Licurgo: Insanidade Lúcida escrita por Stefano_Araneda


Capítulo 1
Das lembranças, o sofrimento


Notas iniciais do capítulo

Começa um novo dia para Licurgo, mas hoje certos eventos farão ele se lembrar de seu sórdido passado.



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–Ei, por que você está me olhando como se tivesse visto um fantasma? – me pergunta a moça de cabelos castanhos e longos

–B-Bianca? Mas, eu achei que você... Eu lembro o que aconteceu... – coloco as mãos sobre o rosto – Ainda posso sentir o cheiro de sangue em minhas mãos.

–Seu bobo, do que está falando? – ela sorri para mim e me da um abraço apertado – Andou vendo muitos filmes de terror de madrugada, de novo?

–Não! D-digo... – limpo o suor da minha testa – Claro, as maratonas de filmes de terror no fim de semana são ótimos. Mas, Bianca, eu lembro bem, eu... Não eu, meu eu interior, ele matou você com as minhas mãos!

–Ah, deixe de falar besteiras LOLcurgo, seu maluquinho de pedra. – ela sorri para mim e me dá um leve selinho – Pergunte para os pequenos gafanhotinhos, eles sabem de mim também, apesar de eu contar uma história falsa...

Começo a ouvir uma música... Vindo do nada...

“É fim do mês!

É fim do mês!

Do fim do Mês

Já sou freguês!”

Abro meus olhos, ah sim. Foi um sonho, eu devia ter imaginado.

Me levanto da cama, vou até o armário, pegar as mesmas roupas de sempre...

–Hum, há quanto tempo eu não abro você, baú? – sorrio – acho que mexer em você agora, não vai me causar atrasos nem nada.

Ah, meu velho violão com estampa de flor hippie, acho que vou tocar um pouquinho.

“Se você fosse uma flor

Eu sei que um dia eu iria pisar em você

E passaria a minha vida toda me arrependendo disso...

Mas, você já se foi,

Por minha culpa

Me perdoe Bianca

Destruí a mais bela flor do mundo

Eu...

Sou...

Um...

Monstr...”

Meu celular está tocando, melhor eu atender.

–Alô?

–Licurgo Orival Umbelino Cafiaspirino de Oliveira, faltam 20 minutos para o período de aula começar, você tem o primeiro tempo das turmas 2ª A e 2ª B! Cadê você que ainda não apareceu?

–Ah, olá Lucíola, também estava morrendo de saudades de você, diga-me como foram as suas férias? – pergunto num tom de deboche só pra irritar a Ana Paula, ela é muito divertida!

–Já disse dezenas de vezes, é Lucília e era só um nome que eu usava em um jogo online! – ela está meio exaltada

–Está bem, já estou chegando, em 5 minutos eu estarei aí. – desligo antes que ela comece a brigar comigo

Após me arrumar para mais um dia intenso lecionando, olho para o comprovante preso na minha geladeira.

“Após anos e anos de terapia, nós do Hospital de Tratamento de Desvio e Insanidade Mental declaramos que o réu Licurgo pode voltar a ter contato com outras pessoas e que ele se formou, logo pode lecionar para turmas do ensino médio como terapia ocupacional.”

Até hoje, nenhuma dessas palavras faz sentido, mas, não vou questionar. Voltar para aquele lugar é algo que eu nunca quero experimentar.

Entro na minha mini van e em poucos minutos eu chego à escoa.

Como fui sonhar com a Bianca? Quem são os gafanhotinhos? Por que eu não tomei café da manhã hoje? E a questão mais importante de todas, onde está Wally?

Me aproximo do quadro negro, o que eu vou ensinar hoje mesmo? Acho que deveria fazer uma retomada de conteúdo pra prova de 5ª feira. Isso, é melhor eles se prepararem pra prova surpresa, afinal eles merecem chances pra retomar o conteúdo e ficarem mais...

–Cenourinha, Cascão, Xaveco, Felipe e dona Denise, quantas vezes disse que bater bafo na minha aula é proibido? E dona Denise, por que está batendo bafo?

–Ai, prófis, deixa a gente ser feliz, só estamos descontraindo, é que são as novas figurinhas do filme Lua do Meio-Dia parte 1. Não posso perder de faturar essas figurinhas que são um luxo só! – acho que essa é a menina mais doida que eu já vi na minha vida.

–Tá, mas, nada de bater bafo de novo na minha aula!

–Tá bom, fófis.

–Álias, vou confiscar tudo, faltam algumas figurinhas pra eu completar meu álbum do Lua do Meio-Dia parte 1, passem tudo pra cá.

–Ah não véi, eu não vou perder as minhas figurinhas. Fessor, eu te desafio pra um duelo! Veremos quem é o melhor batedor de bafo da sala! – esse Cascão, muito impulsivo, age sem pensar, esse é o erro dele

–Nha, naum. Valeu, mas, como professor sou a autoridade máxima, passa tudo pra cá Xaveco.

–T-tá bom, professor. – tá aí, esse Xaveco é uma bipolaridade máxima, mesmo sofrendo com a derrota, daqui a 3 minutos ele vai estar de bem com a vida, acho que é isso que se chama conformismo.

A aula transcorreu bem, fora esse ocorrido. Mas, a falação de duas alunas me chamou a atenção.

–Ai, Magali, eu não sei você, mas só de lembrar o terror que foi ficar contra aquela... Fantasma chamada Bianca, me dá calafrios! – Esse comentário da Mônica me fez quebrar o giz e o deixar cair no chão...

–Mô, não me lembra disso, por favor, eu e o Cas ficamos tão preocupados que ela podia matar o Cebola. Não comenta mais isso, tá?

Antes de soar o sinal eu alertei os 4 jovens.

–Cenourinha, Cascão, Magali e Mônica. Quero ver vocês no fim do período.

–O QUE?!?!?!?! – Mônica esbravejou olhando pros lado – O que eu fiz de errado professor?

–Véi, eu não queria tirar x1 no bafo com você não, era brincadeira!É sério, nunca mais tiro x1 com você pra nada, eu juro! – Uhg, quando o Cascão fica assim ele começa a suar, que fedor!

–Ai, professor, desculpinha qualquer coisa. – essa Magali com essa carinha meiga, tão bonitinha!

Plofessol, eu não posso fical até depois da aula polque... – e esse é o Cenourinha que eu conheço – Polque eu tenho que levar a Malia Cebolinha plo concelto e a minha guitala pla escolinha plimália!

–Apenas venham falar comigo, não é uma bronca e nem castigo, fiquem calmos.

–Ufa! – eles exclamaram em uníssono

O resto do período letivo foi normal, alunos fofocando pra lá e pra cá, troca de bilhetinhos, aulas de Cancan pra descontrair e... Opa... Acho que não foi uma boa ideia afinal... Mas, fazer o que aquela turma precisava descontrair mesmo.

Bom, eles estão ali me esperando na sala dos professores.

–Ah, eu não acho que deveríamos conversar aqui, vamos pra um lugar mais legal! – eu sugeri – que tal uma lanchonete? – vejo que a Magali está com os olhos brilhando após eu mencionar a palavra lanchonete

–Ah, pode ser fessor! – o Cenourinha também gostou da ideia

Chegando a lanchonete que eu sempre vou quando me dá vontade, eles pegam lanches e eu pego um capuccino misturado com sorvete, eh coisa boa!

–Então professor Lou... Licugo, o que você queria conversar com a gente? – perguntou a Magali

–Então... – dou uma golada no meu capuccino com sorvete – Eu queria saber... O que vocês sabem sobre a Bianca?

Gasp!!! Cof-Cof-Cof – Cenourinha engasgou

A reação dos outros três foi empalidecer, parece até que eles viram um fantasma.

–Por que você acha que a gente saberia sobre essa tal Bianca? – perguntou Cascão

–Bom, se não soubessem, não teriam empalidecido, o Cenourinha não teria engasgado e por fim a Mônica não conversaria com a Magali sobre o dia em que vocês lutaram contra a Bianca.

Silencio total deles. Hora de arriscar que o Cascão dê com a língua nos dentes.

–Hum... Eu dou 3 pontos na média trimestral de quem falar o que aconteceu.

–EU FALO!!! – que susto parece que ele vai pular em mim

–Então fale Cascão.

–Então, é assim. Tipo, na festa de Halloween, a gente foi parar na casa errada, toda velha, empoeirada e cheia de teias de aranha. E tipo tinha a Bianca lá. Que do nada surtou e tentou como posso falar, matar o Cebola.

–Hum... – curioso, será que é a mesma Bianca que eu conhecia? Vou perguntar – E ela, como era?

–Assim... – a Mônica tomou a frente pra descrevê-la – Ela era mais ou menos da altura do Cebola, tinha cabelos castanhos compridos, pele bem branquinha, mãos pequenas e proporção corporal mediana.

–É era ela então... – acho que falei isso alto

A Mônica se levantou e está me encarando.

–Vo-Você conhece a Bianca? – ela me pergunta

–Hum... Ih, olha a hora, meu bichinho virtual precisa de comida, melhor eu correr pra casa alimentar ele. – eu saí correndo de lá antes que eles me cercassem e me fizessem responder as perguntas deles.

Ah, Bianca, tudo que o Bikkuri fez com você, ele te fez acreditar naquilo, eu nunca saí da cidade, ele te levou para um piquinic e te matou, com as minhas mãos, depois daquilo eu fiquei lo... Mas, não tem como eu desfazer isso, todos os lugares que eu passei, os lugares que eu me escondi, não dá mais, eu vou precisar da ajuda daqueles garotos de novo... E... É isso, eles são os gafanhotinhos! Agora tudo do sonho faz sentido!



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Notas finais do capítulo

O próximo capítulo é música, misturado com lembranças de Licurgo com sua amada Bianca, não percam!
Ah, sim, a música que o Licurgo canta quando ele pega o violão não é de ninguém, eu que inventei.
Já a música que desperta ele do sonho se chama É Fim Do Mês do Raul Seixas o eterno maluco beleza.