Santuário escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 2
Um novo empreendimento




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– Affeee! Vocês ainda estão nessa pendenga?

– Tudo culpa da Mônica, que cismou com a coitada da Irene sem motivo nenhum! Vê se pode?

– Ué, tudo isso começou quando você chamou a Irene pra estudar inglês, não foi?

– Ah, fala sério! Isso faz tanto tempo e a Mônica ainda tá encanada com isso?


Cascão e Cebola voltavam da escola conversando pelo meio do caminho. Carmen pretendia dar uma festa na piscina naquele fim de semana e Cebola tentava convencer a Mônica de que não havia mal algum em convidar a Irene.


– Bom, talvez ela não ficasse tão encanada assim se a Irene não tivesse te chamado de “Ce”. Você sabe que isso foi muito... bem... íntimo.

– Bah, nada a ver!

– Sério? E se outro rapaz aparecesse chamando a Mônica de “Mô”?


Cebola engasgou algumas vezes e tentou mudar de assunto. Pensando bem, aquilo não teria sido nem um pouco agradável para ele.


– Olha, a Irene não fez nada por mal, ela nem nunca deu de cima de mim, poxa! Então por que a Mônica ficou tão encanada?

– Sei lá, coisa de menina eu acho.

– Só que a Irene tá sem amiga nenhuma agora...

– E por que você tá tão preocupado com isso? Na boa, essa preocupação sua tá meio esquisita mesmo.

– Deixa de ser bobo, Cascão. Não tem nada a ver.

– Você é quem sabe.

– Claro que sei!


Eles continuaram caminhando em silêncio enquanto Cebola pensava em um jeito de convencer a Mônica a acabar com aquela birra contra a Irene. Aquilo estava durando tempo demais e ficando muito chato. Ele tinha que arrumar uma forma de vencer a teimosia dela, embora não soubesse como.


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Pela cara que a Mônica estava fazendo, Magali adivinhou na hora que era problema com o Cebola.


– Deixa eu adivinhar: vocês brigaram de novo?


Mônica apenas bufou em resposta. Aquilo foi um sim.


– Por que?

– Por causa daquela piriguete da Irene!

– Ai, Mô! De novo a Irene? Deixa a coitada em paz, o que ela te fez?

– O problema não é o que ela me fez e sim por que o Cebola faz tanta questão de colocar ela na turma! Isso tá ficando um tremendo saco, viu? Toda hora ele tenta empurrar essa garota pra cima de mim, acha que eu tenho que ser amiga dela de qualquer jeito! Eu heim!

– Também não é assim, né? Vai ver ele só quer acabar com a impressão ruim que você ficou com ela, nada mais.

– Humpt! E por que ele faz tanta questão disso? Aposto que tem gato nessa tumba!

– Deve ser só impressão sua, fica assim não. E por que você não dá uma chance pra Irene? Até onde sei, ela nunca te deu motivo pra tanta raiva.

– Eu não gosto que me digam com quem eu devo ou não fazer amizade, só isso. Isso quem decide sou eu e não quero que fiquem empurrando ninguém pra cima de mim! O Cebola vive reclamando que eu não respeito ele, mas ele tá fazendo a mesma coisa!

– Que exagero, ai!

– Não é exagero, Magá. Você ia gostar se tentassem te forçar a ser amiga de uma pessoa que você não gosta?

– Sei lá... não tem ninguém de quem eu não goste...

– E se tivesse?

– É...


A conversa foi interrompida pela Denise, que apareceu afobada na frente delas sacudindo um folheto.


– Gentem, vocês não sabem da última!


Elas viraram os olhos.


– Então por que você não conta?

– Vocês sabiam que vão construir um parque aquático aqui na cidade?

(Magali) – Sério? um parque aquático de verdade?

– Muito sério, gatz! Olha aqui!


Mônica e Magali leram o folheto atentamente e viram que aquilo não ia ser um simples parque aquático e sim “O Senhor Parque Aquático”. Piscina olímpica, praia artificial com ondas para surf, shows com animais aquáticos como baleias, golfinhos e focas. Também tinha o aqua circo, com mais de cinqüenta brinquedos diferentes para as crianças. Brinquedos como canhões, jatos, duchas, chafarizes, escorregadores, túneis, pedalinhos e gangorras.


Tinha também um tobogã com oito metros de largura para deslizar suavemente, a ilha do tesouro que era uma boa atração para as crianças e para os mais radicais tinha atrações como o kalafrio, que era um grande tobogã onde as pessoas desciam com uma bóia. Ou então um toboágua fechado com 24m de altura e totalmente escuro, onde a pessoa escorregava sem ver nada.


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– Que irado!

– Muito doido!

– Tomara que terminem logo!

– Mal posso esperar, vai ser demais!


Os rapazes estavam reunidos na casa do Cebola enquanto Xaveco se deliciava com seus poucos minutos de fama contando para eles a grande novidade do novo parque aquático.


– E ainda tem o Tobozilla! – ele falou dando ênfase na última palavra, falando com uma voz de suspense.

– Sinistro! – eles exclamaram ao mesmo tempo.

– São cinqüenta metros de altura, equivalente a um prédio de 17 andares!

(Cebola) – Isso tudo? Deve ser doido demais!

– Bota doido nisso, véi! Aqui no folheto eles falam que a gente pode chegar a 105km/h!


Todos vibraram e gritaram ansiosos pela novidade. Nem mesmo o DC escapou da empolgação e falou.


– Eu vou ser o primeirão a andar no Tobozilla! Deve ser muito irado!

(Ninbus) – Nem vem, eu vou ser o primeiro!

(Titi) – Que nada, o primeiro serei eu! As garotas vão babar quando ver o meu desempenho!

– Blé, quanto mal gosto!


Todos olharam para o Cascão, que estava meio emburrado em um canto. Ele era o único a não estar satisfeito com aquela novidade. Um parque aquático? Será que eles não tinham nada melhor para inventar?


(Cebola) – Ih, Cascão, larga de ser corta-onda cara! Vai ser muito legal!

– E desde quando um lugar cheio de água é legal? Eu heim!


Eles riram da cara feia que o sujinho estava fazendo. Bem, se ele não estava satisfeito, todos eles estavam e ninguém ali pretendia perder o dia da inauguração do grande parque.


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– E onde eles vão construir esse parque? – Mônica perguntou também empolgada com a novidade.

– Nas imediações da cidade. Não vai ser muito longe não, uns vinte minutinhos de carro e estamos lá!

(Magali) – Puxa, será que vai demorar muito? Estou louca para conhecer esse restaurante de comida natural que eles estão anunciando aqui.

(Denise) – Restaurante? Eu tô de olho é nos gatinhos que vão aparecer por lá! Ih, acho melhor eu começar a escolher meu biquíni e malhar bem o corpinho. Você também, viu Mônica! Dá um jeito de malhar bastante aí para...

– Como é que é?


Fogo e enxofre saíram das suas ventas e Denise teve que sair dali correndo para não morrer. Quanto stress!


– Calma, amiga, calma! Respira bem fundo, isso!

– Essa Denise, viu? Primeiro o Cebola, agora essa chata! Hoje não é mesmo o meu dia!


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– Argh, está cheio de bichos aqui! Espero que eliminem logo essas pragas, não quero problemas com a vigilância sanitária por causa dessas coisas.

– Não se preocupe, senhor. Daremos um jeito nisso.

– Acho bom mesmo! E me traga um repelente antes que esses insetos me devorem! Que lugar horrível!


Ele sacudiu as mãos novamente, tentando espantar os mosquitos que voavam ao seu redor e só ficou tranqüilo quando o repelente foi colocado em suas mãos. Ele esguichou o spray em si mesmo e ao seu redor na tentativa de espantar os insetos.


– Bem melhor assim. Detesto bichos nojentos!

– Sr. Vladmir, acho que iremos precisar de muitas máquinas para derrubar o excesso de arvores e teremos que drenar o lago também.

– Por mim tudo bem. Quem vai querer esse laguinho sem graça quando pode ter dezenas de piscinas, praias artificiais e toboáguas extraordinários? Esse parque aquático será o meu maior e melhor empreendimento! Vamos lucrar milhões!


Ao pensar no dinheiro que estava prestes a ganhar, ele logo se acalmou e até esqueceu temporariamente dos animais ao seu redor. Aquela área era perfeita e ele só precisava negociar com a prefeitura para a aquisição do terreno. Quando o negocio estivesse completo, todo aquele lugar selvagem e desordenado iria se transformar em uma das maiores atrações do país.


Seu secretário tornou a falar.


– Senhor, estamos tendo alguns problemas com os ativistas de novo. Recebi uma ligação agora pouco e eles estão protestando em frente à sede da construtora...

– Que droga, bando de desocupados! Eu já falei que vamos deixar algumas árvores, o que mais eles querem?

– Eles querem que deixemos esse lugar intocado!

– Pois eles querem demais. Quem em sã consciência iria desperdiçar todo o potencial que esse lugar tem só por causa de algumas plantinhas inúteis? Eles não sabem que essa obra irá gerar centenas de empregos diretos e indiretos? E que irá colocar essa cidade no mapa atraindo milhares de turistas todos os anos?

– Já falamos tudo isso, mas eles ainda não concordam.

– Esses ecologistas parecem que vivem no mundo da lua, isso sim! Na vida temos que ser práticos. De que adianta preservar um punhado de arvores enquanto tem pessoas desempregadas pelo país afora? Será que eles vão suprir a falta de empregos? Claro que não! Eles só sabem reclamar e não apresentam nenhuma solução prática!


Vladmir voltou a contemplar o lago, irritado com a intromissão daqueles ativistas. Ele não conseguia entender a razão de tanto barulho só por causa de um lago sem graça cercado por algumas arvores. Aquela obra traria muitos benefícios para aquela cidade e ele sabia que por mais que protestassem, no futuro eles estariam desfrutando das atrações do parque aquático como todo mundo.


Assim era o ser humano. Volúvel e sem firmeza em suas convicções. Todos se deixavam seduzir por algo e com aquele grupo não seria diferente.


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Notas finais do capítulo

Pode parecer estranho eu continuar tocando no assunto da Irene, mas já que é uma continuação... essa pendenga também tem que ser resolvida de algum jeito. E também essa birrinha vai ser necessária para outras partes da história também. Vocês vão saber quando chegar a hora.