Uma onde de emoções subiu sobre minha pele, penetrando em meus olhos e boca. Estava paralisada olhando nos grandes e arrepiantes olhos escuros. Eu não havia ouvido isso. Eu estava sonhando. Eu só podia estar sonhando. Respirei fundo e levantei do sofá.

– Então é isso? Você me odeia? Tudo bem – respondi – eu acho que mereço isso. Adeus Leonardo, até um dia que você possa me perdoar

Neste momento apenas ouvia meus passos no piso de madeira. Até eu ouvir um sussurro.

– Espere – disse ele olhando para baixo

Apenas virei, mas não havia dito nada.

– Eu não te odeio – disse ele desistindo

– Eu não queria fazer isso com você – admiti olhando para os meus pés

Eu observei que a conversa não passaria disso. Então virei para a porta, a fechei devagar o observando pelo vidro da porta. Adeus – disse como um sussurro. Estava andando na rua, chorando e olhando para trás todas às vezes. Comecei a chorar, quando avistei Sebastian vindo em minha direção, com o rosto pálido e preocupado vendo o meu estado precário. Ele saiu correndo quando viu que eu estava piorando.

– O que aconteceu? – perguntou ele com raiva

– Nada, não foi nada – menti

– Nada? Você não confia em mim? Conte-me – disse ele pegando minha mão

– Eu não posso contar – eu disse largando a mão dele

– É o Leonardo, não é? – perguntou ele nervoso

– É – falei desistindo

Eu não pensei duas vezes. Eu não queria ver os dois em guerra por minha causa. Saí correndo e chorando descontrolavelmente. Todos me olhavam na rua, como se eu fosse uma louca. Mas isso não em importava mais, eu apenas queria sair daquele lugar. Eu não queria mais causar problemas, por mais que eu fosse o problema. Eu queria fugir, eu queria deixar eles. Eu não podia causar mais problemas. Um sentimento de raiva subiu sobre mim. Peguei a bolsa que me acompanhava e a joguei no chão.

– Eu vou embora daqui! - gritei

Uma vizinha que estava no jardim ouviu e disse que era para eu me controlar, ri ironicamente da cara dela, e entrei em casa batendo a porta com força.

– O que foi filha? – perguntou minha mãe

– Não te interessa! – respondi com ignorância

– Claro que me interessa! Eu sou sua mãe e tudo me interessa quando você ainda estiver debaixo do meu teto! – exclamou ela nervosa

–É isso! Eu não vou mais morar em seu teto! Ótima solução para o meu problema – disse com raiva

Corri para o meu quarto e o tranquei. Peguei uma mala, guardei todas as minhas roupas e sapatos. Sentei em minha cama e olhei para uma caixinha rosa, onde eu guardava meu diário, que havia muitos dias em que eu não escrevia nele. Abri, e lá estava escrito minha ultima confissão, que eu estava amando Sebastian e Leonardo. Vi que eu não havia escapado do problema, mas não desisti do meu plano. Peguei meu celular e liguei para minha tia, que aceitaria me deixar passar algumas semanas com ela.

– Alô, tia – eu disse chorando

– Fala flor – disse ela vendo minha voz em outro tom

– Posso passar uns dias por aí? – perguntei

– Claro que pode – disse ela sabendo que sempre que eu ligava para ela era para me consolar

– Pode me pagar hoje? – perguntei ansiosa

– Não vai dar meu amor, só vou ter tempo para te buscar depois de amanhã – disse ela vendo a agenda dela

– Tudo bem, eu te espero - disse eu agradecendo – Tchau tia!

– Tchau meu amor, se cuide – disse ela sem perguntar meu estado

Deitei na cama, e chorei como se minhas lágrimas curariam algo. Como se tudo voltasse ao normal. Como se tudo fosse dar certo de uma hora para outra. Estava um silêncio total ate minha mãe começar a gritar e querer entrar. Gritei e disse para ela ficar onde estava e que eu apenas queria ficar sozinha. E era isso o que eu merecia. Apenas a solidão. A Solidão.