O guitarrista moreno suspirou, olhando para o chão e dando-se de cara com o objeto de tamanho médio que havia acabado de acertar sua nuca, vinda de sabe-se lá onde. Colocando o cigarro entre os lábios carnudos e tentadores, Yuura Terushido abaixou-se, pegando a...

Aquilo era uma lâmpada mágica, igual àquelas que apareciam em contos de fadas e desenhos animados?

Balançou a cabeça, negando e achando-se ridículo por pensar naquilo. Muito ridículo. Olhem só para ele, era um homem já formado, de vinte e cinco anos, acreditando naquela bobagem de...

Mas bem que poderia ser uma linda gênia, como naquele seriado, onde um major encontra uma lâmpada com uma linda gênia loira dentro.

Bem... pessoalmente, dispensava toda a burrice que acompanhava a gênia loira.

Riu baixo, segurando a lâmpada e começando a caminhar para casa. Pelo menos aquilo daria uma ótima peça de decoração, não é?

Imagine a mulher perfeita e olhe para mim

Eu sou uma genia

Seu sonho, sua genia

Agora ele estava ali, com um cara ruivo, até que jeitosinho, parado na sua frente, com uma roupa de gênio e um sorriso sacana na cara.

Entendam... nosso querido amigo não cheira gatinhos, não bebe até cair e só fuma cigarros mentolados. Não passa nem perto do cigarrinho do capeta.

Então, o que explicava aquele ruivo com calça dourada e colete vermelho de pedrarias, de braços cruzados e uma nuvem de purpurina roxa em torno de si?

Até havia cogitado chamar a polícia, mas talvez fosse preso por trote se soltasse um "911? Tem um cara vestido de gênio invadindo minha casa! Socorro!"

Mesmo porque, se seu amigo Ryuutarou soubesse que andava gritando por aí com medo de caras fantasiados de cosplay, iria mandar que seu namorado otaku fosse atrás dele, enquanto dormia.

Não, muito obrigado...

–Okay, vamos começar de novo e agora você me diz a verdade. Quem é você, como invadiu a minha casa e o que quer de mim?

–Mas eu já disse! Eu me chamo Takeo, vim da lâmpada e sou um gênio em treinamento. E você agora é meu mestre.

Talvez, se ele não estivesse naquelas roupas ridículas, Terushido até gostasse de ser chamado de mestre por aquele tal Takeo.

Conte-me seu desejo!

Nao esta cansado de toda esta monotonia?

Voce se acostumou a esta vida comum?

Desperte agora!

Voce é meu surperstar, meu astro, meu surperstar.

–Como assim eu tenho direito a, somente, um desejo? No filme do Alladin eram TRÊS desejos. Que porcaria de gênio é você? - reclamou, enquanto sentava-se na mesa de jantar, servindo-se de lasanha congelada.

–Eu já disse! Estou em treinamento! Não posso fazer mais do que isso! - o gênio dos cabelos vermelhos começou a flutuar à sua frente, sentado no ar e tirando, sabe-se de onde uma canetinha laranja, rabiscando carinhas em seus dedos e brincando com os mesmos.

–E você não pode pedir desejos infinitos. É contra as regras. - Takeo adiantou-se, apontando para o moreno, fazendo um bico e logo sorrindo sacana de volta.

–Então eu tenho que pensar muito bem no que vou querer. - remungou, levantando-se e deixando os pratos na pia.

Sua vida andava muito parada ultimamente. As apresentações com sua banda ficavam cada vez mais difíceis e nem sempre a grana era o suficiente. Isso quando os caras não queriam pagar. E se ele não livrasse algum no jogo já estaria embaixo de alguma ponte.

Suspirou, jogando-se no sofá sendo acompanhado pelo gênio que cantava a música do elefantinho.

Um pouco de dinheiro não seria nada ruim.

–Quatro elefantes incomodam muita gente... Cinco elefantes incomodam, incomodam, incomodam, incomodam, incomodam muito ma-ai...

Passou a mão pelo rosto... ele só havia pedido uma gênia gostosa e inteligente. Será que os céus o odiavam tanto assim?

Quero te dar todos os sonhos e paixões

Eu sou uma deusa da sorte e tudo o que eu quero

É realizar seu desejo

–Como assim o que eu pediria se um gênio aparecesse na minha frente? Você bebeu, Terushido? - a voz do baixinho soou do outro lado da linha com um tom de estranheza e Yuura se arrependeu um pouco de ter ligado para Jack, entre todas as pessoas do mundo.

–É, Ryuutarou! Eu quero saber o que você pediria! - respondeu impaciente, rolando os olhos. Se bem que, se conhecesse bem o amigo, já sabia o que ele iria pedir.

–Ir para um lugar bem longe de vocês, seus babacas. Escute o que eu estou dizendo, Terushido, se continuar a andar muito com Ikeuchi vai acabar pegando a loucura dele.

–Falou o namorado do louco...

–Que é louco também, seu argumento é inválido.

–-

–Um desejo, Teruo-san? - a voz suave do vocalista soou pensativa e Terushido poderia vê-lo beliscando o lábio enquanto pensava.

–Acho que eu pediria... um namorado, eu acho. Não, espera, um carro. Não... dinheiro, dinheiro seria bom, mas aí as pessoas não se aproximariam de mim pelo que eu sou...

Um par de coxas obeso com comida no lugar do cérebro, ele pensou, controlando-se para não rir e achando que estava andando muito com Jack, ao invés de Shibuya.

–Ahn... bem... quando você se decidir, você me avisa, tá? - desligou, ainda ouvindo o vocalista resmungando do outro lado, enquanto pensava.

–-

–Claro que eu pediria uma deusa linda saindo da minha televisão e dizendo que eu sou seu mestre! - rolou os olhos para a animação do otaku, pensando em qual mundo ele vivia...

–Ikeuchi...

–Não... é um desejo só, não é? Então eu pediria para ser um bruxo e voltar a ter 11 anos, quem sabe não me chamariam em Hogwarts...

–Jin...

–Melhor! Eu pediria umas cartas bacanas com poderes, um báculo mágico e um bichinho de pelúcia, que, na verdade é um leão lendário...

–Shibuya...

–Ou um guarda-roupa com o poder de me levar a outros mundos... mas seja o que for que peça, Terushii, não peça uma fita de vídeo...

Desligou.

Ao sairmos vá com tudo pra aonde seu coração mandar

Mesmo que sinta que seu coração vai explodir

Ou que sera levado pra longe com o vento

Takeo olhava o rapaz mais alto andando de um lado para o outro, enquanto cantava animadamente a música dos indiozinhos.

–Por que você não pede um carro? - murmurou, entre o nono e o décimo indiozinho.

–Não... eu consiguirei isso quando for famoso.

–Então peça para ser famoso!

–Quero ser famoso pelos meus próprios méritos. - negou, com um aceno.Takeo revirou os olhos, voltando a cantar a música dos indiozinhos, um pouco mais animado. Pelo menos havia encontrado alguém engraçado, em seu primeiro trabalho como gênio estagiário.

E ele não precisava saber que havia reprovado três vezes, antes de implorar para conseguir um trabalho...

–Dá para parar de cantar essas músicas irritantes ou tá difícil? - Terushido virou-se para ele, irritado e ameaçando ir para cima do gênio que desviou e começou a flutuar pela sala, cantando ainda mais alto.

O maior caiu no sofá, exausto, controlando-se para não arrancar os cabelos. Maldita a hora que havia trazido aquela lâmpada para casa e, por tabela, aquela praga vermelha.

–Quer saber? - o ruvinho parou deitado na frente de Teruo, um sorriso que seria classificado como o mesmo do Gato de Cheshire em seus lábios. Afinal, tivera a melhor idéia de sua vida e ainda por cima conseguiria um emprego para o resto de sua existência como gênio!

–O que é, praga? - resmungou, tentando tirá-lo de cima de si, sentindo-se um tanto quanto incomodado pela proximidade.

–Eu vou escolher seu desejo por você, Teru-Teru chan... e ele será... me ter como gênio pessoal até o fim da sua vida. Então você terá tudo o que quiser. - piscou, vendo o outro empalidecer e suar frio.

Conte me seu desejo!

Sou uma genia só pra voce garoto

Conte-me seu desejo!

Sou uma genia só pros seus desejos

Conte-me seu desejo!

Sou uma genia só pros seus sonhos

Conte-me seu desejo!

Sou uma genia so pro seu mundo

E o que soou pela vizinhança toda, a seguir, foi um grito de puro horror e desespero:

–NÃAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAOOOOOOOOOOO!!!