Nicole: Pai, fala pra mamãe que eu vou pra casa daqui a pouco!

Pai: Por que não vem logo pra casa querida?

Nicole: Vou ficar depois da aula pra fazer o dever com uma amiga.

Pai: Aquela que te trouxe pra casa ontem?

Uh? Mila falou com meus pais, acho que... óbvio... né?

Nicole: Sim

Pai: Ela parece simpática, convide ela para vir aqui um dia desses

....Eu em?..

Nicole: Ok

- Vem - Mila me chamou

- Tá - disse pulando de uma pedra cheia de musgo

Só agora eu percebi o quanto essa floresta é grande, ela começa perto de um parque que havia algumas pessoas pescando e fazendo piqueniques, depois de algumas quadras, na parte mais ou menos habitada de Salém, havia a floresta.

Por isso a praia que dava acesso direto ao mar aberto era tão deserta. Dava pra ver que poucas pessoas sabem que aqui existe, é tudo lindo.

Fomos para uma parte clara da floresta ondas árvores tinham mais cipós do que as do resto da floresta.

Ela colocou a mochila perto de umas pedras

- Eu me esqueço o quanto esse lugar é lindo sabia?

Eu sorri e rolei meus olhos pelo lindo cenário de árvores sendo atingidas pelos últimos raios do sol do dia.

Até que arregalei os olhos para uma árvore com um longo galho onde em cima dele havia ele.

O gato preto de grandes olhos azuis estava me olhando, balançando seu longo rabo de um lado para o outro.

- O que?

Mila olhou para onde eu estava olhando.

- Oh, que lindinho, ele é seu? - Disse ela apontando para ele.

- Não, ele fica me seguindo.

Ele pulou do galho em que estava e veio até mim, depois ficou pulando e arranhando o meu bolso, onde o colar misterioso estava escondido.

Peguei o colar do meu bolso, então ele se afastou e se sentou graciosamente.

Coloquei o colar no meu pescoço.

''Eu estou girando, feliz e alegre, na noite de lua cheia, estou de vestido branco justo na cintura e desbotado nos tornozelos, sentia os seres elementares me rodeando, pedia mentalmente ás fadas para dançarem comigo, eu tombo a cabeça para trás e fecho os olhos. Sorrio expandindo minha... Liberdade.

Sinto um cala frio, uma sensação de frieza e... Maldade.

Fico parada e ereta e me atrevo a olhar para trás.

Uma menina, de cabelos negros e longos olhava timidamente para mim, ela vestia um vestido igual ao meu, só que era preto, triste e se perdia no negro abissal de seus cabelos, sua pele era cinza como um metal velho, sua boca estava aberta, seus lábios eram ressecados e seus dentes eram escuros e feios.

Me movia e ela se movia como eu, até que olhei em seus olhos.

Seus olhos eram negros, não tinham cor, a parte branca dos olhos, sua pupila e sua íris eram pretas, pretas como a mais escura das noites, onde não há nenhuma luz para iluminar o caminho, a única coisa que separava a escuridão dos seus olhos, eram um pequeno ponto branco no meio dos seus dois olhos horripilantes.

Olhava o cenário atrás dela, a lua estava escura, lua nova, não havia nenhuma estrela no céu, as árvores estavam mortas e caíam cinzas do céu. Me virava e ela se virava, era como se fosse um espelho. Me aproximei dela e ela se aproximou também, nós duas levantamos as mãos, com a intensão de nos tocar.

Medo, senti medo, horror, maldade.... Tirei minha mão rapidamente e me afastei.

Ela cerrou a testa em uma expressão de puro ódio, de seus olhos inteiramente negros caíram lágrimas cinzas, como pequenas cobras caindo no chão.

Ela agarrou meus pescoço com força e raiva, suas mãos eram geladas que me dava cala frios, ela me encarou.

- Eu existo.''

Abri os olhos

Mila me olhava assustada.

- Você tá bem?

Fechei os olhos com força, tentando voltar á realidade.

- Estou sim!

- Hmm.

Dei um suspiro pesado.

- Queria saber quem me deu esse colar.

Mila colocou as mãos na cintura, e olhou pras árvores pensando e parou o olhar no gato sentado ao seu lado.

- Pergunta pra ele.

Quem?, o gato, haha!

- Pro gato? Sério?

- É!

Dei uma gargalhada sarcástica.

- Tudo bem - Me agachei e perguntei pro gato preto - Quem me deu esse colar?

O gato balançou seu rabo pelo chão de um lado para o outro.

- Que reposta!

Dei uma risada sarcástica

Mila me olhava com a testa franzida fingindo decepção.

- Olha, ele é seu gato, acredite, só precisa tentar falar mentalmente com ele - Ela continua falando com gestos.

- Primeiro, ele não é meu gato - imitei os gestos da Mila pra provocá - la - Segundo, como assim?

Ela se agachou

- Olha nos olhinhos dele, se concentre neles e pergunte o que quer saber.

Revirei os olhos e me agachei tentando ficar frente a frente ao gato.

Olhei nos seus olhos azuis, percebi agora que eram literalmente idênticos aos meus, quando me olhava no espelho, era como se eu estivesse me vendo. O encarei admirando as fracas luzes do ambiente refletindo em suas pupilas.

Perguntei em minha mente, sem saber de direito se era para mim ou para ele.

''Quem me deu o colar, e quem é você''

A última pergunta simplesmente surgiu.

Ele piscava, como se estivesse... Me esperando, eu encarava seus olhos mais uma vez e...

''Na verdade, foi bem fácil, abri seu armário e o coloquei em cima dos seus livros...''

Dei um grito assustado e corri até bater de costas em uma árvore próxima

- Hahaha - Mila riu debochando - Você tá bem?

- Estou

- Ele disse o que?

- Ele não disse nada.

- ... Nada?

- Éh, foi tudo coisa da minha cabeça

- Ah cara - Ela reclamou andando de um lado para o outro - Por que você ignora tudo isso? Isso aconteceu, ele existe, nós existimos, bruxas existem, você existe. Não ignore.

Baixei a cabeça, e dei um suspiro, talvez ela esteja certa, talvez essa seja a explicação.

Voltei a agachar na frente do gatinho. E o perguntei mentalmente mais uma vez.

''Desculpa, bom, foi você então... Agora.... Quem é você?''

....esperei, esperei, esp.....

''Sou... Você, sou seu totem, animal de poder como vocês chamam hoje em dia. Ah e meu nome.... Não sei, você já me deu muitos, Tarrion, Aidan, Self, Lunar, qual você quer pra mim nesta vida?''

Escutei atentamente, cada palavra, sua voz era indefinida, era igual a minha, mas... misturada, leve.... leve demais, quase um sussurro.

Abri os olhos, e ele se afastou.

- E aí? - Mila me perguntou com as belas mãos na cintura fina de adolescente americana.

Fiquei de joelhos.

- Ele disse que foi ele quem colocou o colar no meu armário, e que ele sou eu, uma parde de mim, meu, animal de poder - disse abanando as mãos no ar - E que eu devo escolher um novo nome para ele, nessa nova vida.

- AI MEU DEEEUS, ELE É SEU ANIMAL DE PODER AAAAAAAAHHHHH - Ela fechou as mãos em punho e as levou perto da cabeça, as apertou e flexinou os joelhos e olhou pra cima entusiasmada - Eu sempre quis ter um bom.... Eu tenho quer dizer....  Todo muuuuuundo tem, mas eu sempre quis conhecer o meu. Eu sempre falo '' oh, é hoje que eu vou conhecer meu animal de poder, vou fazer o ritual bem bonitinho, vo botá lá bem fofo, e invocar meu animal de poder como eu sempre sonhei''... - Ela ficou tagarelando parecendo uma desmiolada, o que me arrancou uma risada - ... então eu sempre me esqueço, mas que bom que o seu veio até você de cara. Uaaaau

-.... Ta... O que é um animal de poder?

- Oh - Ela se sentou numa pedra ao meu lado - Eu não sei muuuutio sobre isso, mas o Creg sabe, ele sabe de praticamente a maioria das coisas da magia da terra. Então depois você pergunta pra ele ok. Mas, pelo que sei, o animal de poder é... meio que o seu guardião nessa vida. Que te orienta. É como se... fosse você, só que em uma outra forma, seu lado irracional, seu lado emocional. Achei meio estranho seu animal de poder aparecer pra mim. Então sua energia deve ser bem forte.

Ela olhou pro relógio e depois pró céu. O lugar estava repleto pela escuridão e a neblina do término do dia.

- Nossa, eu tenho que voltar, tá tarde. Tchaaau

Ela pegou a mochila da pedra e correu pra fora da floresta.

- Ah, mas.... Ele disse que eu posso dar um nome pra ele

Berrei pra Mila tentar me escutar

Bufei e olhei novamente para o gatinho deitado nas folhas. Ele continuava me encarando e balançando a longa cauda preta de um lado pro outro.

- Um nome né? - pensei pra mim mesma.

Que nome poderia dar pra aquela criatura.

- O que você acha de.... sei lá, Toby?

Ele soltou um miado forte, e... sei que é estranho, mas eu entendia, não em palavras, mas simplesmente pelo jeito, o corpo fala por você. Sabia o que ele estava tentando me dizer.

Com certeza era alguma coisa relacionada á sua forma física.

Deixe-me ver, ele era preto, e tinha grandes olhos azuis....

''Você já foi bem mais poética...''

Rapidamente o encarei, essa voz veio em minha mente de um jeito tão rápido quanto um vulto, ele devia estar se comunicando comigo, não escutei o resto pois perdi a concentração.

- Tudo bem espertinho - pensei na minha mente confusa - você é.... negro, como a mais escura das noites de inverno, olhos azuis como o crepúsculo mais longo do dia....

Ele ronronou, e comecei a rir de mim mesma por isso, essa palavras fluíram, tão normalmelte, como se eu já soubesse fazer isso.

Comecei a buscar na minha mente uma palavra para resumir tudo isso..... ahm...... Noite... não, muito óbvio...

Escuridão?..... Não.

Gemi e joguei a cabeça pra trás, sabia que eu só poderia ir embora em paz se já escolhesse o nome dele de uma vez.

Perdi a atenção, e comecei a pensar coisas sem sentidos como de vez em quando acontece comigo. Música, programas de Tv, lojas do shopping...Livros....fallen, o livro que a Anjolie estava lendo hoje na aula.

Me lembrei da menina que morreu no primeiro livro... Começava com P... Penn, ah é, o nome dela era Penn ela....

Pen....

Penum...

- Penumbra - Falei mais alto do que eu pensei.

Ele se levantou, se balançou o rabo de um lado pro outro, ele se aproximou, e começou a esfregar a cabeça nos meus pés, como se.... estivesse.... me marcando.

Depois ele olhou pra mim, me lembrando que já estava tarde.

Ele pulou nas árvores..... e desapareceu da minha vista.

Penumbra. Este som... Esta palavra... Eu gostei... não.... eu adorei.

Peguei minhas coisas e fui pra casa, quando a lua começou a aparecer no céu.