Na Toca Da Raposa escrita por Nyuu


Capítulo 7
Capítulo VI


Notas iniciais do capítulo

Desculpem pela demora. Acho que só vou conseguir postar esse capítulo hoje. Provas chegando. :/ Mas amanhã tem mais.



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Mirei a floresta e corri com todo o fôlego que possuía. Ficava a cerca de 500 metros dos tubos de vidro. Eu não parei para olhar pra trás. Mas pude ouvir os gritos, as pessoas morrendo, os ossos quebrando. Cheguei à floresta sem ar. Eu era rápida, mas não treinara para correr distâncias como essas. O impulso de parar para respirar quase me fez ceder, mas não sucumbi ao anseio por ar. Continuei correndo, adentrando mais e mais na floresta. Não era do tipo tropical. Era quente, mas não úmida e abafada. O vento seco parecia cortar meu rosto. As folhas no chão estavam ressecadas pelo sol que entrava facilmente por entre as copas das árvores. Estas não eram fechadas. Não formavam nem de longe um teto sobre minha cabeça. Pelo contrário. Lá em cima o sol queimava sem piedade.

Não sei quanto corri, mas depois de alguns minutos caí de joelhos no chão, não podendo mais aguentar a dor em meus músculos e pulmões. Dei-me ao luxo de sentar escorada em uma árvore até que o oxigênio voltasse. Mas sabia que não poderia ficar lá por muito tempo. Logo os tributos sobreviventes viriam para a floresta. Incluindo os carreiristas. Esse pensamento me motivou a levantar. Tentei pensar nas dicas de sobrevivência de Casio, mas tudo que havia na minha cabeça era uma mistura de sangue e árvores. Então notei que eu estava com sede. Comecei a procurar um riacho, um lago, um rio ou qualquer fonte de água e de prováveis alimentos. Eu não tinha nenhum tipo de eletricidade a meu favor, mas precisaria me alimentar. Provavelmente os patrocinadores apostariam em alguém com maiores chances de sobrevivência.

Andei por muito tempo, mas nada de água, nem de comida. Eu não poderia desistir assim. Se quisesse vencer, teria que ser forte. Forte como a pedra que eu carregava no bolso da calça. Já estava quase desistindo quando ouvi um pequeno ruído. Havia um esquilo gordo comendo frutas de uma árvore baixa. Frutas vermelhas que pareciam suculentas. Mas o esquilo parecia ainda mais delicioso. Peguei uma pedra grande e mirei no animal. Errei, como era de se esperar. Ele correu desesperado para longe, não me dando nenhuma chance de conseguir um jantar. Só restaram as frutas. Colhi todas que consegui e coloquei-as nos bolsos. Provei uma. Era um pouco azeda, mas possuía algum líquido. O que queria dizer que eu sobreviveria por pelo menos um dia na arena.

Eu devia ter caminhado muito, pois o sol já estava se pondo. Era melhor achar algum lugar para dormir, porque durante a noite eu seria um alvo muito mais fácil. Não havia cavernas por perto, nem grutas, nem mata fechada, nada que pudesse servir de abrigo ou esconderijo. A melhor opção seria subir o mais alto que eu conseguisse em uma árvore e passar a noite lá em cima. Encontrei uma que pareceu perfeita: bem alta, com galhos grossos e fortes. Eu não era nada boa em escaladas, mas consegui subir até onde meu peso era suportado. Cheguei cheia de farpas nas mãos. Retirei o que consegui com os últimos raios de sol. E então esperei.

Eu estava quase cochilando quando o céu se iluminou, com as notícias dos óbitos do dia. Onze tributos haviam morrido no banho de sangue na cornucópia. Onze famílias estavam desoladas nesse momento, em vários distritos de Panem. Inclusive no Distrito 5. Torn havia morrido. Deduzi que ele achou que teria chances de conseguir algo da cornucópia. Talvez matar alguns tributos e fugir dos carreiristas. Mas a verdade, eu imaginei, é que ele deve ter morrido bem rápido. O que foi bom. Ele não teria estrutura para aguentar a pressão dos dias que viriam. Onze crianças e jovens haviam morrido, o que queria dizer que restavam só treze, doze além de mim. Doze inimigos esperando para me matar.

Depois de ser acordada pelo noticiário, não consegui mais pregar os olhos. Minha cabeça estava lotada de imagens da cornucópia: coisas que ouvi, as pessoas que vi correndo antes de dar as costas ao massacre e também as coisas que imaginei terem acontecido. Facas atravessando os corpos frágeis. Ossos sendo quebrados. Sangue escorrendo pelos cadáveres. Tinha que parar de pensar nisso. Ou eu iria enlouquecer. Um barulho, por sorte, quebrou meus devaneios. Olhei ao redor e vi fumaça saindo de algum ponto no meio das árvores. Alguém tolo demais, fraco demais, desesperado demais ou simplesmente um suicida, havia acendido uma fogueira e atraído um predador. Pelas súplicas que ouvi, os predadores deviam ser carreiristas. Que mataram mais uma menina que gritou desesperadamente por piedade. Mas acabou sendo brutalmente assassina, desfrutando de toda a fúria e sede de sangue daquelas aberrações.

Eles foram embora, rindo, pelo que pude ouvir. Tudo ficou em silêncio novamente e eu percebi que estava com fome e sede. Tirei as frutas dos bolsos e fiquei mordiscando algumas devagar. Não eram muitas, e me alimentariam por no máximo algumas horas. Eu teria que achar mais algumas delas de novo, assim que saísse da árvore, ao raiar do dia. Era apenas o primeiro dia. Eu teria que arranjas, e logo, uma fonte contínua de alimento. Antes que eu virasse caça de alguém. Com esse pensamento não muito animador, entrei em um sono conturbado e cheio de pesadelos. Envolvendo sangue, esquilos, frutas, árvores e, o pior de tudo, meu irmão.


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