Hermione ficou encarando-a com cara de boba. Era a 1ª vez que as duas trocavam palavras sem uma insultar a outra.

– Aquele beijo hoje no Três Vassouras não foi por amor, e sim por dinheiro. Não vá pensando que Draco a ama ou coisa desse tipo. – A morena adiantou-se antes mesmo que a castanha pudesse entender o que se ocorria nesse exato momento.

– Como se eu não soubesse disso. – Hermione ironizou mas foi ignorada por Pansy.

As duas ficaram encarando-se por alguns segundos sem dizer nada. Pansy aparentava ser a mais incomodada com a situação. No fundo Hermione não ligava para o beijo.

Ela passara a odiar mais Draco aquela manhã. Por causa de sua estupidez ela e Fred não conseguiam se encarar. Pareciam separados por uma barreira invisível, não podiam se aproximar.

– Ele apostou com Blásio que conseguiria te beijar. Porque acha que Zabini tirou as calças no bar logo depois que você e seu namoradinho traidor-de-sangue saíram? – Um sorriso começou a brincar nos lábios de Pansy – Aquele idiota ficou todo nervosinho quando viu você e o Draquinho.

Hermione ficou vermelha. Fechou o punho e estava pronta para cair pra cima da morena quando uma mão a segurou por trás. Parecia ter adivinhado seus pensamentos. Parecia saber que ela iria meter um soco na cara de buldogue de Pansy.

– Não vale a pena. – A pessoa sussurrou em seu ouvido. Aquela era uma voz mais do que familiar para ela.

– Saia daqui Weasley! Essa conversa não tem nada a ver com você!

– Se envolve minha família ou meus amigos tem tudo a ver comigo. – Rony respondeu já se arrependendo de ter segurado a castanha.

– Esse ar está impregnado. Tenho que sair daqui antes que me contamine. – Pansy disse enquanto saía deixando os dois sozinhos.

Encaram-se por alguns segundos sem dizer nada.

– Soube o que aconteceu no Três Vassouras. – O ruivo cortou o silêncio. – Soube sobre você e Fred também. Não ligue para ele, é um idiota!

Hermione não respondeu. Apenas depositou um beijo de agradecimento na testa de Rony – com muito esforço por sinal – e seguiu seu caminho.

X-X-X-X-X-X

Não muito longe dali alguns minutos antes do ocorrido um loiro observava a lula gigante se movimentando no Lago Negro pela janela de seu dormitório.

Ele ainda podia sentir o sabor dos lábios da castanha, da tão odiada castanha em seus lábios. Aquele momento passava rapidamente em sua mente várias vezes deixando-o tonto.

Não era como beijar Pansy, era diferente. Ele não sabia explicar como nem porque. Só sabia que queria poder sentir aqueles lábios novamente nos seus. Só sabia que sentia necessidade disso, como se sua vida dependesse desse ato. Esse quase tão impossível ato.

“Está ficando louco Draco. Só pode... Larga de pensar bobagens” disse para si mesmo enquanto tomava um gole de suco de abobora.

– E aí doninha? – Blásio disse enquanto entrava no dormitório e sentava-se em sua cama.

– Até você agora?

– Prefere panda? – O moreno disse apontando para os DOIS olhos roxos do amigo.

– Há há, muito engraçado. – Ironizou . Logo em seguida caminhou até sua cama e deitou a cabeça no travesseiro.

Não queria mais pensar em nada. Só queria que a grifinória saísse de sua cabeça, somente isso. “É pedir de mais?” disse novamente para si mesmo.

Era como lutar contra um monstro, um monstro que te corrói por dentro, um monstro que arranca seu coração, um monstro que controla seus pensamentos e o faz sofrer por esses motivos. Uma sensação muito incômoda em sua opinião. Uma sensação que ele desejava não estar sentindo agora nem nunca mais sentir.

Levantou a cabeça e olhou em volta. Blásio já havia ido embora. Provavelmente estava tentado dar uma de pegador pela escola, o que na verdade ele sempre soubera não ser muito verdade.

Virou-se e ficou encarando as cortinas verde-esmeralda.

De uma hora para outra seu mundo parecia ter se invertido. Ele sentia quase que uma obsessão pela castanha. “Culpa do idiota do Blásio!” disse para si mesmo. Uma voz dentro dele, porém respondeu: “Culpa sua por ter aceitado e feito! Loiro burro!”. Lá estava ele novamente brigando com sua própria consciência.

Sem saber ao certo para onde ia – afinal não estava com um pingo de fome, não havia sentido em ir para o salão principal. Levantou-se e saiu pela porta do dormitório meio que sem rumo, sem saber ao certo para onde ia.

– Soube o que aconteceu no Três Vassouras. Soube sobre você e Fred também. Não ligue para ele, é um idiota!

O loiro ouviu alguém falando em um corredor próximo de onde caminhava. Era uma voz conhecida, mas ele não conseguia identificar de quem.

A curiosidade o invadiu e por impulso esgueirou-se pelo largo corredor escondendo-se atrás de uma armadura. O Weasley e a castanha que roubara seus pensamentos nas últimas horas conversavam. Somente a luz de um castiçal iluminava-os, contudo ele pode distinguir bem os dois.

A voz que ouvira com toda certeza era do ruivo.

Então, ela havia brigado com o outro traidor de sangue? Draco não sabia porque, mas esse pensamento o deixava feliz como  uma criança quando faz seu 1º feitiço, nem que seja acidental.

A morena ficou na ponta dos pés e depositou um beijo na testa do ruivo que ficou com cara de bobo olhando-a ir embora pelo mesmo corredor. Por alguns segundos o loiro sentiu ciúmes do Weasley e quis estar em seu lugar.

Estava caminhando na ponta dos pés para retomar seu caminho, quando sem querer esbarrou em uma armadura. Seu capacete prateado caiu no chão fazendo um alto barulho que ecoou pelo corredor em que ele se encontrava e pelos vizinhos.

– Quem está aí? – O loiro virou-se e pode enxergar o Weasley com a varinha em mãos vindo em sua direção com passos cautelosos.

Provavelmente não o havia visto pela escuridão que predominava o local em que se encontrava Draco. Com cuidado o loiro colocou a cabeça da armadura no lugar correto e saiu correndo o mais rápido que pode sem se preocupar com a barulho que fazia.

– Ei, você. Volte aqui! – O ruivo gritou enquanto corria atrás de Draco que a esse ponto estava começando a se desesperar.

Não havia motivos para preocupar-se com o Weasley. Ele não havia feito nada de mais. Muito menos preocupava-se mais em levar socos e etc. – já estava com dois olhos roxos mesmo.

O loiro parou repentinamente. Somente a luz na ponta da varinha do ruivo iluminava o rosto pálido de Draco.