A Fairy Tail estava engolida por um silêncio quase fúnebre, todos os magos estavam surpresos. Ninguém se importava com a nudez do Gray, e Levy deixara um dos livros que li cair com um baque surdo no chão e estava surpresa demais para pegá-lo naquele momento e assim por diante, todos encaravam a figura maltrapilha e exausta que acabara de entrar na guilda.

                —Natsu... O que aconteceu com você?—Indagou Erza correndo para perto do rosado, preocupada.

                O Dragneel se apoiou na ruiva, já que suas pernas trêmulas não agüentavam mais o seu peso.

                —O que estão esperando seus idiotas!—Esbravejou a Scarlet, fazendo com que todos se assustassem com a súbita raiva da mulher. —Precisamos de um médico, chamem um logo ou farei você entrarem em coma!

                Mais do que rapidamente, Jet saiu em disparada pela porta deixando para trás um fino rastro de poeira no ar.

                —Água... —Sussurrou o rosado.

                —Mirajane, ele precisa de água!—Berrou e poucos segundos depois o liquido tão glorioso e perfeito inundou a boca do mago que a bebeu com avidez, deixando que uma fina linha de água escapasse de sua boca, percorrendo seu queixo, mas ele estava debilitado de mais para se importar com isso.  

                Droy esvaziou uma das mesas e Natsu se deitou sobre ela com um suspiro cansado e fechou os olhos sem se importar com os olhares preocupados e curiosos que lhe eram direcionados.

                —Happy, o que foi que aconteceu com o Natsu?—Perguntou Freed e agora todos escutavam com atenção o que o gato respondeu com hesitação:

                —Bem, é difícil de explicar.

                 —Se esforce um pouco mais, nós também estamos preocupados. —Insistiu Bickslow, com a voz séria, o que raramente fazia.

                —Por favor!—Suplicou Happy, se dirigindo ao seu melhor amigo, chorando descontroladamente. —Eu não agüento mais essa agonia! Conta logo o que isso tem a ver com a Lucy!—Exigiu o gato e um súbito e desconfortável silêncio se instalou entre os magos que desejavam ter ouvido errado.

                —Co-como disse?—Gaguejou Evergreen quebrando o terrível silêncio, enquanto ajeitava os óculos no rosto nervosamente.

                —Não se façam de surdos. —Disse o rosado fazendo um esforço sobre-humano para se sentar na mesa e seu esforço teria sido em vão se Laxus não o tivesse ajudado. —Obrigado Laxus. —Agradeceu e voltou a olhar aos companheiros com seriedade e maturidade. —Todos nós sabemos que a Lucy não está morta, então não fiquem agindo como se ela estivesse. Bem, eu vou contar o aconteceu afinal... Eu peguei uma missão simples, eu só deveria ficar de olho num nobre que estava com medo de uns viajantes que julgava serem suspeitos. As coisas começaram a complicar quando eu descobri que a vila onde meu cliente morava era a mesma vila onde os Heartfilia viveram. Eu fui até a mansão deles atrás de qualquer pista que pudesse ajudar na localização da Lucy. Mas aí... —Natsu parou para tentar se lembrar direito daquela noite e sua pausa não foi despercebida pela guilda.

                —Aí o que?—Insistiu Mirajane um pouco impaciente.

                —Aí que chega a parte difícil de explicar... Eu não era o único visitante naquela casa. —continuou a contar o ocorrido. —Havia uma pessoa, uma menina que era aparentemente inofensiva.

                —“Aparentemente” —Repetiu Elfman. —Foi ela que te quebrou todo assim?

                —Sim. —Confirmou Natsu, mesmo que um pouco frustrado.

                —Por que você lutou contra ela então? —Perguntou Lisanna com a preocupação visível em sua voz.

                —Ela falou algo sobre a Lucy. Ela parecia zangada com alguém e acabou soltando: “Ahhh, você vai ver Lucy, eu vou chutar aquela tua bunda magra quando chegar em casa...”

                —Será que ela foi seqüestrada por bandidos?—Sussurrou o Wakaba temeroso, se engasgando com a fumaça do cigarro, e por causa do silêncio da guilda, sua pergunta foi escutada por todos.

                —Acho que não. — Respondeu o rosado pensativo. —A invasora falou sobre uma pessoa chamada Cacius e disse que ele não deixara que Lucy fosse. E falou algo sobre a Lucy ter virado a preferida dele. —O rosado disse a ultima frase com má vontade, a ideia de Lucy te virado a preferida de um homem de qualquer modo possível não agradava o Dragneel.

                —A Lucy entrou em outra guilda?!—Exclamou Cana assustada com tal ideia.

                —Não vi nenhuma marca de guilda no corpo da garota... —Assegurou o Dragneel.

                —Pessoal vamos deixá-lo terminar de falar o que aconteceu!—Exclamou Reedus, já ficando impaciente. —Vai Natsu, continue a contar o resto.

                — Bem, eu fiquei curioso e preocupado, afinal ela era a única pessoa que eu poderia saber noticias sobre a Lucy e estava a poucos metros de mim e então eu a segui.  Mas eu sei lá como ela descobriu que eu a seguia e se recusava a me dar as respostas e começamos a lutar a noite toda.

                —A noite toda?!—Interrompeu Nab, estupefato, afinal não é qualquer pessoa que consegue sustentar uma luta com um DragonSlayer por tanto tempo e ainda sair vivo.

                —Sim, nunca tive um oponente tão imprevisível quanto ela, nunca vi uma magia como aquela. Parecia um Take Over, mas ela não se transformava fisicamente, ela pegava as habilidades dos animais que desejasse não importa a quantidade e os usava ao mesmo tempo. Ela se autodenominava como única superior aos usuários da magia Take Over.Mas quando já eram altas horas da madrugada, ela falou que não tinha mais tempo para brincar e que já tinha vindo pegar inicialmente.       

                —E o que ela pegou?—Indagou Alzack mesmo que um pouco temeroso com a resposta, mas a sua curiosidade e preocupação eram maiores que sua hesitação.

                —Uma pasta bege, um documento que ela nomeou como sendo o segredinho dos Heartfilia.

                —O que será que isso quer dizer?—Murmurou Bisca pondo a mão pensativamente sobre o queixo.

                —Eu também não sei. —Responderam mentalmente todos os integrantes da guilda que ouviram a esverdeada.

                —E agora, o que vamos fazer?—Indagou Max, alto o suficiente para que todos o ouvissem.

                —Não é obvio?!—Retrucou Makarov do outro lado da guilda, com uma expressão severa no rosto, que dava a impressão dele ser bem mais velho que realmente era. —Amanhã nós iremos até a mansão do Heartfilia, resolver logo esse caos todo!

                Antes que alguém pudesse falar algo, seja se opondo ou seja ovacionando a decisão do mestre, Jet abriu as portas da guilda com força e declarou:

                —Trouxe um médico!—Gritou Jet sorridente na porta da Fairy Tail de meia idade e calvo.

                —Venha doutor, seu paciente está aqui!—Gritou Warren apontando para o mago ferido.

                Enquanto o doutor cuidava das inúmeras feridas que manchavam o corpo do garoto de sangue, em lugar muito longe dali, em um deserto mortal que protegia e camuflava o castelo aparentemente abandonado e assustador, Rei levava a maior de toda a sua vida.

                A morena estava sentada ereta em uma cadeira e de cabeça baixa, escutando cada palavra que Cacius usava para expressar o quão irado estava pelo fato da subordinada ter iniciado um combate sendo que ele havia explicado minuciosamente para a garota ser menos suspeita que uma sombra.

                A maga não sabia ao certo há quanto tempo estava li, sendo cruelmente humilhada na frente dos dois gêmeos que ela achava irritante, mas o loiro não parecia querer parar de brigar com Rei tão cedo.

                Há muito tempo a morena havia desistido de argumentar contra ele, sendo que suas palavras serviam de combustível para o explosivo e jovem mestre.

                —Acalme-se danna-sama. —Pediu Kuwabara de repente.

                —Ousenhor vai acabar passando ficando doente de tão nervoso. —Continuou Kouji.

                Ao ouvir os rosados, Cacius virou a cabeça para olhá-los, o olhar frio e ao mesmo tempo incendiário do loiro faria qualquer um engolir a seco e abaixar a cabeça assim como a maga, mas as crianças não se intimidaram e continuaram a fitar o mestre com o mesmo olhar calmo e ingênuo que sempre exibiam.

                Ao olhá-los, o mago não conseguiu manter sua postura raivosa e inflexível como antes e suspirou, derrotado pela áurea calma que parecia envolver os pequenos magos.

                —Certo. —Murmurou bem mais calmo e Rei levantou o olhar, percebendo a súbita mudança de Cacius. —Rei, pelo menos você fez algo de certo e me trouxe o que pedi. Bem, você me desobedeceu e lutou contra um mago, você poderia me descrever esse rapaz?

                A morena franziu o cenho e voltou a se lembrar do irritante rosado que cruzara o seu caminho, afinal, deveria dar todas as informações possíveis e corretas para seu mestre já que havia feito erros demais em uma só missão.

                —Ele tem cabelos cor de rosa bagunçados e usa magia de fogo que lembra a de um dragão. Usa roupas escuras e um cachecol branco, tem a língua maior que a boca e muita afiada, ou seja, é um idiota.

                Mesmo com aquela pouca descrição, o loiro sentiu como se uma lâmpada tivesse sido acesa acima da cabeça de sua cabeça, ele arregalou os olhos, lembrando-se de uma figura que correspondia exatamente à descrição, principalmente a parte de ser idiota.

                —Ele tinha alguma marca de guilda?

                —Sim. —Respondeu Rei, pensativa tentando se lembrar do contorno. —Era vermelha e no braço, era um desenho estranho, tipo assim. —E com o dedo indicador, a morena tentou desejar o símbolo da guilda.

                —Sobre o que ele queria saber?—Questionou Cacius, mesmo sabendo de quem se tratava o garoto.

                —Ele só queria saber da Lucy. —Respondeu e o loiro sorriu maleficamente de lado, deixando seus três subordinados confusos.

                —Parece que Natsu quer levar a Lucy de volta. —Murmurou o jovem e atrás dele, os gêmeos ficaram tensos, o que não passou despercebido por Cacius que perguntou. —O que foi crianças?

                —Esse tal de Natsu quer levar a onee-chan embora?—Choramingou Kuwabara, tristonho e o loiro, esperto como uma raposa, viu ali a chance de consolidar ainda mais o seu plano, ainda mais com as crianças mais poderosas que ele já conheceu.

                Ele engoliu um sorriso e fez a expressão mais triste possível antes de abaixar e ficar da mesma altura que os rosados.

                —Não vou mentir para você... Esse Natsu quer mesmo levar a Lucy embora daqui.

                —Quem é ele?—Indagou Kouji.

                —Não sei direito, mas esse homem e toda ex-guilda dela a fizeram sofrer, fingiram ser amigos dela e contaram tantas mentiras, mais tantas mentiras que até duvido que “Natsu” seja o verdadeiro nome desse desprezível ser. —Ele falou as ultimas palavras com desprezo, como se queimassem em sua língua.

                —Então porque a querem de volta?—Perguntou Kuwabara já começando a ficar nervoso.

                —Só Deus sabe. —Respondeu dando de ombros. —Pode não parecer, mas a Lucy carrega uma magia poderosa e sabe se lá o que essa guilda poderia fazer com a nossa querida loirinha. Só de imaginar o que ela passou com eles todos esses anos me deixa com vontade de chorar...

                —Nunca deixaremos que nem Natsu nem ninguém tirem a onee-chan de nós!—Gritou Kouji, raivoso.

                —Isso mesmo! SE eles ousarem se aproximar dela, nós os mataremos se for preciso. —Completou Kuwabara e enquanto Cacius se deliciava com a raiva que ele havia semeado nos seus subordinados, Rei ficara boquiaberta e até mesmo temerosa com o poder de fala de seu mestre e assustada com a súbita mudança de áurea dos gêmeos.

                Nota mental da morena: Nunca mais importunar os gêmeos...