Capitulo quatro

Blake

Escutei a bola de basquete bater contra a quadra pelo menos três vezes antes de Math passar pela minha frente e jogar a bola dentro da cesta, cantando vitoria. Revirei os olhos, indo buscar a bola.

-Vai sair com a Penny hoje?

Bati a bola no chão e fiz outra cesta antes de levantar os olhos para Math.

-Sair com quem?

-Penny, Penélope, Penn, sabe, a sua namorada.

Dei de ombros, eu não tinha realmente o escutado, estava pensando em outra pessoa, uma pessoa que era bem próxima da minha namorada nesse momento, mas que, entretanto, não era ela.

-Não sei, vou ligar para ela mais tarde. Hoje é quinta feira, provavelmente ela vai estar com a Juliet.

Mathews me fitou quando eu disse o nome de Juliet, mesmo ele sendo bem mais próximo que eu dela, ele nunca a chamava pelo nome.

-Vocês podiam sair com ela, ir ao Stanley’s, eu provavelmente vou para lá hoje.

-Você está afim da Juliet, cara?

Ele arregalou os olhos, parecendo surpreso. Então pegou a bola da minha mão e fez uma cesta, mais dois pontos.

-A Campbell... – ele começou se aproximando de mim – É só uma garota que eu gosto de irritar.

Levantei uma sobrancelha para ele, mas segui em direção a arquibancada para pegar uma garrafa d’água. Estávamos na quadra do meu condomínio, era o final da tarde de sexta feira, logo depois da aula e Math e eu estávamos jogando uma partida. Coisas normais de um dia de quinta feira, bem pelo menos seria normal se nos não estivéssemos falando sobre Juliet Campbell e logo depois, a bruxa aparecesse caminhando na nossa direção.

Ela é bem bonita, eu não posso negar, os cabelos negros quase azuis tão longos quando dá Julieta original, batendo no meio das suas costas, olhos em um tom de azul acinzentado, a pele tão pálida que nem ao menos parecia que ela morava na Florida. A garota parecia uma vampira, só que com hábitos de bruxa.

Acho que já deu para notar que eu também não gosto dela.

-Olá garotos!

Entreolhamos-nos quando ela falou isso, provavelmente Juliet nem estava falando com a gente, por que aquela garota sendo simpática, só significava três coisas: ou ela estava sendo falsa, ou estava querendo alguma coisa, ou estava louca.

Eu sinceramente confio mais na terceira opção.

-Eu não sabia que vocês estavam aqui.

Ela disse correndo até nós, com um sorriso no rosto. Dei um gole na água antes de dizer:

-Você tomou seu remediozinho hoje, Jules?

-Remédio? Que remédio?

Ela perguntou, genuinamente confusa. E cara aquela expressão ficava tão bem nela que eu quase tive um treco e sai correndo como um idiota.

-É docinho, você está muito estranha.

Juliet suspirou, juntou as mãos e nos olhou atentamente.

-Ok, vocês descobriram. – ela suspirou novamente – Penny me pediu para tentar conviver com vocês, eu estou tentando. Afinal, se você faz bem para ela Blake, isso me faz feliz.

Espera, ela acabou de me chamar de Blake? Mas, mas...

A ultima vez que Juliet me chamou de Blake foi na... Sei lá, sexta série? É tão difícil ela me chamar assim que eu nem consigo me lembrar da ultima vez.

-Sério, você está ficando louca.

Eu disse batendo no ombro de Math e sai andando.

-Blake! Não me deixe falando sozinha! Walker! Walker!

Ótimo, Juliet Campbell voltou ao normal. Virei-me para fitá-la, Math ainda estava lá, olhando para ela como um babaca.

-Vocês não acreditam em mim mesmo, não é?

-Sinceramente? – Math perguntou – Não. A Campbell que eu conheço não é simpática. Muito menos com a gente.

Ela soltou um suspiro, parecia até angelical com aquele vestidinho florido, só os all stars que tiravam toda a imagem de inocente da garota.

-Eu já estou cansada de ver Penny reclamar comigo, talvez, talvez... – Juliet passou a mão pelo cabelo, nervosa – talvez eu esteja errada, talvez garotos não sejam tão odiosos assim, talvez vocês não mereçam meu ódio, talvez eu devesse ser uma melhor amiga melhor e aceitar que Penny gosta de você Blake, gosta de verdade.

-Eu também gosto dela.

Disse dando de ombros. Por que é verdade, eu realmente gosto de Penny, ela é uma ótima namorada e não ter que estar brigando o tempo todo com Juliet seria ainda melhor para o meu relacionamento com ela.

Juliet soltou um grande sorriso, ela tinha dentes tão brancos que chega dava agonia de olhar. Eu disse que essa garota fazia coisa estranhas, clarear os dentes pode ser uma delas. Bruxaria também.

-Então, amigos?

Ela perguntou, estendendo o braço para mim. Enquanto Math ficava ali como um idiota, eu até entendo que ela não esteja fazendo toda essa apelação ou atuação estranha para ele, afinal, apesar de Math assediar ela o tempo todo, não é como se Juliet o odiasse. Na verdade, que eu saiba, ela só odeia uma pessoa.

Eu.

-Amigos.

Apertei a mão dela, não por que eu confiasse na palavra dela, nem por que eu queria que fossemos amigos, mas por que aquela historia não estava me cheirando bem, alguma coisa estava bem errada ali.

Juliet Campbell estava armando alguma coisa e eu ia descobrir o quê.

œ

“We've only got each other to blame. It's all the same to me love 'cause I know what I feel to be right… No more lonely nights, no more lonely nights. You're my guiding light. Day or night I'm always there…”

-Sua voz fica linda com essa música.

Levantei meus olhos para fitar a pessoa parada no vão da porta, era o final da tarde, depois de todas as aulas, bastante estranhas se você quer saber minha opinião, eu havia passado na sala de música para passar o tempo até a aula de francês começar.

-Só estava dedilhando algumas notas no violão.

Penny soltou um sorriso, ela estava linda com aquela saia curtinha.

-Blake Walker, sempre vago...

Coloquei o violão encostado na parede e segurei Penny pela cintura, ainda sentado no banquinho.

-Encontramos Juliet ontem, eu e Math – Penny levantou uma sobrancelha, como se estivesse perguntando “mesmo?” – Ela veio com um papo estranho de sermos amigos.

Penny riu, como se não acreditasse no que eu estava falando, mas também, quem acreditaria? Juliet era uma bruxa e nunca seria amiga de um cara normal e sem problemas psicológicos como eu.

-Você só pode estar brincando!

-Pode acreditar, sua amiga está armando alguma coisa.

Ela balançou a cabeça, ainda rindo e sentou no meu colo, me dando um beijo rápido.

-Juliet está entrando em estado de aceitação, meu amor. Ela só quer o melhor para mim.

Coloquei uma mecha loira de cabelo de Penny atrás da sua orelha, sussurrando.

-Você é tão inocente Penny, acho isso uma graça.

-Inocente?

Ela perguntou claramente confusa.

-Se acha que Juliet está aceitando isso bem só pode ser por inocência.

Afinal, só minha namorada não havia entendido que a melhor amiga dela era a vilã da historia. Como naqueles filmes melosos que as garotas com quem eu costumo sair me obrigam a assistir no cinema, sempre tem a mocinha que é completamente apaixonada pelo mocinho e o vilão, ou vilã, que está disposto a fazer qualquer coisa para que os dois enamorados não consumam seu amor.

Cara, isso foi patético, até para mim.

-Você fala como se conhece Juliet mais do que eu.

Disse Penny na defensiva, se levantando do meu colo.

“E conheço” eu iria acrescentar se fosse verdade. Conheço Juliet há muito mais tempo que Penny, que chegou a Tampa há apenas dois anos. Mas Penny é que era amiga de Juliet e não eu.

Sorte minha.

-Por que não mudamos para um assunto menos chato do que Juliet Campbell? – perguntei me levantando e entrelaçando nossos dedos – Nós dois por exemplo.

Beijei Penny, os lábios dela macios contra os meus, mas cheios daquela porra daquela coisa grudenta que ela coloca na boca, credo, o que as garotas acham de legal nisso? Tipo, quando ela parar de me beijar minha boca também vai ficar brilhando como a dela? Espero que não, ou se não Math vai vir com aquela historia de gay de novo.

-Desculpa aé atrapalhar o casal perfeição, mas a gente tem aula agora.

Falando no Diabo, ele aparece.

Parei de beijar Penny para fitar Math, felizmente ela estava sozinho, sem os outros caras do time para encher o saco e ficarem olhando como babacas para minha namorada.

-Oi Math!

-Ei, Penn.

Disse Math acenando para ela, logo depois revirando os olhos para mim outra vez.

-Me fera attendre?

Segurei a mão de Penny, batendo no ombro de Math enquanto saímos na sala. Seguimos conversando pelo corredor da ala norte da escola, até a ultima sala do corredor, onde a Senhorita Petit estava pronta para dar a sua aula. Ela era francesa e tinha um acento muito forte mesmo morando nos Estados Unidos há anos.

-Vou sentar com Juliet.

Penny me deu um beijo rápido e foi sentar ao lado da amiga nas carteiras da frente, enquanto eu seguia Math até o final da sala.

-Ei Blake, onde porra você foi se meter?

Perguntou David quando me sentei ao seu lado, os outros caras também me olharam curiosos. Mas não é como se eu devesse explicações a eles.

-Ele tava se agarrando com a Penny.

Disse Math rindo, A Senhorita Petit parecia alheia a conversa na sala enquanto arrumava dúzias e mais dúzias de papeis em cima da mesa, preenchendo formulários provavelmente.

-Uou, conseguiu uma das mais difíceis, cara. Só falta a Campbell agora.

-Essa é do Math.

Os caras disseram, revirei os olhos para eles, por que eu ando com esses caras mesmo? Ah é, por que meu ego precisa ser estimulado.

-A Campbell não é minha porra nenhuma, caralho. – disse Math irritado, olhei para ele confuso, sempre achei que ele queria mesmo pegar a Juliet.

-Silence! Silence! Meus queridos, hoje teremos uma aula não convencional, nada de assunto! – ela exclamou, jogando os papeis da matéria em cima dos alunos mais perto dela, como se estivesse feliz. Caraca, essa daí também tá precisando de uma tarja preta mais decente – Conversação. Quero que formem grupos. 

O barulho das carteiras se arrastando foi alto, pelo menos com aquela besteira que ela havia inventado eu poderia ficar quieto no meu canto. Hoje o dia havia sido tedioso demais para eu ter que aguentar uma aula mais tediosa ainda de francês.

-E não se esqueçam, o tema dessa aula é relacionamentos.

Ah, claro, ela já não estava satisfeita em me fazer falar, agora tinha que ser sobre como eu e Penny fazemos um casal perfeito. Ou seja, meu namoro era a fofoca do momento no Sebastian L.

Virei-me para Math para começarmos a conversar quando uma mão foi erguida dentro da sala.

-Sim, Juliet?

A Senhorita Petit perguntou, como se já soubesse que não viria nada que preste da boca daquela garota.

-E se não tivermos nada sobre o que falar, Senhorita Petit? – ela perguntou jogando o cabelo negro para longe dos seus olhos – Eu, por exemplo, não tenho nada sobre o que falar sobre relacionamentos.

-Com toda certeza sua companheira tem.

Disse ela com um suspiro, voltando para seus papeis.

-Acho que não. Na verdade, acho que Brinn não está disposta a me escutar dizer o quanto garotos são desprezíveis.

A professora respirou fundo, como se não quisesse perder sua paciência com uma aluna.

-Que tal você falar de outra tema, uhm? – a Senhorita Petit perguntou – apenas faça a dinâmica, Juliet, por favor.

Ela pediu, na verdade, quase implorou. Juliet olhou atentamente para ela, mas logo depois assentiu e começou a falar no seu francês perfeito - acho que ela tinha aulas particulares de francês - com Brinn Lebron.

Agora vocês não precisam me corrigir quando eu digo que Juliet Campbell é completamente louca.