O Distrito 12 parecia desértico ao olhar de qualquer ponto. Nas ruas alguns Pacificadores marchavam enquanto na praça outros se revezam na montagem de um palco e lavam o lugar, como que para desinfetar o lugar da sujeira e fuligem.

Não muito longe da praça estão dois jovens conversando, uma menina com uma trança jogada para trás, os olhos cinzentos e pele morena que reluz uma espécie de cor de oliva ela divide com quem o acompanha; um menino alto e esguio, forte para quem mora na Costura. Katniss Everdeen e Gale Hawthorne acabavam de passar por baixo da cerca que cerca o Distrito, carregavam a caça do dia. Não estavam animados por isso, estavam preocupados.

A Colheita, o grande acontecimento que aconteceria hoje, daqui algumas horas. A injustiça suprema e angustiante que pairava sobre o nome de cada criança de toda Panem.

Katniss estava irritada com o garoto, estava irritada consigo mesma, não conseguia aguentar os nervos quando o assunto eram os Jogos Vorazes. E para piorar a situação hoje seria a primeira vez em que o nome de sua irmã estaria no sorteio... Prim, pequena e ingênua, mas a sorte com toda certeza estaria ao seu lado. O único papelzinho com o nome Primrose Everdeen se perderia em meio a tantos com o nome de outras meninas e com as outras dezenas com o nome de Katniss.

Depois de venderem e dividirem os lucros da caça a garota entrou na casa. Sua mãe havia lhe preparado um banho e separado um vestido de quando era mocinha. Katniss hesitou em aceitar a roupa, mas para evitar maiores irritações aceitou e deixou que a mãe penteasse o cabelo e lhe fizesse um trança mais elaborada. A irmã está usando a roupa que ela mesma usou em sua primeira colheita, porém está enorme no corpinho magricela de Prim.

–Vai dar tudo certo patinho. – Katniss ajeita a saia da irmã que lhe abre um sorriso tímido mais sincero.

–Quaque.

–Quaque vamos lá.-Katniss segurava firme na mão da pequena menina loira.

Ao chegar na praça as crianças já estão sendo separadas conforme suas idades e sexo, Prim não podia estar mais assustada e Katniss mal vê a hora de tudo acabar. Todo Distrito está presente, as crianças estão concentradas em não chorar ou sair correndo de onde estão quando a mulher com a peruca roxa e roupas de mesma cor se encaminha para sortear o primeiro nome. Effie Trinket alisa o pequeno papel e lê o nome da menina:

–PRIMROSE EVERDEEN!- Um sorriso deliberado e brilhante.

Prim está andando em direção ao palco, enquanto sua irmã e mãe que se encontram em estado de choque não fazem nada. A menina ajeita a saia que saiu do lugar e sobe os degraus. Todos estão mortificados, “ela só tem doze anos” “pobrezinha” alguns sussurram quando vem uma lágrima rolando no rosto da pequena que acabou de ser sorteada para a morte certa.

–Tenho certeza que estamos todos muito comovidos!- Diz Effie que não pode esconder seu horror ao encarar a menina mais doce e encantadora do Distrito 12. - E agora o garoto.

Katniss esta sendo amparada por dois Pacificadores quando o nome do menino ecoa na Praça.

–Gale Hawthorne.

Era demais para a garota, Katniss procura o amigo na multidão. Seu rosto está fechado livre de qualquer emoção ou sentimento. Quando o hino de Panem toca e possível ver o desespero de Katniss ao ser levada para dentro do Palácio da Justiça. Para a despedida.

Na sala luxuosa o Pacificador Chefe ordena que não se demorem. Lá está Prim, as lágrimas caindo sem interrupção. As duas irmãs se abraçam enquanto a mãe tenta confortá-las com palavras doces.

–Eu não tenho nenhuma chance, serei a primeira a morrer. - A menina soluça.

–Não, não vai! Você é muito inteligente e esperta! Gale vai te proteger... Ele não vai deixar você se machucar!

Katniss passava as mãos, nos cabelos da irmã sem conseguir aceitar o fato de que a menina não tinha chances.

–Eu não...

–PARE DE DIZER QUE NÃO CONSEGUE! VOCÊ VAI SAIR DE LÁ PRIM! VOCÊ VAI VENCER!- Katniss abraçou a irmã com tanta força que mal ouviu o Pacificador ordenar que elas saíssem. - Eu te amo, Prim eu te amo!

Prim estava aos berros quando a mãe lhe deu um último abraço e foi retirada a força da sala. Katniss tinha que falar com Gale, implorar que ele ajudasse a irmã.

Gale estava com a mesma feição de quando seu nome fora retirado. Mas ao perceber a presença de Katniss ele se atira num abraço. E quando Katniss achou que aquilo era só desespero, o menino a beija. Seus lábios quentes eram urgentes.

–Catnip, eu te amo! Não acredito que não disse isso antes!- Gale puxou os próprios cabelos.

–Gale...

–Não, não diga nada! Desculpe-me, mas não vou te prometer que voltarei, não deixarei que Prim morra! Ela vai voltar, vai voltar sã e salva, ela vai voltar! Não deixarei que ela se machuque e é isso. Morrerei se for preciso, mas Prim será campeã. Eu te amo tanto Catnip, me perdoe por não ter dito antes. Só peço que ajude minha mãe, não deixe...

–Não precisa pedir.

O último abraço dos dois amigos foi intenso e quando o Pacificador abriu a porta Gale não suportou a dor de vê-la partir para sempre e lhe deu um último beijo.

–Ela vai voltar. – Katniss se arrepiou ao ver o pacto selado. Perder o melhor amigo, que daria a vida por sua irmã caçula imaculada, que agora estava pronta para se entregar para a morte.