Prosto Krasivoe Litso escrita por Brave


Capítulo 1
Capítulo Unico




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“No final das contas, você não passa de um rostinho bonito.”

Miro no manequim usado como alvo e atiro. Atiro no coração e, em seguida, atiro onde deveria ser a cabeça. Atiro novamente e continuo atirando até o boneco cair no chão. Então miro no outro, que tem o mesmo fim do ultimo. Faço isso em todos.

Ouço a porta abrir quase silenciosamente, mas não viro. Os passos largos e despojados só podem pertencer a Tony Stark. Clint tem passos firmes e duros. Steve também, um típico soldado. Bruce é mais tímido, contido. E Thor, bem, é fácil saber quando o deus do trovão está por perto.

– Eu acho que eles já estão mortos, Nat.

– É sempre bom garantir, Stark. – Digo ainda sem virar.

– Você é quem sabe, só toma cuidado com a parede. Eu acabei de reformar. Só vim avisar que eu e o Legolas vamos tomar um drinque, achei que você fosse querer um pouco. Relaxar... Você sabe o que isso significa, não sabe?

Abaixo a arma e viro apenas a cabeça enquanto a recarregava.

– Stark, eu não virei a melhor agente relaxando ou tomando um drinque. – Respondo calmamente.

Em seguida, desbloqueio a arma e miro em um manequim já caído.

Um rostinho bonito. BANG! Nada mais que um rostinho bonito. BANG!

A porta se abre novamente.

BANG!

Quando percebo que estou sozinha, abaixo o revolver novamente. Analiso o estrago que fiz. Os bonecos de pano estão espalhados pela área de treinamento da Torre Stark – ou Torre Avengers – e seus suportes estão quebrados no chão. O ético seria limpar, mas Stark provavelmente mandara alguém para fazê-lo depois de qualquer jeito. Simplesmente vou para o ultimo andar – o andar dos Vingadores.

Dividimos o andar como se fosse um apartamento. Fury acha que nos ajudaria a nos entrosar melhor, estava funcionando. Após a batalha de Manhattan, quando os Vingadores se mudaram para a torre Stark, nos aproximamos muito e descobrirmos coisas em comum. Gosto da companhia de minha nova equipe, mas ainda não me acostumei com ela. Prefiro ficar sozinha.

Na sala, Clint e Tony riem como crianças, efeito da bebida na mão de cada um. Steve decidiu se juntar a eles, um fato raro, já que o Capitão sempre zelava pelos seus soldados. Mas lá estavam os três: bêbados e se divertindo. Felizes.

Gostaria de poder me juntar a eles, de... Relaxar como o próprio Tony disse. Mas uma frase continua me atormentando, me deixando incapaz de pensar em qualquer outra coisa. No final das contas, você não passa de um rostinho bonito.

Será que sou isso mesmo? Apenas um rostinho bonito?

Ignoro-os e vou para o meu quarto. Fecho porta e jogo meu casaco na cama. Vou para a sacada particular que tenho e deixo o vento gelado me atingir.

No final das contas, você não passa de um rostinho bonito.

Talvez eu realmente fosse. Afinal, como foi que eu consegui me tornar o que eu me tornei, mesmo?

A espiã que sabia de mais. Sorrio com a lembrança.

1928. O ano em que meus pais biológicos morreram. A única coisa que eu soube sobre eles é que minha mãe me entregou a um soldado para me salvar do ataque dos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Ivan Petrovich cuidou de mim, ele se tornou o meu pai desde então.

Ainda nova, fui matriculada em uma escola de elite. Sempre me sobressai em todos os quesitos. Normalmente me diziam que eu tinha um... Um rostinho bonito.

Alexi Shostov. Meu ex-marido. O Guardião Vermelho. “Morto”. O que ele sempre me dizia mesmo? Ah sim, que eu tinha um rosto bonito.

Não poderia ser verdade. Poderia?

O governo russo fez experiência que retardaram o meu envelhecimento. Para que eu...

Para que você fique eternamente bela, minha Natalia.

Petrovich me falava antes das experiências.

Tento tirar as ideias de minha cabeça. A que isso me levaria? Desde pequena, aprendi a controlar meus sentimentos. Para ser a melhor.

"Esqueça tudo. Esta é sua vida agora. Você tem sido treinada para matar. Sem segundas chances, sem volta, e sem hesitação. Você foi colocada em seus limites, para ser mais rápida que o mais rápido, mais forte que o mais forte, e mais esperta que o mais esperto. Não há meio ou quase lá. Só há perfeição. Você vai correr, você vai atirar, você vai lutar, você vai matar. Você foi preparada em todos os sentidos com apenas um objetivo: para ser a assassina perfeita. Agora é o momento de se tornar o que você trabalhou. Você verá coisas, coisas de pesadelos; coisas que as crianças pensam que veem escondendo embaixo de suas camas. Você vai perder membros, amigos e familiares, e tudo o que costumava ser importante para você ira se tornar nada. Este é o preço para brincar de deus. Você sempre vai pagá-lo. "

Lembro cada palavra, apesar de ter no máximo 18 anos quando Petrovich me pressionou ao meu limite. Era mais nova ainda a primeira vez que matei.

Um rostinho bonito.

Apenas um rostinho bonito.

Nem mesmo Barton conhecia tanto sobre a minha vida. Às vezes, achava que, se eu ficasse muito tempo sem pensar no meu passado, esqueceria facilmente. Mas não. Sempre estava lá para quando eu tivesse uma recaída.

Afinal, eu não passo de um rostinho bonito.

Nunca importou eu ser uma excelente lutadora, perita em artes marciais ou ser uma especialista em armas de fogo, táticas militares ou espionagem. Não importava nada disso. Pois eu sempre tive um rostinho bonito. Um rostinho bonito capaz de trazer os vilões - ou mocinhos - para a minha teia.

"Apenas pense em mim como mais um dos caras maus. Porque, basicamente, é o que eu sou."

Não costumam acreditar nisso, até receberem uma faca no peito.

Fui criada para matar. Pelos estilos mais dolorosos e torturantes existentes. Fui criada para torturar. Fui treinada para conseguir o que quero.

Lembro-me de minha primeira missão.

De como fiquei surpresa ao descobrir que não era a única Viúva Negra existente. Que existiam mais como eu, e eu havia sido a única a sobreviver.

Com certeza não foi por ter um rostinho bonito.

Respiro fundo e sinto alguns arrepios devido ao frio de fim de ano, mas ignoro-os. Já passei muito mais frio do que isso.

“Mas que rostinho bonito você tem, meu bem...” A voz de um homem de mais ou menos 40 anos se juntou a coleção de flashbacks “Não é possível que você seja a menina-prodígio da Rússia.”

Evitava pensar nesse dia desde a Iniciativa Vingadores. Não poderia ter mais dividas.

Depois disso, voltei para a Rússia e continuei treinando. Continuei sendo a melhor.

Então veio Budapest. Ah, Budapest...

Quando conheci Clint. Fui mandada para mata-lo, não tinha muitas informações sobre ele e não me importei em pesquisar. Ele também foi mandado para me matar, só que ele sabia demais sobre mim.

– Desculpa-me perguntar, mas o senhor não é daqui, certo?

A minha vitima terminou de tomar sua bebida e se virou para mim. Estávamos no bar do hotel mais caro de Budapeste. O homem usava terno e gravata, pude ver que era musculoso e tinha mãos calejadas.

– Na verdade não, sou dos Estados Unidos. – Ele respondeu.

Provavelmente algum agente, pensei.

Conversamos por mais um tempo, até eu decidir começar a jogar.

Inclinei-me sobre a mesa de modo que meu decote ficasse mais aparente. Seu olhar seguiu exatamente para onde eu queria, mas não se demorou lá. Sua mão seguiu para minha perna e logo estávamos no seu quarto do hotel.

Seu beijo era... Diferente. Tentei me concentrar em meu serviço então, enquanto ele me beijava, peguei uma faca em baixo do vestido que usava. Posicionei-a em suas costas diretamente para matar. Entretanto, fui surpreendia: O tal do Barton alcançou o meu pulso e me imobilizou, me lançando no chão e passando a faca que estava em minha mão para a sua e colocando-a em meu pescoço.

– Vai me matar, Barton?

– Tenho outros planos para você.

Não, nunca fui apaixonada por Clint. Nem mesmo quando tivemos um pequeno caso, ainda em Budapeste. Também nunca fui apaixonada pelo meu ex-marido, Alexi. Amor é coisa de criança.

Não virei a melhor me apaixonando.

Nem pelo meu rostinho bonito.

Virei por causa de Petrovich, pois ele nunca me deixou desistir. Nunca me deixou cair ou enfraquecer.

Sinto uma movimentação do lado de fora de meu quarto e aperto a arma que ainda seguro mesmo sem perceber. Noto que não tranquei a porta quando a mesma abre num baque e um Capitão América cambaleante entra no meu quarto.

– Nat- Natasha? O-O que você está fazendo no meu no meu quarto?

Deixo minha arma na cabeceira e ajudo Steve a se sentar em minha conta.

– Acho que você passou da conta hoje, Capitão. – Digo incerta de que ele é capaz de me ouvir devido à altura de minha voz. – Vem, você precisa de um banho gelado.

Apoio o soldado em meu ombro e levo-o para o banheiro. Ele tropeça nos próprios pés um pouco, mas logo ele está apoiado no vidro do box do banheiro. Tiro sua blusa e sua calça. Não que eu tenha problema em ver homens pelados, mas não parece certo. Quando ele começa a parecer um pouco melhor, desligo o chuveiro e jogo-lhe a toalha. Logo, estamos novamente na minha cama.

– Como se sente? – Pergunto.

– Péssimo. Natasha, posso te pedir uma coisa?

– Claro.

– Posso passar a noite aqui? Eu acho que não vou conseguir voltar para o meu quarto tão cedo.

– Tudo bem. Me surpreendeu hoje, Capitão, achei que não bebesse.

– Não bebo, mas acho que precisava relaxar um pouco. – Ele diz como se estivesse comentando sobre o tempo.

Deixo-o descansando e volto para onde estava antes dele chegar. Ainda venta, mas não sinto frio. Sinto dor.

Dor. O que eu fui treinada de todas as maneiras para não sentir.

Por que eu sinto isso? Não faço ideia.

– Natasha? – Ele me chama. – Quantos anos você tinha?


– Mas que rostinho bonito você tem, meu bem... – O homem disse enquanto acariciava meu rosto. - Não é possível que você seja a menina-prodígio da Rússia.

Mantive minha expressão. Sem sentimentos. Sem dor. Sem medo.

De todas as vezes que já fui capturada, essa foi a pior.

Barão Strucker pretendia fazer uma lavagem cerebral em mim e me transformar em sua assassina particular. Lembro-me de ter minha vida inteira passando diante de meus olhos. Não que fosse muito boa, mas ainda era uma vida. Lembro-me de que tinha vontade de chorar, mas não o fiz.

Então ele pareceu.

Eles apareceram

– Largue ela, Strucker! – Capitão América entrou em uma pose heroica gritando.

Ivan e Logan em sua fase pré-Wolwerine entraram em seguida, um de cada lado do soldado, revirando os olhos obviamente entediados com entrada teatral de Steve Rogers. Fiquei contente em ver Petrovich, foi como se uma luz se acendesse no fim do túnel.

­

– Dezesseis. No máximo. – Respondo depois de um momento flashback.

Suspiro e abaixo a cabeça. Sei, pelos meus anos de treinamento, que Steve está me encarando. Não me viro para ele. Fecho os olhos e tenho flashes. Bombas, tiroteios, correria...

Uma única lágrima escorre pela minha face. Não me dou ao trabalho de limpa-la, pois está escuro e Steve não está em uma de suas melhores condições.

– O que aconteceu com você?- Sinto-o se apoiar nos braços.

– Fizeram experiências para retardar o meu envelhecimento. – Digo simplesmente.

Steve volta a deitar e ficamos em silêncio por um tempo.

– Tem a ver com o soro do super-soldado, não é?

Finalmente me viro para ele. Steve está deitado na minha cama com uma calça de moletom e uma blusa simples que eu peguei em seu quarto. Ele apoia os braços atrás da cabeça e encara o teto como se fosse muito interessante.

– O governo soviético criou o Programa Viuva Negra, um grupo de agentes femininas de elite. – Minha voz falha no final da frase e eu decido parar de falar.

Steve se esforça um pouco para se sentar e da uns tapinhas ao seu lado para eu sentar.

– Eu... Acabei sendo a única sobrevivente – Reúno todas as minhas forças na minha voz.

Um novo silêncio se inicia. Steve me olha algumas vezes, mas não por muito tempo. Sinto meus olhos umedecerem e me pergunto o que há de errado comigo. Eu sou a Viúva Negra, a assassina fria e sem coração, que gosta de torturar as pessoas e se sente bem com isso.

– Você é muito mais que um rostinho bonito Natasha.

Rogers acaba adormecendo, me deixando com aquelas cinco palavras na mente.

Mais que um rostinho bonito.

Um sorriso escapa de meus lábios e logo sinto meu corpo se deitando automaticamente e se entregando ao sono.


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Notas finais do capítulo

Ok, eu tinha que escrever isso!
É tecnicamente a história da vida Natasha/Natalie/Natalia
Repetindo: NÃO é a original, pura ficção, porque a original é muito confusa e se eu fosse tentar escrever sobre ela, eu ia me confundir e ia ficar horrível.
Anyway, espero que gostem >