Hermione De Cabeça Para Baixo escrita por Saggita


Capítulo 10
Capítulo 10 - Verdades que vem à tona




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“Mas o que você ia me dizer quando Hermione quase foi atacada, naquela noite?” Tom questionou. Eles estavam muito bem sentados na sala comunal da Grifinória. Era bem cedo da manhã – ambos gostavam de acordar cedo enquanto Hermione naquele dia decidira dormir mais um pouco – e eles estavam de sobrancelhas franzidas, jogando xadrez bruxo para matar o tempo.

“Você não esqueceu mesmo, não é?” Abraxas murmurou, estudando o tabuleiro muito concentrado.

“Como eu poderia esquecer? Uma garota aparece em Hogwarts, vinda cinco décadas do futuro, é quase atacada pelo basilisco e ainda escuta os planos de Dumbledore. E aparentemente achava que eu era o herdeiro de Slytherin.” Tom sorriu e bufou de leve. “Meio difícil de deixar para lá, se você quer saber o que eu acho sobre isso.”

“Eu prefiro que ela mesma lhe conte.” Abraxas respondeu por fim. “Não quero mais esconder dela que você escutou e sabe de onde ela veio. Já que estamos no mesmo problema juntos, o mínimo que poderia fazer é dizer a ela que você sabe.”

Tom engoliu em seco. Não quis contar a Hermione naquele dia que escutara ela e Abraxas conversando, quando ela apareceu, porque temia a reação dela. Chocá-la ainda mais depois da sua já atribulada chegada não parecia certo. E ainda naquele momento, Tom hesitava em concordar com o Abraxas por puro medo da reação de Hermione... Certamente não seria boa. E Tom sabia que se por acaso Hermione ficasse muito chateada, iria ficar em perigo.

“O castelo está vazio, e não faz muito tempo. Um pouco mais de um mês, só.” Abraxas insistiu. “Se esperar demais para contar a ela, creio que a reação dela só vai ser pior. Daí ela lhe conta o que ela acha que aconteceu.”

Tom, muito a contra gosto, teve de concordar.

OoOoO

Hermione retornou à consciência suavemente naquela manhã. Dormira muitíssimo bem, obrigada, sem ter nenhum pesadelo ou sonho. Embora sérios problemas estivessem ocorrendo a ela naquele dado momento, ela se achava mais feliz do que há duas semanas. Bem... Não se sentia sozinha.

O que quer que venha a acontecer, ela tinha Luc e Eileen, Abraxas e... Até mesmo Tom. Não podia dizer que onde estava era muito pior de seu mundo de origem. Harry e Ron eram legais, claro, mas Hermione não se via satisfeita. Não podia contar a Harry e Ron o que sentia, e muito menos tinha outros amigos além deles dois. Era só a garota feia de cabelos cheios, cheia de livros.

Em comparação, onde estava era muito mais do que isso. Tinha colegas de dormitório que não eram indiferentes a ela, e não tinha que fazer dever de casa para ninguém – melhor ainda, podia até pedir ajuda com o seu próprio dever de casa – e... Ora, isso era errado. Harry e Ron estavam sozinhos para cuidar da Armada de Dumbledore, Umbridge, e ainda por cima, o mundo bruxo já estava em guerra. Negar isso era impossível.

Mas imersa em seus próprios problemas, e nos problemas que não tinha ali, não sentia mais tanta saudade assim. E se sentia extremamente culpada por conta disso. Tinha que sentir saudade, e tinha que voltar para casa, e ainda assim sabia que não poderia voltar, mesmo que uma maneira de retornar aparecesse na sua frente naquele momento.

Deixar Harry e Ron sozinhos era injusto, embora não culpa sua... Mas deixar aquele mundo com Dumbledore pretendendo matar Dippet e tomar Hogwarts era injusto também. E Hermione sabia que ficaria, não importa o que acontecesse. Isso deixava um gosto ruim na sua boca. Será que Harry e Ron ficariam felizes, se pudessem ler a mente de Hermione agora? Certamente que não. Tomou um longo banho, esperando que esses pensamentos fossem embora ralo abaixo. Isso não aconteceu.

Sabendo que não ia mais dormir, desceu para a sala comunal, a fim de ir tomar desjejum. Encontrou Abraxas e Tom, com um tabuleiro de xadrez entre eles.

“Bom dia, Hermione. “Abraxas disse, os dedos cruzados na frente da sua boca. “Dormiu bem?”

Não se recordava se Harry ou Ron alguma vez perguntaram se ela dormira bem. Espantou esse pensamento como uma mosca incômoda. “Dormi, sim.”

“Deu para perceber.” Tom observou. “O café-da-manhã terminou meia hora atrás.”

Abraxas suspirou. “Depois que eu ganhar essa partida, nós podemos ir para as cozinhas e tomar um segundo café-da-manhã. Ouvi dizer que o Monitor Chefe não se importa com isso. Cavalo. H 5.”

“Café cairia bem.” Tom concordou. “Mas só por cima do meu cadáver que você ganha essa partida.” Hermione, a essa hora, já tinha se sentado perto dos dois. “Torre. A 6. Cheque.”

Abraxas abriu um sorriso. “Rei. B 7.”

Tom, ao contrário, ficava cada vez mais sério. “Bispo. C 3.”

O sorriso de Abraxas alargou-se ainda mais. “Torre. L 7. Cheque mate. O perdedor é um ovo podre.”

“Eu deixei você ganhar dessa vez.” Tom deu de ombros, ainda estudando o tabuleiro. “Não queria deixar você perder na frente da dama.”

Abraxas ergueu as sobrancelhas em irônica surpresa. “Nossa. Quanta consideração da sua parte. Não sei como vivi sem você até agora...” Ele rolou os olhos. “Vamos tomar café de novo, sim?”

O café saíra bem mais elaborado que Hermione esperava. Mesmo que não tivesse tempo para tratar do FALE, ainda assim Hermione tratou muito bem os elfos, que a trataram muito bem em resposta. Um café-da-manhã completo foi servido para os três. Tom se serviu somente de café, e Abraxas de chocolate quente.

E ambos ficaram em silêncio. “Boa partida.” Hermione disse, e as palavras passaram batido. Tom tinha a mandíbula fortemente contraída, e Abraxas parecia levemente incomodado.

“Tem algo que eu quero lhe dizer.” Tom disse, como se estivesse fazendo grande esforço.

“O quê?” Hermione questionou genuinamente curiosa, já que parecia algo muitíssimo sério.

Tom suspirou. “Eu sei.”

“Sabe de quê?”

“De... De onde você veio.” Tom murmurou. “Do vira-tempo. Eu... Escutei a conversa de você e o Abraxas naquele dia.” Hermione se virou para Abraxas, que não parecia surpreso. Parecia culpado, também.

“Você sabia disso, não sabia?” Hermione o acusou, entre dentes. “Sabia o tempo todo e não me disse!”

“Eu... Eu achava que você estava fora de si, está bem?” Abraxas se explicou, soando tão culpado quanto parecia. “Conhecia Tom há anos de você aparecer! Como eu poderia confiar nas suas palavras, Hermione?”

“Mais de um mês!” Hermione exclamou, empunhando o garfo com o qual comia seus ovos e bacon como se fosse assassinar os dois com ele. “Mais de um mês, e você não me disse nada. Ainda acha que eu sou maluca, não itacha? Vocês não acreditam em uma palavra do que eu digo, não é?” Ela se levantou e largou o garfo na mesa. “Pois bem, então. Fiquem aí... Seus... Arrgh!”

Ela se virou e foi embora. Tom e Abraxas trocaram olhares surpresos.

“Vamos atrás dela?” Tom questionou.

“Eu acho que não.” Abraxas respondeu com uma expressão desgostosa no rosto. “Ela deve estar muito magoada. Mais magoada do que achava que ela ia estar...”

“Aha.” Tom deu uma risada sem humor algum. “Tem uma cobra gigante perambulando pelos corredores do castelo, e Hermione está perigosamente chateada. Isso, vamos, deixá-la andar pelo castelo sozinha!”

“Ela sabe se cuidar, está bem?” Abraxas respondeu acidamente. “E deve estar querendo ficar sozinha... Tenho certeza que se esperarmos algumas horas ela vai voltar.”

A porta da cozinha de abriu de novo, e as cabeças de Tom e Abraxas viravam bruscamente, esperando Hermione. Mas ao invés disso, era um garoto alto – mais alto que Tom – de cabelos escuros escorridos sobre os olhos e passando dos ombros, ainda de pijamas.

“Uma pergunta.” O garoto disse, sonolento. “Por que eu acabei de passar por uma menina assassina saindo daqui?”

“Porque talvez...” Abraxas suspirou. O garoto era um colega de Feitiços e Transfiguração de Abraxas, da Lufa-Lufa. “Nós tenhamos chateado ela um pouco, mas... Ela vai ficar bem.” Abraxas, então, sorriu: “Não tirarei pontos de você dessa vez, Sr. Black. Se você se esquecer que nós dois estávamos aqui.”

Orion Black sentou no lugar que Hermione deixara vazio. “Isso nunca aconteceu, se depender de mim. Mas... Quem era ela?”

“Hermione.” Abraxas disse. “Amiga da sua irmã Luc, já deve ter visto ela por aqui, não?”

“Já...” Orion apoiou o queixo nas mãos.

Abraxas riu. “Que pergunta a minha. Se era uma garota, claro que você já viu.” Orion era bem famoso com as senhoritas, oh sim... Abraxas já poderia ter zerado o contador da Lufa-Lufa se tirasse pontos toda vez que pegasse Orion em seus encontros furtivos durante a noite.

Orion deu um sorriso matreiro. “Mas é claro que já. É realmente uma pena que Luc ainda está com raiva de mim, não?”


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Notas finais do capítulo

Orion Black é o pai de Sirius, só dizendo.