Crossroads - The Dark Hunters Chronicles escrita por Boneco de Neve, Guiga


Capítulo 21
EX - Um décimo




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A guerra tomava rumos mais intensos com o passar dos anos. Houve diversos triunfos, muitas quedas, morte e violência aparentemente infindáveis. No fim das contas, os países derrotados ficavam entre a cruz e a espada. Tinham de escolher entre serem destituídos, tendo seus líderes presos ou executados e a população massacrada, ou se submeterem em silêncio à causa dos mais fortes.

No Ocidente, os Estados Unidos unificaram praticamente todo o resto do continente americano. As nações restantes, ao comando do Brasil, assumiram uma postura neutra, limitando-se apenas à formulação e execução de planos de ajuda aos necessitados. No Oriente, a Rússia havia reunido forças com outras nações, chamando a atenção dos americanos. Um conflito entre dois titãs estava formado.

Oceano Atlântico, proximidades de Marrocos, 6 de março de 2048. Para ganhar territórios, os americanos iniciaram um assalto à costa africana. A escolha do alvo se devia à vulnerabilidade do continente e o valor econômico que ele possui. Pelo ar, aeronaves de guerra deslizavam no céu, emitindo sons que alertavam a todos os ouvidos. Pelo mar, a esquadra, flutuando nas águas turbulentas, avançava em direção à costa. As linhas de defesa, porém, já estavam à espera, enfurecidas pela conduta dos Estados Unidos até então.

Os africanos, misturados, preparavam-se para o combate em clima de tensão. A moral era instável por causa da perspectiva de derrota, quando um soldado declarava em voz alta.

Soldado 1: Ouvi de meu comandante que os russos estão vindo pra cá.

Soldado 2: Russos? Mas que diabos eles têm a ver com esta batalha?!

Soldado 1: No mínimo, eles também estão incomodados com o avanço dos americanos.

As primeiras evidências de presença dos russos surgiram no céu. Aeronaves de combate que rasgavam o ar e abatiam aeronaves americanas. Estas, por sua vez, efetuaram o contra-ataque, reduzindo o contingente russo. O conflito começou e na terra os soldados se puseram a atacar.

Uma aeronave de transporte cruzava rapidamente a zona de conflito. Não podia ser abatida graças a uma barreira gerada por um superdotado a bordo. Mesmo assim, era desconfortável para uma moça não nativa da Rússia, que não falava com mais ninguém por não conhecer o idioma dos outros presentes. Ela refletia a respeito dos riscos da tarefa que tinha pela frente, até que um veterano dirigiu a palavra à ela, em linguagem compreensível.

Svask: Está pronta, senhorita Hatsuki?

Hatsuki: Sim, comandante Svask.

Svask: Muito bem. Vamos recapitular brevemente. Nossa inteligência indica que o maior dos navios americanos contém mísseis nucleares. Como não foram ativados ainda, um grupo de superdotados irá tomar o navio. Julgamos estar em número suficiente, mas seus superiores insistiram que integrássemos você no grupo, para, segundo eles, “conduzir algum teste”.

Hatsuki: Imagino que vocês vão ganhar algo em troca por isso...

Svask: Não estamos exatamente em condições de recusar generosidades, senhorita. Temos urgência em receber mais recursos.

Hatsuki: Hmph...

Svask: Poi favor, não me leve a mal, senhorita. Até porque, na minha humilde opinião, não acho bom que seu país se meta nesse conflito.

Hatsuki: De qualquer modo, eu espero que meu serviço seja agradável ao senhor.

Svask: Também espero... Nosso avião está se aproximando da zona de salto.

Hatsuki: Um salto? Tem mais alguma coisa que você não me contou, comandante?

Svask: Por quê? Não me diga que está com medo...

Hatsuki: Não. Só não acho uma boa ideia.

Svask: Todos os participantes dessa missão têm suas maneiras de chegar ao solo em segurança. E eu acredito que você também tenha a sua. Afinal, me contaram que os espíritos estão a seu favor.

A jovem não falou nada. Apenas observou a comporta do avião se abrir, vindo em seguida a forte corrente de ar.

Svask: Assim que os outros saírem, você vai junto.

O comandante se virou para os outros e deu a ordem em russo. Um a um, todos foram pulando e rapidamente o veterano se virou para Hatsuki.

Svask: Nos despedimos aqui. Agora vá.

Sem pensar duas vezes, a garota obedeceu e pulou. O veterano observou a queda da jovem enquanto, em pensamento, desejava a ela sorte.

O avião voava bem alto. Hatsuki percebeu isso graças à distância da qual ela caía. Abaixo dela, caíam os outros superdotados dos quais ela contabilizou vinte. Aviões e projéteis cruzavam o ar próximo deles, mas nenhum visava acertá-los. Todos estavam distraídos demais para isso. Chegando perto do convés, Hatsuki notou soldados preparando lança-mísseis para atirar nos superdotados que desciam. No primeiro tiro, um membro do grupo foi atingido. Uma menina gritou algo ininteligível para Hatsuki, provavelmente o nome do rapaz que agora estava morto.

Um outro jovem, atlético, esticou os dois braços na direção dos soldados, disparando uma chuva de pequenas esferas brilhantes, acertando grande parte dos soldados. Cada um dos superdotados manifestou seus poderes para chegar ao convés em segurança. A hora de Hatsuki pousar chegou.

Hatsuki: (Alma errante da terra, ajude-me!)

Os soldados feridos, caídos ao chão, viram a jovem ser envolvida por um vulto brilhante vindo do nada e, então, a velocidade de queda de Hatsuki diminuiu. A maioria desses soldados ficaram se perguntando se aquilo foi algum tipo de manipulação elemental, mas um soldado não estava disposto a ficar só olhando. Ele tentou se levantar, cambaleante, ao mesmo tempo que buscava a sua arma no chão, na intenção de pegá-la enquanto ela se aproximava do solo, mas a jovem percebeu a ação e, antes que seu inimigo pudesse agir, ela sacou sua espada e desferiu um corte horizontal nele. Ele imediatamente caiu, sem vida.

Quando Hatsuki se recobrou do pouso, viu seus aliados derrubando mais soldados que chegavam. Parecia ser do lado dela a vantagem, até que mais inimigos, desta vez manipuladores elementais, chegaram e se puseram a retaliar, equilibrando a batalha. No entanto, mesmo que estivesse participando da missão como uma espécie de convidada, Hatsuki recebeu ordens específicas e precisava cumpri-las. Assumindo uma postura ágil a jovem contornou a batalha, visando invadir as instalações do navio. Os movimentos dela eram observados da ponte de comando.

Capitão: Inimiga se infiltrando pela popa, Comandante Lucius!

Lucius: Interessante...

Capitão: Comandante?

Lucius: Está vendo a espada que ela carrega? É de origem oriental. Muito parecida com a minha.

Capitão: Sim, mas o que isso significa?

Lucius: Significa que a suspeita dos chefes de estado americanos estão confirmadas.

O capitão olhou para seu comandante, demonstrando não entender do que ele estava falando. Lucius, porém, ignorou totalmente este detalhe.

Lucius: Temos soldados e manipuladores em grande número, mas dadas as capacidades dela, não será detida tão facilmente. Vou tentar minimizar as nossas baixas e neutralizá-la eu mesmo.

Capitão: Certo. Tenha cuidado, comandante Lucius.

Lucius: Eu sempre tomo cuidado, capitão. Sempre.

De fato, Hatsuki procedia derrubando cada inimigo no caminho. Seu destino deveria estar bem escondido, mas ela não se importava. Precisava cumprir seu teste com sucesso total, orgulhando a seu país e evitando uma possível catástrofe ao mesmo tempo.

Até que um obstáculo de aparência intimidadora apareceu.

Lucius: Vejo que meu navio foi invadido por uma moça bastante obstinada.

Hatsuki parou de correr e, enquanto ela recobrava um pouco de fôlego, observava o homem que estava parado à sua frente.

Lucius: Eu posso perceber que você não faz parte de esquadrão algum. Está mais para... Uma "penetra".

Hatsuki nada disse diante da "brilhante" dedução. Ela ainda percebeu que estava em um lugar com pouca iluminação, onde ninguém entrava e não se ouvia os sons do conflito lá fora. Ela se perguntava se o recinto onde ela e seu oponente estavam era a sala de controle.

Lucius: Vejo que você não tem idéia do lugar onde está.

Hatsuki: Eu tenho minhas teorias. Mas acredito que estou no caminho certo. Na verdade, devo estar bem perto... Ao que parece, a única coisa que me separa do meu objetivo é você.

Lucius: Está perdendo o seu tempo. Você sabe que não vai conseguir. O lançamento já está em contagem regressiva. É só eu te segurar e pronto. Nós venceremos.

Hatsuki: Só vou saber disso quando eu passar por cima de você primeiro.

Ela avançou para o ataque frontal, desferindo um corte horizontal na altura do pescoço de Lucius. Para desviar, ele apenas inclinou levemente seu corpo para trás e em seguida sacou sua espada e contra-atacou. Conseguiu apenas rasgar a túnica acinzentada da jovem.

Lucius: Sua mobilidade é notável...

Hatsuki não respondeu à ironia de Lucius. Ela continuou atacando e Lucius apenas defendia-se, até que este achou uma brecha e cortou a cintura dela.

Lucius: Continue mantendo sua guarda aberta assim e meu trabalho será mais fácil.

Enquanto Hatsuki se recobrava do surgimento do ferimento, ela então olhou para a espada que ele usava.

Hatsuki: Essa espada... Como você a conseguiu?

A espada era familiar à jovem. O que mais lhe chamou a atenção foi o desenho em baixo relevo de uma flor de cerejeira, perto do cabo.

Lucius: Bem... Acho que não há problemas em te contar a verdade, já que hoje é a última noite de sua vida.

O comandante então dirigiu um olhar vangloriado a sua própria espada.

Lucius: É realmente uma peça sem igual. Foi conquistada pelo tenente Manson, quando ainda era adolescente. Ele foi até a Polônia e tomou esta espada de uma menina chamada Haruka...

Imediatamente, Hatsuki sentiu-se arrependida de ter feito a pergunta. Porém, para ela, finalmente estava esclarecida a morte de Haruka, sua irmã mais velha. Naquele momento, a jovem não pôde evitar que a dor da perda tomasse conta de sua mente. A angústia e a determinação de vencer a batalha que estava travando se combinaram, resultando em ódio puro.

Hatsuki: Desgraçado!

Lucius: Não deve sentir raiva de mim. Deve sentir raiva do Trevor, que...

Ele teve que interromper a frase para evitar um golpe fatal. E, logo depois, teve que voltar aos movimentos evasivos, desta vez num ritmo mais rápido. Para ele, era chegada a hora de finalizar a batalha. Aproveitou a chance e deu um chute nas pernas de Hatsuki, derrubando-a no chão e, em seguida, a imobilizou.

Lucius: Você já se divertiu o suficiente. Invadiu meu navio, abateu vários soldados... Agora está na hora de você pagar seu preço. Péssima escolha ter vindo aqui!

Num requinte de crueldade, Lucius usou sua espada para provocar ferimentos no corpo da jovem. Ele desejava testemunhar a angústia e o desespero dela, mas isso não aconteceu. Ignorando a dor, Hatsuki disparou um comentário debochado.

Hatsuki: Mas por quê você não me matou logo, imbecil? Me deu tempo pra virar esse jogo!

Lucius: Do que está falando?

De repente, uma gigantesca mão acinzentada surgiu do nada e agarrou a Lucius, apertando impiedosamente o seu tórax. O comandante tentou se libertar, mas foi inútil. Foi quando percebeu que estava sendo erguido por um ser monstruoso, de quase três metros de altura.

Lucius: Isso... É um espírito da terra?!

Hatsuki: Só um adendo. Isto é apenas um décimo do potencial do meu país.

O monstro medonho olhou nos olhos da Hatsuki caída, como se estivesse aguardando algum tipo de consentimento.

Hatsuki: Vai!

A criatura então arremessou Lucius numa parede, provocando rachaduras enormes na mesma. O comandante caiu desacordado. Hatsuki empregou esforços para se levantar, sendo ajudada pelo espírito.

Hatsuki: Me desculpe... Não tive escolha senão te invocar por completo. É isso que configura violação, não é? Bem... Acho que isso é um adeus então... Foi bom ter um espírito protetor como você...

O espírito respondeu balançando a cabeça afirmativamente e desapareceu, deixando Hatsuki sozinha, se equilibrando com dificuldade. A jovem se sentia um tanto inútil, já seus poderes se foram, mas ela não pretendia parar por aí.

Hatsuki: (Vamos lá. Falta pouco... Só depende de mim.)

Ela marchou em direção à sala de controle de lançamento dos mísseis, ignorando Lucius caído ao chão. Chegando lá, ela checou o recinto, vendo se havia mais alguém lá, mas não havia uma alma viva, o que ela achou um pouco incômodo. Mas a sensação de incômodo logo deu lugar a de frustração: Olhando os monitores, ela viu que três mísseis haviam sido lançados. Com o máximo de pressa, ela se dirigiu aos controles dos mísseis. Um deles já estava próximo demais do alvo segundo a cronometragem marcada na tela e não havia tempo para desativá-lo; portanto, ela se concentrou em desativar os dois restantes.

Porém, enquanto ela desativava os mísseis, alguns indivíduos apareceram no local. Assustada, ela se pôs em prontidão, mas logo se acalmou ao perceber que estes indivíduos eram aliados ao comando de Svask, que estava com eles.

Svask: Hatsuki! Situação?

Hatsuki: Três mísseis foram lançados... Mas só consegui desativar dois deles... Sinto muito.

Svask estava decepcionado, mas, pelos ferimentos da jovem, julgou ter sido difícil para ela chegar a tempo.

Svask: Entendo...

Svask então foi conferir brevemente os monitores ao redor. Viu que eles estavam mostrando uma barra de carregamento, que se referia à limpeza total dos HDs. Estava 89% concluída.

Svask: Esses safados... Puseram um programa pra apagar os dados assim que os mísseis sumissem do radar. Não temos como rastreá-los.

Hatsuki: Bem, não importa... De qualquer jeito, descobriremos o destino dos mísseis em breve.

O veterano achou o comentário da jovem um tanto maldoso, mas não se manifestou. No fundo, ela estava sendo apenas realista, e não se pode confrontar um fato desagradável em tempos de guerra.

Entrementes, o helicóptero de transporte cruzava o Atlântico, carregando alguns feridos. A bordo estava também Lucius, com parte de seu corpo imobilizada, envolvida em ataduras. Ele estava com os olhos fechados quando ouviu a voz de uma oficial.

Oficial: Senhor, está acordado?

Lucius: Ugh... Infelizmente, sim.

A oficial sentiu o evidente mau humor dele, mas tinha a obrigação de informá-lo da situação.

Oficial: Conseguimos resgatar o senhor do navio em segurança, mas infelizmente, o navio foi tomado, senhor. Apenas três mísseis foram disparados.

Lucius: Três mísseis... Não fazem o trabalho completo. Mais alguma notícia ruim, senhorita?

Oficial: Na verdade, tenho uma notícia boa para o senhor. Recebi uma mensagem da sua mulher. Ela acabou de dar a luz.

Lucius: Meu filho nasceu?!

Oficial: Sim, senhor. Ela disse que ele nasceu saudável e sem complicações. Ah, sua mulher também pediu uma sugestão para um nome...

Graças à dor e ao cansaço, Lucius esboçou um sorriso fraco, porém forte o suficiente para a oficial perceber a alegria que ele sentiu.

Lucius: Já tenho um nome. Vou chamá-lo de... Milals. É, esse é um bom nome... Milals...


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