Frank POV

Levantei do rodapé da calçada, batendo na minha calça para retirar a poeira. Enterrei as mãos no bolso e comecei a andar, querendo sair dali antes que Kyle e Freddy se aproximassem.
- Frank! Nós falamos com você! – Ouvi a voz de Freddy e logo senti um puxão no meu braço. Era Kyle.
- Me solta Kyle. – Falei encarando o chão.
- Está com medo, Frank? – Kyle riu. – O que uma menininha como você faz sozinha a essa hora da noite?
Às vezes, eu realmente acho que eles pensam que eu sou uma menina, porque sempre me chamam assim.
- Ela deve estar esperando o namorado. – Freddy disse, fazendo os outros rirem.
- Me solta, Kyle, por favor! – Falei tentando me desvencilhar quando percebi que eles estavam formando um circulo ao meu redor.
- Oin, ela pediu ”por favor”! Amoleceu o meu coração. – Kyle disse irônico e riu, apertando ainda mais o meu braço. – O que você estava fazendo aqui hein? Batendo ponto pra conseguir dinheiro para as bebidas do seu pai?
- Me deixa em paz Kyle! – Tentei avançar, fazendo Kyle me largar e dar um passo para trás, por puro reflexo, mas no fim um garoto chamado Andy me segurou pelos dois braços.
- Tá nervosinho, Frank? – Kyle disse se aproximando. – Eu vou te deixar bem calminho.
Nisso ele cerrou a mão em punho, e a acertou em cheio o meu rosto. Fiquei com a cabeça virada um tempo depois do soco, com os olhos fechados com força. Eu sentia que o canto do meu lábio inferior estava cortado, fazendo um gosto de sangue se espalhar pela minha boca.
- Cara, não precisa bater nele. – Ouvi um dos garotos falando.
Levantei o rosto e procurei o dono da voz. Ele estava encolhido atrás de Freddy, que o olhou bravo.
- Cala a boca Jared! – Rosnou. – Acaba com esse merda, Kyle!
E então Kyle depositou mais um soco em meu rosto, do mesmo lado, fazendo minha boca sangrar ainda mais, e com os olhos fechados por causa da dor, senti o seu joelho batendo contra a minha barriga. Segurei um grito de dor e os olhei.
- Por que vocês fazem isso? – Perguntei baixo e com dificuldade, deixando minha cabeça cair para frente e sujando a rua cinza de vermelho com meu sangue.
- Porque você merece, seu pedaço de lixo! – Kyle disse levantando o punho para mais um soco. Mas ele não terminou o serviço.
- Hey! HEY! LARGUEM ELE! – Ouvimos alguém gritar.
- Argh, sempre tem alguém pra estragar! – Freddy disse. – Vamos embora. Mas Frank – apontou para o meu rosto. – Isso não vai terminar assim. – Sorriu sádico.
E com isso eles me soltaram e saíram correndo. Cambaleei um pouco e me sentei na calçada de novo, pousando minha mão sobre minha testa.
- Hey, você está bem? – A tal pessoa se aproximou. – Frank?! – Falou surpreso.
Olhei para cima, cansado, e bufei.
Eu só queria ficar sozinho.
- Cara, você tá bem? O que eles fizeram com você?! – Gerard disse, sentando ao meu lado e levantando meu rosto. Me desvencilhei dele.
- Cara, me deixa sozinho. – Coloquei a cabeça entre as pernas, me encolhendo.
Não queria que ele me visse assim, e a brisa gelada batendo no meu corpo me fazia estremecer e me encolher.
- Hey, tá tudo bem... – Suspirou. – Desculpe a demora cara, deixamos você sozinho.
- Tô acostumado.
- Não, sério Frank, me desculpe mesmo. Eu cheguei atrasado lá e o Ray disse que não estava pronto, ai ele disse pra eu vir te buscar e eu fiquei me fazendo e demorei.
- Isso era pra me consolar? – Perguntei levantando a cabeça e o encarando.
- Err... Não. – Abaixou a cabeça.
- Ah tá, porque se fosse, bem, você é péssimo em consolar alguém. – Voltei a minha antiga posição.
- Vamos pra casa do Ray? Você está com frio. – Falou.
- Eu não estou com frio. – Menti.
- Suas bochechas estão vermelhas por causa do vento Frank, e você está gelado, eu senti quando encostei em seu rosto. – Falou e levantou. – Levanta daí, rápido, vamos.
Olhei sério para ele. Quem o Gerard pensa que é pra me dar uma ordem hein?
- Levanta Frank. – Falou firme, me encarando.
- Tá! – Levantei.
Dá próxima vez eu serei mais fiel às coisas que eu digo. Juro!
Enterrei as mãos no bolso e caminhei com Gerard ao meu lado. Ele tentou puxar assunto, mas as minhas respostas monossilábicas desanimaram ele.
Chegamos à casa de Ray e ele estava terminando de calçar o all star. Perguntou assustado o que era aquele machucado na minha boca, e eu disse que tinha me machucado de algum jeito idiota. Gerard não disse nada, e Ray não acreditou, mas fingiu que sim.
Fomos para o bar era quase meia noite, porque paramos para comer uma pizza, e eu rezava mentalmente para o show da Lyn não ter começado ainda. Aquela menina sabe ser má quando quer...
Entramos no Thirteen e o lugar estava lotado. Cheiro e fumaça de cigarro espalhados por todo local, garotas com pouca roupa, pessoas gargalhando, bebendo e caindo no chão, já alteradas. Procuramos por uma mesa, mais na frente do mini palco que havia lá, e Ray decidiu trazer algumas cervejas.
Eu pedi uma Coca-Cola.
Suspirei aliviado quando vi Jimmy Urine, vocalista da banda da Lyn, entrando no palco, e logo depois o resto da banda já entrava também. Ela afinou uma corda do baixo e deu uma conferida na “plateia”, sorrindo quando nos viu ali.
- Ouh, aquela saia tá... Muito bonita. – Gerard disse rindo.
- Cala a boca e ouve a musica Gerard. – Falei tomando minha Coca-Cola de canudinho.
- Frank, por favor, se fosse o Mikey falando você nem ia dizer nada. – Revirou os olhos. – Olha, só bebendo pra te aguentar.
O encarei sério. Preciso dizer que fiquei ofendido? Tipo, muito ofendido mesmo.
- Não vão discutir a relação agora né? – Ray falou rindo. – Eu vou pegar mais uma cerveja, porque pra aguentar vocês... – Ray levantou e seguiu em direção ao bar.
- PEGA UMA PRA MIM. – Gerar riu e me olhou. Minha expressão ainda era a mesma. – PEGA UMAS QUATRO!

Depois do show, Lyn veio agradecer a nossa presença, e nos convidar para uma festa que teria na casa da Kitty, a baterista. Eu neguei no mesmo instante, meu corpo dolorido não aguentaria uma festa agora. Ela se despediu e foi embora, nos deixando no bar.
Ficamos ali por mais alguns minutos, e decidimos que tínhamos que ir embora, pois Gerard já não falava coisa com coisa e já não tinha mais dinheiro para as cervejas. Olha que ele gastou o do Mikey também!
Saímos do bar era quase uma e meia da manhã, e ajudávamos Gerard a andar direito.
- Não sei porque não fomos na festa. – Gerard dizia enrolado. – Bebida de graça e as pernas da Lyn. – Riu. – De graça também!
- Cala a boca Gerard. – Eu e Ray falamos juntos.
- Yeah, cala a boca Gerard. – Ele falou colocando a mão na boca.
Ele já é chato ao natural, imagina misturado com álcool.
Chegamos à casa do Ray em cerca de meia hora. Acho que eu nunca caminhei tão rápido na minha vida. Larguei Gerard no sofá de qualquer jeito e subi as escadas com Ray, para decidirmos o que faríamos para todos dormirem no mesmo quarto.
Ray disse que tinha um colchão de casal no quarto de hóspedes, então pegamos o colchão e colocamos no chão do quarto do Ray. Ali dormiriam dos Ways, eu dormiria da cama que sobrava, que eu já chamava de “minha cama da casa do Ray”, e, obviamente, Ray dormiria na cama dele.
Mas todos os meus planos foram por agua abaixo quando eu desci para tomar agua e voltei para o quarto, e vi Mikey deitado na minha cama.
E ele já estava dormindo. Dormindo não, ele estava em coma! E roncava a criança, por Deus, como roncava.
- Ray... – O cutuquei.
- Vai dormir Frank. – Ele falou tentando me bater.
- Ray, o Mikey tá na minha cama. E eu não quero dormir com o Gerard. - Fiz bico.
- Então vai à merda, mas me deixa dormir.
E com isso ele dormiu. Eu já comentei a facilidade que esse menino tem pra dormir? Então, ele dorme com muita facilidade, muita mesmo.
Deitei no colchão do chão, onde Gerard já estava deitado e olhando para o teto.
- Boa noite Frankie. – Me olhou e sorriu bobo.
- Boa noite Gerard. – Falei e virei para o outro lado.
- Frank? – Me chamou baixo.
- Vá dormir.
- Okay...
Fechei os olhos para tentar dormir, meu corpo ainda doía muito. De repente eu senti alguém me abraçar e arregalei os olhos.
- Que isso Gerard?! Me solta! – Tentei tirar seus braços de volta de mim.
- Mas dormir de conchinha é bom. – Sorriu, já com os olhos fechados.
- Mas o quê...?! Porra Gerard, me solta! – Tentei me debater, mas Gerard não me soltava.
- Não adianta se debater, ele não vai te soltar. – Mikey disse virando pra mim. – E ele já dormiu.
- Você estava acordado seu puto?! – Falei surpreso, parando de me debater.
- Yeah, eu fingi que estava dormindo. Cansei de ser o ursinho de pelúcia do Gerard. Mas ele não dorme de conchinha comigo. – Segurou o riso.
- Vocês são todos uns filhos da puta. – Me ajeitei no Gerard e fechei os olhos.
Espero dormir rápido!