Aline e eu descemos as escadas conversando, mas nada sobre meu duplo amor. Fomos juntas para a sala e ficamos o dia inteiro juntas, ela era legal... Entendia-me. Quer dizer, ela entendia em partes. Todas as pessoas me entendiam em partes, porque em partes somos todos parecidos. Fomos para o intervalo com passos lentos, até Leonardo me alcançar.

– Mary, você não acredita! - exclamou ele como um grito

– O que? Fala Leonardo! - disse espantada

– A Felipa terminou comigo! - disse ele alegremente

– Como assim? Ela terminou com você? Por quê? – perguntei sem esconder minha cara de espanto

– Ah, ela disse que não me queria mais – disse ele bufando – ela disse que tinha um garoto mais bonito que eu, atrás dela! – ele completou

– Oh, meu Deus! – eu disse colocando a mão na cabeça

– Você não queria que ela terminasse comigo? – perguntou ele

– Não é isso. É que ela e você pareciam se gostar – disse inventando uma desculpa

– Não, não mesmo. Eu a odiava! – afirmou ele completamente feliz

– Então porque você estava com ela? – perguntei. Eu sabia a resposta. A tal da história da chantagem que aquele garoto perfeito, que eu necessitava contou.

– É uma longa história – disse ele andando

– Eu gosto de histórias longas – disse sorrindo

– Você quer saber mesmo, não é? – perguntou ele

– Eu quero sim – disse risonha

– Tudo bem. Eu conto. – disse ele fazendo cara de desistência

Ele havia me contado a história da chantagem para mim, mas o ponto de vista dele foi um pouco diferente. Em vez de chantagem, como Sebastian usava. Leonardo usava “troca de favores”. A voz de Leonardo não era tão angelical como a de Sebastian, Sebastian era mais carinhoso. Chamava-me de amor. Eu sentia falta dele.

– Minha gatinha curiosa – ele disse tocando meu rosto. Apenas ri, e não disse nada. Não queria iludir ele.

– Você é linda, Mary – disse ele pela décima vez

– Você é lindo também, você é perfeito na verdade. Conseguiria uma garota melhor do que eu – concluí

– Não. Não conseguiria garota melhor. – disse ele

– Está duvidando de sua capacidade? – perguntei

– Não. Não existe garota melhor. Eu estou te amando Mary. Desde o primeiro dia que você apareceu na minha vida – disse ele

– Oh, você foi quem me chamou atenção desde o primeiro dia de aula – disse assumindo

– Minha gatinha, temos aula agora. Vamos? – perguntou ele

– Vamos. – disse acompanhando ele

Todas as aulas que eu tive Leonardo e Sebastian tiveram também. Eu sentava do lado da parede, aonde Sebastian costumava sentar, e lá estava o Leonardo sentando do meu lado. Sebastian estava sentando atrás, no fundo. Longe de todos, de todas. De mim.

Sebastian estava com o rosto vazio, sem expressões. Ele estava com os olhos quase derramando lágrimas o tempo todo. Ele não era assim. Ele não era uma das pessoas mais alegres e risonhas do mundo, mas ele nunca foi assim. Aquele estado de humor dele estava corroendo meu coração por dentro. Eu o amava, e estava me punindo todos os dias quando eu acordava de ter feito o que fiz , o que ainda estava fazendo. Eu estava errando. Errando feio, porque eu não conseguia resolver isso de uma vez? Eu não era uma menina que servia como exemplo, eu nunca fui, mas hoje... Hoje eu queria ser. Saber tudo o que eu devia fazer. Mas a vida... A vida não vem com manual de instrução.

O sinal havia tocado. Peguei meu material e fui para meu armário, guardei meus materiais e saí pela porta da frente. Leonardo estava lá, como de costume, mas Sebastian não estava.

– Mary, tenho que falar com você – disse ele com cara de medo

Será que ele diria que não me queria mais? E que eu poderia ficar com Sebastian? Mas ele não sabia que eu gostava de Sebastian. Quer dizer... Eu não sabia mais de quem eu gostava. Estava perdida. Mas sabia que Sebastian era especial.

Fomos para o jardim. Ele pegou minha mão e me colocou encostada na árvore.

– Mary, você sabe o quanto eu gosto de você? – perguntou ele, era uma pergunta retórica – Mary, eu estou apaixonado por você. Eu não consigo mais viver sem você – ele completou

– Oh, Leonardo... – só conseguia dizer isso

– Mary, quer namorar comigo? – perguntou ele olhando em meus olhos

– Oh, Leonardo... Eu... Eu – não conseguia completar. Era terrivelmente perverso responder que não. Eu não sabia o que responder.