Eu sou um cara de sorte. Tão sortudo que nunca poderia imaginar isso anos atrás.

A mulher mais linda do mundo estava próximo a janela de nossa sala, enquanto a luz do fim de tarde a banhava de maneira quase etérea.

Ela ainda tinha os mesmos olhos verdes brilhantes de quando éramos crianças. O mesmo sorriso doce, que me ganhou sem que eu percebesse. O mesmo cabelo rosa e macio que combinava perfeitamente com suas feições encantadoras.

Ela nem se quer repara que seu menor dos atos, como ninar nossa bebê, me faz cair de amores. Ela não percebe que eu a encaro agora, em completa devoção, porque é justamente isso que sou: um adorador de seu esplendor.

Acho que ela também não percebe que me tem nas mãos. Que me chamar suavemente todos os dias de manhã faz meu dia melhor. Ou até que sua risada escandalosa me desarma.

Ela conta piadas ruins, se esforça para ser uma profissional de excelência, deixa cabelos no ralo do banheiro; mas também briga se eu deixar um copo sujo em cima da mesa.

E eu sou tão sortudo por tê-la.

Sou sortudo porque a mulher mais admirável que já conheci, disse sim para mim no altar. Me amou todos os dias desde nossa juventude. Não me deixou desistir de mim mesmo. Eu sou sortudo porque sei que não mereço nada disso, todavia eu a tenho em minha vida.