All I Need escrita por Luce


Capítulo 3
Chapter 3 - Bite.


Notas iniciais do capítulo

Um pouco do lado vampiresco da Elena nesse capítulo. x



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/233085/chapter/3

Bem, eu não podia fazer mais nada.

Passaram-se duas semanas e eu ainda estava em estado de desespero. Eu corria, corria para longe de tudo e todos. Tentava livrar-me de todos os sentimentos ruins e bons que existiam em meu ser e esquecê-los, jogá-los em um riacho sem arrependimento.

Não deu certo. Nada deu certo.

Eu tentava fazer as coisas funcionarem. Eu tentava colocar a cabeça no lugar e fingir que tudo ficaria bem. Mas quando você é uma vampira e tem absoluta certeza disso, bem, nada vai ficar bem. Os dias vão ficar cada vez piores.

E, ao longo dessas duas semanas, algo aconteceu. E eu não parava de pensar nisso.


Flashback ON:

Era terça-feira. Um dia sem vida. As ruas de Mystic Falls estavam vazias e os colégios não tinham mais a alegria de antes. Os bailes foram adiados devido a uma forte chuva que estava marcada para o fim de semana e tudo indicava que as aulas iriam ser encerradas mais cedo. As pessoas deviam ficar em casa, porque a cada segundo a chuva piorava. Hoje, por exemplo, o céu estava praticamente negro.

Eu estava na casa dos Salvatore nesse dia. A tempestade estava se espalhando por todos os cantos lá fora e eu apenas queria sair dali, porém Stefan forçou-me a permanecer, pelo menos até que a tempestade se acalmasse. Meu corpo pedia e insistia por comida, e esse era exatamente o motivo de eu estar ali.

Stefan correu até mim com um copo em mãos. O sangue ali era de um tom forte de vermelho e apenas desejei que fosse tão delicioso quanto parecia. Embora, no momento em que eu agarrei o vidro com as pontas dos dedos e o direcionei á minha boca, senti o gosto arder e eu sabia que aquilo não iria me deixar satisfeita por muito tempo. Stefan também sabia disso, segundo a sua expressão. Eu não podia reclamar, porém. Fui eu que insisti para ele nunca deixar-me colocar mais sangue humano em meus lábios. Nunca mais.

O problema é que eu não sabia que iria ser tão difícil assim.

– Logo você vai se acostumar com o gosto. – Stefan me garantiu. – Eu passei muitas décadas vivendo disso.

E logo você estava se alimentando de todos os cidadãos de tais cidades – pensei, mas não falei em voz alta.

Apenas concordei com a cabeça e Stefan me direcionou a sentar no sofá. Assim fiz e fiquei em silêncio por um bom tempo, até que Stefan disse que iria atender uma ligação e já estaria de volta.

Apoiei minha cabeça no sofá e fechei os olhos, enquanto ainda sentia o sangue descer pela minha garganta e entrar em minhas veias. Suspirei e percebi meus olhos pesarem, mas o sono nunca vinha em meu encontro. Pendi a cabeça do outro lado do sofá e, alguma coisa chamou a atenção de meu ouvido.

Um barulho de uma torneira, obviamente.

E isso chamou muito minha atenção.

Sem pensar, coloquei os pés no chão e deixei o ouvido me guiar até o barulho. Era, realmente, no segundo andar. Subi as escadas em silêncio e percebi que o som estava na direção do quarto de Stefan. Caminhei até lá e, então, o som da voz de Stefan percorreu pela sala.

E ele não estava no banheiro, pelo o que eu pude ver pela porta entreaberta.

Ele, na verdade, não queria que eu escutasse a conversa com seja lá quem ele estava conversando por seu celular.

Novamente sem pensar, fiquei escorada em um canto da porta, onde ele não pudesse me ver, e preparei meu ouvido. Não decidi usar as práticas de vampiro, embora, pois se não tudo que eu iria ouvir era o som da torneira ligada.

– Espero que você esteja bem, apesar de tudo. – Stefan falou. Senti uma enorme dúvida e curiosidade percorrer dentro de mim. – Está tudo sobre controle aqui. Pelo menos, por enquanto. Não sei o que vai vir pela frente. Talvez tenhamos problemas pela frente, e Elena não está tão satisfeita com o sangue animal que está a alimentando. O que você pensa sobre isso?

Ele estava falando de mim. Para uma pessoa que eu nem sabia quem era. Podia ser qualquer um.

Mas, algo me avisou que talvez não fosse qualquer um.

Alguns segundos depois, Stefan voltou a falar.

– Espero que sim. Espero que tudo fique bem. E, para você, também. Veremos-nos em breve, irmão.

E, no momento em que ouvi a última palavra, paralisei.

Flashback OFF.

Irmão. Essa era a palavra que havia concluído meus pensamentos. Afinal, tudo indicava que Damon ainda comunicava-se com Stefan, ainda mesmo que seja apenas por telefone. E, sim, também indicava que ele não estava na cidade. Ele estava bem? Não sei. Tenho minhas dúvidas, porém.

Mas o que realmente doía era saber que, desde que toda essa loucura começou, Damon nunca havia falado comigo. Nem mais uma ligação. Nada. Eu tentava ligar para ele, embora a caixa postal fosse sempre a resposta. Mandava mensagens praticamente toda a madrugada. Mas nada. Nem sequer uma resposta.

Ninguém falava dele para mim. Nem mesmo Stefan, que sabia o que aconteceu com Damon. Ele guardou de mim tudo isso.

E se ele não fosse o único a guardar-me essas coisas? E se as outras pessoas também soubessem do paradeiro de Damon?

Eu tentei, admito. Tentei fazê-las falar alguma coisa, que, obviamente, elas sabiam. Tentei falar com Caroline na sexta-feira desta mesma semana, e, como esperado, ela não falou nada ao não ser:

– Damon? Não, nunca mais ouvi falar dele.

Mas ela estava mentindo. Como todos os outros. Eu os conhecia muito bem e sabia quando estavam escondendo algo de mim. Isso acontecia seguidamente e eu diria que eu já estava acostumada com isso. Mas eu não iria desistir, porque eu sabia que eles não iriam resolver contar-me por conta própria.


[...]

Eu me preocupo com você, Damon, e é por isso que tenho que deixar você ir...

Eu estava me afundando em sonhos. Todos os momentos e as lembranças reconhecidas, naquela noite. Na noite em que tudo aconteceu.

– Outro copo, por favor! – Gritei, embora minha voz houvesse saído mais como um resmungo. Matt veio ao meu encontro e me lançou um olhar preocupado que resolvi ignorar. Ele ficou quieto e rapidamente encheu o copo vazio com o líquido alcoólico. Segurei-o com as pontas dos dedos e tomei tudo em um gole só, fazendo minha garganta ferver em desaprovação e minha visão escurecer aos poucos.

Bem, talvez a bebida seja mesmo o resultado dos meus problemas.

– Elena! – Uma voz feminina gritou aos fundos. Um braço pegou em meu ombro e eu me obriguei a olhar para cima, embora tudo que minha visão pudesse distinguir fosse um tufão de cabelos loiros em minha frente. – O que raios você está fazendo?

Balancei a cabeça para frente e abri a boca para falar, porém tudo que saiu dela foi uma frase embolada demais para eu mesma entender. Caroline parecia me olhar com a testa franzida. Ou fosse apenas fruto da minha imaginação.

– Isso é meio impossível. – Ela falou, e o som de uma cadeira arrastando passou bem ao meu lado. Caroline sentou-se e apoiou os cotovelos na mesa, tomando conta de todo o horrível campo de minha visão. – Sério. É meio impossível ver você, Elena Gilbert, se afundar em um mar de vodka. Olha só para você!

Uhum. – Concordei. Quando o próximo copo pousou a minha frente, remexi na cadeira e engoli tudo de uma vez. Minha garganta estava pegando fogo, literalmente. – Quer se juntar a mim, amiga? – Consegui reformular uma frase completa, resmungando a ultima palavra.

– Hm, não. Obrigada. – Ela respondeu e falou mais alguma coisa que minha audição recusou-se a ouvir. Coloquei a cabeça nas mãos e, enroladamente, gritei para o garçom mais perto pegar uma garrafa inteira. Caroline agarrou meus pulsos no mesmo segundo e eu fui obrigada a olhar para os olhos dela, embora conseguisse apenas ver alguns pontinhos pretos.

Suspirando, tentei livrar-me de seu aperto e me levantei rapidamente. O garçom entregou-me a garrafa, sem nenhuma expressão, e eu a agarrei, tomando mais um gole e gemendo de desaprovação. Tirei algumas notas de dinheiro do bolso e as coloquei em cima do balcão do bar. Então, fui tropeçando até as escadas do lugar.

– Não se preocupe comigo, Caroline. – Falei. Ou, pelo menos, achei que havia falado.

– O quê? – Ela gritou, indo a minha direção. – Elena, o que deu em você? O que está acontecendo?

Virei-me para olhá-la e pronunciei as palavras, tomando cuidado para não errá-las. – Só estou tomando proveito da situação.

Ela me encarou e, depois de alguns segundos que mais pareciam eternidades, desci as escadas sem olhar para trás. Tropecei algumas vezes e então, saí do lugar com o pouco de dignidade que me restava.


[...]

Eu nunca havia me imaginado em uma situação assim antes. Nunca.

Eu estava deitada na beira da estrada da rua vazia de Mystic Falls, completamente bêbada. Estava usando apenas uma calça jeans fina e uma blusa de manga curta, o que me causada o extremo frio. Eu podia jurar que eu iria congelar se continuasse ali.

Mas eu me importava?

Eu não tinha forças e nem controle dos meus pés para continuar andando até em casa. E, mesmo se tivesse, eu não queria que Jeremy fizesse milhões de perguntas do por que eu chegar em casa tão tarde e completamente fora de mim. Não, não é uma coisa que eu quero.

Eu rolei pela estrada, com a garrafa de vodka agora esgotada. Nem mais um pingo da bebida forte existia naquela garrafa e eu desejei que ela estivesse cheia novamente, ou pelo menos o suficiente para eu não lembrar mais de nada que eu estava fazendo.

Mas, bem, eu não me lembrava de nada mesmo. Nem de como cheguei ali.

Comecei a cantarolar uma música desconhecida e olhar para o fim da estrada, esperando que um cara de cabelos negros e olhos azuis aparecesse e corresse até mim, pegando-me nos braços. Rapidamente, lembrei de todas as vezes que ele já tinha feito isso. Sorri comigo mesma e, segundos depois de me tocar no que eu estava fazendo, bati a mão na testa.

Maldita bebida que mesmo assim não me faz esquecer Damon.

Apoiei os cotovelos na rua e logo depois me arrependi desse ato. Minha cabeça começou a rodear e minha visão estava embaçada. Admito, já havia bebido antes. Mas nunca desse jeito.

Tentei levantar-me, porém meus pés recusavam cada vez que eu tentava. Resolvi apoiar os joelhos na rua e fiquei ali por vários minutos. Senti um gosto na minha garganta e lutei contra a vontade de vomitar.

Pensando que aquilo já fora longe demais, forcei os pés e consegui, finalmente, ficar de pé. Embora, depois disso, eu tenha cambaleado para trás e por pouco não caí. Eu parecia um bebê que não tinha controle sobre seu corpo, realmente.

Com minha visão ainda pior que antes, comecei a tropeçar até a calçada, porém eu soube que foi uma falha tentativa. Houve um barulho de rodas quando eu estava retornando ao equilíbrio e eu obriguei-me a virar para trás, dando de cara com um carro prateado parado á metros de distância de mim mesma. Soltei um suspiro ao perceber que o carro havia parado e por pouco eu não havia sido atropelada.

As luzes dos faróis ligados deixaram minha visão mais embaçada ainda e eu abaixei a cabeça, cobrindo os olhos com as duas mãos. Ouvi o barulho da porta do carro batendo-se e passos vindos em minha direção.

Oh, não. – pensei. – Não. Mil vezes não.

– Você está bem? – A voz de uma mulher perguntou. Não a olhei, embora. Apenas fiz um sinal com a cabeça e o silêncio inundou, até que ela perguntasse novamente. – Não se machucou? Desculpe, eu não vi você...

– Não se preocupe. – Consegui falar sem que minha voz soasse muito mole demais. Virei para o lado e tentei andar, porém acabei tropeçando em meus próprios pés. Antes que eu pudesse alcançar o chão, dois braços me agarraram e me levantaram, impedindo-me de cair de cara no chão. Xinguei-me rapidamente e percebi que a mulher ruiva me olhava com preocupação. Como todas as pessoas dessa cidade.

Obriguei-me a encará-la. Não tão alta, não tão baixa. Não consegui olhar os traços de seu rosto, porém pude distinguir que não era uma mulher velha. Mas nunca a vira ali antes.

– Sim, você está mal. – Ela disse, de repente, desligando-me de pensamentos. Agarrou meus braços e tentou me direcionar até o carro, porém eu me debati e tentei me livrar de seu aperto. – Vamos. Uma carona.

Neguei com a cabeça e percebi meu corpo desaprovar meu ato. A mulher continuou tentando levar-me até o carro, e eu sabia que eu não iria aguentar por muito tempo.

Porém, não era a bebida que estava lutando contra mim. Era a fome.

Então, o tempo pareceu congelar. Eu fiquei encarando um ponto no pescoço da mulher, e depois disso, não consegui escutar as palavras que ela estava dizendo.

E então eu senti aquele cheiro. O cheiro do prazer. Inundando minhas narinas, cobrindo todo o cheiro possível desse mundo. Era uma necessidade enorme. Uma que eu nunca tivera antes. Minha respiração começou a arrastar-se, de repente, e eu me vi cada vez mais próxima daquela humana. Sim, humana. Humanos. Aqueles que eu tentara evitar nesses últimos tempos simplesmente por eu não pertencem mais ao redor deles. Eu não pertencia mais a eles. Eu não era uma deles.

Houve apenas um suspiro para eu perceber o que estava acontecendo. Meu corpo inteiro agora pedia sangue humano. Pedia, insistia, forçava-me. Ele necessitava daquilo. E era uma necessidade tão grande que eu não conseguia mais parar para pensar que o que eu estava fazendo era completamente errado. Como eu havia dito: eu nunca tinha imaginado que eu estaria em uma situação como essa antes.

E agora estava descontrolado. Eu estava descontrolada.

– Você está bem? – Ela repetiu a pergunta, mas eu não a olhei. Agora, ninguém mais podia me impedir.

– Sinto muito. – Murmurei. A mulher levantou as sobrancelhas, confusa. E, depois, ela não iria mais ficar confusa sobre nada.

Puxei-a pelos cabelos e percebi meus dentes doerem dentro de minha boca. Eu sabia o que estava prestes a acontecer.

E eu não parei até que acontecesse.

Trazendo a mulher até mim, cravei os dentes em seu pescoço e ela gritou. Gritou até não aguentar mais. Não liguei para isso, embora, e continuei o que eu estava fazendo. Senti o sabor do sangue humano escorrendo e eu me saboreei disso.

Era uma sensação maravilhosa.

O sangue daquela pobre humana entrou em mim e desceu pela minha garganta. Nos próximos segundos, só pude perceber a mulher ceder e, se não fosse pela força em que eu estava a segurando pelos cabelos, ela iria cair no chão, sem forças. Mas, não me importando, continuei ali. Sugando toda a quantidade de sangue que existia em seu corpo.

E, como se fosse um aviso para eu parar, uma voz ecoou aos fundos.

– Elena?!



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí? Quem vocês acham que é?