Santuário escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 4
Buscando ajuda




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Ele tamborilava a mesa com os dedos enquanto falava ao telefone, tentando disfarçar seu desagrado. Perder as estribeiras com o prefeito da cidade poderia não ser boa idéia.


– Sr. prefeito, eu entendo suas preocupações e estamos estudando muito bem o assunto, mas o senhor também precisa entender os benefícios que a construção desse parque aquático irá trazer para a cidade!

– Os ambientalistas estão muito preocupados com o local escolhido. Eles alegam que aquela área abriga espécies em perigo de extinção.

– Minha equipe examinou o local cuidadosamente e não encontraram ali nenhum animal ameaçado de extinção. A construção do parque aquático não trará nenhum impacto ambiental significativo e eu já expliquei que deixaremos uma grande área verde intocada.

– O problema é que essa área verde que o senhor pretende reservar representa menos que 10% da área original. É isso que preocupa os ambientalistas.

– Bem, acho que podemos aumentar um pouco esses números. Esses 10% é apenas uma estimativa por baixo e...

– De qualquer forma, esse assunto precisa ser mais estudado. Todo cuidado é pouco.

– Mas Sr. prefeito...

– Suspenda as obras por enquanto. Até que um acordo benéfico seja feito, não posso permitir que a obra continue. Passar bem, Sr. Pereira.


Vladmir desligou o telefone muito irritado. Uma obra grandiosa estava sendo atrasada por causa de bobagens de pessoas desocupadas. Ele voltou a olhar os relatórios que alguns técnicos tinham feito e checou mais uma vez a lista de espécies ameaçadas que habitavam o lugar. Para ele aquilo não era problema. Afinal, espécies sempre foram extintas ao longo da historia da terra e outras surgiam no lugar. Por que se preocupar com isso?


“Eu preciso pensar em alguma coisa... não posso deixar que descubram isso ou nunca poderei começar as obras.”


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– Que diacho! A serra falhou de novo!

– Como pode? Esse equipamento é novo!

– Tem alguma coisa nesse lugar, eu estou falando!

– Deixa disso, homem. Não tem nada aqui. E de qualquer forma, o chefe disse que o prefeito não autorizou o inicio da obra, então não podemos fazer nada mesmo. Vamos tomar um café que é melhor.


O homem deixou a serra elétrica no chão e seguiu o outro, ainda intrigado com aquela série de eventos estranhos que estavam acontecendo no local. Os equipamentos estavam falhando um atrás do outro sem explicação nenhuma. Também estavam acontecendo pequenos acidentes que apesar de não serem graves, estavam atrasando o trabalho de todos. Ao pegar uma caneca de café, ele resolveu não pensar mais naquilo. Quando as obras começassem para valer, tudo acabaria dando certo.


Ao ver os dois homens se afastando, o gnomo saiu de trás da arvore satisfeito por ter conseguido evitar mais uma morte sem sentido. Aquela coisa maldita não ia mais destruir nenhuma árvore.


Como os humanos não davam sinal de que iam fazer algo, ele correu até para onde estavam as ninfas.


– Parece que eles não vão fazer mais nada hoje. Só não sei como será amanhã...


Nina balançou a cabeça, desanimada. Por enquanto, eles estacam conseguindo conter o avanço daquela devastação, mas aquilo não podia durar para sempre. Mesmo que eles destruíssem alguns equipamentos, aqueles humanos podiam voltar com máquinas novas e tudo continuaria do mesmo jeito. A solução era encontrar uma forma de fazer com que aqueles homens desistissem daquele local. Por que tanta obstinação em destruir aquele lugar? Apesar de ter ouvido a conversa deles, ela não conseguiu entender direito. Era qualquer coisa relacionada à diversão, o que a deixou triste. Desde quando era divertido destruir o lar de tantos animais e seres mágicos?


– Eu acho que a gente vai precisar de ajuda. – falou, por fim.

– Ajuda de quem? Você vai procurar aqueles humanos de quem você falou?

– Vou, Tália. Eles me ajudaram antes, talvez possam ajudar de novo.


A outra ninfa deu um sorrisinho.


– E você irá chamá-lo também? – aquilo fez com que o rosto de Nina corasse totalmente.

– C-chamar q-quem?

– Ah, não sei... talvez um anjo bonitão de olhos azuis.

– Tália!

– Hahaha!

– Isso é sério!

– E quem disse que tudo tem que ser levado a sério?


Ela engasgou um pouco e tentou mudar de assunto.


– Fiquem aqui e procurem atrasar os humanos o máximo que puderem. Eu vou buscar ajuda.

– Você vai ficar bem? Os humanos são muito perigosos! – um dos gnomos falou, preocupado.

– Não se preocupe, eu ficarei bem. Agora preciso ir.


Após se despedir de todos, ela saiu dali voando para procurar pelos seus amigos e torcendo para que eles concordassem em ajudá-la. Enquanto voava, ela via o santuário de cima. Pelas conversas que ela tinha ouvido dos homens, aquele lugar era chamado de Recanto do Paraíso, mas para seus moradores era um santuário. Se o Santuário fosse destruído, muitas criaturas seriam prejudicadas e havia o risco de muitas ninfas não serem mais capazes de fazer seu trabalho derrotando os monstros criados pelos humanos.


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– Ih, Mô! Vocês estão sem se falar até agora?

– Pois é, Magá! Parece que ele emburrou mesmo! E olha que eu nem toquei mais naquele assunto!

– Deixa quieto, depois ele melhora.

– Vou deixar quieto mesmo, não quero ficar correndo atrás de ninguém. Se ele quer ficar emburrado, problema dele. Ué... Tem alguém batendo na janela.

– Tem? Se você tá no seu quarto, então deve ser o Ângelo.

– Vou lá ver e depois te ligo, tá?

– Tá, beijo.


Mônica desligou o celular e foi abrir a janela para atender o amigo.


– Oi Ângelo o que foi... hã? Você? – ela levou um susto ao se deparar com Nina flutuando em frente a sua janela. Por que não bateu a campainha? Certamente deve ter aprendido aquilo com o Ângelo.

– Mônica, eu preciso falar com você. Por favor, é urgente!

– Tá bom, entra aí.


Nina contou seu problema enquanto Mônica apenas escutava.


– Você entende? Aquele lugar é muito importante para nós. Se for destruído, não teremos como recarregar nossa força.

– Ué, não tem outras áreas verdes por aí?

– Não é apenas por causa da vegetação. Alguns pontos do planeta são especiais porque concentram mais energia da Terra. É com essa energia que a gente se cura das batalhas contra os monstros.

– Entendi. Vou chamar a turma então pra gente pensar em alguma coisa.


Mônica foi fazer umas ligações enquanto Nina esperava sentada na beirada da cama. Ainda bem que ela tinha se lembrado onde ficava a casa da humana, o único lugar que ela conhecia.


– O pessoal já vem.

– Obrigada.

– Só não sei o que a gente vai poder fazer para ajudar, mas não esquenta que vamos pensar em alguma coisa. A gente sempre dá um jeito.

– O que estão querendo construir no nosso santuário? Até hoje não entendi.


Após explicar sobre o projeto do parque aquático e mostrar o folheto, Nina não pode esconder a indignação.


– Então é isso? Vão destruir nosso Santuário só por causa de um parque?

– É... que coisa...- Mônica falou tentando disfarçar seu embaraço. Ela também estava ansiosa pela construção daquele parque. No entanto, se aquilo ia custar o sacrifício de tantas criaturas, então algo tinha que ser feito.


Magali foi a primeira a chegar e logo ficou surpresa ao ver Nina no quarto da Mônica.


– Nossa, a quanto tempo. Você nunca mais deu notícia.


Os rapazes vieram pouco depois e Cebola logo ficou irritado ao dar de cara com Nina.


– O que ela tá fazendo aqui?

– Ih, não começa! Ela está precisando da nossa ajuda para algo muito importante.

– É mesmo? – ele perguntou com cinismo, fazendo com que Nina abaixasse a cabeça para disfarçar a tristeza. A última vez que os dois tinham se visto, não tinha sido nada agradável.


Mônica explicou brevemente o problema e Nina completou explicando a importância daquele lugar para ninfas e outros seres mágicos.


– Aquele lugar é essencial para nós. Sem aquilo, não teremos onde recompor nossas forças depois das batalhas contra os monstros.

(Cascão) – Engraçado... por que você não falou nada desse lugar da última vez? Você poderia ter se recuperado fácil se a gente te levasse até lá.

– Minha memória não tinha voltado totalmente e só consegui me lembrar porque minhas amigas me encontraram depois daquela enchente e me levaram até lá.

– Sei. É isso mesmo ou você não contou porque não confia na gente?

– Cebola!

– O que foi? Não falei nada de mais!

– Não é hora pra isso. Nós temos que pensar em alguma coisa pra ajudar a Nina.

– Nós quem, cara-pálida?

– Como é?

– Eu não tenho nada a ver com isso, não é meu trabalho proteger a casa deles.


Magali e Cascão tiveram trabalho para impedir que Mônica torcesse o pescoço do Cebola. Desde quando ele tinha ficado tão mesquinho daquele jeito? Nina tentou sensibilizá-lo um pouco.


– Por favor, nos ajude! Aquele lugar é essencial para todos nós.

– Agora você quer minha ajuda, né? Só que quando eu pedi pra salvar minha irmã, você veio com mimimi de que não era seu trabalho!

– Mas...

– Pois bem, esse também não é meu trabalho! Cada um com seus problemas!


Primeiro, ela teve que respirar fundo várias vezes para recuperar seu auto controle e não jogar aquele cabeça-dura pela janela. Então ela tentou apelar para o bom senso do rapaz.


– Cebola, você não tá raciocinando direito, criatura! Por acaso você esqueceu do que a Nina e as outras fadas fazem pela gente?

– Fazem apenas o trabalho delas.

– E caso você tenha esquecido, o trabalho delas é arrumar a bagunça que nós, humanos, fazemos nesse planeta. Bagunça que você também faz!

– Eu não pedi pra ninguém fazer nada!

– Ai, pára com isso!

– Você não manda em mim! Tá querendo dar uma de líder outra vez ás nossas custas? Pra cima de mim não, tá legal? Tô fora! Vamos embora, Cascão.

– Sai dessa, eu vou ficar.

– Vai ficar?

– Claro! Eles precisam da nossa ajuda, véi! A gente não pode deixar eles na mão!

– O Cascão tá certo, Cebola! – Magali concordou. – a gente nunca foi de deixar os amigos na mão...


Cebola deu de ombros.


– E quem disse que eles são meus amigos?

– Humpt! E depois vem me dar lição de moral por causa da Irene, fala sério! Você tá fazendo muito pior do que eu, sabia? Está sendo vingativo!


Um pouco de suor escorreu pela sua testa e o rosto dele ficou vermelho. No fundo ele sabia que a Mônica estava certa, mas não estava a fim de dar o braço a torcer, senão ela vencia de novo e a última coisa que ele queria era ser vencido por ela pela milésima vez.


– Bah, chega tá legal? Eu não vou ficar aqui escutando desaforo de ninguém. Se vocês querem ajudar a fada do mato, vão em frente. Só não contem comigo porque isso não é problema meu. Eu não vou ajudar alguém que me deixou na mão.

– Grrrrr! Seu tosco, nojento! Então vai mesmo, você só tá enchendo o saco. Vaza logo daqui!

– Não precisa pedir duas vezes, fui!


Ele saiu dali pisando duro e só depois que ele foi embora é que eles perceberam as lágrimas caindo do rosto de Nina.


– Desculpe, eu não queria causar briga entre vocês... acho melhor ir embora e tentar resolver isso de outra forma.


Antes que ela se levantasse, Mônica fechou a janela e falou autoritária.


– Você não vai à parte alguma. O problema aqui é aquele sem noção do Cebola, não você. Depois eu me resolvo com ele. Primeiro vamos pensar no que fazer.

– Vocês vão me ajudar?

– Claro! – Magali respondeu. – podemos falar com o resto da turma, tenho certeza de que eles não vão negar ajuda pra gente.

– E por falar em resto da turma, acho que esquecemos de alguém...


Mônica abriu a janela de novo e respirou bem fundo. Sabendo o que ia acontecer, Magali e Cascão tamparam seus ouvidos e gesticularam para que Nina fizesse o mesmo. De repente, as paredes da casa tremeram com o grito da Mônica.


– Ô ÂNGELOOOOOOO!!!!!!!!


Nina se assustou.


– É assim que ela chama o Ângelo?

– De vez em quando ela taca alguma coisa nele também. – Cascão respondeu massageando suas orelhas.

– Esquenta não que daqui a pouco ele chega.


A ninfa ficou corada. Finalmente ela ia ver Ângelo outra vez e estava receosa com a reação do rapaz. Será que ele ainda sentia algo por ela? Talvez não, já que aquilo poderia torná-lo humano. Era bem capaz de ele já não ter mais aquele sentimento por ela.


Em poucos minutos, ele apareceu na janela coçando uma das orelhas com um mindinho.


– Que foi, Mônica? Deu pra ouvir seu grito lá do outro lado da cidade! – ele olhou para dentro do quarto e quase perdeu o equilíbrio ao ver Nina sentada na cama da Mônica. – O que está acontecendo?

– Entra aí que eu te explico.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Podem falar, não se acanhem! Reviews estimulam a criatividade!



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