Era seis da manhã e Yulia ainda estava acordada. Havia tido uma briga feia com seus pais e eles haviam decidido que ela iria estudar em um colégio interno. Tudo apenas por causa da opção sexual da garota. Os pais não deram nem a chance de escutar o que ela tinha para dizer.

Yulia permanecia fitando o teto branco do quarto, encolhida em sua cama. Ouviu a porta se abrir e seu pai entrar no quarto, encostando em seu braço.

- Yulia, vá se arrumar. – disse Oleg, evitando a chamar por apelidos carinhosos.

- Já vou.

O pai saiu do quarto, e Yulia levantou da cama. Foi até o banheiro e despiu-se, olhando para as diversas marcas em seus braços e barriga, que ainda estavam com um pouco de sangue. Suspirou fundo e entrou no box do chuveiro. Após tomar seu banho, foi para o quarto, e sua mãe, estava sentada em sua cama, ao lado de um uniforme.

- Me desculpe filha. – disse Larissa, com um tom de voz ameno.

- Desculpar pelo o que? – Yulia riu irônica.

- É para o seu próprio bem. Acredito que isso seja só uma fase.

Yulia a encarou com ódio por alguns segundos, até Larissa sair do quarto, sendo acompanhada pelos olhos furiosos da filha.

- Não diga o que não sabe. – disse Yulia, logo depois, fechando a porta do quarto violentamente.

Yulia vestiu o uniforme, que era composto por uma blusa branca social, saia xadrez azul, meias brancas, sapatilha de boneca e uma gravata combinando com a saia. Ela se sentia ridícula com aquela roupa, mas não deu importância. Secou seus cabelos, bagunçando-os logo em seguida.

Yulia não usava muita maquiagem, apenas máscara para cílios e lápis de olho. Ao terminar de se arrumar, colocou a mochila nas costas e desceu as escadas. Seus pais estavam tomando café da manhã, mas Yulia não estava com fome, apenas sentou no sofá.

- Filha, hoje eu vou levar suas roupas enquanto você estiver na aula. – disse Larissa calma. – As aulas começam às sete e meia, e terminam às onze e cinquenta. O almoço é servido ao meio dia. Até as três da tarde você fica livre, mas matriculei você nas aulas de guitarra, já que você gosta.

- Larissa, é por isso que essa menina tá assim! – disse Oleg. – Você só faz as vontades dela.

Yulia permaneceu quieta, até eles saírem de casa. A viagem fora entediante. O colégio ficava numa zona afastada de Moscou. Ao chegarem, Yulia saiu do carro sem se despedir do pai, que logo em seguida já havia desaparecido em meio à neblina. Estava frio, e Yulia não havia colocado nenhum casaco. Olhou para o imenso prédio a sua frente, e percebeu que havia apenas meninas no lugar.

- Olá. – disse uma garota bem mais alta que Yulia. Ela tinha cabelos loiros e compridos, que estavam presos por uma trança lateral. – Me chamo Olga.

- Yulia.

- Bem-vinda ao colégio de meninas Utrennyaya Zvezda. – a garota não parava de sorrir. Yulia olhou para os dois lados, e novamente para a garota.

- Escuta, você sabe onde fica a sala do segundo ano?

- Sim, eu te levo lá.

Após Olga ter mostrado a sala de Yulia, a mesma foi até a última mesa e ficou lá esperando. Depois de uns minutos, alunas começaram a entrar na sala. Yulia estava debruçada sobre a mesa, com os olhos fechados. Yulia acabou dormindo em todas as aulas, pois havia passado a noite em claro. Ao chegar em seu dormitório, não encontrou ninguém, apenas suas malas. Se jogou na cama, e continuou a dormir.