Duas semanas.

Em duas semanas, muita coisa havia mudado naquele afastado bairro de Miami. Principalmente na casa onde moravam Jordan e Victoria.

O homem e a garota que inicialmente se odiavam agora conversavam sempre que podiam. Victoria já sabia muito mais sobre o passado, tanto o seu próprio quanto o do pai. A maior parte depois de uma conversa longa que tivera com ele havia pouco tempo.

Nela, a garota perguntara como Jordan conhecera Rosie. Como resposta, ele sentou-se junto a ela no sofá da sala e começou a contar uma pequena história.

– Eu conheci sua mãe em Liverpool, acho que você sabe disso. Nós dois éramos muito jovens na época e eu estava apaixonado por ela. Nós fomos para Londres por que eu tinha um apartamento lá e nós queríamos morar juntos. E nós realmente vivemos juntos por algum tempo, só que um dia eu tive de viajar às pressas. Minha mãe me ligara dizendo que o meu pai estava muito doente, e eu acreditei, obviamente. Só não sabia que era tudo um pequeno plano. Eu não sabia que Rosie estava grávida, Victoria. Mas os meus pais sabiam. Ela contou-lhes porque pretendia me fazer uma surpresa. Mas eles não estavam tão animados assim com a ideia, principalmente depois que eu contei-lhes dos meus planos de pedi-la em casamento. Eles inventaram uma desculpa qualquer, encheram minha cabeça de besteiras e eu acabei acreditando. Eles montaram um mal entendido e me afastaram de Londres, fazendo com que a sua mãe acreditasse no abandono. E eu cheguei a procurá-la, Victoria. Mas meus pais me demoveram da ideia. Acho que ela já tinha voltado para Liverpool na época.

Victoria surpreendeu-se ao ouvir aquela história. Nunca poderia imaginar que o homem que ela odiara por tanto tempo era tão diferente do que ela acreditava.

Mas aquilo foi apenas o que Jordan contou. A garota podia tentar deduzir por que o pai voltara depois de dezesseis anos, mas não conseguia entender por que ele havia assumido sua paternidade.

Quanto à viagem de volta para Fort Lauderdale, ela havia sido combinada para dali a poucos dias. Jordan já havia resolvido a maioria do que precisava. Agora era só esvaziar e alugar sua casa dali e reaver o apartamento de Fort Lauderdale. E então ele e Victoria voltariam para a cidade.

Já Yuri e sua família só iriam se mudar dali a uma semana. Ainda haviam mais coisas para Lara arrumar antes de ir.

No colégio Victoria não viu mais Hector. Ninguém sabia ao certo o que acontecera, mas depois daquela segunda-feira ele não aparecera mais lá. Sorte dela.

Nicholas também parara completamente de importuná-la, e Haymitch Abernathy estava quase começando a ficar suportável.

Ryan e Lily logo já sabiam da mudança. Ficaram felizes por Victoria mesmo sabendo que sentiriam falta dela e de Yuri.

...

Logo chegou o dia da viagem de Victoria e Jordan. A garota acordou cedo até demais naquele dia; sua ansiedade não a permitia dormir.

Depois de vestir uma roupa simples – uma calça xadrez vermelha, camiseta preta de alças e um par de all star preto – ela terminou de guardar suas coisas nas malas que Jordan comprara e arrumar seu quarto de acordo com o pedido dele.

Enquanto fazia isso, sua mente trabalhava; pensava em todas as coisas que haviam mudado em tão pouco tempo. Em como sua vida era diferente há três meses e como ela evoluíra por causa disso.

Victoria não se sentia tão triste de sair dali quanto se sentira em Fort Lauderdale. Talvez por que mesmo vivendo por um mês naquela casa em Miami, não era confortável ali. Era como se estivesse apenas em um passeio.

– Victoria, nós sairemos daqui às nove e meia. Precisa de alguma ajuda?

– Ok, Jordan. Obrigada, e eu não preciso. – A garota respondeu enquanto fechava sua última mala e andava até o banheiro.

Lá ela lavou o rosto e passou os dedos molhados pelos cabelos, arrepiando um pouco os fios.

O relógio da cabeceira apontava que faltavam vinte minutos para as nove horas.Victoria saiu do quarto, atravessou o corredor e a sala e depois de avisar a Jordan onde iria, saiu de casa.

Depois de dois ou três minutos a garota já estava tocando a campainha da casa de Yuri.

– Oh, olá, Victoria! O que lhe traz aqui a essa hora? – Lara perguntou ao atender a porta.

– Bom dia, sra. Lara. Eu vim apenas me despedir. Irei hoje para Fort Lauderdale. – Victoria respondeu.

– Ah, sim. Vou chamar Yuri. – Lara sorriu e saiu dali.

Poucos minutos depois Victoria viu o garoto moreno surgir, com uma calça de pijama e os cabelos bem bagunçados.

– Tori! – Ele sorriu assim que a viu. – Bom dia.

– Bom dia, Yuri! Eu vim aqui para me despedir de vocês. – Ela deu de ombros.

– Por uma semana, certo? – Ele brincou e ela assentiu.

– Sim, só por uma semana. Mas mesmo assim, tchau!

Yuri sorriu.

– Até logo, Tori.

Os dois se abraçaram rapidamente e depois de outro tímido “tchau” para Yuri e Lara, Victoria voltou para a casa de Jordan.

Logo que entrou, a garota viu o balcão da cozinha com leite, cereal, torradas, manteiga e outras coisas para um café da manhã.

– É melhor comer antes de viajarmos, Victoria. – Jordan disse, saindo da cozinha.

Victoria agradeceu e sentou-se em um dos bancos.

Enquanto comiam, Jordan observava a tatuagem no braço de Victoria.

– É para Madison, não é? – Perguntou e ela se sobressaltou.

– Bom, mais ou menos. De início foi, por que eu estou sentindo muita falta dela, mas o amor é mesmo uma loucura. – A garota sorriu bem levemente.

– Ela vai gostar de ver isso. – Jordan disse.

– Acha isso?

– Com certeza. – Eles riram um pouco.

Quando o relógio marcava nove horas em ponto, pai e filha deixaram a casa em direção ao aeroporto.

Da última vez que Victoria estivera ali, se sentia triste e com raiva. Mas agora era totalmente diferente. Ela estava voltando para casa!

A viagem no avião foi longa. É o que a ansiedade faz normalmente.

Robert não fora avisado. Ninguém fora, na verdade. Ela queria fazer uma surpresa.

Quando o avião pousou, Victoria sentia que o coração logo moeria as costelas – estava batendo desesperado.

– Para onde quer ir, Victoria? – Jordan perguntou-a quando entraram no táxi.

– East? – Ela respondeu, indicando seu antigo bairro.

– Então é isso. East, por favor.

O motorista do táxi assentiu e o veículo começou a andar.

Victoria torcia as mãos trêmulas. Seu coração batia cada vez mais rápido e a respiração não estava tão regulada. Quando chegaram ao bairro, a garota mal podia acreditar: estava de volta.

O táxi parou em frente à casa de Robert, como Jordan determinara.

Victoria saiu do carro e o pai ficou ali, aguardando. Ela tremia um pouco, mas conseguiu chegar até a porta e tocar a campainha.

Ela aguardou segundos, minutos, horas intermináveis, até que o rosto do seu tio apareceu na sua frente.

– Oh meu Deus! Victoria! É você mesma? – Robert perguntou, segurando seus ombros.

– Eu voltei, tio. Um pouco diferente, mas voltei. – Ela sorriu e os dois se abraçaram.

– Onde estão suas malas? Como você veio?

– Está tudo ali no táxi, com Jordan. – Ela disse.

– Vai trazer para cá?

– Pode ser. – Ela deu de ombros.

Jordan e Robert carregaram as duas malas de Victoria até a sala de estar da casa.

– Bom, Victoria. Está entregue. Eu vou ver algumas coisas no apartamento e volto aqui mais tarde. – Jordan disse-lhe.

– Ok. Até mais tarde então, Jordan.

– Até, Victoria. – Ele disse e entrou novamente no taxi, que logo estava subindo a Rua 6.

A garota se virou e entrou na casa de Robert. Ao fazer isso, respirou profundamente e correu os olhos pela sala de estar. Quanta falta dali sentira!

– Senti tanto a sua falta, tio. E daqui também. De tudo! – Ela disse.

– Eu também senti a sua falta, minha filha. – Ele sorriu. – Mas me diga... o que houve? Por que está aqui agora?

– Foi Jordan, tio. Ele mudou. Me pediu desculpas por tudo, estamos nos dando bem agora.

– Que ótimo, Victoria! Quer dizer que você tem um pai agora. Não precisa mais do seu tio chato. – Robert riu.

– Você sabe muito bem que não é assim. – Ela sorriu.

Os dois se sentaram no sofá da sala e começaram a conversar, como faziam antes. Victoria contou-lhe tudo que acontecera no último mês em Miami. Sobre Yuri, o corte de cabelo, a tatuagem – que Robert elogiou algumas vezes –, os amigos que conseguira, as confusões... enfim. Nada passou na narração de Victoria.

– Quando você planeja se encontrar com Madison e seus amigos, Victoria? – Robert perguntou.

– Agora, talvez. – Ela sorriu.

– Certo, então. Eu sei que você vai ficar algum tempo fora, então até mais tarde.

– Até mais tarde, tio. – Victoria sorriu e Robert entregou-lhe um molho de chaves.

– Não preciso dizer para você ter cuidado, preciso?

Eles riram.

– Não, obrigada.

Victoria saiu da casa um pouco nervosa. A calma que a conversa com Robert havia lhe dado estava se esvaindo aos poucos. Tudo que ela mais queria era encontrar Madison e seus amigos, mas ao mesmo tempo sentia um pequeno medo. Medo de que sua namorada não a amasse mais.

Ela mal conseguia pensar nessa possibilidade, mas o medo a assaltava. Por isso naquele momento a garota preferiu subir a Rua 6 até a praça do skate sozinha. Victoria sentou-se em um dos bancos da praça e ficou ali, ocupada com seus próprios pensamentos.

E ela podia ficar daquele jeito por muito mais tempo, se aquela voz tão conhecida não lhe arrancasse dos pensamentos ao pedir-lhe licença por um minuto.