Jogos Vorazes - 72 Edição escrita por Debs Jackson


Capítulo 17
A água contaminada


Notas iniciais do capítulo

Prontinho, demorou acho que dois dias, não é? É que eu tava estudando (tradução: assistindo simplesmente todos os episódios de Todo Mundo Odeia O Chris) e não deu para escrever. Mas comecei a escrever esse capítulo assim que acordei e já terminei. Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/232753/chapter/17

Acordo com o barulho de um tiro de canhão. Com a adrenalina da arena, meus ouvidos ficam muito mais aguçados, por isso escuto. Então uma coisa estranha acontece. Todos os pássaros se calam e um único assovia. O assovio de um tordo.

Aperto os olhos na tênue luz da manhã na direção sul em relação à Cornucópia e um aerodeslizador se materializa como ontem de manhã na varanda. A escada desce uns sessenta centímetros quando vejo.

Uma garota morta à beira de um fiozinho de água.

E ela tem suprimentos.

Enfio a faca no cinto e salto direto de meu esconderijo a sete metros do chão. Saio correndo em disparada, fazendo o possível para não esbarrar em nenhuma árvore ou pisar em galhos secos. Chego à garota quando a escada está a um metro dela. Retiro de seu corpo tudo de útil que encontro. Desato o saco de dormir de suas costas. Desamarro apressadamente a algibeira presa em sua cintura no momento em que a escada a enrola. No último segundo, arranco a garrafa de sua mão e a tampa da mesma da outra. Então observo a garota ser alçada em direção ao céu.

Só então percebo que ela pode ter sido morta por outro tributo. Agacho-me de repente, olhando em volta, procurando qualquer vestígio de alguém que possa ter passado aqui. Olho através dos arbustos, além da clareira e por entre os galhos das árvores. Mas não vejo nada. Suspiro e me levanto novamente.

Se não tinha ninguém, como a garota morreu? Se cortou sem querer? Não, não vejo sangue e, pelo que observei, ela não tinha nenhuma arma. E não há pedras na margem do riozinho. Se afogou? Não, a água é muito, muito rasa e, sem contar as mãos, ela não estava molhada. Morreu desidratada antes que pudesse beber a água? Não, era muito cedo para isso. Eu não morri. E a garrafa está pela metade. Certamente ela a encheria inteira.

Certo. O que mais pode ter sido? Olho novamente para a garrafa e depois para o rio. E se a água estiver contaminada? Vasculho a algibeira e encontro um frasco de iodo. Coloco-o contra a luz e percebo que uma ou duas gotas já foram utilizadas. De acordo com minha lembrança, essa é a quantidade certa para purificar água. Alguma coisa pulsa em minha mente, como se dissesse se para prestar mais atenção na água. Em seus detalhes.

Inclino-me sobre o córrego, quase encostando o nariz na água. Realmente. Sua coloração não é normal. É levemente, bem levemente mesmo, azulada ou talvez esverdeada. Retiro o estilingue de dedo, faço uma concha com a mão e jogo um pouco da água da garrafa nela. Observo atentamente e percebo que é da mesma cor da água do riacho. Aproximo a mão do rosto e farejo. O cheiro também não é de água. É de algo artificial. Inicialmente era o líquido natural, sem dúvida, mas foi misturado com alguma coisa. E tenho quase certeza de que foi isso que matou a garota.

Jogo o resto da água do recipiente fora e uso a barra da camisa para enxugar muito bem a garrafa. Então a observo atentamente. Um litro. Térmica. Retiro tudo da algibeira para ver o que tenho à minha disposição. Uma caixa de fósforos. Um frasco de iodo. Uma lanterna do tamanho do final do meu pulso até a ponta de meu dedo médio. E a garrafa. Mais nada. Bom, pelo menos já é alguma coisa. Organizo o interior da algibeira, colocando tudo que cabe ali de forma ordenada. Decido manter a aljava – chamo assim pois não consegui associar a outra coisa – do estilingue de dedo e a faca presas ao cinto. Desenrolo o saco de dormir azul escuro e tateio-o. A parte de baixo é acolchoada e a parte de cima fina, mas feita de um material que retém o calor do corpo.

Enrolo o saco novamente e o prendo às costas pelas alças feitas para isso mesmo. Amarro a algibeira – que, igual à minha calça, é camuflada - na cintura, mal dando para diferenciá-la da calça e recoloco o estilingue. Preparo uma bolinha e saio em busca de caça. Estou morrendo de fome e não vou durar muito sem comida. Se tiver sorte e atenção, posso encontrar também um riacho ou um lago, contanto que não sejam contaminados também.

Encontro um esquilo e atiro, acertando seu olho. Espanto-me ao ver que a íris castanha lentamente se transforma em roxa, espalhando a cor por todo o olho. Assustada, jogo a faca também, perfurando sua barriga. O esquilo cai da árvore, morto. Corro e o pego, retirando a bolinha e a faca. Antes de começar a prepará-lo, observo o olho atentamente por um bom tempo. Veneno. É isso que tem nas bolinhas. É claro. Um espinho pequenino como esse não machucaria nem uma mosca. Precisava de algo mais.

Retiro sua pele, tomando o cuidado de cortar toda a cabeça e descartar. Certamente o veneno se espalhou por toda a região. Limpo o esquilo, mas não há onde cozinhar. Carne crua pode transmitir tularemia. Fazer uma fogueira tem o mesmo princípio do meu cabelo de noite. A fumaça chama muita atenção. Mas agora é preciso.

Encontro uma área em que as copas das árvores tampam bem o céu. Escolho os galhos que, enquanto queimam, produzem pouca fumaça. Faço uma fogueira pequena, mantendo o fogo baixo. Improviso um espeto com alguns gravetos e espero o esquilo só dar uma passadinha. Não posso cozinhar realmente, senão alguém vai me encontrar aqui, mas deixo tempo suficiente para dar uma coradinha.

Apago o fogo e piso no carvão. Cubro com folhas para mascarar a fumaça. Só então me delicio com o esquilo. Mastigo enquanto analiso a bolinha com que acertei o animal. Todo o veneno deve ter saído, imagino. Mas isso não deve ser motivo para me desfazer da munição, senão, nesse ritmo, tudo vai se esgotar em poucos dias. Decido fazer venenos eu mesma. Se não estivesse com tanta sede, poderia pensar em algumas frutas tóxicas.

Como duas pernas e levanto acampamento. Me manter em movimento é o melhor plano que tenho. Talvez encontre água. Senão, só resta o grande lago da Cornucópia. E os Carreiristas certamente o tomaram.

Encontro um arbusto de morango ao caminhar. Colho alguns e saboreio-os enquanto ando, pensando em uma solução para minha sede. Então, já de tarde, uns cinquenta metros à frente, avisto o reflexo do brilho do sol. E o brilho vem de um riacho.

Já vou abrindo o zíper da algibeira enquanto corro. Retiro a garrafa e tiro a tampa ao me agachar sobre a água. Encosto o bico do recipiente no líquido quando olho atentamente. Essa água também tem uma cor diferente! A mesma cor estranha do riozinho em que aquela garota morreu. Pego um pouco da água com as mãos em concha e fungo. Tem o mesmo cheiro também. Derramo tudo e suspiro, tomando consciência da secura em minha garganta.

Será que toda a água da arena é contaminada? Não, não pode ser. Senão seria um tiro de canhão a cada minuto. A não ser que as pessoas estejam morrendo de sede, sem encontrar nenhuma fonte, ou estejam sobrevivendo com o lago da Cornucópia. Mas isso também não faz sentido. Os Carreiristas geralmente ficam com o grande chifre. A menos que os outros tributos estejam pegando água escondidos.

Levanto-me e começo a andar, saltando o rio com um grande passo quando ouço uma voz às minhas costas.

– Aonde pensa que vai, princesa?

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Bom, gente, isso, para quem não sabe, é uma algibeira. Mas a da Laurel é com estampa de camuflagem e um pouco maior, o.k.?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Mandem reviews e recomendem a história senão a pessoa que disse a última frase vai pegar vocês ao invés da Laurel, ouviram?