Highway To Glory - Season 2 escrita por ThequeenL


Capítulo 7
Sete - Clove


Notas iniciais do capítulo

Demorei infinito pra escrever e pra postar. Espero que tenha ficado à altura da espera. Obrigada pelas cobranças, foi o que realmente engatou a escrita. Obrigada à JunoVida pela bronca.



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Meia semana se passou desde a intervenção no clube, e ainda não recebemos autorização para sair do distrito 1. Seria até suportável ficar nesse lugar, se não fosse por Cato e Loivissa. Ma já não doía tanto, não me importava mais.

Thorm informou o ingresso de Loivissa na operação Tordo, e eu pensei que todos na sala faziam parte de uma encenação onde o objetivo principal era, sem dúvida, rir da minha cara. Então minha pressa para sair do distrito foi oficialmente extinta, já que a gêmea perversa nos acompanharia até o distrito 2.

Não comi direito nos últimos dias. Na verdade, não me lembro sequer de ter comido algo. Passei grande parte do tempo me informando mais sobre a operação, o seqüestro de Peeta, o bombardeio ao Distrito 13. As horas livres preferi usar para treinar a mira, que estava meio enferrujada. Depois de abater alguns pombos à distância consegui sentir que eu mesma estava de volta.

Talvez o tempo com Cato tenha sido uma mera ilusão, acentuada pelos jogos e pela série de revezes que sofremos juntos. É claro que ainda dói um pouco lembrar as coisas, mas cada vez que invoco uma memória, parece mais ainda que eu não estava realmente lá.

Thorm tem estado extremamente autoritário nos últimos dias. Recebemos ordens para não sair de casa, já que éramos os seres mais procurados de todo o território 1. Passamos dois dias inteiros escondidos em um porão, debaixo do fundo falso da cozinha. Foram os dias em que a patrulha dos Pacificadores vieram revistar a casa. Quem se recusasse a deixá-los entrar era espancado até sair da frente da porta, e isso servia para todos. Foi provavelmente a primeira vez que o Distrito 1 sentiu medo, e viu a insanidade da Capital.

Os dois dias no escuro foram torturantes. Os patrulheiros cercaram a casa e faziam a ronda a cada meia hora, isso em todas as residências de parentes dos ex participantes da última edição. Sem pedir autorização de Kyelles, colocaram escutas em todos os cômodos. Estavam transportando os Jogos Vorazes para o ambiente urbano. Mas alguns momentos foram piores que outros, como quando Cato resolveu puxar conversa.

“Quem você gostaria de ver quando chegarmos ao distrito 2?”

Bufei alto, para que ele pudesse inferir minha expressão mesmo sem conseguir vê-la. Pensei em ignorá-lo, mas Thorm também estava conosco trancado (além de Phia e do gato) e tinha me dado ordens expressas para “ser boazinha”;

“Talvez meu irmão, Nial. Ele deve estar preocupado.” Respondi, seca.

“Com a guerra?” Thorm perguntou, se incluindo na conversa. Não encontrei motivos bons o suficiente para não prosseguir nela também.

“Comigo. Ele sempre chora com tudo, morre de medo de que eu possa me machucar. Na verdade é um bebezão. Na idade dele eu já dava risadas assistindo às mortes nos jogos pela TV. Mas talvez ele nem esteja lá mais. Não sei o que podem ter feito com as famílias dos sobreviventes dos jogos deste ano”

Phia começou a ronronar enquanto o gato lhe sussurrava uma canção de ninar, e lembrei-me de como era ter uma casa. Não que a minha fosse agradável, tendo em vista que meus pais pouco se importavam com a minha presença. Mas era bom ter um lugar meu. E Nial realmente fazia falta. Lembrar de casa me fez ainda mais melancólica. E não era só eu, pude notar. Todos estavam meio grogues, envenenados pela casa, pelo sótão. Passamos o resto do tempo em silêncio, cada um imaginando como seria ter de volta um “lar”.

Assim que recebemos a autorização para sair do Distrito 1 as coisas começaram a se animar de novo. Thorm voltou a fazer suas ironias, Phia voltou a fazer esquisitices tipo vestir o gato. Chegar até o distrito 2 seria mais simples que nossa saída da capital, mas ainda assim requeria certo cuidado.

Descobrimos que o comando inteiro da operação Tordo já estava os esperando no D-2, e enviando todas as ordens de lá, e não do D-13. Segundo Thorm, lá iremos conhecer a chefe dele, líder da patrulha, Lyara, que pelo jeito ele detesta, mesmo tendo tido contato apenas por telefone, e a comandante do D-13, Coin, que são as “cabeças” da operação, junto ao Haymitch e outras pessoas que não conhecemos. Hoje de manhã, ao descer as escadas para o café, encontrei Thorm reclamando com Cato novamente

“Ela pensa que manda em todos, essa Lyara. Até com a Coin ela discute. E não admite erros. Deve ser uma velha chata que não consegue nem andar sozinha, e tem tempo de sobra pra ficar arrumando trabalho pros outros. A Coin é assustadora, vi uma foto uma vez. Katniss não tem certeza de que pode confiar nela. E ninguém parece entender a urgência de resgatar Peeta. Devem estar esperando que Snow nos envie uma orelha dele pelo correio. Ainda bem que vamos sair daqui logo”

Peguei um pão e me sentei com eles junto a mesa, usando uma de minhas adagas para passar a manteiga. Loivissa chegou fazendo mais barulho que o necessário e deu um beijo em Cato, o que não fiz questão de levantar os olhos para ver.

“Como anda a repercussão do nosso discurso, Thorm?” Perguntei

“Melhor impossível. Fui, quer dizer, fomos extremamente elogiados pela reprodução do som em larga escala, e depois de um tempo até Lyara admitiu que cada palavra do que vocês disseram foi bem colocada. Estão usando trechos da gravação em outros distritos, e tentando implantá-los como propagandas clandestinas semelhantes às de Peeta e Katniss, junto a algumas imagens suas na arena. Eles saíram do D-13 para dificultar o rastreamento, e a base de divulgação fica no Distrito 11, onde está quase impossível haver alguma intervenção da Capital. Mas nem tudo são flores. Snow conseguiu apoio internacional e triplicou o exército. Se não formos rápidos e unirmos todos os distritos logo será impossível derrubar a Capital.”

“O trem para o Distrito 2 sai a que horas?” Perguntou Loivissa, com sua voz sebosa. Ela estava tão perto, e minha adaga tão afiada...

“Vamos pelo subsolo, na verdade.” Respondeu Thorm, antes que eu pudesse tentar alguma coisa. Ainda não entendi porquê tínhamos que levá-la.

Assim que terminamos fomos todos para a porta dos fundos, vestidos de maneira extremamente ridícula.

Era dia da Independência em Panem, e a Capital estava tentando usar a data a seu favor, obrigando todos a forjar uma comemoração, divulgando pesadamente todo aquele lixo tóxico ideológico com desfiles, discursos e vídeos “nacionalistas”. Até Snow fez uma proclamação congratulando o povo pelo “seu dia”. O melhor jeito de nos disfarçarmos era nos vestir como habitantes da Capital, assim como todo o resto das pessoas na rua, e fingir estar participando da festa. Com as roupas mais bizarras possíveis, Saímos eu, Thorm, Cato e Loivissa pelas ruas abarrotadas de gente. Em minha mão ia sendo empurrado um carrinho de bebê onde Phia e o gato se escondiam, junto com nossas armas, comida e alguns pertences.

Thorm nos guiou até uma viela escura e deserta, onde havia uma estalagem chamada “a ave mensageira”. Entramos no lugar sem levantar suspeitas, e vimos alguns pacificadores no balcão. Como já era de se esperar, eram agentes disfarçados, que nos deram a chave de nº 402 e indicaram uma escada rumo ao subsolo. Descemos os degraus depressa, e chegamos até uma parede falsa que escondia o portão velho e enferrujado por onde teríamos que passar. Atrás dele havia um túnel mal cavado, que me deixou com um pouco de falta de ar. Me recordei dos túneis da arena, e tive que  respirar fundo antes de seguir caminho.

“Vamos andando?” Perguntou Loivissa, indignada. Revirei os olhos e pensei “Vermes como você rastejam”, mas Thorm me deu um olhar repreensivo antes que eu fosse capaz de verbalizar a frase. A serpente foi reclamando durante uma hora, até ficar cansada demais para falar, para a nossa sorte. Eu poderia andar para sempre, se não fosse pelo carrinho de bebê. Começamos a revezar para ninguém ficar sobrecarregado.

A viagem a pé duraria pouco mais que um dia, e o túnel era irregular, o que atrasava um pouco a jornada. Pouco era conversado entre o grupo, e as paradas foram freqüentes demais, já que Loivissa não agüentava andar por muito tempo. Fizemos acampamento ao perceber a passagem da noite e não houve a necessidade de muita vigília. Fizemos turnos em duplas, como de costume, e por azar do destino eu e Cato fomos sorteados para vigiarmos juntos. Loivissa fez um escândalo, mas logo ficou quieta quando percebeu que não tinha com o que se preocupar, e que Thorm iria sedá-la caso não ficasse quieta.

“Você não tem comido muito” Falou Cato depois que todos dormiram. Ele não pode estar realmente pensando que vamos conversar como se estivesse tudo bem. Não agora que Thorm não estava acordado para me obrigar a fingir que estava.

“Eu sei que você está me odiando” Ele disse depois de um tempo, quando percebeu que eu não iria responder.

“Não estou te odiando, Cato. Não estou sentindo nada por você, além de indiferença. Eu sequer lembraria a sua existência se não fosse obrigada a olhar pra sua cara todos os dias. Não aja como se muito importante”

“Não estou agindo como se fosse. Só acho que você está certa por me odiar, eu me odiaria também. Mas não precisa ficar se matando por isso”

Senti o ódio subir pelas minhas bochechas.

“Você acha que tudo é sobre você, não é Greedth? Pois pode ficar de consciência limpa, porque não é. É até melhor que você esteja com a Loivissa, vocês são bem parecidos. Igualmente arrogantes, egocêntricos e egoístas.”

Percebi que havia tocado em algum ponto crítico de Cato. Ele mudou para um tom mais severo, quase sombrio

“Eu não sou nem um pouco parecido com ela.”

Ele cuspiu as palavras como se fosse algo amargo, e por um momento quase acreditei que ele nutrisse asco por ela, mas não beijamos pessoas que nos dão nojo.

“Não há nada que você possa dizer para me fazer acreditar nisso. Mas já não é importante o que eu acredito ou o que você diz” respondi.

“Você nunca disse que me amava depois que saímos da arena” ele disse, de repente. Levei alguns segundos para digerir a frase, e retruquei seca

“Você falou, e retirou o que disse no dia seguinte. Bem, talvez eu tenha sido a mais sincera de nós, ao não ter falado nada. Se seu interesse é em saber se tenho algo a dizer agora, a resposta é simples: eu não amo você também. Talvez nunca tenha amado.”

Cato não respondeu de imediato, foi como se minhas palavras o tivessem acertado e produzido um nó na garganta;

“Mas você me disse na arena.”

“Eu disse muitas coisas na arena. Eu era outra pessoa na arena, e você também era.”

“Mentira”

Franzi o cenho. Aonde ele queria chegar com essa conversa? Quando e estava prestes a pensar que havia alguma chance de ser algo, Cato deu um sorriso malvado, daqueles que dava para as vítimas, e riu baixinho

“Você é tão fácil de enganar, Ruthless. Aposto que está achando que eu vou me declarar ou algo do tipo, ou ficar chateado com as suas palavras. Bem, você se lembra de mim, de quando eu disse logo no começo o quando eu achava Glimer bonita. Ela sempre foi a primeira opção, só que morreu rápido demais. E agora Loivissa apareceu, e eu não podia deixar passar a oportunidade. Você foi mera obra do acaso. Está se enganando se pensa que eu dou a mínima pra você também.”

“Então porque começou a conversa?” Perguntei, indignada. Além de me fazer sofrer, ele ainda estava se divertindo à custa da situação. Era como se alguém tivesse ateado fogo ao meu cérebro.

“Gosto de ver você fingindo que se esqueceu de mim tão fácil, tentando fazer as mentiras que você conta pra si mesma virarem verdade.”

“Pra mim já chega!” Exclamei um tom acima do normal. “Se o objetivo era me tirar do sério, parabéns Cato, você conseguiu. Vá chamar a Loivissa pra terminar a vigia como você, porque eu não fico aqui nem mais um minuto.” E me levantei, indo para longe  a fim de evitar um homicídio.

Demorei certo tempo pra dormir, e tive que fazer força para não chorar, ou rasgar a garganta de todos enquanto dormiam. No dia seguinte a dor foi sendo absorvida pelo meu organismo e pude lidar com ela tal como com as demais dores que já estava carregando.

Cerca de 30 horas depois de entrarmos no túnel, saímos dentro de uma estalagem similar à do Distrito um, porém quase vazia, com exceção de uma moça morena no balcão. Estava de costas e vestida toda de preto, com duas armas atadas ao cinto. O cabelo cacheado estava preso em um rabo de cavalo que descia até o banco onde estava sentada. As botas de cano longo continham o emblema da guarda oficial de Snow. Thorm nos fez sinal para sermos silenciosos e embainhou uma faca. Coloquei a mão em uma adaga dentro do carrinho de bebê, e Cato pegou sua espada. Antes que algum de nós atacasse, ela se virou para nós, apontando uma terceira arma. Foi tudo muito rápido.

Lancei minha adaga o mais rápido que pude, mas a mulher desviou como se eu a tivesse mandado em câmera lenta. Thorm já estava próximo dela e tentou esfaqueá-la, mas ela lhe deu uma rasteira e cravou-lhe a própria faca no ombro. Cato avançou com a espada, e ela parou o golpe com o antebraço, que estava protegido por um bracelete de aço forjado, e lhe deu uma joelhada no estômago, imobilizando-o também. Atirou no rumo do carrinho de bebê, perto de onde Loivissa se escondia. Phia e o gato caíram pelo chão, e então quando eu estava prestes a lhe lançar outra adaga ela abaixou a arma

“Um minuto, vocês são a encomenda?” Ela perguntou, desconfiada

Thorm se virou, ainda no chão gemendo de dor e balbuciou

“É claro que somos a encomenda. Você é a destinatária?”

“Eu jamais iria saber se não fosse pela menina e pelo gato. Vocês parecem diferentes na televisão, tributos do 2” Ela respondeu com naturalidade, ignorando Cato e Thorm no chão, e minha expressão e a de Loivissa de pavor.

“Quem é você, afinal?” Perguntei, eufórica.

“Sou Lyara, comandante da patrulha da operação Tordo. É um prazer conhecer vocês” Ela sorriu com naturalidade, o que me deixou mais assustada. Se era mesmo a tal Lyara, como tinha conseguido o uniforme oficial da guarda de Snow? Achei melhor continuar na defensiva, enquanto ela terminava de falar e ia ajudando os rapazes a se levantar.

“Explico tudo no caminho, temos que ser rápidos. Ah, e já ia me esquecendo, bem vindos de volta pra casa.”


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, ou pelo menos achado decente. pode vir a sofrer algumas pequenas alterações, mas nada que vá mudar a essência do cap.
Eu sei bem que nada compensa tamanha espera ou justifica tamanha demora, e pode parecer que nós autores (de um modo geral, e específico) não damos a mínima pros leitores, mas nós nos importamos MUITO com vocês.
Estou muito lisonjeada pela sua atenção e preocupação com o andamento da fic, de tods vcs.
espero poder corresponder às expectativas de velocidade de envio dos cap. num futuro próximo :)