Apertei os olhos bem forte, repetindo que, quando os abrisse, a alucinação sumiria, e, quando os abri não havia nada nem ninguém na minha frente.

Suspirei de alívio.

– Eu ainda estou aqui. – A voz de Sofia soou atrás de mim. Olhei para trás e ela estava lá. Levei um susto imenso e pulei para trás, derrubando alguma coisa. Sofia riu. Ela não parecia ser uma das minhas alucinações de minha recém descoberta mente perva. Ela não tinha o tom sedutor e gemido de minhas fantasias, era só ela. Eu parei para notar seu olhar depois do susto. Era ela mesmo. Só ela me olhava daquele jeito. Por mais estranho que fosse, Sofia era uma das poucas que conseguia me ver como mim mesmo, Jason Bieber, um moleque baixinho de 16 anos que canta. A maioria me vê como se eu fosse o gato que merece capa de revista feminina, que todas gritam por ele quando ele tira a camisa e tal (Uau, como isso soou gay!).

A verdade era que eu não era daquele jeito. Eu não tinha tanquinho, por mais que malhasse e comesse coisas saudáveis (eu tentava, pelo menos), eu era só o garoto com dificuldade de ter pêlos no corpo e de ficar forte. Só Sofia e poucas garotas me viam como eu era, não como a imagem de perfeição e sexy que tinham em suas mentes.

– É você mesma. – Concluí (gênio).

– Sim. Por que não seria?

– Melhor você não saber. – Soltei. Ela riu. – Como? Você não estava lá?

– Não sei, Jason. Mas acho que seria melhor você vestir uma calça? – Sofia me perguntou. Olhei para baixo, notei que eu ainda estava de toalha (pior seria se eu tivesse esquecido de novo e soltado a toalha sem perceber).

– Ah, sim, claro, claro, e-eu... eu vou... – Comecei a praguejar minha péssima mania de gaguejar e parecer um idiota.

– Tudo bem, tudo bem, eu entendo, você deixou a toalha cair na minha frente e isso deve ter sido vergonhoso. Não devia ter te assustado daquele jeito. – Sofia disse. – Eu vou lá para fora enquanto você se veste.

– Ninguém vai te ver?

– Não, só você me vê. – Sofia disse. – Já te falei isso.

Suspirei.

– Ah, sim, eu sou sensitivo e não sabia. – Falei. Ela assentiu, e deixou o quarto. Coloquei qualquer roupa, não importava, eu não estava louco, era ela mesmo (bem que o fato de ela ser um fantasma e eu ser um sensitivo não me fazia acreditar muito que eu era sadio mentalmente)! Enfim. Assim que terminei, ela me perguntou se eu já havia terminado. Disse que sim, esperando que ela entrasse logo. Ela não entrou. Estranhando aquilo, eu caminhei até a porta e a abri.

– Por que não entrou logo como você fazia? – Perguntei, realmente confuso.

– Eu preciso ser convidada para poder entrar em um lugar. – Ela esclareceu. Fiz um ah. – Posso?

– Ah, sim, você pode entrar. – Eu disse, e sua sombra fantasmagórica deslizou para dentro do meu quarto. Mas daí eu fiquei mais confuso. – Espera. Quando eu saí do banheiro, e você estava na minha cama... Eu não te dei a autorização, eu nem sabia que você estava aqui!

– Mas você estava “pensando” em mim, e isso é quase um convite. – Ela disse. Por um segundo me desesperei, pensei que ela pudesse ler minha mente.

– Você... leu minha mente?

– Não! – Ela disse. – A aura. Sua aura praticamente me chamava. Não é pensar aqui, – Ela apontou para minha testa. – é pensar aqui. – Ela indicou meu peito. De primeira, não entendi, mas depois a explicação me veio: sentimento. Qualquer sentimento direcionado a ela, os sentimentos são os pensamentos do coração, digamos assim. Minha aura exalava Sofia por que eu sentia muitas coisas por ela. Uau, filosofei agora.

– Ah. – Eu sussurrei.

– Isso é muito estranho. Quando eu entrei em um lugar sem ser convidada, parecia que eu estava queimando. – Ela se sentou na minha cama.

– Quando foi isso?

– Foi... de tarde. Lá para meio dia, foi no mesmo dia que eu virei isso. – Sofia disse. Abri a boca. O estado de Sofia piorou ao meio dia do terceiro dia dela no hospital. Eu lembrava claramente disso. No dia que eu contei meu sentimento por Sofia para minha mãe e fui vê-la, ela estava pior.

– Uma coisa leva à outra. – Eu murmurei.

– O quê? – Sofia perguntou. Mas eu estava ali, parado, com a boca aberta, como se tivesse feito a descoberta da vez.

Bem, eu fiz.

– Eu preciso te ver. – Eu disse, correndo para a minha escrivaninha e pegando a chave do meu carro. – Vem comigo.

– O quê? – Ela pareceu não entender. – Ah, me ver no hospital?

– Sim, sim. – Eu soltei.

– Essa coisa de duplo corpo não entra na minha cabeça ainda. – Ela disse. Ri. Eu já estava na porta. Eu e Sofia caminhamos lado a lado pelos corredores de minha casa até chegar na sala. Minha mãe estava lá, me perguntou aonde eu ia, eu tive de agir como se Sofia não estivesse do meu lado, isso quer dizer, eu inventei um motivo totalmente diferente para sair.

Quando sentei no banco do motorista do meu carro e girei a chave, esperei para que Sofia surgisse do meu lado, até lembrar da regra de convite.

– Você quer entrar no meu carro, Sofy? – Perguntei. Ela surgiu ao meu lado.

– Obrigada. – Ela soltou. Soltei uma risada, e arranquei. Minha RangeRover correu silenciosa e velozmente pelas ruas do condomínio de mansões que eu morava, e, quando o carro passou pelos portões, eu suspirei.

– A Sofia Gomez que conheço ainda gosta de música, certo? – Perguntei, ligando o rádio.

– Fui esfaqueada cantando. – Ela disse. Por um segundo eu estremeci. Não sabia se era uma piada, mas, eu só senti meu peito se comprimir.

– Você sentiu muita dor? – Me senti forçado a perguntar a ela. Sofia fitou a rua, seu olhar não tinha expressão alguma. Ela parecia estar num flashback.

– Eu não sei explicar. Ardeu bastante, a garota me esfaquear, mas... Mas aí você surgiu... E a dor sumiu. – Ela disse, olhou para mim e sorriu. – Merci.

– Pelo quê?

– Você... simplesmente é por sua causa que eu não morri. Por que... você me tranqüilizou enquanto eu estava acordada, a dor era tanta... mas seu olhar... você chamando meu nome... Só ouvir sua voz me levou ao paraíso. – Sofia disse. Não pude não sorrir. Paraíso. Eu a levei ao paraíso. – Como você se sentiu, baby Bieber?

– Eu quis estar sangrando no seu lugar.

– Ah, castor, não diga isso!! – Ela soltou. Por um segundo não entendi.

– Castor? – Perguntei.

– Sim, castor, decidi te dar esse apelido agora. – Ela riu. Aí eu notei. Sofiaver é castor em inglês. Sofiaver, Bieber. Ela gosta de zoar meu nome.

– Eu não sou um castor!! – Protestei.

– Jason Sofiaver. Soa bem! Tão bem quanto Bieber!

– É por que as palavras são quase idênticas! – Eu soltei. Mas acabei rindo depois que ela ficou repetindo castor várias vezes. Ela até falou dos meus dentes. E disse algo sobre Jerry que prefiro não comentar. Eu fiquei vermelho, e, aposto que se ela pudesse, Sofia coraria também. Ela pareceu ter soltado sem querer aquilo, e pareceu surpresa ao notar o que dissera. Resolvemos só ouvir música do rádio. Estava tocando Lady Gaga, então eu mudei de estação.

Aye, aye, aye...

– Não. – Soltei, ao reconhecer a minha música.

– Uau! Que antigo! – Sofia pareceu feliz ao ouvir One Time começando. – Dança comigo, castor!!

Ela começou a dançar algo que eu não consegui descobrir o que é. Mas eu ri.

– Eu não!! – Eu rebati, rindo. – Eu não quero bater o carro!!

Me plus you (I'm a tell you one time)

Me plus you (I'm a tell you one time)

Me plus you (I'm a tell you one time)

One time, one time

– Então canta, ué! – Sofia rebateu. Ela ria feito louca, e eu a seguia. Concordei.

– When I met you girl

My heart went knock (knock) – Dei um soco no volante.

Now the butterflies in my stomach

Won't stop (stop)

And even though it's a struggle

Love is all we got

So we gonna keep, keep climbing

Till the mountain top

Your world is my world

And my fight is your fight

My breath is your breath

And your heart (now I've got)

My one love – Eu fazia o sinal de um toda vez que dizia one.

My one heart

My one life for sure

Let me tell you one time

(Girl I love, girl I love you)

I'm a tell you one time

(Girl I love, girl I love you)

And I'll be your one guy

You'll be my number one girl

Always making time for you

I'm a tell you one time

(Girl I love, girl I love you)

I'm a tell you one time

(Girl I love, girl I love you)

You look so deep

You know that it humbles me

You're by my side

And troubles them don't trouble me

Many have called

But the chosen is you

Whatever you want, shawty

I'll give it to you

Your world is my world

And my fight is your fight

My breath is your breath

And your heart (now I've got)

My one love

My one heart

My one life for sure

Let me tell you one time

(Girl I love, girl I love you)

I'm a tell you one time

(Girl I love, girl I love you)

And I'll be your one guy

You'll be my number one girl

Always making time for you

I'm a tell you one time

(Girl I love, girl I love you)

I'm a tell you one time

(Girl I love, girl I love you)

Shawty is right there

She's got everything I need

And I'ma tell her one time

Give you everything you need

Down to my last dime

She makes me happy

I know where I'll be

Right by your side

Cause she is the one (for me) – Ouvi Sofia vibrar com a nota prolongada que eu dei, me sentindo o divo.

And girl you are my one love

My one heart

My one life for sure

Let me tell you one time

(Girl I love, girl I love you)

I'm a tell you one time

(Girl I love, girl I love you)

And I'll be your one guy

You'll be my number one girl

Always making time for you

I'm a tell you one time (One time)

I'm a tell you one time (One time)

Me plus you (I'm a tell you one time)

Me plus you (I'm a tell you one time)

Me plus you (I'm a tell you one time)

One time, one time

Fiz uma dancinha louca sem largar o volante, e a música terminou com o locutor dizendo o nome da minha música e meu nome, e me elogiando. Tive de sorrir com Sofia falando que eu estava vermelho. Sim, eu estava. Mas depois quem era para ficar vermelha era Sofia.