ele estava ficando irritado e eu sabia que seus punhos estavam cerrados, embora eles estivessem cobertos pelo casaco de couro que ele usava. Não conseguia ver seu rosto, pois ele estava de costas para mim. Bonnie estava do seu lado, observando tudo enquanto eu parecia uma criança implorando para meu pai comprar um adorável brinquedo que havia visto em uma loja. – É perigoso. Você não vai junto. Vai ficar aqui.

- Não, Stefan! – Gritei, irritando-me também. – Eu vou! Eu não aguento mais ficar trancada em minha própria casa e não poder sair! Eu não aguento mais o jeito que tudo mudou de repente em minha vida e eu também não aguento o fato de que você acha que eu não sei me defender sozinha! Eu sou uma vampira agora e não é como se não soubesse nada sobre o que eu posso fazer! Então, sim, eu vou junto!

Percebi o quanto eu soei grosseira e virei de costas, querendo por tudo no mundo que alguém me estapeasse. Não queria brigar ou gritar com Stefan porque eu sabia que ele só queria minha proteção. Mas eu sabia me proteger e, como eu disse, não vou perder aquela chance de encontrar Damon e ter a certeza absoluta que aquele sonho que tive com ele foi apenas um sonho. Mesmo que eu saísse machucada, eu não iria desistir.

Senti os olhares para cima de mim e, com um estrondo, larguei minha mala no chão e sentei-me no sofá, não ousando olhar para ninguém. Estava na casa de Stefan agora, já que Bonnie havia me arrastado até ali porque não sabia o que raios fazer comigo.

É claro, sabia dos efeitos colaterais. Stefan ia ir junto para São Francisco e provavelmente perceberá do jeito ansioso que tinha domado sobre mim. E ele provavelmente também sabia que aquilo era por causa de Damon. E provavelmente ele também sairia machucado por causa disso. Era tudo muito difícil de aceitar. Eu não tinha a intenção de magoar Stefan, na verdade, essa era uma das coisas que estava na lista das coisas que eu nunca iria fazer. Mas eu tinha certeza absoluta que isso já tinha sido riscado.

- Desculpe. – Soltei. Apenas ouvi um suspiro vindo de sua direção.

- Está bem. – Stefan falou. – Eu sei que devo estar prendendo você. Mas...

- Por favor... – Interrompi. – Eu preciso ir.

- Precisa ir ou precisa ver Damon? – Essa pergunta veio seguida de facadas em meu peito. Virei-me para Stefan que, agora, olhava para mim. Bonnie tinha a cabeça abaixada e uma das mãos apoiada na mesma. O que eu deveria falar agora?

- Stefan... – Tentei argumentar, porém ele jogou a mão no ar como se não quisesse que eu falasse alguma coisa. Engoli o choro e cruzei os braços, de repente vindo uma onda de frio para meu lado.

- Escute, Elena. – Ele começou. – Damon não é mais o mesmo de antes. Bonnie deve ter contado e eu devo repetir: talvez tenha sido ele que esteja em São Francisco ou viajando por aí matando pessoas inocentes. Igual ele fazia antigamente. Damon é assim. E eu não vou impedi-lo disso porque, mesmo que eu ache essa atitude ruim, é a atitude dele. Damon sabe cuidar de si mesmo.

Permaneci quieta por um tempo.

- Ainda não entendi. – Disse. Stefan abriu a boca para falar alguma coisa, mas nada falou.

- Se você quer vir conosco, vai ter que saber onde está se metendo. – Bonnie interveio. Ela não falou nada desde que estávamos ali, mas em sua expressão, pude notar certa esperança. Ela queria que eu fosse?

- Eu sei. – Disse sem pensar duas vezes.

Sinceramente, eu não sabia qual era motivo para ir senão Damon. Ele estava matando várias pessoas e eu não podia fingir que aquilo não era grande coisa. Mas aquilo não era o problema, segundo o que Stefan disse. Então qual era? Isso estava, a cada segundo, deixando-me mais confusa. Eu queria parar para pensar ou pelo menos perguntar para algum deles o que realmente estava acontecendo. Não fiz nada disso. Meus pensamentos estavam apenas grudados a ideia de que eu veria Damon novamente depois de tanto tempo.

Depois de Stefan soltar um longo suspiro, virou-se e foi caminhando até as escadas, onde as subiu. Fiquei parada onde estava e não falei nada, nem Bonnie falou. Meus sentimentos estavam a mil e aquele foi o único momento em semanas que eu senti-me próxima de ser humana. Sentia ansiedade, saudades, nervosismo. Tantos sentimentos correndo por minhas veias que eu não conseguia assimilar direito.

[...]

Passaram-se mais ou menos quatro horas desde que estávamos na estrada. Stefan dirigia e Bonnie estava sentada ao seu lado, ambos não trocavam uma palavra ou olhar sequer. Sentei atrás por motivos óbvios. Não queria ter de ficar centímetros longe de Stefan, pois eu sabia que ele estava de mal comigo, e aquilo seria tortura. Abaixei minha cabeça e, depois de revirar-me milhões de vezes no banco, apoiei-a na janela. Tentei dormir, mas era a coisa mais difícil para se fazer no momento. Eu não conseguia parar de pensar que eu veria Damon novamente e as horas que nos afastavam estavam me matando por completo. Eu só queria vê-lo de novo. Pelo menos uma vez.

[...]

- Elena. – Escutei a voz de Bonnie perto de mim. Quase pulei do banco e, quando abri os olhos, minha visão estava um pouco turva. Bonnie estava cutucando-me no banco da frente e, quando viu que eu finalmente havia acordado, suspirou em alívio. Bocejei e percebi que o carro estava parado, mas, agora, em uma cidade desconhecida. Estava um pouco calor dentro do carro e em um movimento rápido eu tirei o casaco que me cobria. Olhei para o lugar do motorista e estava vazio.

- Onde está Stefan? – Perguntei, bocejando novamente logo em seguida.

- Pegando as malas. – Bonnie disse e olhou para algum ponto na calçada fora do carro, sem ousar olhar para mim. Estranhei seu ato e encolhi-me no banco.

- Bonnie, está tudo bem com você? – Perguntei. Ela demorou vários segundos para responder.

- Comigo, sim. – Ela disse. – Com você, eu não sei.

Franzi a testa. – O que você quer dizer com isso?

- O óbvio. – Falou.

- Eu estou bem. – Garanti. Mas foi mais para mim mesma do que para Bonnie.

- Tem certeza? – Ela ainda não estava olhando em meus olhos. – Bem, pode ser que agora, sim. Mas e depois, Elena? – Perguntou.

- Eu não estou entendendo...

- Ah, você entendeu. Você está ciente de que vai ver Damon. – Ela remexeu-se no banco. – Eu não confio nele. Não sei o que está havendo com ele e, se você pensa que Stefan sabe, não. Ele não sabe. Damon mudou de algum modo.

- Quem sabe não. – Falei. – Ninguém estava próximo a ele para saber disso. – Ou alguém estava? Eu não sabia. Tudo parecia um mistério muito grande para ser decifrado.

- Você não entende... – Ela falou e revirou os olhos. Senti Bonnie ficar mais nervosa a cada segundo.

O silêncio que durou ali foi eterno. Só quando Stefan abriu a porta e disse para descermos foi que ele cessou-se. Eu ainda estava tentando raciocinar com as palavras de Bonnie e ligar umas com as outras. Mas parecia em vão. Eu não conseguia chegar a nenhuma conclusão ao não ser que ela estava escondendo alguma coisa de mim. Meu medo na verdade era que essa coisa fosse mais terrível do que eu penso que é.

- Para onde vamos agora? – Resolvi perguntar para livrar-me desses pensamentos. Stefan olhou para mim e, como se não tivesse nenhuma dificuldade de lidar com as malas que estavam em sua mão, fechou o porta-malas e desligou o carro. Começou a andar para o leste, que nos levava a um hotel comum que tinha poucas luzes ligadas. Só depois de alguns minutos que ele me respondeu.

- É melhor descansar um pouco.

Eu havia dormido durante a viagem, porém não falei nada. Eles pareciam exaustos e eu não queria soar egoísta demais e ansiosa demais para ver Damon. Apenas fiquei calada e o segui junto com Bonnie até o hotel.

[...]

Comecei a remexer-me na cama, sem nenhum pingo de sono. Quando finalmente desisti de tentar, coloquei um casaco fino e caminhei até a recepção do hotel, sentando na poltrona e pegando um jornal qualquer na mesa de centro. Esperei ler alguma notícia sobre o ataque de quinta-feira. Não havia nada sobre isso e, quando fui colocar o jornal em seu lugar, tomei um susto quando vi Bonnie sentada no outro sofá, segurando uma xícara de chá e me encarando. Coloquei a mão no peito e soltei um suspiro.

- Achei que estava dormindo. – Falei.

- Eu preciso lhe contar uma coisa, Elena. – Ela disse, ignorando o que eu disse. Espremi os olhos e fiquei atenta em suas próximas palavras. – Na mesma noite que o acidente aconteceu... – Sim, ela estava referindo-se a noite em que eu virei vampira. – Digamos que Damon e Stefan acabaram... Tendo uma briga. Eles já tiveram muitas vezes outras por sua causa, mas, Damon começou a colocar a culpa em Stefan por você ter tornado-se vampira e ele disse que sabia que você não queria isso. Stefan tentou acalmá-lo e disse que ele voltaria no tempo para te salvar. Porém, Damon perdeu a cabeça. Começou a chutar móveis e Stefan queria apenas acalmá-lo. Damon disse que não adiantaria nada voltar no tempo e, depois de algumas horas, quando ele estava mais calmo, pediu desculpas á Stefan e disse que não iria mais intrometer-se na vida dele e na sua...

- Espere! O quê? – Gritei, irritada. Alguns olhares foram atraídos á nós, mas não me importei. Eu estava perplexa com essas palavras. – Damon achou que estava intrometendo-se na minha vida?!

- Elena, tem mais... – Ela soltou um suspiro antes de falar qualquer coisa. Olhou para mim como se quisesse permissão para continuar. Assenti. – Stefan tentou impedi-lo. Mas Damon, embora estivesse um pouco mais calmo, ainda tinha perdido sua cabeça. E... Bem... – Ela apertou os olhos. – Algumas noites atrás, Stefan me contou que ele e Damon conversaram sobre sua... Hm, escolha. – Estremeci. – Qualquer que você escolhesse, o outro sairia da cidade e seguiria o resto da eternidade. – Ela falou essas palavras rápido demais.

Arregalei os olhos e fiquei com a boca aberta, tentando raciocinar com aquilo.

- Eu te falei por que, bem, Elena, eu conheço você e eu sou sua amiga. – Bonnie falou. – Eu quero que você saiba disso antes de acontecer algo pior.

- Como Damon estiver totalmente louco quando o vir? – Perguntei, mas também soou como uma afirmação. Bonnie balançou a cabeça nervosamente.

- E lembre-se do que Stefan disse. Damon já era assim antes de ir para Mystic Falls e você e ele se conhecerem. Mas agora é pior. Demos sorte dele ainda estar na cidade, porque ele está indo em cada uma e matando pelo menos dez pessoas.

- E...? – Eu sabia que Bonnie ia falar mais alguma coisa.

- E que está pior do que eu pensava, Elena. – Ela completou, olhando-me firmemente logo em seguida. – Damon não só está matando pessoas inocentes, mas transformando-as em vampiros. Como se fosse uma punição por todos os anos que ele sofreu por ser um.

[...]

Depois do que Bonnie havia me dito, era ainda mais difícil pegar no sono. Eu fiquei pensando sobre muitas coisas o resto do dia e, sentada na cama, comecei a escrever em meu diário. Desabafar e, quando percebi, estava chorando sobre os cobertores e o travesseiro agora completamente molhado. Deixei as lágrimas deslizarem por toda a extensão de meu rosto, sem as impedir.

O mais difícil era aceitar que Damon estava começando a transformar pessoas inocentes por minha causa, por tudo o que eu o fiz passar. Eu fui tão estúpida e cruel, falando por tanto tempo que Damon não ligava para nada. Ele ligava, sim. Ele ligava para mim, pelo menos. E eu só queria pensar em acabar com o pouco de sentimento que eu sentia por ele, como se aquilo fosse me matar. Bem, não iria me matar. Mas agora, talvez fosse. E eu odeio cada parte de minha alma por tudo isso ser minha culpa. Tudo isso. Minha culpa.

Algumas horas depois, Stefan bateu em minha porta e pediu para que eu acordasse para tomar o café da manhã. Quando eu atendi a porta, não esperei que o café da manhã fosse um saco de sangue do hospital. Stefan tinha um olhar honesto que me deu ainda mais vontade de matar a mim mesma.

- Por que está fazendo isso? – Perguntei gentilmente.

- Porque não aguento ver você fingindo que gosta de sangue animal. – Ele respondeu, dando um sorriso torto. Soltei um riso e senti aquilo vier como uma estaca em meu coração, como se até mesmo rir fosse mais uma das dores para minha alma.

- Obrigada. – Peguei de sua mão e me apoiei no batente da porta. Mordi o lábio, pensando em falar outra coisa.

Stefan franziu as sobrancelhas e me observou. – Elena, você estava chorando? – Ele perguntou, preocupado.

- É...  – Falei, não querendo mais mentir. – Ás vezes, me sinto fraca demais para não fazer isso.

Stefan pareceu compreender e envolveu-me em seus braços. Apenas cedi, correspondendo ao abraço.

- Desculpe pelo que fiz você passar. – Falei. – Sinto muito, mesmo. Eu não quero mais fazer os outros sofrerem por minha causa... Nunca mais...

- Shh. – Stefan me impediu de falar qualquer outra coisa. Logo depois, ele soltou-me de seu aperto e pegou meu rosto em suas mãos. – Elena, eu só quero te ver feliz. E os outros também querem a mesma coisa para você. Isso não nos faz sofrer.

- Mas... – Tentei argumentar, mas um soluço de choro saiu no lugar. Stefan soltou-me e afastou-se um pouco.

- Fique pronta. Quando o sol começar a se pôr, vamos encontrar Damon.

Senti-me ainda mais dolorida depois da menção do nome de Damon e me encolhi ali. Balancei a cabeça, assentindo e logo me movi para dentro do quarto, fechando a porta depois disso. Fui até a cama e atirei-me nela, ficando assim por muito mais tempo até colocar em minha cabeça que era melhor parar de chorar porque, de algum modo, a dor só iria piorar.

[...]

Depois de o sol começar a se pôr, Bonnie e Stefan me encontraram no hall do hotel e não falamos mais nada. Stefan começou a dirigir-se para fora depois de pagar as estadias e entrou no carro, seguido por nós. Dessa vez, sentei no banco da frente junto a ele porque, segundo Bonnie, ela queria espaço no banco de trás para fazer o feitiço de rastreamento. Stefan começou a dirigir até se afastar da cidade e parou perto da estrada. Bonnie fez o feitiço e, depois de longas duas horas, conseguimos rastrear onde Damon estava. Em um bar, como esperado. Quando estávamos cada vez mais próximo daquele lugar, senti meu corpo desaprovar tudo que iria acontecer. Eu o veria, certamente. Eu o veria. Eu o veria. Eu o veria...

- Já chegamos? – Perguntei depois de alguns minutos. Fiquei cada vez mais impaciente e Stefan respondeu-me apenas com um balançar de cabeça. Ele parou o carro e, mais rápido que eu, desceu. Fiz o mesmo e Bonnie também saiu.

Fomos em direção ao bar que tocava uma música alta até demais. Estava escuro quando adentramos o local, mas havia luzes que piscavam e nos faziam avistar várias pessoas ali. Meu peito começou a doer e engoli em seco. O cheiro de sangue fresco estava por todos os lados e isso estava me torturando. Levei a mão ao meu rosto e tampei o nariz como se adiantasse alguma coisa. Stefan percebeu e cutucou meu braço, fazendo-me o olhar.

- Vai ficar tudo bem. – Ele sussurrou. Balancei a cabeça, mas não acreditava muito.

Bonnie enfim apontou para um lado da boate e saímos dando cotoveladas nas pessoas ali. Sentia o sangue delas pulsando dentro das veias e tentei acalmar meus sentidos. Desviei o olhar para o chão e acompanhei Bonnie.

- Onde está Damon? – Perguntei, querendo sair dali o mais rápido possível. Era esse o tipo de local que Damon procurava jantar, então? Típico.

- Por aqui. – Bonnie falou. A segui e corremos até o andar de cima, onde encontramos várias portas fechadas. Estremeci com o que Damon poderia estar fazendo ali e, não posso mentir que senti uma pontada de raiva dominar-me.

Bonnie se moveu até uma porta, mas hesitou por um segundo.

- Algum problema? – Stefan perguntou.

- Espere. – Ela falou.

Sem pensar, ousei usar meus sentidos de vampiro para escutar através da porta. Havia uma voz feminina e uma voz masculina que eu não consegui distinguir. Espremi os olhos e, percebendo melhor, eu conhecia aquela voz. Era definitivamente a voz de Damon.

- É ele que está ai. – Invés de eu falar, Stefan falou. Balancei a cabeça, concordando.

Bonnie nos olhou e, sem parar, abriu a porta, revelando uma figura loira com cachos nas pontas com um vestido curto e vermelho forte. A mulher nos olhou e percebi que era muito bonita. Segurando sua cintura, havia o homem de meu sonho e o homem que tantas vezes havia me salvado. O homem que eu não via há muitas semanas e quem eu tanto pensei. Ele era real. Por mais que no sonho ele parecesse real, ali, ele era totalmente real e eu sabia que aquilo não era o sonho. O tempo pareceu se congelar em questão de segundos quando ele me olhou com aqueles brilhantes olhos azuis.

- Damon. – Stefan falou, quebrando o silêncio que havia se estendido.

- Elena. – Damon ignorou Stefan e ainda tinha os olhos cravados em mim. Senti meu corpo querer se mover para perto dele, mas, invés disso, eu fiquei parada, tentando desviar de seu olhar. Arrependi-me logo que vi a mulher loira com marcas em seu pescoço que eu não tinha notado antes e seu sangue pulsando. O cheiro bom me atraiu, mas tentei parecer forte e fiquei ali. Minhas pernas começaram a ficar bambas e, se não fosse por Damon estar ali e eu queria tanto ver ele, eu poderia muito bem desmaiar.

- Oi Damon. – Soltei. Minha voz soou dolorida e fracassada, tanto que Damon soltou a cintura da mulher, que o olhou sem entender. Depois de alguns segundos, ele desgrudou seus olhos de mim e a olhou.

- Cubra isso e, por favor, dê o fora daqui. – Disse.

A mulher pegou o casaco de couro preto jogado na cama e cobriu o pescoço. Ela saiu dali, dando cotoveladas em mim e Bonnie assim que passou pela porta. Damon desviou o olhar para longe.

- O que vocês estão fazendo aqui? – Perguntou.

- Esse é o jeito de nos cumprimentar, irmão? – Stefan falou em um tom sarcástico e foi o único ali que ousou se mexer. Ele foi até Damon e deu um tapa sem jeito em suas costas, o fazendo olhar para ele. – Vejo que está se divertindo muito nesses últimos dias.

Damon sorriu torto. – Minha pergunta ainda não foi respondida.

- Você passou dos limites, Damon. – Bonnie interveio. Damon a olhou.

- Hm?

- Não me venha com essa. – Bonnie foi até ele e apontou o dedo em sua cara. – Lembre quando você prometeu nunca mais machucar alguém inocente.

- Eu prometo muitas coisas. – Ele falou e eu estremeci. Não. Não podia ser. Ele havia falado a mesma coisa em meus sonhos e isso esclarecia muita coisa, sendo que, depois de que ele disse isso, lançou-me um olhar.

Senti uma grande vontade de repente de desmaiar e agarrei-me na maçaneta da porta para impedir isso de acontecer. Suspirei e rolei os olhos.

- Você percebe o que está fazendo? – Bonnie perguntou. – E ainda transformando as pessoas em vampiros... Acha que nunca íamos descobrir isso?

- Bonnie, acalme-se. – Falei de repente. Todos os olhares foram dirigidos a mim. Remexi-me desconfortavelmente. – Posso falar com Damon a sós? Por alguns minutos, por favor?

Stefan balançou a cabeça como se entendesse meu estado ou ele só queria poder acalmar Bonnie de socar a cara de Damon (que seria em vão, é claro). Bonnie abriu a boca para protestar, mas, sem colocar força, Stefan a puxou pelo braço para fora dali.

- Vamos estar do lado de fora. – Ele me garantiu. Não sabia se ele iria escutar tudo que iríamos falar, mas, no momento, não me importei com isso.

Ele fechou a porta e pude ouvir protestos da parte de Bonnie. Comecei a andar pelos cantos do quarto e, quando o silêncio foi mais que duradouro, resolvi falar qualquer coisa.

- Damon, eu sei que é tudo minha culpa, mas, por favor, eu imploro, não envolva pessoas que não têm nada a ver com o assunto nessas coisas.

- Sua culpa? – Ele perguntou. O olhei.

- Me desculpe. Por tudo. – Falei, sentindo um peso ser retirado de minhas costas. Eu devia desculpas por Damon mais que qualquer coisa no mundo.

- Não... – Ele falou, indo até mim. Senti seu corpo quente em contato com o meu e os dois colidirem. Minha respiração começou a ficar ofegante e ele segurou meu rosto em suas mãos. Seus olhos azuis e os meus estavam ligados uns aos outros.

- O sonho foi real, não foi? – Meus olhos arderam e eu mudei de assunto. – Você não me quer por perto, não é?

- Deus, eu quero! – Ele disse. – Mas não é o certo. Nós. Nós não somos certos.

- C-como? – Perguntei.

- Eu não posso lhe fazer feliz, Elena.

- Você pode.

- Não.

Ele retirou suas mãos de meu rosto e foi para o outro lado da sala, nos distanciando. Senti uma onda de frio vir em minha direção.

- Eu não posso fazer você sentir-se como um anjo quebrado. E eu tenho certeza que eu estou lhe fazendo assim. Mas eu não posso. – Ele virou-se para mim. – Prometa. Prometa que não vai se sentir assim nunca mais. Eu não quero lhe ver sofrendo, Elena! Ninguém quer! E você não pode mais.

- Mas... – Tentei argumentar, mas Damon foi mais rápido.

- Há o meu mundo e há o seu mundo. Ambos não conseguem colidir uns com os outros. – Ele se direcionou a porta, mas eu fui até ele.

- Eu prometo muitas coisas! – Falei. – E não posso prometer isso, Damon. Você sabe que não é o certo! Por favor...

Sem pensar em mais nada, corri até ele e o obtive em minhas mãos. Nossos lábios chocaram-se e aquela sensação foi a melhor de todas que eu já tive. Seus lábios eram quentes e eu me senti nas nuvens. Nem lembrei que estávamos entrando em uma discussão antes. Porém, apenas para dar gosto, afastei-me dele e sussurrei.

- Eu não vou desistir de você. – Falei. – Nunca mais.


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