Someone escrita por Skywalker


Capítulo 1
Capítulo único - Someone


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem.



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O mundo gira devagar quando precisamos, e Clove sabia daquilo.

O rosto de Cato, de uma expressão assombrosamente melancólica, parecia emanar lágrimas fantasmas. Ela não podia vê-las, mas podia sentí-las, no jeito que ele lhe segurava, na forma doce que ele lhe pedia para ficar. Ele a segurava tão firme que quase poderia lhe puxar de volta para a vida, para ele, só com o calor que transmitia de seus braços para os dela.

Mas seu rosto o traía. Seus olhos. Eles lamentavam, eles imploravam. Eles estavam desesperados porque ele sabia que ela não iria aguentar.

Clove queria poder chorar junto. Ela não conseguia. Ela não podia fazer nada senão observar seus protestos em vão.

O golpe que levara na cabeça não lhe doía. Em momento algum doera. Mas lhe limitava. Tirava-lhe, aos poucos, a vida. Ela lutava, oh, ninguém sabia como lutava, para tentar fazer seu coração continuar com as batidas. Fazer seu pulmão continuar funcionando e manter a boca aberta para que pudesse puxar e soprar o ar. Mas todos os seus esforços não eram suficientes e ela sabia.

– Por favor, Clove... - Sussurrou Cato. Seu peito se apertou. Era por isso que o mundo girava tão lentamente para ela, mas rápido demais para ele. Ela poderia se recordar de todos os momentos que passaram juntos, e, mesmo depois disso, voltar ao presente e notar cada pedaço de seu maior e único amor proibido. Era incrível. E ao mesmo tempo terrível.

Clove não pensava em vingança, ela não tinha raiva. Cato, pelo contrário, jurava-lhe vingança em meio às súplicas, prometia-lhe que iria matar todos e vencer por ela, mas não era isso que ela gostaria de ouvir dele.

Ela não se importava em estar morrendo. Não queria saber de Thresh, ou de Katniss, ou do Conquistador-traíra. Não conseguia odía-los. Tudo estava tão sufocante que só lhe dava espaço para um sentimento por vez. E era o amor que lhe preenchia naquele momento.

Amor por Cato. E era tanto amor. Mas do que ela jamais sentira. E, se pudesse, diria isso a ele. Amor. Amar. Eu te amo. E era tudo o que importava. Os outros, eram outros. E ela via isso tão claramente agora. Nunca deveria ter lutado para vencer os jogos. Nunca deveria ter lutado para sobreviver. Era tudo sobre Cato. Ela deveria ter lutado por ele. Pelo amor que sentia por ele.

Não era possível voltar no tempo, por mais que Clove quisesse. Ela teria feito tudo diferente. Esquecido Katniss, a maldita garota em chamas, porque, na realidade, ela não fazia tanta diferença. Esquecido a raiva que sentira quando descobrirá que Peeta era traidor. Esquecido o quanto queria fazer Katniss sofrer. Esquecido o ódio que adquirira por Glimmer, quando ela estava viva, e seus odiosos cabelos flutuantes e dourados que Cato observava como um idiota.

Clove ainda estava com os olhos entreabertos, por mais que eles quisessem se fechar. Ela tentava dizer tudo para Cato com o olhar. O amor. Ela tentava passá-lo para Cato assim. Mas ele não entenderia.

Cato ainda não havia descoberto que a amava, e talvez não descobrisse nunca. Mas Clove, agora, sabia que o amava, e gostaria que ele soubesse disso também. Quer ele retribuísse ou não, aquilo fazia a diferença. E porquê fazia a diferença? Porque Clove queria que ele soubesse que ela estava lá por ele. Ele tinha alguém, no fim das contas. Afinal, há sim uma enorme diferença entre morrer sozinho e morrer com amor. É como voltar para casa depois de um dia de trabalho. Quanto mais tempo passa, se você está sozinho, menos ânimo você tem de ir trabalhar e depois voltar para um lugar aonde você ainda estaria totalmente solitário. Mas é bom saber que tem alguém lhe esperando. Dá alegria para ir e trabalhar bem e rápido, e voltar para quem lhe ama - e quem você ama.

Clove queria que Cato soubesse que, quando ele voltasse para ela, ela lhe esperando. Se ele fosse morrer, ele não iria apenas morrer. Ele iria lhe encontrar.

Cato encostou a cabeça no ombro de Clove e deixou apenas uma lágrima escapar. Clove percebeu, e soube que estava pronta. Com a mente, ela berrava: EU TE AMO. EU TE AMO. EU TE AMO. POR FAVOR, NÃO ME ESQUEÇA, NÃO ESQUEÇA QUE EU TE AMO.

Mas conseguiu dizer apenas cinco palavras antes de deixar-se entrar na escuridão:

– Eu estou aqui por você.


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