Capitulo doze

Juliet:

-Promete que vai voltar? Que vai voltar a ser meu de novo?

-Eu sou seu, nem que eu esteja a mais de dez quilômetros de distância.

Reviro os olhos, por que já estou ficando cansada dessa baboseira. Os dois juntos parecem mais com aqueles casais chatos e melosos dos romances que minha irmã lê do que com um casal de verdade.

-Falando sério, qual foi a ultima vez que vocês brigaram?

Pergunto para Blake e Penny, estamos no estacionamento do colégio e o ônibus está estacionado atrás do meu carro. É sexta feria e eu como editora-chefe do jornal da escola estou sendo obrigada a acompanhar os garotos do time para o jogo em Oak Ridge. Não que eu me importe muito, estou precisando de um tempo para pensar.

Mas ter que aguentar aquela melação já é demais.

-Nós nos amamos, não temos por que brigar.

Diz Penny se pendurando no pescoço de Blake e eu quase sinto vontade de vomitar. Amor, como se em menos de dois meses pudesse nascer amor.

-Juliet só está assim por que não tem ninguém com quem ser clichê.

Reviro os olhos para Blake e seguro minha vontade de levantar o dedo do meio para ele.

-Sabe, temos que ir embora. Então vocês bem que podiam se despedir logo para a gente entrar no ônibus.

-Calma Campbell... Só podemos ir quando Math chegar, sem ele nosso time não parte.

Disse Dylan Evans, um dos caras do time e amigo de Blake, passando o braço pelos meus ombros. Pietra estava logo atrás dele com um sorrisinho de canto no rosto corado.

-Olá Jules.

Acenei para Pietra e me virei para Dylan olhando-o com ódio.

-Acho que ninguém te chamou na conversa, Evans – disse empurrando ele para longe de mim – E eu também acho que não te dei essa liberdade.

-Poxa Juliet, pensei que agora que você é amiga do Blake e do Math, podia ser amiga da gente também.

Ele disse passando a mão pelos cabelos. Por que a criatura da luz não chega logo e podemos entrar de uma vez nesse ônibus?

-Claro que você pensou, se é que você pensa.

Disse em tom irônico e tirei o celular do bolso, discando o número de Math.

-Alô!

-McGreen – disse em um tom ácido – Você já devia estar aqui.

-Hum... O número chamado encontrasse no momento desligado ou fora da área de cobertura. Deixe uma mensagem após o bip... Bip.

Idiota, filho de uma mãe. Se eu já queria quebrar a cara dele antes, agora tenho certeza de que vou quebrar.

-O que foi Juliet? Onde está Math?

Perguntou Penny ainda colada em Blake.

-Morto, provavelmente – disse e me virei para Pietra, pegando-a pela mão e a puxando para dentro do ônibus. Estava um calor absurdo lá dentro, mas era melhor do que ficar na companhia de um bando de retardados – O que está acontecendo entre você Dylan Evans?

-Nós estamos... – ela corou mais do que já estava corada – Nos conhecendo.

-Ele não presta, Pit. E não estou dizendo isso só por que eu acho que garotos não prestam, ele realmente...

-Eu sei.

Ela disse se sentando em uma das poltronas, sentei-me em uma poltrona ao lado da janela e a abri.

-Penny! – gritei e ela se soltou de Blake para olhar para mim – Te amo, olhe a Kathy por mim!

Ela só riu e assentiu, se virando para beijar meu futuro irmão postiço. Em alguns minutos o resto do time estava entrando no ônibus, Penny acenou para nós e por sorte ninguém sentou ao meu lado. Ninguém quis sentar ao meu lado na verdade, vai saber por que. Quando Math finalmente passou pelo corredor segurei a mão dele, pronta para pedir explicações.

-Por que demorou?

-Eu estava... Resolvendo uns assuntos.

Ele disse passando a mão pelos cabelos, visivelmente embaraçado, e logo foi se sentar no fundão ao lado de Blake. Suspirei, ele estava agindo estranhamente de novo, será que era por eu não ter aceitado ser a namorada dele? Se bem que eu não havia levado a proposta, se é que eu podia chamar de proposta, a sério. Para mim parecia mais uma brincadeira, como todas as outras brincadeiras da criatura da luz. Eu não queria magoá-lo...

Bem, eu devo estar pensando besteira. Talvez Math não tivesse dormido bem e por isso esteja assim e não por causa de mim, claro que não. Você não pode se achar demais, lembre-se disso Juliet.

 Olhei para trás e senti o olhar de Math se desviar do meu, não pude negar a sensação ruim no meu peito. Eu gosto dele de algum jeito, não quero que ele me odeie tanto quanto um dia eu odiei Blake, falando no mesmo... Ele está olhando para mim, sorrio discretamente e Blake se levanta caminhando para se sentar ao meu lado, espera, quem convidou ele para se sentar do meu lado? Acho que a resposta continua a ser ninguém.

-Por que está me olhando desse jeito Bruxa?

Ele pergunta levantando meus pés e jogando-os no chão para poder se sentar.

-Bruxa? É assim que você me chama pelas costas?

-Opa, acho que deixei escapar.

Rio dele e pego o celular que Blake está na mão para olhar suas mensagens, ele tenta arrancar o celular das minhas mãos, mas não tem muito sucesso, eu sou forte. Tá bom, na verdade, Blake desistiu depois de eu dar um peteleco na cabeça dele.

-Ah, tem senha. Deixe-me adivinha, Penny?

Digito o nome de Penny, mas o Iphone só apita inquieto.

-É o seu nome Juliet. Coloquei em homenagem a você.

Olho para ele horrorizada, mas tento.

-Idiota! – grito com ele, batendo em Blake – Você estava mentindo para mim!

-Você acha mesmo que eu colocaria seu nome como senha do meu celular? Para lembrar todo dia que você existe? – assenti, fazendo biquinho – A senha é panqueca.

-Fala sério, panqueca?

Ele dá de ombros, murmurando “eu gosto de panquecas”. Ignoro o retardamento mental de Blake e trato de olhar as mensagens, a maior parte ali são de Penny, ignoro todas ela, algumas de uns caras do time, outras de algumas garotas pedindo para o Blake abandonar a namorada ou dizendo que ainda amam ele, e claro, como podia se esperar nas mensagens de Blake Walker, mensagens de Math.

-Você não tem nenhuma mensagem nova de Math?

Blake olha de esguelha para mim e solta um sorrisinho de canto, como se estivesse rindo de mim, o que eu não duvidava nada.

-Quer uma resposta para a atitude estranha de Math?

-Adivinhou.

Blake pegou o celular da minha mão e colocou no bolso. Olhei para ele esperando uma resposta e Blake soltou um suspiro.

-Garotos não falam muito sobre esse tipo de coisa – levanto uma sobrancelha, esperando o resto da resposta – Você sabe que Math é meu melhor amigo dês de... Dês de que eu uso fraldas. E se ele está assim, provavelmente é por causa de você.

-Não sabia que eu era tão importante.

Disse dando de ombros e me recusando a olhar para trás. Para Math.

-Para mim? Realmente não – Vamos lá Juliet, ignore Blake – mas para Math? Aparentemente sim.

-EXTREME CHASERS, HOJE VA-VAMOS GANHAR! EXTREME CHASERS, VOCÊS NA-NÃO PODEM ERRAR!

As lideres de torcida gritaram, me dando a chance de mudar de assunto. Bocejei e me espreguicei, logo depois me inclinando para um lado.

-Hum, acho que vou tirar um cochilo. Me acorde quando chegarmos.

Fechei os olhos e em alguns minutos já havia caído no sono. Não lembro com o que sonhei, mas não foi suficiente para me arrancar o sono, pareceram poucos minutos, mas eu sabia que haviam passados muitos dele até Blake me acordar.

-Está na hora de acordar Bela Adormecida.

Segurei a vontade de bater nele por me acordar. Por que sinceramente, não existe nada no mundo pior do que acordar e se levantar quando ainda se tem sono. Peguei minha mochila e segui Blake para fora no ônibus, todos já estavam lá fora.

-Bem garotos, se preparem por que o jogo começara daqui a algumas horas, enquanto isso Juliet...

Caminhei até o técnico O’lleary  e levantei uma sobrancelha, esperando uma resposta do velho.

-Você poderia dar uma olhada no outro time para mim?

-Você não vai me usar de bode expiatório, técnico.

Para um homem velho e caduco, ele até que era muito esperto.

-Vamos lá, o time precisa da sua ajuda.

Segurei mais uma vez a vontade de ser arrogante e dizer “eu não me importo com o time” e assenti.

-Certo, vou ver se a coreografia das lideres de torcida é tão ruim quanto a nossa.

Ele me olhou como meu pai me olhava toda vez que eu falava algo impróprio para o momento. Dei de ombros e puxei Pietra comigo, iríamos ver como os alunos do Oak Premium High School estavam jogando. Resisti a vontade de olhar para trás e ver Math e coloquei meu orgulho na frente.

-O que vamos fazer, Jules?

-Vamos matar alguns jogadores do time adversário, arrancar suas cabeças e colocá-las em espetos para servir no jantar.

Pietra arregalou os olhos para mim e eu só soltei uma gargalhada, caminhando ao lado dela para onde eu imaginava ser o ginásio. Não demorou muito para chegarmos e tive que pegar minha câmera fotográfica para tirar algumas fotos do time adversário. É, eu sei que isso não é lá uma coisa muito bonita a se fazer, mas eu nunca fiz coisas certas no final das contas. Minhas notas podem ser perfeitas, mas eu com toda certeza não sou.

-Os garotos jogam melhor que eles.

Revirei os olhos para Pietra.

-Claro que jogam Pit, eles venceram a estadual se não se lembra.

-Me lembro sim, só... – ela se virou para mim, estávamos atrás da arquibancada e se ficássemos escondidas, ninguém nunca nos acharia – O que está acontecendo entre você e Blake?

Que pergunta indelicada.

-Ele é o namorado da minha melhor amiga.

-Só isso?

Dei de ombros, não podia começar a dar a lista de todas as coisas que Blake era para mim para qualquer garota que quisesse saber. Eu tinha uma reputação a zelar afinal e se eu não contava para Penny, que é minha melhor amiga, não contaria para Pietra, que era só uma garota que me acompanhava de vez em quando.

-Nossos pais vão se casar. É quase como uma trégua para as brigas ocasionais.

Ela soltou um “ah” de entendimento e voltei a tirar fotos. Pietra era uma boa garota, apesar do seu relacionamento com Dylan.

-Pensei que você sentisse algo por Math sabe, mas depois de ver você conversando e rindo com Blake, acho que não...

Deixei a câmera cair da minha mão e olhei irritada para Pietra.

-Olha, eu não me meto na sua vida Pietra, o que você acha de não se meter na minha?

Ela me olhou assustada e eu notei que havia sido muito grossa.

-Não precisa ficar irritada.

-Não estou... Não estou irritada.

Peguei a câmera ainda intacta e recomecei a andar, Pietra não fez o favor de me seguir, acho que ela tinha entendido o recado. Não se cutuca onça com vara curta e era isso que ela acabara de fazer, não que eu tivesse ficado irritada por ela ter citado os dois garotos, eu havia ficado irritada por ela ter percebido isso. Pietra não tinha o direito de perceber que eu sentia alguma coisa por Math, muito menos que Blake significava alguma coisa para mim. Eu sempre escondi tão bem, tudo bem, ultimamente até meu pai vem notando que eu ando diferente, mas...

-Ah, sua namorada não vai se importar?

Virei-me para tentar escutar de onde vinha a voz doce e afetada. O corredor atrás de mim estava vazio, mas havia uma porta aberta. Apesar de a sala estar escura, caminhei até ela, olhando de esguelha pela porta.

Era uma garota.

Uma garota com as mãos nos braços de Blake.

O namorado da minha melhor amiga.

-Claro que não, por que eu não tenho uma.

Cerrei os olhos, não acredito que ele estava mentindo tão descaradamente! Se ele estava traindo Penny, eu ia ser obrigada a dar um soco bem merecido na cara dele.

-Ah, então eu posso beijar você agora, não posso?

Garotinha descarada essa.

-Não dessa vez, Caroline. Ficamos da ultima vez que eu vim aqui, mas dessa vez você vai ter que pular para outro cara.

Pelo menos ele evitou beijar a garota, levantei uma sobrancelha quando a garota fez um biquinho.

-Mas eu quero você!

Ele riu e deu um beijo na bochecha dela.

-Que tal me dar seu número? Aí podemos conversar.

Ela sorriu, mas antes de poder dar o número a ele eu acabei caindo da porta. Estava tão concentrada nos dois que nem ao menos tinha notado que quando eu tentei me segurar no batente da porta, não havia batente nenhum.

Blake arregalou os olhos e empurrando a garota para longe dele correu até mim.

-Você ‘ta bem Juliet?

Cerro os olhos para ele, minhas mãos estão doendo, mas não posso deixar transparecer.

-Você quase trai minha melhor amiga e vem me perguntar se eu estou bem?

-Bem, você levou uma queda.

Empurrei a mão dele que tentava me ajudar e me levantei.

-Estou ótima, mas Penny não vai ficar quando souber disso.

Blake passou a mão pelos cabelos, preocupado.

-Não conta para ela Jules, eu nem ao menos fiquei com a garota.

A garota caminhou até nós, era uma líder de torcida pelo visto.

-Então você tem mesmo uma namorada... É essa garota aí?

Olhei com ódio para a garota.

-É melhor ficar calada antes que eu acabe com esse lindo rostinho coberto de maquiagem.

Ela arregalou os olhos e saiu da sala, bem... Acho que sou mesmo amedrontadora quando quero. Blake suspirou e me segurou pelos ombros.

-Por favor, ela que veio atrás de mim, eu só estava tentando fazer Caroline se afastar.

-Você podia ter batido nela.

Blake levantou uma sobrancelha para mim. Acho que essa não foi uma boa ideia.

-Eu não bato em garotas.

Então por que em mim ele queria bater? Hum, não gostei disso.

-Por que não contou que tinha uma namorada, então?

-Eu... – ele passou a mão pelos cabelos, nervoso – Eu não sei Jules! Força do hábito, quando vi já tinha dito.

Revirei os olhos e bati no ombro de Blake.

-Você está me devendo essa.

Depois caminhei de volta para a entrada do colégio, eu ainda tinha que mostrar como sou uma perfeita detetive para o técnico.