Kolybelnaya escrita por themuggleriddle


Capítulo 34
Being Young


Notas iniciais do capítulo

Sabe quando você escreve um capítulo e pensa "meu deus, que coisa horrível"? Sou eu nesse momento. Estou com sono e a ansiedade ta batendo na porta por conta de quase fim de férias, então... desculpem o capítulo.

Em outra nota, gostaria de agradecer a Debby Andrade, pela recomendação que deixou na história. Muito obrigado mesmo, moça :))) fico muito feliz que esteja gostando da história ao ponto de recomendá-la.



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Não era exatamente a sensação dos lábios de Tom Riddle que Hermione ainda sentia (não, aquilo ela sentiu na floresta, depois de sentir o beijo de Abraxas e de Tom e entender as diferenças entre eles), mas sim o sentimento esquisito em seu estômago. Algumas pessoas diziam que eram borboletas e, por falta de melhor descrição, a garota decidiu classificar aquela sensação como borboletas no estômago. O que era muito esquisito, pois nunca pensou que associaria Tom Riddle àquilo.

Mas as borboletas logo murcharam e deram espaço para o conhecido buraco negro que parecia se abrir dentro de si quando era surpreendida de uma forma não muito agradável. Não que Minerva não fosse agradável, mas Hermione não sabia se aquele era o momento propício para ter uma conversa com a garota e, a julgar pela forma que os olhos dela a encaravam por detrás dos óculos quadrados, McGonagall julgava o assunto que queria discutir muito importante.

“É claro,” disse Hermione, sentindo-se aliviada ao ver um pequeno sorriso aparecer nos lábios da outra, antes segui-la para o outro lado do salão dos monitores e atravessar outra porta.

Enquanto o quarto de Riddle era todo decorado em tons de verde e móveis de madeira escura, o de Minerva era vermelho e dourado, com uma tapeçaria em tons quentes que mostrava a imagem de um homem ruivo segurando uma espada e móveis de madeira mais acastanhada. O lugar gritava conforto e receptividade, como o dormitório e salão comunal da Grifinória.

“Como foi a apresentação de vocês?” a garota perguntou, observando McGongall ir até a cama e se sentar nessa, puxando as pernas para cima do colchão e as cruzando. “Queria ter ficado, mas...”

“O Sr. Riddle não parava quieto.” A bruxa riu, acenando para ela se sentar. “Como ele está? A Amortentia parou de fazer efeito?”

“Sim, durou um pouco menos do que o normal, mas foi porque Tom decidiu experimentar atenuar o efeito dela, caso contrário ele só pararia de falar besteiras amanhã,” Hermione explicou, sentando-se na ponta da cama. “Abraxas conseguiu uma poção calmante. Foi uma benção.”

“E você ficou ali o tempo inteiro?” A garota apontou para a porta do quarto.

“Tom não queria me largar e acabou dormindo agarrado em mim.” Hermione encolheu os ombros e riu.

“Ele não tentou nada...?” Minerva começou a falar, parecendo hesitar um pouco. “Quero dizer, ele não tentou forçar nada, certo?”

Hermione piscou duas vezes, antes de abrir a boca e rir fraco.

“Não!” ela falou, sacudindo a cabeça. “Como disse, Abraxas foi mais rápido e colocou ele pra dormir. Também não acho que ele fosse capaz de forçar qualquer coisa: a Amortentia cria uma obsessão, sim, mas ela também deixa quem a toma bem dócil com a pessoa que a fez. Na verdade, ele era quem estava vulnerável caso eu quisesse tentar algo com ele, já que não iria dizer não mesmo se quisesse.”

A garota viu os olhos de Minerva se perderem por um momento, como se ela estivesse pensando exatamente no que iria falar em seguida. A boca da bruxa se contorceu um pouco, os lábios sendo pressionados um contra o outro.

“E você... Queria tentar algo com ele?” ela perguntou, com a voz baixa e desviando o olhar.

Hermione sentiu o rosto esquentar. Há dois meses, a resposta sairia de sua boca rapidamente, seguida de uma risada: um grande ‘não’. Mas agora, ela sabia que aquilo seria uma mentira... Não, a bruxa nunca iria fazer alguma coisa com qualquer pessoa sob o efeito de uma poção do amor, mas seria errado dizer que não havia se sentido bem ao ver Tom Riddle dormindo tão calmamente ao seu lado ou que o beijo, depois que ele ficara sóbrio, não fora bom.

“Nunca iria fazer algo assim com alguém que bebeu Amortentia,” ela falou, distraindo-se ao brincar com a barra da saia.

“E com Tom? Digo, se ele não estivesse drogado.”

Quando Hermione voltou a olhar a futura professora de Transfiguração, foi possível ver que Minerva sabia da resposta e só queria uma confirmação. Ela não soube se foi a forma como a outra grifinória a olhou (um brilho curioso e surpreso no olhar) ou a realização de que Minerva McGonagall, no futuro, estaria enfrentando uma Hogwarts tomada por Comensais da Morte enquanto ela aproveitava beijos com o futuro Lorde das Trevas, mas algo no fundo do peito da garota se apertou e não tardou até ela sentir os olhos arderem com lágrimas não derramadas.

“Oh, Hermione...” a voz de Minerva era baixa e calma enquanto a bruxa se arrastava por sobre as cobertas até alcançá-la, esticando a mão para segurar a de Hermione.

“Desculpe, eu nem... sei o por que disso.” A grifinória riu fraco, apontando para o próprio rosto. “Estou confusa, muito confusa.”

“Eu imagino.” A monitora-chefe apertou a mão dela de leve. “Eu sei que eu e Charlus não somos membros do fã clube de Riddle, mas, sabe, isso não quer dizer que ele seja de todo mal... Quer dizer, a gente não gosta muito dele por ele ser meio arrogante e andar com gente que não é muito legal, mas confesso que nunca tivemos uma interação muito grande com ele.” McGonagall respirou fundo. “O que quero dizer é que você não precisa se sentir culpada por achar ele bonito ou querer beijá-lo ou qualquer coisa do tipo. Deus sabe que eu não sou completamente imune a ele e já quis isso também,” ela murmurou, corando.

“Sério?” Hermione perguntou, piscando para tentar se livrar das lágrimas.

“Toda garota de Hogwarts já quis,” a grifinória sussurrou, sorrindo de lado. “E alguns garotos também.”

“Oh, eu sei disso.”

Ela riu, ainda sentindo seu coração apertar. Queria poder explicar tudo o que Tom Riddle significaria para ela, tudo o que ela podia estar perdendo por causa dele, mas, ao mesmo tempo, não sabia se podia fazer isso. Não tanto pelo fato de expor o futuro, mas porque realmente não sabia se podia falar das atrocidades de Voldemort e falar que o garoto dormindo no quarto ao lado era a mesma pessoa que as cometera. Era extremamente confuso, mas sabia que não podia discutir isso com Minerva.

“Antes de vir para Hogwarts, você... tinha alguém especial?” McGonagall perguntou. “É por isso que está se sentindo mal?”

“Oh.” Hermione encarou a outra garota por um momento, antes de concordar, lentamente. “Havia um garoto, Ron. Eu o conhecia desde os onze anos e... Acho que posso dizer que sim, ele era alguém especial para mim.”

“Sabe, você gostar de outra pessoa não significa que outras pessoas deixem de ser especiais para você,” Minerva murmurou. “Eu sei que você perdeu amigos e parentes por causa da guerra, mas deixar de viver não vai ajudar em nada. Se você realmente gosta de Riddle, não acho que Ron se importaria... Ele saberia que não ia mais poder estar com você. E se você só quer trocar alguns beijos, também não faz mal.”

“Você já... só trocou alguns beijos?” Hermione perguntou, fungando e tentando rir.

“Sim.” A garota deu de ombros. “Ano passado, com um lufano que era um ano na nossa frente, Aldo Diggory. Foi em um passeio em Hogsmead e foi divertido.”

Hermione riu, logo antes de sentir os braços de McGonagall ao redor de seus ombros em um abraço confortável, algo que ela nunca imaginaria receber da austera professora de Transfiguração. Minerva afagou-lhe os cabelos e apoiou o queixo no ombro dela.

“Somos jovens, Hermione,” a grifinória falou. “Namorar ou não, beijar alguém, ir em um encontro... Nem sempre isso significa definir o resto de nossas vidas. Estamos vivendo uma guerra e isso é horrível, mas também vale para nos lembrar de viver mais.

A garota retribuiu o abraço, tentando aproveitar o máximo que podia aquele conforto inesperado, antes de se afastar e assentir. Ela sabia que Minerva estava certa, se visse Tom como outro garoto qualquer e não quem ele seria no futuro.

“Obrigada,” ela murmurou, enxugando o rosto.

“Não se preocupe,” disse McGonagall, sorrindo e pulando da cama, indo até a escrivaninha que ficava no outro lado do quarto, abaixo da tapeçaria de Gryffindor. “Isso chegou mais cedo, na janta. A coruja que trouxe ficou louca quando não encontrou você... Ah, acho que Charlus ia levar algo para a torre da Grifinória, para você jantar quando chegar lá.”

Quando a bruxa voltou, tinha um envelope em mãos. O coração de Hermione deu um salto quando pegou a carta e viu o nome assinado em tinta azul: Garrick O.

“A única coisa que eu aconselharia, em relação ao Riddle, é tomar cuidado com os amigos dele. Quero dizer... quem costumava ser amigo dele,” disse Minerva, voltando a se sentar na cama. “Ouvi falar que Lestrange e Avery não estão nada feliz de descobrir que Tom é um mestiço. Walburga, então, não está medindo esforços para falar mal dele... Ela está dizendo que Tom estava tentando seduzi-la para ficar com a fortuna dos Black.”

“Isso não faz o menor sentido...”

“Claro que não, mas os puristas estão acreditando e espalhando a notícia.” McGonagall suspirou. “Nunca pensei que iria falar isso, mas sinto pena de Riddle. Não vou dizer que entendo completamente a razão de ele ter mentido sobre ser um mestiço, mas posso imaginar... Eu tenho meus pais, meus irmãos e amigos que são mais tolerantes. Se os rumores estão corretos, a mãe de Tom está morta e ele não conhece o pai ou algo assim.”

Minerva a olhou em silêncio, como se esperasse alguma explicação, o que fez a bruxa suspirar.

“Sabe,” murmurou Hermione. “Eu conheci Tom antes de vir para Hogwarts.” Os olhos da outra se arregalaram. “Lembra que disse que fui para um orfanato quando cheguei em Londres? Bom, foi lá que o conheci.”

“Oh.” A garota abaixou os olhos e franziu o cenho.

“Então, é, os rumores estão corretos. A mãe de Tom está morta e ele nunca conheceu o pai,” ela falou, sentindo-se um pouco mais ao lembrar-se que, na verdade, o rapaz havia sim conhecido o pai trouxa e o matado.

“Realmente espero que ele não surte com as chacotas de alguns sonserinos... Pelo menos Abraxas parece ter aceitado bem.”

“Ele ficou chateado por não saber antes,” Hermione explicou, virando o envelope nas mãos, antes de guardá-lo no bolso da capa. “Mas ele está ajudando Tom a manter a cabeça fria no momento.”

“Sabe, Riddle tem sorte.” McGonagall sorriu outra vez. “Apesar de ser um Malfoy, Abraxas ainda parece ser uma pessoa decente se o está ajudando nisso... E também tem você. Quem sabe você poderia convidar ele para tomar uma cerveja amanteigada conosco no próximo final de semana em Hogsmead? Talvez a gente consiga convencê-lo de beber um whiskey de fogo para vermos o famoso Riddle bêbado.”

“Você não dá ponto sem nó, não é mesmo?” Hermione riu.

“Não posso sair de Hogwarts sem ver isso!” disse Minerva, fingindo indignação. “Agora, falando sério, talvez seja hora de você voltar para o dormitório. Já está tarde e você ainda precisa comer alguma coisa.”

“Tem razão.” Hermione se levantou da cama e olhou a garota uma última vez, sorrindo, antes de sair pela porta. “Boa noite, Minerva.”

“Boa noite, Hermione.”

O salão dos monitores estava silencioso e a porta do quarto de Riddle estava fechada quando ela saiu. O retrato que guardava a entrada do lugar continuava acordado, com o homem nele pintado cantando baixinho uma canção em alguma língua estranha e ignorando a garota por completo.

Era incrível como a atmosfera de Hogwarts mudava quando todos os alunos iam para a cama. Ao invés de corredores cheios de jovens e conversas ecoando por todos os lados, o silêncio predominava e o castelo adquiria uma atmosfera quase assustadora: escuro, com a luz bruxuleante das tochas iluminando os corredores e lançando sombras disformes nas paredes. Volte meia era possível ver um fantasma atravessando uma parede, como Hermione vira o Barão Sangrento entrar através de uma janela, de cabeça baixa e murmurando algo para si mesmo, antes de parar e erguer o olhar para a aluna que perambulava pela escola no meio da noite.

“Boa noite, Barão,” disse Hermione, fazendo uma pequena reverência com a cabeça.

Ela nunca havia prestado muita atenção no fantasma das masmorras da Sonserina. Já ouvira histórias, é claro, e se lembrava muito bem de Harry o imitando para afugentar o Pirraça quando ainda estavam no primeiro ano, mas nunca, nem mesmo na festa de aniversário de morte de Nick-Quase-Sem-Cabeça, prestara muita atenção nele. Agora, com o espírito parado no meio corredor e a olhando como se tentasse entender o que aquela garota estava fazendo fora da cama, percebia que ele estava longe de ser o senhor que ela sempre imaginou.

O Barão não era um homem muito velho, talvez tivesse trinta anos no máximo, e parecia mais ranzinza do que ameaçador. Era magro, de olhos escuros e cabelos na altura dos ombros, meio presos e também escuros, assim como a barba cortada rente ao rosto. As roupas pareciam medievais: uma túnica que alcançava os joelhos, ricamente bordada, calças e botas de couro. A capa que usava estava presa com um broche redondo e flutuava atrás dele. Talvez a coisa que mais assustasse os recém-chegados em Hogwarts não fosse o rosto de poucos amigos, mas sim as manchas de sangue prateadas que sujavam as roupas dele... No lado direito do peito, havia um corte na túnica, onde o sangue encharcava o tecido, mas era possível ver que aquela não era a única fonte de todas as manchas prateadas. Ah, também havia as correntes: pesadas correntes de ferro translúcidas que o homem carregava enroladas em seu pescoço e punhos.

“Você não devia estar nos corredores, garota,” o fantasma falou, sua voz vazia ecoando pelo corredor.

“Estava ajudando um colega que passou mal por conta de uma poção,” ela explicou, vendo os olhos do homem se estreitarem. “Já estou voltando para o meu dormitório.”

Ela ouviu o espírito murmurar algo para si mesmo, antes de seguir o seu caminho.

Minerva estava certa: um prato coberto com um guardanapo e protegido por um feitiço a esperava na sala comunal, junto com um bilhete de Charlus. Graças à magia, a comida não havia esfriado e Hermione pôde aproveitar a janta tanto quanto se tivesse comido no horário correto e não tardou até ela terminar para subir ao dormitório. Apesar de ter dormido no quarto de Riddle, ainda estava cansada.

Quando finalmente estava na cama, já de pijamas, puxou a carta que havia guardado dentro da capa e fechou as cortinas ao redor da cama, colocando um feitiço silenciador ao seu redor. O envelope estava cheio e, quando ela o abriu, um amontoado de pergaminhos e outro envelope pequeno caíram de dentro. Sentindo o coração acelerar, a garota desdobrou os pergaminhos primeiro.

“Querida Hermione,

Fiquei sabendo do que aconteceu em Hogsmead pelo Profeta Diário. Não mencionaram muita coisa, apenar uma tentativa de ataque à dois estudantes e seu nome foi citado. Disseram que está tudo bem, mas gostaria de saber por você: o que houve? Está tudo bem mesmo? Peço desculpas por não escrever antes, mas as coisas têm estado complicadas... A guerra, tanto trouxa quanto bruxa, têm nos afetado. Durante o mês de Janeiro recebi um fabricante de varinha alemão que estava escondido na França até pouco tempo... Mykew decidiu ir para os Estados Unidos por alguns meses. O pobre coitado morre de medo de que Grindelwald um dia apareça na sua porta.                          

Gostaria de saber se você estaria disponível para uma conversa da próxima vez que for até Hogsmead? Consegui falar com o Sr. Resande, o especialista em magia temporal do qual falei da última vez, e tenho algumas coisas interessantes para lhe contar, mas gostaria de fazer isso pessoalmente. Me avise quando for o próximo final de semana de visita que tiverem para que eu possa passar em Hogsmead para conversarmos.

Espero que esteja tudo bem. Mande notícias.

Garrick Ollivander.”

A bruxa releu a carta mais duas vezes, mordendo o lábio inferior e apertando os pergaminhos com força entre os dedos. Ollivander tinha ‘coisas interessantes’ para lhe dizer e, naquele momento, ela não sabia se isso era bom ou ruim. Excitante, sim, mas não sabia classificar como uma excitação boa ou má. Respirando fundo para tentar acalmar o coração, que batia em um ritmo frenético, ela abriu o segundo envelope e encontrou a caligrafia caprichada de Anna:

“Querida Hermione,

Sinto sua falta. Faz tempo que não recebo notícias suas, mas espero que esteja tudo bem. Os tempos estão complicados por aqui: apesar de dizerem que a guerra parece estar chegando ao fim, o clima não melhorou completamente... O orfanato continua o mesmo: cinzento e frio. Sinto falta de tê-la como colega de quarto.

Por outro lado, o seu amigo, o Sr. Ollivander, está sendo uma boa companhia quando nos encontramos. Chego a ficar um pouco envergonhada de dizer isso, mas acho que posso confiar em você, não é? Bom, de vez em quando eu o encontro no centro de Londres e passeamos por algumas quadras. Já fizemos isso algumas vezes e é um ótimo jeito de esquecer um pouco do orfanato e da guerra... Ele é muito gentil e um tanto excêntrico, é um bom contraste para o que vemos aqui pelas redondezas. Esses dias, ele começou a me contar histórias sobre feiticeiros e bruxas, sobre varinhas mágicas e árvores protegidas por criaturinhas feitas de gravetos. Oh, certo, nos encontramos uma vez por semana, praticamente, com a desculpa de ver se um de nós tem alguma carta para lhe entregar... Confesso que é o melhor dia da semana, tanto pela expectativa de receber notícias suas quanto pelo encontro com ele.

Martha e Alexei estão bem. Está tudo bem com o bebê, ele deve nascer em dois ou três meses.

 Por favor, mande notícias. Estou preocupada. Garrick pareceu um pouco preocupado quando falou de você na semana passada.

Com amor,

Anna.”

Odiando-se por ter negligenciado a amiga e Ollivander, Hermione xingou baixinho e guardou as cartas dentro do envelope, colocando-o dentro da bolsinha de contas que mantinha escondida entre o colchão e a cabeceira da cama. A bruxa deitou, sentindo o cansaço tomar conta de si enquanto suspirava fraquinho e encarava o teto escuro da cama de dossel.

“Hermione?”

Ela abriu os olhos, assustada. Não estava mais encarando o escuro, mas sim o que parecia ser um bar vazio e empoeirado. O Cabeça de Javali, ela se lembrava do lugar onde haviam decidido se encontrar para discutir a famigerada Armada de Dumbledore... Na sua frente, estava Harry: magro, com olhos fundos e cabelos compridos demais.

“H-Harry...” ela sussurrou, esticando as mãos para alcançar o rosto do amigo e sentindo os olhos arderem.

O garoto sorriu, um sorriso triste e sem esperança, erguendo as mãos para segurar as delas. Ele estava cansado, isso era óbvio, mas havia um brilho desafiador em seus olhos verdes, o mesmo brilho que ela vira quando ele decidira ir até o Ministério para resgatar Sirius ou quando, ainda pequenos, eles tiveram a brilhante ideia de proteger a Pedra Filosofal.

“Estamos bem,” disse Potter, mas ela pôde ver o brilho da coragem se misturar com o das lágrimas. “Conseguimos... Gringotts. Pegamos uma horcrux, a taça de Hufflepuff. Só falta uma para descobrirmos: algo que pertenceu à Rowena Ravenclaw. Achamos que está escondida em Hogwarts.”

“Ravenclaw...” a garota murmurou, piscando. “Ravenclaw! Eu posso... Eu posso pesquisar! Quero dizer, eu posso perguntar para alguém!”

“Hermione, você está longe-“

“Não estou tão longe quanto pensa,” a bruxa tentou explicar. “Tenho a quem perguntar. Ou... Ou se eu não conseguir entrar em contato antes de entrarem no castelo, procurem a Dama Cinzenta!”

“O fantasma?” Harry perguntou, arqueando uma sobrancelha.

“Ela é a filha de Rowena. Se existia alguma relíquia de Ravenclaw, ela deve saber qual é e ela...” Hermione respirou fundo, segurando as mãos de Potter e as abaixando. “Tom Riddle gostava da Dama Cinzenta. Quero dizer, eles eram amigos, conversavam. Ela confia nele ou pelo menos confiava quando ele era aluno. Fale com ela, explique a situação. Fale do que Voldemort está fazendo com trouxas e nascidos trouxas: ela é mestiça, vai se comover com isso.”

O rapaz ficou em silêncio por um momento, observando-a de olhos arregalados, antes de um grande sorriso aparecer em seu rosto.

“O que faríamos sem você, Mione?” ele perguntou, antes de se desvencilhar das mãos dela e puxá-la para um abraço.

“Harry,” a bruxa murmurou, sentindo um nó se formar em sua garganta. “Ah, Harry.” Hermione escondeu o rosto no ombro do amigo. “Me desculpe, me desculpe...”

“Você não fez nada de errado, Mione. Está nos ajudando mesmo estando longe. Como disse: o que faríamos sem você?”

“Vocês vão conseguir fazer muita coisa,” ela falou, apertando mais o abraço. Se Harry já estava no Cabeça de Javali, então ele estava prestes a entrar em Hogwarts, onde havia Snape e outros comensais, como Amico e Alecto Carrow. Se ele fosse visto, o próprio Voldemort poderia aparecer no castelo. “Tome cuidado, por favor.”

“Quando é que não tomamos?” o rapaz perguntou e ela pôde ouvir o tom choroso em sua voz.

“Você é um grande bruxo, Harry,” murmurou Hermione, sentindo as lágrimas escorrendo pelo rosto enquanto se lembrava dos dois, crianças que não tinham ideia dos perigos que corriam, dentro do alçapão que guardava a Pedra Filosofal. Tanta coisa havia acontecido, mas ela nunca duvidara daquilo, do grande bruxo que Harry Potter sempre foi. “Eu amo você. Por favor, prometa-“

“E você é uma grande bruxa, não apenas livros e inteligência!” O garoto riu. “Amo você, Mione.”

A bruxa fechou os olhos com força, aproveitando o abraço da mesma forma que fizera com McGonagall: sentia o leve tremor que assolava o corpo do amigo, os dedos magros dele apertando-lhe as costas, a respiração entrecortada por algo que ela julgava ser soluços baixinhos... Harry estava assustado e ela não queria nada mais a não ser poder estar ali com ele para enfrentar seja lá o que viria em seguida.

Mas, para Hermione, a próxima coisa que não foi entrar em Hogwarts atrás de uma horcrux, mas sim acordar, já dentro do castelo, com o rosto molhado de lágrimas e o corpo tremendo com soluços.


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Notas finais do capítulo

O Mykew citado pelo Ollivander é o Mykew Gregorovitch, fabricante de varinhas.

Me bateu uma saudades de HP escrevendo esse final, lembrando do trio ainda pequenininho e tudo inocente.

Espero que tenham gostado, apesar de achar o capítulo meio bleh.