Capítulo 19 - Luke Barton

Juro que se eu tivesse que ensinar mais uma coisa a ruiva, eu me matava.

Primeiro foi a escalada. Fez o maior drama do universo pra escalar a droga da parede, e, quando ela o fez, além de parecer uma lagartixa subindo, conseguiu superar o meu tempo e quebrar o meu recorde. Ainda bem que foi a tarefa do Thomas ensinar os novatos a escalar.

Depois veio a parte das armas. A parte favorita do James, atirar nos outros. Ele e o projétil de Einstein se deram muito bem nessa área e Banner e a Srta. Luta Interna também não estavam nada mal. É claro que eu tive que treinar a ruiva. O que eu tenho a dizer sobre a experiência? Que um gato estrábico que foi atropelado tem uma mira melhor que a de Mayday.

No começo, eu fiquei muito irritado por ela não conseguir nem mesmo segurar uma pistola da maneira correta. Mas depois, conforme o treino prosseguiu... Eu continuei irritado. Especialmente quando a ruiva quase estourou os miolos do Howard.

Óbvio que se ela tivesse matado o garoto, eu receberia a culpa, mesmo sendo a vez de James os instruir, por não tê-la instruído propriamente. E Fury me mataria logo em seguida para fazer companhia ao recém falecido.

Mas agora tudo é diferente. Agora quem é o instrutor principal sou eu. O que irei ensinar? Luta corpo a corpo. A minha área favorita da SHIELD.

– Muito bem, moças. – eu começo.

– Isso era pra ser um xingamento? – Mayday me interrompe, cruzando os braços magrelos em cima do peito.

Reviro meus olhos.

– Não me lembro de ter dado autorização para você falar, ruiva. – eu a corto num tom seco.

Ela se cala, permitindo que eu continue.

– Hoje, aprenderemos algo muito mais interessante que escaladas ou armas. – lanço um olhar maroto para James e Thomas, ambos reviram os olhos. – Aprenderemos como esmurrar alguém.

– Gosto disso. – Howard comenta. – Sempre quis esmurrar muita gente.

– Como a Sra. Hamel?

– Especialmente a Sra. Hamel.

– Hey! – elevo a voz. – Ainda não terminei.

– Por que não cala a boca e ensina logo eles a socarem alguma coisa, Barton? – Thomas novamente me corta.

Eu me aproximo do grandalhão, sem me importar com seus 10 centímetros a mais ou sua massa muscular um tanto grande para alguém de apenas 17 anos de idade.

– Simples, meu querido, pois eu sou o instrutor chefe dessa vez. E faço o que eu quiser.

Banner nada faz além de me encarar com um olhar de peixe morto.

– Continuando... – e espero um pouco para ver se não sou novamente interrompido. Ninguém se manifesta. – Espera um pouco... Acho que era tudo o que eu tinha pra falar mesmo. James, Erika, vocês formam um par. Howard você vem comigo e...

– Na verdade, Luke, eu gostaria de ir com o Thomas. – Howard diz.

Olho para os dois com certo receio.

– Não vou nem perguntar o motivo, se querem treinar juntos, por que nã...? – mas então me toquei que se não fosse treinar com Banner ou com Howard, só me restava ser parceiro da... – Ah, não.

– Pronto para mais um, Luke? – Mayday me pergunta, seus olhos riem de mim enquanto ela me puxa para o tatame.

Respiro fundo.

– Muito bem, posicionem-se frente a frente com seu parceiro. – rapidamente todos fazem o que eu digo. – Agora, vamos começar com a pancadaria.

[x]

– Ai! – eu gemo quando o punho de Mayday se encontra com o meu queixo. – Já é a terceira vez que você me acerta no rosto em uma hora!

Ela apenas exibe seu sorriso para mim.

– Ótimo.

Tento endireitar meu maxilar enquanto volto a levantar a guarda. A verdade é que em nenhuma hora eu consegui (por mais que eu quisesse) esmurrar a ruiva. Mesmo com ódio, eu jamais bateria numa mulher. Tudo bem, já quebrei essa promessa algumas vezes quando soquei Banner e Rogers, mas isso é um caso a parte.

Durante uma hora inteira, eu ensinei aos três vários golpes e bloqueios e, para a minha felicidade, todos pareceram pegar bem o estilo da coisa. Até mesmo Howard, o cara que eu jamais pensei que conseguiria andar sem cair, conseguiu acertar alguns socos em Banner (mesmo que ele tenha recebido o número de pancadas triplicadas, porém, como eu havia dito, isso é um caso a parte.)

E ao longo do treino, eu notei algo. Embora Mayday não tivesse aptidão com alturas ou com armas, ela tinha talento na hora da pancadaria. Como eu estava disposto a ver o quão forte e habilidosa ela era, mantive-me na retaguarda, apenas bloqueando e desviava meu corpo dos golpes. No começo, não passavam de golpes de crianças irritadas que queriam bater nos amiguinhos por terem roubado o lanche.

Mas com o passar to tempo, a ruiva começou a ficar impaciente com todos os meus bloqueios e começou a investir cada vez mais forte e rápido com uma agilidade assustadora. Ela fazia manobras no chão e no ar como se seu corpo fosse feito de borracha. Muitas vezes eu fiquei perdido com tantos movimentos, entretanto, teve um em especial, que Mayday passou por entre as minhas pernas e me chutou para meu corpo se encontrar com o tatame.

– Não esperava por essa, esperava, “professor”? – a ruiva me pergunta num tom sarcástico.

– Essa é de longe a melhor aula. – escuto Banner e Rogers rirem da minha cara.

– Bem ruiva, pelo jeito eu a treinei bem. – levanto-me devagar, ainda com a visão turva por causa da pancada forte da minha cabeça no chão. Ignoro os risos de James e Thomas, pois eu sei que iria ganhar da ruiva se não tivesse somente me defendendo. Ela ainda era muito previsível em alguns aspectos. – Vamos ver como os dois palhaços treinaram seus aprendizes. – Sigo em direção a Banner e dou um tapinha em seu ombro. – Que tal você, Zé do Pavio Curto?

– Saia da frente, Barton. – ele replica, empurrando-me para fora do tatame.

Observo Howard com um sorriso no rosto. Ele tem um andar meio mole, seus passos são frouxos e incertos enquanto se dirige a Banner. Acho que entendo seu ponto, também ficava assim no começo, quando tinha que treinar luta corpo a corpo com Thomas.

Eu sempre acabava saindo com pelo menos um osso a menos no corpo.

Viro-me depois para encarar Mayday e Erika. Elas sussurram uma para a outra, seus olhos fixos no garoto mole. Coitado, acho que nem mesmo as amigas tem muita fé nas habilidades de força do garoto.

– Acha que quem leva o ouro nessa? – Rogers me pergunta enquanto tomo o lugar a seu lado.

– Hum... Acho que deveríamos apostar quanto tempo o Stark vai ficar de pé. Vinte dólares.

Rogers solta um riso abafado.

– Como quiser. Três minutos é o suficiente.

– Dois.

– Quanta falta de fé no novato.

– Olha só pra ele, não sabe nem andar.

– Você não o viu lutar. Estava ocupado demais levando uma surra da Mayday.

– Cale a boca Rogers. – olho para Banner e Stark, eles estão posicionados frente a frente, um encarando o outro com seriedade. – Quando quiserem.

Assim que termino, Banner logo investe num soco no estômago de Stark, que cambaleia pra trás com cara de dor.

As meninas deram um gritinho enquanto eu e Rogers apenas observamos os movimentos de ambos. Banner exagerou para um primeiro movimento, mas Stark aguentou bem, nem mesmo caiu.

Howard respira fundo e logo endireita a postura. Thomas, não satisfeito em não tê-lo matado, investe novamente. Seu punho serrado se dirigindo a cara de Howard.

Cara, se o murro acertasse a cara, o garoto não iria conseguir voltar a ter um rosto decente nem depois da plástica.

– Eu vou ganhar essa aposta, Rogers. – digo, alegre.

James nada responde, ele nem mesmo olha pra mim. Apenas aponta para os dois lutando na nossa frente.

Volto meus olhos a tempo de ver uma coisa inédita. Por mais incrível que pareça, Howard consegue desviar a tempo do soco, fazendo com que Banner se desequilibre com a própria força e acaba caindo para frente. Rapidamente, o garoto sobe nas costas de Banner e imobiliza seus braços com os pés e o pescoço com um aperto com as mãos. Thomas parece até mesmo um rato querendo sair da ratoeira.

Meu queixo cai. Como é que ele conseguiu imolibizar Banner num tempo tão pequeno de apenas...

– Três minutos. – James sorri para mim enquanto ergue a mão. – Pode pagar.

Resmungo, mal humorado, enquanto tiro uma nota de vinte e a deposito em sua mão.

– Sempre um prazer em fazer apostas com você.

– Vá se foder, Rogers. – e levanto-me para me encontrar com Howard. – Hey, Stark.

Ele se vira pra mim.

– Sim?

– Como...? – pergunto, apontando para Banner.

Ele dá de ombros.

– Lutar é algo além de dar socos. – e aponta para a cabeça. – É também estratégia. Se seu adversário é maior que você, não tente confrontá-lo, mas sim imobilizá-lo. – Howard termina, seguindo para se encontrar com Mayday e Erika.

Sinto uma mão no ombro.

– Pois é Luke, parece que temos um estrategista melhor que você. – Rogers me provoca.

– Vou torcer pra ela enfiar a sua cabeça no chão, James. – é tudo o que respondo enquanto me viro para encara Erika. – Sua vez, queridinha.

A garota fixa os olhos azuis no tatame por alguns segundos antes de dar um longo suspiro e se levantar. Quando ela passa por mim, eu a paro.

– Esmurre o Rogers por mim.

Ela me dá um sorriso torto e segue para se posicionar frente a frente de James enquanto eu tomo meu lugar ao lado de Banner.

– Rogers me falou que hoje é um bom dia para apostar com você.

Reviro meus olhos.

– Também está sendo um bom dia para enfrentá-lo num mano a mano. Acabou de perder pro magrela.

Thomas me fuzila com os olhos.

– Não esperava que ele fosse bom de estratégia durante uma luta. Pensei que fosse investir na força bruta.

– Bela escolha, Banner.

– Vinte dólares que o Rogers ganha essa.

– Eu aposto na garota.

– Fechado.

E novamente a luta começa. James e Erika ficam por um tempo dando voltas pelo tatame, um tentando achar o ponto fraco do outro. Depois de um minuto, Erika é a primeira a investir, tentando dar um soco no queixo de Rogers, mas este a bloqueia com facilidade e logo devolve o golpe com um soco no ombro.

Ela cambaleia para trás, mas não faz expressão alguma de dor, seguindo quase de imediato para dar um chute na coxa de James, que também perde o equilíbrio e morde os lábios. Acho que alguém levou um chute muito forte.

Entretanto, Rogers não entrega os pontos, ele rapidamente se esquiva de outro chute, que Erika quase o acertara no rosto, e a derruba com uma rasteira, fazendo com que a morena bata a cabeça no tatame.

– Gostou dessa? – ele perguntou a ela.

Erika sorri maliciosamente enquanto soca o queixo de James, o sangue logo se formou em sua boca.

– Acho que esse foi bem mais saboroso, não?

Irritados, James e Erika se levantam e continuam a investir um no outro.

– Cara, isso é melhor que ver Rocky Balboa. – Thomas comenta.

– Ou Clube da Luta.

Depois do nosso comentário, Erika consegue erguer James do chão e o joga contra o tatame, mas quando vai tentar imobilizá-lo, ele faz uma manobra e a deixa em baixo de seu próprio corpo, pressionando seu tórax contra o dela para tentar fazê-la parar de se mexer tanto.

– Não foi dessa vez, Erika. – James sussurra em seu ouvido, deixando-a mais irritada. Entretanto, nada podia fazer, já que Rogers conseguiu imobilizá-la com seu peso superior.

– Mas que merda. – eu bufo enquanto novamente pego vinte pratas do meu bolso.

– Rogers estava certo.

– A garota tem força. – James comenta enquanto vem ao nosso encontro, seus lábios ainda estão ensanguentados. – Mais do que eu esperava.

– Não se preocupe Rogers, o batom vermelho caiu muito bem em você. – eu digo, fazendo Banner rir junto comigo.

– Combina com seus olhos.

– Há há, muito engraçado. – James responde num tom seco. – Mas voltando ao que interessa, acho que eles estão prontos.

Cruzo meus braços sobre o peito.

– Acha mesmo? Quero dizer, se dissermos isso ao Nick, eles terão que fazer a prova final na frente de toda a diretoria da SHIELD.

James coça a nuca enquanto Banner observa os três conversarem entre si.

– Não podemos perder mais tempo com treinamento. E se nossos pais estiverem em perigo?

– Banner está certo. Temos que fazê-los passar pelo teste final logo se quisermos ir para Asgard o mais breve possível.

– Então entramos num acordo? – pergunto. Ambos sacodem a cabeça em concordância. – Muito bem.

Eu me viro e chamo os três para virem para perto de nós. Assim que estes chegam, Rogers começa.

– Bem, acho que ao longo desse período de treinamento, Barton, Banner e eu achamos que vocês já estão preparados para enfrentar o teste final da SHIELD.

– Teste final? – Mayday indaga.

– Achei que só houvesse esses três treinamentos.

– E há. – Thomas responde calmamente. – Mas Fury quer que provemos que vocês aprenderam de fato como lutar e se defender.

– Ele não gosta de perder agentes à toa.

– Espere um pouco... Agentes? – Howard questiona.

Eu sorrio.

– Isso mesmo Stark. Se passarem no teste, além de conseguirmos autorização para irmos à Asgard, vocês três se tornarão agentes oficiais da SHIELD.

– Mas... E se falharmos? – Erika pergunta.

James é o primeiro a se manifestar de nós três.

– Se falharem... Acho que todos nós podemos dar adeus à ideia de conhecermos nossos pais.