Depois do acontecido com os Volturi, Bella e eu decidimos que Renesme deveria completar seu desenvolvimento longe dos olhos humanos, então nos mudamos para o ponto mais baixo das Américas: uma ilha perto de Capo Horn, Tierra del Fuego. É um lugar com poucos habitantes a maioria da população é composta de trabalhadores de temporada e turistas. Apenas alguns moradores fixos, que ficam restritos às bases de pesquisa ártica.

Isso causou uma séria mudança em nossa vida, adaptação e sigilo. Nossas caçadas ficaram restritas a pequenas áreas de florestas temperadas (que só existiam no continente) e ao Atlântico Sul. De fato, caçar focas no mar é tão divertido quanto caçar um urso hibernando, mas a luz do sol aparecia com maior freqüência aqui, e ver a pele de Bella refulgir com os raios que revelavam quem realmente éramos me fazia esquecer de todo o tédio que eu poderia sentir.

Renesme agora estava com 10 anos e seu corpo estava completamente desenvolvido. Ela tornara-se tão linda quanto a mãe. Claro que Jacob viera conosco, Renesme não viria de outra forma. Eles eram um casal apaixonado do cinema dos anos 1920. O amor incondicional e ao mesmo tempo sem necessidade do prazer carnal, pelo que eu fiquei muito grato. É claro que eu sabia que isso um dia iria acontecer, e Bella e eu já havíamos conversado com eles sobre isso, mas ao que parece, Jacob respeita a idade cronológica dela, então não preciso me preocupar em caçar um grande lobo noite adentro tão cedo.

Enfim, nossa “vida” seguia maravilhosamente bem, com ocasionais sustos dos moradores locais quando íamos comprar provisões na cidade (provisões essas que eram relativamente pequenas para alimentarem uma casa com quatro habitantes) até que certa noite ouvimos uma perturbação no pequeno estaleiro onde guardávamos a lancha e o iate. Era um vampiro, logo notamos, mas ele não possuía feições como as nossas. Ele era mais esguio que qualquer outro que eu já havia visto, com uma face repuxada qual atingida por uma grande e forte rajada de vento. Com a imponência de um mensageiro real, ele bradou ao vento:

– Trago mensagem de Marcus dos Volturi para Edward e Isabella Cullen – sua voz era estridente como o toque de uma corneta. Nós não nos revelamos de imediato, receosos pela menção de Marcus. Ele esperou pacientemente, em silêncio.

Após uma rápida e temerosa olhada entre si, decidimos ir na frente Jacob e eu, que a essa altura já havia se transformado, seguidos por Bella e Renesme. Eu não podia ter certeza, mas pude imaginar que Bella estava protegendo a todos com seu escudo mental.

– Qual é a mensagem que Marcus envia? - eu falei de forma intimidadora e territorialista, mas sabia que nenhum ataque viria da parte desse mensageiro: sua mente estava calma.

– Está tudo escrito aqui, senhor – ele caminhou até nós pela trilha de pedras, estendendo uma carta em minha direção. Como não fiz menção de pegá-la, ele perguntou, de forma indecisa – devo ler eu mesmo, senhor?

Eu concordei com um aceno, ele descolou o lacre de cera negra e leu em voz alta:

“Ao Sr. e Sra. Edward Cullen,

Escrevo essa carta em caráter sigiloso, nem Aro nem Caius estão sabendo de minhas intenções, e prefiro que continuem nas sombras quanto a isso.

Desde que me tornei enfadado com a eternidade, sem ter alguém que me distraia de forma a não ver o tempo passar, procuro desenvolver o conhecimento que temos de nossa própria raça: como obtemos habilidades especiais, quais os efeitos do Veneno nas diferentes raças humanas e, depois de nosso primeiro encontro em Volterra, como um vampiro pode apaixonar-se incondicionalmente por outro vampiro, ou até mesmo por uma humana, como foi o caso de vocês dois, meus caros Edward e Isabella.

Pretendo explicar melhor meus motivos em uma visita a vocês e sua bela filha, se possível, e se me desejarem, é claro.

Com grande respeito,

Marcus

P.S.: sei que nossos encontros não foram o que se pode chamar de amistosos, mas lhes asseguro, em confidencia, de que não partilho das mesmas opiniões que meus irmãos de sangue, e não pretendo ir acompanhado de uma guarda.”

– Tenho instruções para levar a resposta comigo, senhor, portanto, se não se importa, esperarei junto à praia – com isso, ele se virou e desceu os degraus de pedra de nosso gramado até a praia de nossa ilha.

Aquilo nos deixou ainda mais tensos. Marcus estava querendo nos visitar, e por que queria manter segredo de Aro e Caius? Bella estava mais assustada que quando toda a guarda Volturi era uma ameaça à nossa filha, mesmo que tentasse não deixar isso transparecer em seu rosto. Jacob estava pensativo, sua mente era um turbilhão de palavras tão rápido que eu mal o entendia, e Renesme estava apreensiva, perguntava-se, assim como eu, o que Marcus quis dizer com “explicar melhor meus motivos”.

– Não sei também os motivos dele, minha querida, mas vamos falar com Carlisle e ver o que ele tem a dizer dessa situação antes de darmos qualquer resposta – minha voz tinha um alto teor de preocupação suprimida e meus olhos exprimiam preocupação em perdê-las, portanto fui traído por minha humanidade adormecida, que sempre acordava em demonstrações de paixão, cada vez mais forte.

– Você não acredita realmente nisso, pai, eu sei que não – teimosia. Nisso ela sempre se parecera mais com a mãe – eu me lembro muito bem de Marcus, ele foi o único que votou a nosso favor na clareira, e acho que merece um ponto de confiança por isso, mas entre dez de desconfiança, ter um de confiança não é nada animador... precisamos mesmo falar com Carlisle – Jacob latiu em concordância, e depois voltou à sua forma normal. Chegamos um tempo a insistir com Renesme para chamar Carlisle de vô, mas até ela achou ele jovem demais para ser avô... o mesmo acontecia com Charlie, mesmo com a aparente diferença de idade.

– Ele quer fazer uma visita, não quer? – Bella disse com ímpeto – Pois então que venha... não há porque nos preocuparmos, já que ele mesmo diz que virá sozinho...

– Mas Bella, Marcus é um Volturi. Não é algo que podemos ignorar simplesmente.

– Eu concordo com Bella – Jacob disse. Sempre defendendo suas amadas... - deixe que ele venha. Somos quatro, e com certeza Carlisle vai querer estar presente, portanto inclua a isso Esme, Alice, Jasper, Emmett... e a Rosalie também. Por mais forte que esse sangu... Marcus seja, ele não pode contra todos nós.

– Jacob está certo, Edward. Não querendo criticar sua opinião, mas você sempre foi protetor demais.

– Ah, ótimo! Agora estão todos contra mim!

– Não é isso, amor, só estamos tentando fazer você enxergar que não tem perigo nenhum... Claro, depois de tudo que passamos nas mãos dos Volturi, é compreensível você ter receio, mas naquela época eu era humana, e Renesme era só um bebê – como não me acalmar ouvindo os sinetes angelicais de Bella falando com toda sua doçura e amor?

– Está bem, vamos entrar agora, falar com Carlisle e dar a resposta a esse aí – aponte para a praia com um movimento da cabeça – mas que ainda acho isso tudo um tanto estranho, eu acho.

– Sim, vamos entrar... - Jacob e sua impaciência sarcástica – eu posso ser mais quente que um humano normal, mas ainda sinto frio, e caso tenham se esquecido, nós estamos praticamente no Círculo Polar Ártico.