Sexta-feira. Chuva e frio (embora eu ache que Bianca esteja emanando essa aura fria) só o colégio pode piorar meu dia.

Levantei-me do beliche e vesti as roupas de bruxo e fui para a sala de reuniões, na mesa, um imenso banquete de café da manha estava disposto, todos estavam sentados, uniformizados para o colégio, comendo em silêncio sepulcral. Sento-me ao lado deles e começo a comer.

-Vai para o colégio com sua roupa de bruxo? – pergunta João.

-Bom, não tenho outra roupa disponível... – respondo.

-Então, depois, vá até o armário e busque uma roupa.

-Ok.

Logo depois de comer, volto ao quarto e abro um armário. E, surpreendentemente, todas as minhas roupas estão lá. Pego tênis, uma calça jeans, uma camiseta preta e pronto, estou uniformizado.

-E se estiver prestes a entrar em um combate? Sem sua roupa seria ruim... – diz Bianca, na porta.

-O que me sugere?

-Isso... – a minha roupa de bruxo estava jogada em cima da cama, ela faz alguns movimentos com as mãos e a roupa levita, como se alguém a estivesse vestindo e depois some em vários cristais de gelo – Agora, quando for combater, sua roupa é mudada automaticamente e funciona como armadura.

-Incrível – consigo falar, meio perplexo.

-Agora, temos aula, vamos? – ela diz, muito convidativa.

Eu balanço a cabeça, concordando.

Quando eu já estava saindo da casa, me lembro que preciso da minha mochila, nesse momento, fogo esverdeado explode em minhas costas, literalmente. Quando as chamas se dissiparam, minha mochila estava ali.

Começamos a caminhar em direção ao colégio, uns 20 minutos mais ou menos. Daniel ia na frente, ele usava uma grossa jaqueta de couro negro, calça jeans e All Star. Já João, estava com um moleton verde escuro de listras pretas. Bianca havia prendido seus cabelos em um rabo de cavalo e usava roupa bem parecida com a de Daniel.

-Então hoje a noite uma festinha vai rolar, quem vai? – pergunta João, só pra puxar assunto.

-Eu vou, fui convidada e vou com meu namorado... – responde Bianca.

-Eu não fui convidado, e acho que você, Rafael, não tem compromissos hoje a noite, certo? – diz Daniel.

-Não, realmente não tenho nada pra hoje de noite. – respondo.

-Então, vou te levar ao Círculo De Fogo, e depois daremos uma explorada por aí.

-Tudo bem.

Continuamos nossa caminhada e chegamos ao colégio. Entramos e subimos pra nossa sala. Sentamos todos meio perto um do outro. Conversamos um pouco e logo em seguida, a aula começou.

Primeira aula, física?! Nossa, deitei em cima de meus braços na carteira e fui lentamente adormecendo. Acordei quando o sinal para a 3° aula toca, só mais uma aula para o recreio...

Tentei prestar atenção e anotar, mas realmente, biologia não é meu forte. O sinal toca (aleluia!) e descemos para o pátio do colégio.

Nós 4 nos reunimos em um canto mais afastado lá. Logo em seguida, um garoto mais velho, pele morena e cabelos escuros vêm em nossa direção. Algo nele me é estranho, a energia que ele emana é estranha...

Ele e chega e abraça Bianca por trás e logo em seguida a cumprimenta, beijando. Ele estende a mão para todos nós e depois, o garoto e a bruxa vão a outro lugar, restando só nos 3.

-Alguma coisa naquele garoto me é estranha... – falo, inconscientemente.

-A energia dele é estranha – fala Daniel, devendo ter a mesma sensação que eu – Mas, por enquanto, pode ser só um sensação, espero que nada venha acontecer...

-Como assim?

-Deixe, o tempo nos dará respostas... – ele fala, um pouco melancólico.

Um pequeno tempo de silêncio entre a gente é quebrado por um nosso assunto: Magia. Eles me explicaram como projetá-la e de algumas regras, afinal mortais não podem testemunhar o uso de magia, a conseqüência seria o enlouquecimento da vítima.

Mais tarde, o sinal toca e vamos lentamente voltando a sala. Eu olho para a grande arvore que está no pátio e nomeio dela, o gato, aquele gato se entrelaça.

‘’Está no caminho certo, bruxo’’, sinto uma voz ecoar dentro da minha cabeça.

É intrigante, mas com tudo que anda acontecendo, tenho de aceitar.

Na sala, ainda estou com sono, mas dessa vez praticamente jurei que não iria dormir... não deu outra, me encostei na parede e quando me dei conta, a aula havia acabado. Isso mesmo, já era meio dia e todo mundo estava saindo da sala.

Depois de um almoço reforçado na casa da Irmandade, uma soneca e pronto, eu estava pronto para derrubar exércitos.

Bianca não queria perder tempo em meus treinamentos e atrás da casa, havia uma grande quadra, já um pouco castigada por plantas, sujeira e o tempo.

-Muito bem – ela começou a falar – Me acerte com um golpe, o melhor que conseguir.

Ergui meus punhos e eles se inflamam em fogo esverdeado, arremesso uma esfera flamejante contra ela em alta velocidade.

A bruxa não se moveu do lugar e a esfera para bem na frente dela e se... congela? Fogo pode virar gelo? Magia...

-Você chama isso de golpe? – ela pergunta com desdém.

-Primeira lição? Você esperava um vulcão?

-Na verdade sim...

-Então tudo bem, gelinho, me mostre você um golpe de verdade (acho que vou me arrepender por isso).

-Vamos ver se você gosta do Drake... – ela diz, com um sorriso malicioso no rosto.

O ar começa a esfriar, a temperatura fica praticamente a baixo de zero e de repente uma parede de gelo se ergue entre a gente, como se um iceberg tivesse nascido e depois BOOM! Um dragão estoura todo aquele gelo e surge. Uma fera de 10 metros de altura, asas imensas, sua cor é azul mar com azul gelo, e os olhos, iguais ao da bruxa ártica.

Se eu faço churrasco de lobisomem, talvez um dragão não seja tão difícil... que nada. O monstro dá um rugido que me atira metros para trás. ‘’Use sua imaginacão’’, uma voz ecoa na minha mente.

-Tudo bem, você é maior, mais forte... mas eu sou um Bruxo De Fogo!!!!! – Gritei, e sinto meu corpo ficar maior, deixo de sentir meus braços e pernas, e em quando me toco, estou cara a cara com o dragão de gelo... me dou conta que me tornei uma espécie de demônio de 10 metros de altura inteiramente feito de chamas.

-Agora é de igual pra igual... – digo, minha voz também está muito mais grossa e endiabrada.

A luta se inicia, agarro o pescoço da criatura e começo a torcê-lo e em um movimento rápido, o dragão se livra de bom e me da um coice com as patas, atirando-me para trás. E em uma nova investida, o dragão crava seus chifres em minha barriga, atravessando-me, assim desmaio.

Acordo em minha cama na sede, aquela energia de combater exércitos sumiu, aquele meu ‘’fogo interior’’ parecia ter sumido. Do lado de fora do quarto, ouço uma discussão, gritos irados.

-Você perdeu o juízo?! Usar Aura Mística na primeira lição de treinamento, ele podia estar morto agora!!! – disse uma voz – Não use suas emoções, isso deixa um bruxo poderoso demais, concentre-se e controle-se.

-Me desculpe, da próxima vez eu cuidarei...

-Próxima vez? Não vai haver próxima vez, eu mesmo vou treiná-lo, sabe com que tipo de bruxo estamos lidando, é muito poder... está temporariamente exilada da bruxaria, vá cuidar de seus problemas no mundo dos mortais.

E assim, sinto novamente uma fraqueza e adormeço novamente.