Capitulo 14 – Poder ou não poder, eis a questão

Encolhida em minha cama, com os braços ao redor das pernas e a cabeça apoiada nos joelhos, eu me senti inútil. Completamente inútil.

Fora Lucan que dera ao povo a informação que seria eu a reina no trono, ele quem dera todas as ultimas ordens para um povo sem esperança e era ele, que agora, estava tentando impedir Tritão e seus guardas de entrar em meu quarto. Acho que o filho de Poseidon não aceitara muito bem as novidades. Ele contava que Zeus ficasse ao seu lado, e esse foi seu erro.

Fechei os olhos, tentando esquecer o sonho sobre sangue e morte que eu tivera na noite anterior.

-*-

Há hm grande jardim de algas no fundo do castelo, que logo é seguido por um longo e fundo penhasco. Não havia nada além da escuridão ao seu redor e o lugar emanava uma tristeza profunda. E era exatamente ali que eu estava.

Parada em frente ao desfiladeiro, me pergunto o que aconteceria se eu me jogasse. Se estivesse em algum lugar na terra (ou até mesmo no inferno) obviamente teria caído. Mas eu estava no mar, não na terra. O que aconteceria? Eu flutuaria?

-Rainha?

Voltei-me para a figura atrás de mim. Tinha olhos marrons e cabelos loiros que iam um pouco acima do queixo. Alto e magro, usava apenas uma bermuda e estava em sua forma humana, provavelmente para não me assustar. Eu já o havia visto algumas vezes, sempre nas reuniões dos Conselheiros de Poseidon. Lucan também já havia me falado um pouco dele. Se não me engano, era Dastan, sexto conselheiro.

-Sim?

-Apenas a vi saindo do castelo e fiquei curioso – disse, sorrindo maroto e dando alguns passos em minha direção.

-Se não precisar de nada, gostaria que me deixasse sozinha.

-Na verdade, Rainha, eu gostaria de muitas coisas – respondeu, curvando a cabeça de lado – Coisas me foram negada, mas não as deixei de querer.

-Não entendo – falei, estranhando a conversa.

Dastan deu mais alguns passos em minha direção, ficando apenas a alguns centímetros de mim.

-O que...

Não consegui terminar a frase, porque Dastan se jogou contra mim. Cai no chão com o homem acima de mim, me prensando no lugar. Eu gritei, mas sabia que ninguém poderia ouvir. Dastan aproveitou esse momento para pressionar seus lábios grossos aos meus, enquanto as mãos ágeis tentavam tirar minha roupa. Eu me debatia abaixo dele, chutando e gritando. Em pouco tempo, comecei a sentir o sangue de meus lábios agora machucados, o que fez grossas lagrimas escaparem por meus olhos.

Foi nesse momento que eu senti algo diferente se formando dentro de mim. Senti a magia correndo por minhas veias e me deixando mais forte. Senti o mar ao meu redor se deslocar, formando um pequeno redemoinho que atingiu Dastan e o jogou para longe de mim.

Ignorando a dor que eu sentia em toda parte do corpo, levantei num pulo e passei a observar Dastan. Ele estava a vários passos de mim, caído de joelhos enquanto algas enrolavam-se por seu corpo e vários bichinhos pretos e estranhos ‘voavam’ ao seu redor, perfurando sua pele e deixando o sangue escorrer por ela. Dastan dava tapas no ar, tentando afasta-los enquanto tentava levantar. Tudo em vão.

Não percebi que era eu a fazer tudo aquilo ate um dos ‘pássaros marinhos’ voar (ou nadar) até mim e parar na minha frente, sem fazer nada. Arregalando os olhos e soltando um gritinho, corri em direção ao castelo, deixando Dastam e tudo aquilo para trás.

Nunca contei a ninguém o que havia acontecido com Dastan, mas mesmo depois de anos, as lembranças daquele dia ainda estão vivas em minha mente.