Jason se assegurou de apertar com cada vez mais força a maçaneta da porta do banheiro de sua casa pretorial. Ele se recusava a acreditar que Reyna havia mesmo entregado aquela fantasia para ele, mas acabou vestindo-a, pois a garota não iria descansar enquanto ele não o fizesse.

Mas ele não iria deixar Reyna vê-lo tão cedo. Ao menos não enquanto o filho de Júpiter continuasse querendo espancá-la - ou seja, NUNCA a deixaria vê-lo. Nem que precisasse perder uma das raras festas de Halloween no Acampamento Júpiter e ficar trancado no banheiro até ela ir embora.

De todas as fantasias que ela poderia escolher, como por exemplo a de Jason do filme "Sexta-feira 13", a filha de Belona escolhera justamente a mais infantil, mais ridícula e menos a cara do garoto o possível. A fantasia? De Pikachu.

- Reyna, escuta aqui, eu NUNCA MAIS vou deixar você escolher minha fantasia de novo, ouviu? E eu NÃO vou sair daqui! - Ele gritou para ela, emburrado. Sair com aquela fantasia em público faria com que ele fosse zoado para o resto de sua humilde vida naquele acampamento. Reyna apenas riu.

- Ah, qual é, Jason! Nem deve estar tão ruim assim! - Ela replicou.

Claro! Era fácil para ela falar, vestindo uma fantasia extremamente bela de Cleópatra que caía muito bem nela e que provavelmente faria metade dos garotos lá grudarem os olhos nela e Jason não gostava nada da ideia de garotos de olho na sua Reyna (mesmo que ela ainda não soubesse, ela era dele). Mas, enfim, era fácil demais para ela falar quando não era ela que ia pagar o maior mico usando uma fantasia de Pikachu. Se bem que ela iria acompanhá-lo, então... era esperar que as pessoas ficassem focadas de mais na Reyna para ao menos lembrar que ele existia. Mas isso certamente não iria acontecer, Jason não tinha tanta sorte.

- "Não deve estar tão ruim"? Reyna, é uma fantasia de Pikachu! De PIKACHU! -

- Ah, nem é tão mal assim! Eu poderia ter escolhido pior, Jason, muito pior... - Os olhos de Jason se arregalaram. Às vezes, ele tinha medo de até que pontos Reyna poderia chegar.

- Eu tenho medo de você às vezes, sabia? - Ele comentou.

- Isso é bom. Isso é muito bom. - Jason podia até ouvir os neurônios da amiga pensando nos milhões de modos que ela poderia usar esse medo ao seu favor. - Agora vamos, saia daí. A festa é em alguns minutos e certamente uma outra festa sem ser a da Fortuna não vai acontecer assim tão cedo novamente.

- Posso tirar essa fantasia e colocar outra? - Ele se achou estúpido assim que a pergunta saiu de sua boca. Era com Reyna que estava falando, isso definitivamente não iria acontecer.

- Hm, deixe-me pensar... - Reyna riu levemente. - Não. Eu não perdi meu precioso tempo correndo atrás dessa fantasia para que você não a use!

- Você me odeia, não é? - Jason resmungou.

- Pelo contrário, eu te amo. Agora você vai sair daí ou eu vou ter que te obrigar? - Ela retrucou. Jason se recusou a responder, mesmo não sabendo o que ela poderia fazer para obrigá-lo. - Certo, então vamos fazer do modo mais difícil.

Ele ouviu Reyna se afastando e, depois de certo intervalo de tempo em silêncio, ela voltando. Ele ouviu o barulho de um molho de chaves e então, a garota puxou a maçaneta. Jason resistiu, mas depois de muito lutar, Reyna conseguiu puxar com força o suficiente para abrir a porta - e, infelizmente, o puxão não rasgou nenhuma mínima parte da fantasia de Jason, não importava a força com que ele segurasse a maçaneta. Droga! Que tipo de magia negra aquela criatura tinha?

E então, a garota o encarou e começou a rir. O filho de Júpiter tentava entender o que ela queria com ele vestido de Pikachu. Certamente, ela não esperava que ele ficasse tão engraçado daquela maneira (ou era o que Jason queria acreditar), mas era esse seu talento especial: ficar estupidamente patético tão facilmente que chegava a assustar.

- Ha ha, estou morrendo de rir. - Jason falou, irônico.

- Vamos, Jason. Nem está tão mal assim! - Era difícil acreditar, considerando que as bochechas dela estavam vermelhas de tanto rir.

- Você nunca vai me deixar esquecer esse dia, vai?

Reyna teve que controlar a risada para responder:

- Hm... não.

- Eu já esperava.

- Você fica fofo de Pikachu. - A filha de Belona comentou. Jason sentiu suas bochechas corarem aleatoriamente e contra sua vontade. Vênus que soubesse o que estava acontecendo com ele, pois ele não sabia. - Agora vamos.

- Mas aqui está tão bom... - Reyna lhe lançou um olhar mortal. E quando se fala de Reyna e olhares mortais, a coisa não é brincadeira. É como se ela quisesse dizer "Submeta-se a mim ou eu corto seu pescoço fora", porém é claro que o olhar era bem mais fatal e ameaçador. - Certo, vamos. - Então, ela sorriu.

---X---

A festa nem foi tão mal assim... e quando se diz "não tão mal assim", isso significa que ninguém ficou atirando pedregulhos em Jason. Porque não foi a melhor. E com não foi a melhor significa que, como previsto, havia caras (incluindo filhos de Vênus, Baco e Apolo muito atiçados) que ficavam dando em cima da Reyna (e Jason ficou impressionada do quanto ela conseguiu ficar alheia a esse fato... ela, que sempre fora tão inteligente e detalhista, achando que eles eram "inocentes amigos"). E também havia pessoas - muitas pessoas, metade do acampamento, e aqueles que não faziam parte dessa turma provavelmente tinham medo do que ele, como pretor, poderia fazer - zoaram com ele, ou riram dele. Alguém até jogou uma bolinha de papel em sua cabeça e gritou "Pikachu, escolho você!" - e tal ser foi ninguém mais, ninguém menos que Octavian. Argh! Como Jason adoraria rasgar Octavian ao meio e arrancar suas tripas assim como ele fazia com suas pelúcias!

E no fim da festa, Reyna comentou:

- Sabe, acho que vou passar a te chamar de Pikachu. - Jason franziu a testa.

- Pikachu, Reyna? Sério?

E nesse momento Jason perdeu qualquer esperanças de que ela um dia o deixasse esquecer dessa festa.