Yume

Andava de dois em dois passos, como se dançasse. Deixava o bebê bem aninhado nos braços, tentando fazê-lo dormir aos poucos. Sempre que olhava para aquela criança, lembrava-se de Nezumi. Como será que estava? Não tinha ideia, mas sentia uma imensa saudade dele... Sentia falta de dormir abraçado com ele, de lhe ouvir cantar e de quando atuava.

Viu a criança fechar os olhos lentamente, finalmente dormindo. Continuou a balançá-lo, para que não acordasse, ainda era cedo para soltá-lo.

– Preciso dar-lhe um nome, não é? – O sorriso terno permaneceu em seus lábios. – Já faz uma semana que estou com você, preciso realmente pensar num nome... – Falou pensativo e colocou o bebê em um berço improvisado.

Ouviu algumas batidas na porta, o que estranhou devido ao horário, mas desde a queda dos muros, aquela parte especifica onde estava morando andava tranquila. Abriu a porta, dando de cara com quem menos esperava, mas quem mais queria ver.

– Ne-Nezumi...?

– Olá Sion, como está? – Sorriu, aproximando a mão do rosto do menor, lhe acariciando a bochecha.

Não conseguia responder, estava chocado demais para acreditar. Sabia que fazia apenas uma semana que não o via, mas não conseguia acreditar que ele estava ali, bem à sua frente. Tinha certeza de que iria embora e não tão cedo voltaria.

E assim, lágrimas começaram, uma a uma, a escorrer por seu rosto pálido e aquele imenso sorriso surgiu em seu rosto. Sem pensar duas vezes jogou-se nos braços do rato, o apertando contra si com força, devida à tamanha alegria que sentia ao vê-lo.

O moreno, primeiramente, ficou sem reação, mas assim que se tocou do que havia ocorrido, apertou o albino com força contra si, como se não quisesse deixá-lo escapar.

– Eu estou bem agora. E você? – Finalmente respondeu a pergunta, enquanto algumas lágrimas ainda caiam de seu rosto.

– Feliz por te ver. – Afrouxou o abraço, vendo as lágrimas caírem pelo rosto do albino. – Bobo. – Disse, soltando um pequeno riso e, usando a palma da mão, limpou as lágrimas que escorriam pelo rosto do outro.

Se encararam e ficaram assim durante alguns segundos, até que, apenas deixando seus corpos agirem, abraçaram-se e encostaram as testas uma na outra. As respirações próximas, os lábios sendo umedecidos, seus atos eram praticamente iguais, era como se dentro dos dois ardesse a mesma vontade. Sem aguentar mais, os lábios selaram-se um no outro, em uma necessidade que os dois compartilhavam, a necessidade de ter ao outro.

Pararam apenas quando o ar se fez necessário, ficando um pouco ofegantes enquanto trocavam olhares, os olhos castanho avermelhados pareciam brilhar de tanta felicidade, enquanto os acinzentados se encontravam num misto de felicidade e tristeza.

O menor rapidamente estranhou o olhar do maior, sentindo um leve aperto no coração, aquilo lhe preocupava.

– Aconteceu algo, Nezumi? – Sem aguentar mais, aquelas palavras saíram de sua boca sem motivo aparente, apenas um pouco desesperado pela resposta.

O moreno de cabelos azulados encarou os olhos preocupados do albino, após ser despertado ao ouvir seu nome. Em seus lábios se formou um sorriso doce, mas triste. Tinha de contar a ele, mas não sabia como, e mesmo que contasse... Como explicaria? Era algo que nem ele mesmo entendia.

– Sion... – Falou baixo o nome do amado, umedecendo os lábios em seguida. – Isso é um sonho, pelo menos eu acho que é. De qualquer forma... Isso não está ocorrendo de verdade, perdão. – O abraçou de maneira apertada, não querendo soltá-lo, pois sentia que se o fizesse nunca mais voltaria a vê-lo.

– O-O que...

Antes que o albino pudesse terminar a frase, o local à sua volta foi ficando cada vez mais brilhante até desaparecer por completo num clarão praticamente cegante. Quando notou, os braços do outro sumiam aos poucos, mas ainda se sentia abraçado, como se aquilo nunca fosse terminar.

Porém, foi ao abrir os olhos e se deparar com o teto bege e sem vida do local, que mesmo ainda se sentindo abraçado, notou que aquilo que acabara de ocorrer fora apenas um sonho.

Uma lágrima percorreu-lhe a face. Estava triste, triste por ser um sonho, triste por Nezumi não estar ali, triste porque se sentia só.

– Hey... Nezumi. – Falava consigo mesmo como se ele estivesse ali. – É uma promessa, tá? Aquele sonho vai virar realidade, eu vou te ver. Eu prometo. – finalizou sorrindo de maneira triste.

“Eu prometo também” ouviu em sua mente, como se fosse a resposta do moreno. Não sabia se era apenas sua mente ou o próprio, só que aquilo lhe agradava um pouco.

Por fim, ao ajeitar-se na cama, observando perto de si o bebê que dormia, seu sorriso ganhou um leve tom de alegria e sem mais pensar muito, fechou os olhos, adormecendo mais uma vez.

Era uma promessa, e uma promessa que os dois tentariam cumprir.