–Cath! – gritou Matthew se aproximando de Catherine, a horrível “coisa” que estava no chão gemendo e chorando de soluçar.

Eu não gostava dela, não mesmo! Mas, não queria que ela tivesse um fim tão trágico e terrível como aquele. Era muita maldade ser atingido como ela foi!

Ela estava com as duas pernas completamente cortadas, com ossos quebrados e uma faca cravada em seu coração, não consegui olhar fixamente para a faca, eu não conseguia concentrar os olhos em nada e minha visão estava turva por causa das lágrimas que não paravam de deslizar teimosamente por minha face.

–Vai ficar tudo bem! – ouvi a voz trêmula e triste de Matthew. Eu não sabia o que fazer! Não tinha o que fazer!

Abaixei minha cabeça e cobri meu rosto com as mãos, tentando entender porque aquilo acontecera e o que ela estava fazendo ali!

–Melany... – ouvi o sussurro cansado e falho, estava vindo da boca de Catherine, com certeza!

Levantei meu rosto, melancólico e me arrastei até ela, que não estava muito distante.

Ela me olhou, com um sorriso nos lábios, que estava expelindo sangue compulsivamente, mas não me incomodei nenhum pouco. Eu não gostava dela, mas naquele momento eu me sentia amiga dela, íntima.

–Quero que saibam que tudo que fiz... – ela pausou e respirou com incrível dificuldade, enquanto Matthew tentava ajudá-la com seu dom da cura, mas não parecia estar dando muito certo. Parecia que havia chegado a sua hora de partir. – Foi para ajudá-la Melany. – sorriu ela, agora, não mostrando os dentes.

–Tente não falar Cath... – sussurrou Matthew com as mãos em sua testa e acariciando seu rosto. Ela olhou-o.

–Tudo que eu queria, era o seu amor Matthew. – ela sorriu e pude perceber, naquele momento, o porquê do ódio que ela sentia por mim. Ela olhou para mim. – E o seu, irmã. – falou ela, tentando não expressar emoções muito fortes.

Minha visão congelou e eu não entendi nada! Como assim ela era minha irmã?! Da onde ela tinha tirado isso?! Ela estava maluca?! Só podia ser coisa de doido! Talvez fosse pela incrível dor que ela estivera sentindo. – pensei. Mas, depois, me conscientizei que não era hora para ficar tendo ataques sentimentais e nem conversas internas no momento e sim, de escutá-la e ficar quieta.

–Irmã? – sussurrou Matthew com os olhos em lágrimas e completamente perdidos.

–Sim... – respirou ela pesadamente, com os olhos com lágrimas. – Eu e Melany somos irmãs, mas... – respirou ela novamente. – Mamãe me entregou para Joan, então isso nunca foi revelado. – falou ela arfando.

–E porque ela faria isso?! – não consegui evitar a irritação.

–Porque sempre foi você Melany! Você é a chave! Você descobriu o segredo da família Black! Você tem de ficar com Matthew. – exclamou ela, sorridente. Ela parecia entender que eu era o centro das atenções, mas eu não queria ser! Era o que ela nunca entendeu. –Por isso eu te odiava tanto! Eu sempre quis ser você. – tossiu ela, expelindo mais sangue.

Eu olhei para Matthew e seu olhar estava cansado e confuso, mas não mais que o meu estava.

–Que segredo Catherine? – perguntei muito confusa e chocada com a notícia toda. Eu não conseguia parar de pensar nas discussões que tive com ela, por bobagens! Eu nunca soubera que tinha uma irmã e eu sempre quis ter! Era injusto! Era muito injusto! Naquele momento eu tinha descoberto e perdido a última pessoa que me restara! Não era justo!

–“A chave é a quinta filha da sétima geração, dotada de dons especiais e a única a governar Alídea”. – citou ela subitamente, como se aquilo fosse um verso de Shakespeare. – Você é a chave! Você governará Alídea, assim como nossa mãe e nosso pai. – sorriu ela.

–Isso... – gaguejei. – É impossível! – falei, chorando e tentando controlar os zilhões de sentimentos que eu não sabia explicar. Era muita informação para uma pessoa como eu. Eu não conseguiria governar Alídea! E que papo era aquele de mamãe e papai ser rei e rainha de Alídea!

–Nada é impossível, irmã. – falou ela, colocando a mão sobre a faca e apertando o capo de ferro com força, sobre uma serpente cravejada de diamantes.

–Me desculpe? – Catherine estava falecendo e eu não iria, definitivamente, não poderia dar meus ataques naquele momento. Apesar do choque, eu tinha que me controlar e tentar respirar fundo.

–Eu que peço perdão a você. – falou ela. Agora, se dirigia a Matthew. – Cuide bem de minha irmã, ela irá precisar de ajuda.

Aquela cena era tão triste e tão tocante que eu não conseguia parar de chorar e meu coração batia devagar, como um coração idoso. Eu a amava como irmã, naquele momento! Seu pedido de perdão, me fez ver que não era culpa dela! Nunca foi! A culpa era minha! Eu era a chave! Eu era a quinta filha da sétima geração! E eu deveria sofrer por isso! Não ela!

–Vou cuidar dela. – sorriu ele, com os olhos transbordando.

–Agora me abracem, estou morrendo, mas ainda estou viva! – falou Catherine, com seu senso de humor sendo demonstrado na pior situação possível.

Fizemos o seu pedido e rimos todos juntos ao abraçá-la.

–Eu te amo irmã. – falei sorrindo, com os olhos fechados.

Apesar de aquele ser um momento tristíssimo da minha vida, eu estava feliz por descobrir que tive uma irmã tão forte e que ela era Catherine, uma menina forte, determinada e às vezes meio durona demais, mas sabia que tinha um coração de ouro, apesar de não ter avaliado bem a situação, antes.

–Eu também... – suas palavras se perderão no ar, igualmente com meus soluços de um choro ainda mais forte e agora de pura tristeza.

Tudo se passava em câmera lenta.

Eu agarrada ao corpo de Catherine desejando que tudo voltasse a ser como era antes, que nada daquilo estivesse acontecido e que eu pudesse ter impedido aquela situação horrorosa. Mas, eu tinha certeza que Charlie estava por trás daquilo e mais uma vez ele me tirou uma pessoa que não era, mas passaria a ser importante na minha vida.

Matthew me puxava para que eu largasse o corpo sem vida de Catherine, mas eu não conseguia! Eu queria que alguma coisa acontecesse e ela voltasse à vida e a ser como ela era antes, as coisas iria realmente mudar! Mas, por mais que eu gritasse seu nome, chorasse e esperneasse, ela não parecia ouvir e aos poucos eu fui me conscientizando que não adiantava mais gritar e chorar que ela não voltaria à vida.

–Mel, temos que deixá-la ir... – falou Matthew com lágrimas nos olhos, me abraçando fortemente.

–Não posso deixar... – falei soluçando e arfando. – O corpo dela aqui. – eu realmente não podia! Não era digno! E eu também teria de falar com a família adotiva dela, já que ela era minha irmã de sangue. Mas, toda aquela história ainda não estava bem formulada na minha mente, naquele momento eu só sabia que ela era minha irmã e ponto final.

–Não se preocupe. Quando um Nirhaquiano vem a falecer, essa pessoa vira pó, junto com sua serpente. – falou ele, visivelmente triste.

Fiquei mais aliviada, assim não teria que velá-la. Seria muito triste, todos de preto, enterrando seu corpo e também, o que eu diria para os seus pais?! Não teria nem cara de olhá-los nos olhos.

–Matthew, e os pais dela? – perguntei, tentando me parecer forte e evitar ao máximo as lágrimas.

–Ela não tem pais. Ela foi emancipada e logo depois toda sua família morreu em um incêndio e ela veio até nós, mas nunca nos disse como nos achou. – disse ele, se levantando e me ajudando a levantar. Eu não o olhava, só visualizava o rosto sereno de Catherine, enquanto parecia que estava dormindo tranquilamente.

–Hm... – sussurrei, agora já de pé e me sustentando.

Ele me soltou devagar e me deu a mão.

–Vamos. Não quero que veja essa cena. – disse ele virando de costas para Catherine, aparentemente estava muito triste, mas não queria demonstrar tal tristeza para mim.

Eu queria ficar com ela até o fim, mas concluí que eu já tinha ficado até o fim. A alma dela não estava mais ali, somente o corpo, então não havia mais motivos de eu continuar ali.

–Vamos. – disse andando de mãos dadas com Matthew me lembrando das palavras de Catherine, que eu e ele deveríamos ficar juntos.

Quando estávamos a uns oito ou nove passos de Catherine ouvimos um barulho, de como se fosse chamas aparecendo do nada, me assustei e quis olhar para trás, para ver o que era, mas Matthew foi mais rápido, contendo meu rosto, segurando em meu queixo e me fazendo olhá-lo nos olhos, o que me acalmou e eu entendi que eu realmente não deveria olhar e foi o que fiz. Continuei andando com ele, até a casa de Beth, onde teríamos a péssima desventura de contar o que aconteceu.

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~The End