29. Epílogo.

-Toc, toc! Posso entrar?

-Você notou que a porta está aberta?

-E você notou que as batidas foram sons saindo de minha boca?

Gerard bufou desesperado, com a cabeça ainda enterrada sobre o monitor de seu computador portátil.

-Continue sem encontrar essa maravilhosa frase que coloque um fim em sua historia? –Perguntou Frankie entrando com um sanduíche em sua mão esquerda, e um copo com suco de laranja na outra.

-Já te disse que não é uma historia. É uma autobiografia.

-Sim, isso. –O locutor sorriu. –Seu representante te aconselhou a dar uma exclusiva a essa importante revista e blá, blá, blá. Eu não sei porque não pede a um jornalista profissional. –Disse colocando a comida sobre a mesa do escritório de seu parceiro. O estúdio era pequeno e pouco visitado. Tinha estantes com livros e velhas recordações, uma mesa de mogno e cadeiras comodamente arrumadas. Gerard já estava trancado ai a mais de oito horas diretas, sem sair nem sequer para o banheiro.

-Porque se eu o fizesse não seria autobiografia, querido.

Frank suspirou e sorriu. Gerard era bastante teimoso, e estava certo que não pararia até colocar a palavra FIM nesse texto. Hipoteticamente falando, porque, não era uma historia, era uma autobiografia...

-Ao menos coma algo. –Murmurou o de cabelos negros com olhar e voz preocupados.

Gerard deu uma mordida e bebeu rapidamente, sem tirar os olhos da tela.

-Não sei como explicar tudo! –Gritou desesperado, fechando o computador enfim. –Não consigo isso.

-Fique tranquilo. –Frank se colocou atrás da cadeira e começou a massagear os ombros de seu desesperado pintor. –Você encontrará as palavras Gee. Se for preciso faça um epilogo.

-Um epilogo?

Frank assentiu com a cabeça, coisa que definitivamente Gerard não observou.

-Ninguém gosta dos epílogos, Frank. –Explicou o maior, com a voz angustiada. –São chatos, mostram pouco, ou quase nada, e algumas vezes enrolam mais a historia se ela tiver terminado com um final feliz.

-Mas isso não é uma historia, é uma...

-Mantenha suas sugestões idiotas afastadas!

As mãos de Frank se afastaram do corpo do outro com uma velocidade desumana. Estúpido Gerard! Ele só estava tentando ajudar. Com o passo firme e rápido saiu do estúdio e fechou a maldita porta ao mesmo tempo em que relembrava dos antepassados de família de seu parceiro de uma forma não muito educada.

Chegou até o quarto que com partilha com esse maldito-inseto-asqueroso que permanecia grudado ao computador vinte e quatro horas do dia, e fechou o lugar batendo a porta novamente. Se as portas não queriam resistir diria ao filho de sua encantadora mãe, Donna, que as tirassem. Ele totalmente poderia viver perfeitamente sem porta.

-Estúpido Way. Estúpido, mil vezes estúpido, idiota, imbecil.

E entre tantas palavras lindas o locutor de cabelos pretos dormiu. Afinal de contas, ele também passava noites em claro com seu próprio trabalho quando Gerard não estava ao seu lado. Estranhamente as camas se tornavam quilométricas quando seu ex-anjo não estava com ele. “Estúpido...” –murmurou entre sonhos.

* * *

O relógio marcava as 12:26 a.m, seus olhos estavam vermelhos e inchados, e definitivamente não havia oração ou parágrafo maravilhoso para terminar sua escrita.

Se sentia realmente frustrado como o mais terrível dos homens ao gritar dessa forma, como nunca antes tinha feito, com Frank. Afinal de contas seu parceiro só desejava lhe ajudar. Suspirou e abriu a porta. Sem colocar o pijama ou se enrolar com lençóis Frankie dormia sonoramente. Gerard não teme outra opção senão sorrir e se aproximar desse corpo que começava a tremer.

-Idiota. Estamos no Canadá, sabia? –Disse enquanto cobria seu adorado Frankie, que parecia ter engolido um caminhão acabado por seus terríveis roncos que emanavam por seus lábios entreabertos. –Me perdoe Frank. –Beijou sua testa. –Eu estava tão estressado e... Quando você acordar te pedirei desculpas, prometo. –Segurou sua bochecha e deu uma ultima caricia para novamente beijar a suave pele de sua testa.

-Não me toque. –Sussurrou com voz sonolenta, interrompendo o escandaloso show que proporcionava com sua boca meio aberta.

-Frank...

-Só queria ajudar. –Abriu os olhos.

-Eu sei amor, me perdoe.

Frank lançou um suspiro derrotado e se deitou de lado, para permitir que Gerard pudesse se recostar. Não tinham “seu lado” na cama. Como caiam depois de uma agitada noite de paixão, ou depois de trabalhar até tarde, era o lugar de cada um.

-Ok. Te perdoo. Não quero brigar por isso, é estúpido. Te compreendo e não tem nada de mau que esteja estressado.

-Não é estúpido, e não brigaremos. –Segurou sua mão para entrelaçar os dedos. –Me perdoe Frankie.

Frank o observa com paciência e ternura. Gerard é tão encantador como imprevisível e bipolar, em algumas ocasiões. As coisas haviam mudados, eles tinham mudado. Suas personalidades pouco a pouco haviam se adaptado uma a outra sem se importar previamente com os imprevistos. Seus sentimentos continuavam intatos. E isso era o importante.

-Sabe? Não escrevi muitas historias. –Gerard sorriu. Frankie continuava insistindo em chamar sua autobiografia de historia. –Só me lembro de uma, e foi a muito tempo. Falava de mim. –O locutor sorriu com melancolia invadido pelo fantasma das lembranças.

-E como terminava? –Sussurrou Gerard criando uma atmosfera mais intima.

-Com a frase mais maravilhosa do mundo.

Se formou o silencio adequado para criar suspense. Frank sorriu de meio lado e aproximou seu rosto para que seu nariz estivesse em contato com o do maior.

-Viveram felizes para sempre.

A distancia acabou entre eles quando os lábios encontraram uma forma úmida e tranquila. O sabor continuava sendo o mesmo e com o mesmo poder. Intoxicante. Êxtase total. Oasis no deserto.

As caricias abrem passos entre a roupa, e as respirações se tornam dispensáveis neste momento. As línguas provam o sabor conhecido e viciante do suor que começa a escorrer através da testa, bochechas e caindo pelo pescoço.

A luz se apaga e só a escuridão é testemunha da dança entre dois amantes.

A porta está fechada. Se escutam gemidos, mas isso ficará com sua imaginação.

* * *

-Surpresa!

Frank está em frente ao fogão, possivelmente muito entediado e decidido a queimar algum tipo de verdura ou carne. Quando escuta o grito atrás de si quando quase joga a faca com que parte uma cenoura.

-Você me assustou. –Se queixa deixando a faca sobre a mesa e se colocando de pé para beijar os lábios de seu parceiro.

-Olha. –Disse Gerard excitado.

Em sua mão descansa uma revista com ele na capa. O titulo da publicação é exposto com letras maiúsculas e de cor vermelha. Frankie sorri ao ver seu pintor sorrir para os milhões de leitores que leem a publicação. Logo sente inveja e orgulho. Esse anjo é só seu.

Propriedade exclusiva de Frank Iero.

-Leia! –Gritou com emoção seu parceiro, beijando sua bochecha.

-Ok Gerard. –Frank riu.

Procurou com certo desespero a pagina 21. Novamente uma foto de Gerard. Desta vez preto e branco, sentado sobre um banco de madeira. Ao seu redor uma casa velha, talvez abandonada e bastante acabada. A cara do de cabelos pretos se escondia entre suas mãos em um gesto de angustia ou tranquilidade. Como quisesse interpretar

Com letras brancas Frank pude reconhecer a escrita de Gerard ocupando as três paginas dedicadas a ele. A nova promessa na pintura. Um homem de cabelos incríveis e amável sorriso.

“...Conheci o amor de minha vida. E talvez ainda continue o conhecendo...”

Sim. A historia falava dele. Claro, sem mencionar seu nome, mas deixando claro que era do sexo masculino. Como dizia Gerard, era melhor andar com verdades.

“-Não tenho medo, nem me importa as opiniões de quem não seja eu ou você”

O locutor de olhar amendoado sorriu ao encontrar a ultima parte da escrita. Justamente o final perfeito da historia que Gerard Way precisava.

“Não sabia como terminar isso. Me lembrava constantemente que não se tratava de um conto, e a palavra FIM não deveria existir, mas é bastante difícil quando cada vez que leio minhas linhas me encontro com uma historia tão fascinante e incrível que parece mais ficção que realidade.

Não sei se avancei muito, não sei se há pessoas que de verdade valham a pena que pudessem aproveitar melhor este espaço. A vida é má, é boa. É só um punhado de minutos. Mas se tenho que terminar este espaço biográfico será de uma só forma:
E Gerard Way viveu feliz para sempre.”

[-O pintor parece cansado, mas sempre com um sorriso no rosto. Para mim, e para o fotografo, havia sido uma recompensa poder conhecer alguém tão transparente e bravo como o senhor Gerard Way. Cheio de mistérios e segredos publicados. Parece que não há algo que ele não possa fazer. O mundo parece frágil debaixo de seus pés.-].

Frank observa seu parceiro com o olhar brilhante. Não há mais epilogo para essa historia. Não haverá a palavra FIM escrita na ultima linha.

Beijando seus lábios abraçou seu pintor pelo pescoço, como se desejasse fundir-se com ele. Sussurrando em seus lábios soube que cada palavra era verdade.

E viveram felizes para sempre.