- Eu poderia ir junto com a Trish. Mas como você não voa, imaginei que seria deselegante te deixar sozinha.

            Dante estava apontando para uma moto toda preta na frente da loja.

            - Que coisa mais linda. – Lara disse com os olhos brilhando.

            - Eu sei que sou.

            - A moto. – Lara disse levantando uma das sobrancelhas.

            - Eu dirijo.

- Por enquanto. Não me chamo Lara se não dirigir essa belezinha até o dia amanhecer.

            - Sabe o quê a Trish me disse? Que acha que a minha companhia está te deixando sem noção do perigo.

            - Pobre Trish.

            Dante sorriu.

 

            - Ishyros, o senhor já...

            - Claro que sei. Eu senti a presença de um humano... Além de demônios.

            - Um deles é o filho de Sparda.

            O demônio Ishyros saiu do banheiro e encontrou um de seus empregados parado na porta do quarto.

            - Impeça-os de entrar aqui. – Ishyros disse, sua voz era baixa e grave.

 

            Pararam a moto a uma distância segura do grande prédio que seria o alvo. A região estava deserta.

            - Trish está nos esperando no fundo do prédio.

            Caminharam até o local esperado.

            - Então? – Lara disse – A não ser que haja um andaime por aqui...

            - Quietinha. Dante colocou as mãos nos lábios em seguida piscou para Trish.

            Grandes asas negras surgiram das costas de Dante que teve todo seu corpo transformado, a aparência humana deu lugar a um físico demoníaco que fazia com que sua força e agilidade crescessem. Trish por sua vez colocou seus óculos escuros e aumentou seu poder fazendo uma corrente elétrica percorrer seu corpo, era graças a ela que Trish conseguiria chegar facilmente até cobertura.

            Dante segurou Lara pela cintura e em poucos segundos os três pousaram sutilmente no teto da cobertura do prédio. Trish voltou aos normais em poucos segundos enquanto Dante se afastou de Lara e coberto por uma áurea púrpura volta à sua forma natural.

            - Foi mais rápido que pensei. – Dante sussurrou.

            - Quieto! Vamos!

            - Ninguém sai desse apartamento, certo? – Trish piscou para Lara e Dante.

            Assim que pularam do telhado foram surpreendidos por dois lobos cinza que pareciam flutuar no chão.

            O mais próximo uivou e correu para atacar Dante.

            O distante desapareceu em segundos e apareceu a poucos metros de Lara.

             Dante deu um tiro no lobo mais perto de Lara e em seguida desviou-se do outro lobo.

            O lobo que aparentava estar morto levantou-se e caiu sobre Lara que atirou em sua cabeça. Trish já havia matado o primeiro lobo que corria para atacar Dante novamente.

            - Eu acho que consigo fazer isso sozinha. – Lara reclamou da ação do caçador.

            - Uma ajudinha não custa.

            - De nada Dante. – Trish falou enquanto se aproximava.

- Vamos começar a chacina? – Dante sorriu enquanto quebrava a porta de vidro com um tiro da Ebony.

            - Creio que vai ser inútil bloquear a saída já que eles não precisam usar o elevador. – Lara disse ironicamente.

            - Se vocês quisessem nos visitar poderiam nos avisar antes. Ishyros odeia visitas surpresas, ainda mais quando perturba sua paz. – um demônio de terno e careca surgiu de um dos aposentos.

            - Se ele cooperar não será preciso. – Trish falou.

            - Trish, acho que eles não pretendem cooperar. – Dante sussurrou. – Mande um recado por seu chefe, que ele vai morrer hoje, mas que ele pode escolher como vai ser.

            - Isso nós iremos ver.

            - Não adianta fugir. – Dante completou.

O demônio sorriu malignamente desaparecendo pela porta.

            Seis demônios alados se materializaram na frente dos três invasores. Guinchando alto.

            - Só isso? Pensei que um milionário como Ishyros poderia fazer melhor.

            - Isso não vai dar certo – Trish reclamou.

            Os três começaram a atirar freneticamente, enquanto a maioria dos demônios dançava pela sala enorme quebrando vidros, peças de porcelana e destruindo móveis.

            - Dante vá atrás do Ishyros! Ele não pode fugir. Nós duas conseguimos cuidar destes aqui! Nem tente teimar comigo.

            Talvez porque a demônio parecia com sua mãe, mas Dante preferiu fazer o que ela disse deixando as duas sozinhas enquanto corria pela sala, atirando em alguns demônios no caminho. Muitas das janelas de vidro se quebraram quando Dante passava.

            Lara e Trish se encarregavam dos demônios que pareciam desaparecer como fumaça.

Alguns já estavam mortos, sumiam assim que tocavam o chão.

            - Lara atrás de você! – Trish gritou enquanto pegava a espada Sparda e destruía outro demônio.

            - Peguei você! – o demônio disse ao segurar os braços de Lara.

            Lara lutou com o demônio que depois de levar um soco a soltou, mas se desmaterializava assim que Lara tentava atingi-lo com suas pistolas.

            O demônio gargalhava enquanto a cercava. Com extrema rapidez ele a empurrou com força para o outro lado da sala. Lara tombou em meio a destroços e se levantou cuspindo sangue no chão.

            - Humana difícil de morrer, mas todos morrem no final!

            - Posso até morrer, mas não pelas suas mãos. – Lara disse apontando as pistolas para o demônio e correndo em sua direção. Vendo que o demônio brincava de esconde-esconde com ela, Lara decide atirar em dos lustres da sala o pegando de surpresa.

            - Peguei você! – Lara sorri ao ver o demônio preso e antes de qualquer reação inesperada descarrega sua munição.

Trish aparece em seu lado com Sparda em seus ombros.

            - Parece que você pegou o pior.

            - É, sorte a minha! – Lara fala enquanto carrega as armas – Vamos?

            - Espero não encontrar muitos desafios até chegar à Dante.

 

            Dante não teve tanto azar em sua busca por Ishyros, os inimigos que surgiram não eram poderosos o suficiente para a Rebellion, seguiu por um corredor de paredes rosadas até chegar a uma sala de música. Encontrou o careca de antes.

            - Você sabe que já enfrentei piores. – Dante desdenhou.

            - Ishyros quer trégua.

            - Me perdoe, acho que não escutei direito.

            - Ishyros quer conversar com você.

            - Isso é ridículo, nós destruímos o seu apartamento e agora ele quer conversar amigavelmente? Não tem sentido. – Dante engatilhou suas pistolas e as apontou de forma ameaçadora.

            - Calma, filho de Sparda. Se você não concordar com os termos de meu mestre você terá sua guerra e tenho certeza que você não gostará de ver o que Ishyros é capaz de fazer...

            - Eu não estou acostumado a fazer acordos com demônios. Então me dê uma boa razão para escutar Ishyros.

            - Agla.

            - Quem?

            - O demônio que vocês procuram. A chave para os portais.

            - Certo. – Dante refletiu um tempo – Agora estamos falando a mesma língua.

- Fico feliz de ver que os boatos sobre você sejam errados. Parece-me que você é racional. – um homem alto e magro com cabelos pretos e longos amarrados num rabo-de-cavalo apareceu de uma das portas, vestia um terno risca de giz com gravata de seda vermelha. Fitou Dante demoradamente com seus olhos azuis acinzentados.

- Finalmente resolveu mostrar a cara!

- Deixe-nos. E veja se as duas mulheres estão vivas, se estiverem faça-as entrarem. – Ishyros disse para o homem careca que saiu rapidamente.

- Eu não me escondo Dante. De qualquer forma você iria me encontrar, só estou tentando deixar nosso encontro mais amistoso.

            - O que você sabe sobre Agla? – vendo o olhar desconfiado de Ishyros Dante completa – O seu funcionário não sabe guardar segredos.

            - Muito. Muito mais do que você precisa saber. Mas antes, deixe-me perguntar, como você soube de mim? Veja, sou um homem importante, não posso ver minha imagem manchar-se sem nenhum propósito.

            - Homem? Você está longe de ser um homem. – Dante parou para encarar o estranho demônio em sua frente, já que queria jogar, iria começar com os jogos. – Ah, eu também sei de muitas coisas Ishyros, que tal uma troca de informação?

Ishyros riu do comentário de Dante.

            - Isso pode te levar a lugares perigosos. Não sei por que o interesse repentino em portais Dante. Você nunca pareceu muito preocupado com eles, até Trish já havia se irritado com o seu descaso.

            Dante ficou surpreso ao ver que Ishyros tinha os olhos para tudo em sua volta.

            - Eu estou perdendo minha paciência. Me fale logo o que você quer antes que me arrependa do encontro. Você sabe do que sou capaz.

            - Corajoso como Sparda. Eu quero destruir Agla, Dante. Mas não posso fazer isso sozinho, apesar de ser um demônio antigo, aquela mulher sabe de coisas, que surpreenderia até mesmo Mundus. Ela está por trás da ameaça dos portais, confesso que estou ajudando Agla também, mas agora eu preciso que ela morra.

            - E o que te faz pensar que posso confiar em você? Ishyros, eu não sou estúpido, você vai me usar para depois alcançar os seus objetivos.

            - Até lá serei seu melhor amigo. Tenho certeza que meus objetivos não irão cruzar com os seus.

            - Vou ficar de olho em você. Se fizer qualquer graçinha você morre.

            A porta abriu violentamente, Lara e Trish entraram apontando suas armas para Ishyros e olhando para Dante como se esperassem alguma explicação para tudo aquilo.

            - Mas o que está acontecendo aqui, Dante? – Trish gritou.

            - Parece que vocês estão vivas e o meu mensageiro as encontrou. – Ishyros disse para as duas mulheres.

            - Mas você não vai ficar vivo por muito tempo. – Trish pegou a espada Sparda e avançou para Ishyros, foi impedida por Dante que disse:

            - Trish fique quieta, as coisas já foram resolvidas.

            - Resolvidas? Você está doido? – Lara falou para Dante.

            - Fique calma, creio que nosso amigo – Dante encarou Ishyros – não vai tentar fazer nada, não por enquanto.

- Desculpe pelos demônios, mas eu decidi mudar de opinião e de lado.

            - O que está dizendo? – Trish perguntou desconfiada sem largar o cabo da Sparda.

            - Ele quase nos matou e agora você está aqui conversando com ele Dante? Isso é ridículo! – Lara ainda apontava para Ishyros e decidiu apontar também para Dante uma de suas pistolas.

            - O que foi Lara? Você não pode ficar apontando sua arma toda hora pra mim.

            - Não sou que estou conversando com o inimigo. – Lara disse encarando Dante.

            - Dante, acho bom que você não esteja fazendo bobeira – Trish falou abaixando Sparda.

            - Lara? – Dante pediu.

            - Ah! – Lara reclamou abaixando ambas as armas. – Eu vou querer uma boa explicação pra tudo isso.

            - A explicação é: nós precisamos dele – apontou para Ishyros - e ele de nós.

            - Eu imaginei que você não fizesse acordo com demônios, Dante. – Lara ironizou.

- E não faço, mas vamos dizer que seja uma exceção. Isso vai durar bem menos do que vocês pensam.

            - Mas o que temos aqui - Ishyros olha fixamente ao perceber um grande poder vindo da espada que Trish segurava - Não me diga que esse é o poder de Sparda?

            - Mais um passo e você morre – Trish aponta a espada em direção a Ishyros.

            Lara olhou para Dante e disse:

- Você vai se arrepender disso.

- Eu disse sem graçinhas Ishyros – Dante encara o demônio. – Acho melhor discutirmos em outro lugar, aqui não é seguro. Você vem conosco e qualquer movimento errado você vira pó. – Dante olha Lara e Trish – E não falo isso só por mim.

Saíram rapidamente do prédio. Uma chuva forte caía.

- Então, para onde vamos com ele? – Trish perguntou.

- Qualquer lugar menos a loja. – Lara completou.

- Eu também acho que não é seguro levá-lo para lá, como podemos saber o que ele planeja, não é, Ishyros? Vamos para o cassino abandonado.

- Aquele cassino?

- É, Lara. Aquele cassino. Não está muito longe daqui e...

- Todos, exceto Lara, podem chegar lá da forma mais rápida, Dante.

- Trish você sabe aonde é o cassino que estou falando?

- O único cassino abandonado que existe nessa cidade.

- Certo, você vai de moto com a Lara e eu levo ele comigo.

Assim que disso isso, Dante desapareceu com Ishyros.

A chuva impedia de ver muito bem, mas o caminho de ida para o cassino foi calmo. Lara e Trish desceram de moto e pularam a cerca que bloqueavam a entrada do lugar abandonado.

            Encontraram Dante no hall de entrada junto com Ishyros.

            - Foi aqui que matamos alguns de seus amigos, você não deve confiar em qualquer um. – Dante disse ironicamente para o demônio.

            Ishyros permaneceu mudo, pensando que seu plano, até o exato momento, corria como planejado. Ele sabia que Eryx iria falar tudo que soubesse para Dante, foi por isso que escolheu um demônio tão suscetível como aquele. Até agora, ele conseguira prender Dante em seu plano. Só precisava de tempo, tempo para Vergil conseguir se fortalecer novamente.

            - Quem é Agla? – Dante começou.

            - Agla é um demônio antigo que vem pesquisando há séculos a existência de portais por todo o nosso universo. Em um determinado momento, eu me juntei a ela, em troca de poder, mas ela está caminhando em locais perigosos, até mesmo para mim. Ela planeja irritar demônios milenares que não devem ser perturbados e se ela fizer isso, nem o seu mundo nem o meu saíram impunes, ela precisa ser impedida, mas eu sozinho não posso fazer isso.

            - O que são esses portais? – Lara apressou-se em perguntar.

            - Caminhos para outras dimensões, para o inferno, ou os dois. São mecanismos criados por demônios como forma de impedir uma possível extinção, foram amplamente usados antes de Sparda aparecer. A localização exata de todos os portais é desconhecida, pois a memória foi destruída com o passar dos milênios, muitos dos demônios responsáveis por sua segurança foram mortos ou aprisionados para sempre. Nós sabemos da existência de cinco portais intactos em todo esse mundo. Desses cincos, dois são portas diretas para o inferno, um desses foi o mesmo que trouxe a humana para cá e o outro foi o que você destruiu. – Ishyros apontou para Dante. – o portal que a humana veio é único, pois ele é ao mesmo tempo uma ponte para duas dimensões e também uma ponte para o inferno, foi por isso que ao passar ela conseguiu libertar o demônio Noesis. Os outros três são meras ligações para a outra dimensão, e estão sendo usados por nós, demônios, para explorar o outro mundo. Um desses portais foi o que nossa querida humana descobriu, na Escócia. Sim... – o demônio encarou Lara – Eu conheço muito de seu mundo e busco pelos outros portais, pois são os únicos que aparentemente estão intactos.

- Espere um instante, você quer dizer que há milênios demônios vem visitando o meu mundo? – Lara perguntou incrédula.

            - É tão difícil assim acreditar? Pare para pensar, ainda mais uma humana como você, vai entender rapidamente como isso foi e continua sendo possível. A existência de mitos sobre entidades maléficas, diabos, fantasmas e todo tipo de coisa sobrenatural, surgiram porque muitos de nós fomos descobertos. Mas o medo do desconhecido é algo incrível nessa dimensão – Ishyros sorriu. – Muitos não acreditavam nesses mitos, inventaram explicações lógicas e outras bobeiras. Os humanos de seu mundo, Lara, são mais patéticos que os daqui.

            - E o que vocês pretendem fazer na outra dimensão? Como vocês conseguiram manter em silêncio todo esse tempo a existência disso?

            - Pactos demoníacos, nós preferimos manter em silêncio até que tudo fosse resolvido. Acontece que, Agla quer certas coisas com esses portais que nem mesmo Mundus aceitaria. Nós povoamos o outro mundo, Dante. Muitas tentativas fracassaram e quando Sparda nos aprisionou tudo ficou perdido. Até agora. Um grupo de demônios milenares decidiu buscar novamente esses portais. Os que não foram aprisionados por Sparda decidiram ajudar os outros. Como eu, Agla, e tantos outros.

            - Se Agla morrer, o plano continua. Nós precisamos destruir os portais.

            - É aí que nossas opiniões divergem, filho de Sparda.

            - O que te faz pensar que eu sozinho não posso destruir Agla? Aliás – Dante segurou o pescoço de Ishyros. – Eu posso te forçar a me contar onde estão os outros portais e assim terminamos com tudo.

            - Você pode tentar isso, mas eu sou somente mais um dentro da engrenagem, quem sabe no futuro você possa tentar novamente. Eu, perto de Agla, sou inofensivo.

            - Pobrezinho... – Lara ironizou. – Deve existir outro modo, Dante. Esse demônio não pode sair impune. Ele acredita que esteja no controle da situação.

            - Nós estamos usando ele também – Trish completou.

            - A humana está descontrolada. Como eu disse Dante, até a hora certa, eu serei o seu melhor amigo. O momento de nos enfrentar ainda não chegou. Sem Agla os nossos caminhos estarão livres para agir como bem entendermos.

            - Eu não confio em você e nem em seus jogos – Dante soltou a garganta de Ishyros – E também acho que você deveria deixar de agir como uma vítima. Nós dois sabemos que no futuro iremos nos enfrentar.

            - Veremos. – Ishyros encarou Lara – Você é a primeira humana que conheço que conseguiu encontrar mais de um portal. Talvez você consiga ajudar seus amigos a encontrar o resto.

Lara controlou-se para não cometer nenhuma bobeira.

            - Lara, eu acho que... – Dante parou de falar e encarou o vazio por alguns segundos, logo em seguida apoiou-se em uma das paredes.

            - Dante? – Lara se aproximou.

            - O que aconteceu? – Trish perguntou assim que Dante voltou ao normal.

            - Algo estranho, que eu não sinto desde... Isso é impossível.

            - Sente desde? – Trish perguntou desconfiada

            - Nós precisamos voltar para a loja agora.

            - Se for necessário. – Lara disse.

            - Espere, vocês levam ele para a loja, ele vai se controlar, senão vocês podem destruí-lo. Eu já volto. Preciso resolver um problema antes.