Tirei os olhos do bolo pra olhar a voz grossa que me chamava e deixei o prato cair, arregalando os olhos. Porque, a minha frente, com os olhos azuis cheios de fúria e decepção, esta o próprio deus do mar.

Capitulo 16 – Heartless

A primeira coisa que fiz ao vê-lo foi correr em sua direção e me jogar em seus braços. As ultimas semanas haviam sido difíceis pra mim e o que eu mais queria era esquecê-las. E eu sabia que só Poseidon, com seus braços protetores e sua voz de veludo, poderia fazer isso.

Mas, ao invés de sentir os braços do deus me envolver ou ate mesmo sentir seus lábios tocando os meus, como faziam, eu senti as mãos dele me agarrem pelos ombros e me afastarem de seu corpo o máximo que podiam.

Tentei acalmar meus sentimentos, agora magoados pela rejeição, dizendo a mim mesma que ele estava confuso e precisava descansar.

Então, dei um passo em sua direção e segurei seu rosto nas mãos, sentindo as lágrimas começarem a escorrer por meus olhos.

-Onde você estava? – perguntei com a voz chorosa – As coisas por aqui estavam uma loucura e...

-Pare de fingimento, Annabel – cortou-me zangado e se afastando mais uma vez – Consegui ver você no cativeiro. O que esperava fazer, garota? Deixar-me trancado naquela cela imunda? Matar-me? Pois saiba que a primeira não daria certo por muito tempo e eu certamente não moro. Eu me perguntou, Annabel, porque? Para que tudo isso? Eu teria lhe dado tudo o que desejasse, mas você foi ambiciosa demais. E agora acabou.

-Do que esta falando?

Ele continuou me olhando por um momento, ate que voltou a me agarrar pelos ombros e praticamente me jogou na cama.

-Sei que foi você que me trancou naquela cela – gritou ele –EU A VI LA. Vi você no cativeiro na noite que foi ver como estavam as coisas comigo – ele riu sem humor e se jogou em uma das poltronas espalhadas pelo quarto

-Eu não...

-Não ouse abrir essa maldita boca – ordenou, fechando os olhos com força e massageando as têmporas – Estou pensando.

Continuei encolhida em um canto da cama, sem falar nada ate que Poseidon voltou a se levantar e parou em minha frente.

-A sentença para traição é a morte, ou exilio – disse – E eu, sendo o deus dos mares, a condeno ao exilio.

-O que?

O deus me agarrou pelo braço e me puxou para fora da cama.

-Eu a expulso da minha casa e da minha terra – rugiu – Não ouse chegar perto de mim novamente e não deixe que eu a veja, porque se eu o fizer, morrera.

Ainda segurando meu braço, ele me levou em direção a porta e a abriu.

-Agradeça por eu não tirar sua vida ainda hoje. Agora, corra, Annabel – disse – Fuja para bem longe e não ouse olhar para trás.

-*-

Eu corri. Corri sem olhar pra trás, deixando que lágrimas grossas e salgadas escorrem por meu rosto. Corri porque estava com medo e não queria morrer. Corri para o único lugar que eu sabia estar segura: minha casa. Minha verdadeira casa, no Arizona, com meus pais e principalmente, bem longe do mar.

Meu pai adorou me ter de voltar em casa, e não fez perguntas sobre o motivo de eu ter voltado. Minha mãe, no entanto, vivia me espionando e sempre fazia alguma pergunta estranha.

A única coisa que eu fazia era dormir, comer e assistir desenhos. Além de vomitar, é claro. EU passava a maior parte do meu tempo vomitando.

-Não melhorou? – minha mãe perguntou, certa vez.

-Não – respondi, antes de começar a escovar os dentes – Devo ter pegado gripe ou coisa do tipo.

-Não sabia que imortais pegavam gripe

-Bem, vamos levar em consideração a hipótese de eu não ser mais imortal.

-Esta bem, mas quero que faça um teste – disse, me passando uma caixinha – Só para garantir

Eu sabia o que era é claro, do mesmo jeito que eu sabia que ia dar negativo. Mas se me recusasse a fazer, minha mãe provavelmente ficaria louca, então fiz.

Ela deu um suspiro profundo quando entreguei o teste (já feito) pra ela novamente, então, me olhou com os olhos cheios de lágrimas.

-Vou ser avó – disse – Deu positivo, minha filha. Você esta gravida.