Oh, você está aqui, você esta aqui!

Eu podia ouvir os passos das pessoas e dos cascos dos cavalos, podia ouvir as rodas que rodavam das carruagens e pessoas conversando, eu podia senti-las por perto e atrapalhando minha visão, mas todas eram turvas e nenhuma me interessava, então seus rostos e características eram passados despercebidos por mim.

Esta noite, nós estaremos mostrando...

Eu era só uma criança de 8 anos, vestida em um vestido velho e simples vermelho, eu tinha cabelos curtos e castanhos, eu estava parada no meio daqueles fantasmas que não me divertiam , eu estava parado no meio deles apenas tentando achar algo que eu pudesse ver neles parada no meio da rua sem perturbar ninguém. Sabe, meus pais tinham morrido então eu morava em um orfanato, lá era legal, mas também era chato e tedioso então eu saia em buscas de emoções, mas elas se escondiam de mim pois eu não as achava. E mesmo assim eu sorria pra tudo de uma forma gentil, talvez esperando alguma coisa emocionante.

...o triste destino que alguns deste mundo levam...

Mas eles não eram chatos nem tediosos, eles andavam entre aqueles fantasmas e falavam com eles, lhe contavam alguma noticia que podia me interessar. Eles chamaram apenas um pouco minha atenção, pois ainda pareciam um pouco com aqueles vultos, mas apenas por enquanto. Apesar de ainda estarem misturados com o que não me interessava eu reparei em algumas características: eles eram dois, uma menina e um menino, gêmeos. Ambos eram loiros e pele bem branca com lindos e gentis olhos verdes. Eles andavam grudados e de mãos dadas, os dois vestiam umas roupas que eu só vi em livros, roupas largas e coloridas que cobriam o corpo todo, com babados enormes e redondos nas mãos, nos pés e pescoços e tinham grandes bolas em fileiras também coloridas de pelúcia sobre o peito, três bolas pra cada na verdade. Ele prendia o cabelo em um pequeno rabo de cavalo e ela usava uma faixa na cabeça. Ambos sorriam, a vida deles devia ser alegre.

O menino carregava dois balões vermelhos com flores e a menina um único papel, um cartaz

...crianças que Deus abandonou, sem descanso arrastando-se por ai...

Ela olhou pra mim e puxou o irmão para virem falar comigo, quando chegaram perto pude reparar em seus rostos, eles tinham marcas de triângulos pintadas a baixo dos olhos. Eles sorriam. Eu nunca tinha visto alguém sorrir e se tinha visto eu não reparei. Ela me entregou o papel em suas mãos e ele um dos balões e eu percebi também que ambos usavam luvas pretas. Eles ainda sorriam.

... crianças que não podem nem mesmo carregar trêmulos membros com que nasceram...

Os olhos dela brilharam de excitação, brilharam de verdes para vermelhos, mas foi bem rápido então naquela hora eu não tive certeza, mas eu percebi que ela tinha um lindo sorriso gentil só pra mim

...suas linguas agitadas mesmo acidentalmente choram convulsivamente.

A linha negra do balão estava presa no meu pulso e eu olhava pra ele tendo que levantar a cabeça, eu estava impressionada com o lindo balão vermelho, com detalhes de flores desenhadas em preto, que flutuava em cima da minha cabeça. A folha que ela me deu eu estava segurando com as duas mãos.

As coroas de suas cabeças que acariciam as nuvens negras

Eu parei de olhar o balão e aprestei atenção nos papel em minhas frágeis mãos, era pequeno, era uma propaganda.

Eles sorriem conforme eles sonham do braço de sua mãe.

Welcome...

Era essa a primeira palavra que ficava no inicio do papel depois vinha

to...

essas duas letras estavam escritas separadas por uma estrela pequena amarela que era a ponta da tenda preta desenhada no centro do papel, dentro da tenda aberta havia um sorriso meio macabro com dentes desenhados, e de cada lado da tenda duas mãos que pareciam estar abertas em um abraço para mim.

Por fim embaixo da tenda havia as seguintes palavras:

machigerita circus...

machigerita estava escrito menor e circus que chama atenção com letra grandes principalmente o primeiro "C" e o "S".

Tudo tinha sido desenhado e escrito à mão de um jeito amador, mas fazia minha mente saltitar de idéias e ilusões, eram sentimentos bem novos pra mim. Fazia minha imaginação aumentar, assim como minha criatividade que estava à mil.

Oh, deformidade!

Eu parei de olhar pro papel meio amassado em minhas mãos e procurei na minha frente os dois gêmeos, que não estavam mais lá. Aquilo me surpreendeu eu tinha perguntas, então olhei pro lado e os vi indo embora.

DEFORMIDADE!

Eles corriam, me deixando uma pequena visão.

Eu podia ver por trás uma mão do menino e a outra da menina, podia ver uma capa grande que eles dividiam e cobria as costas de ambos, eles iam embora correndo e saltitando e talvez meio que felizes.

O garoto não carregava mais o outro balão talvez devesse tê-lo soltado e o perdido nos céus.

Enquanto andavam deixavam marcas no chão, figuras e desenhos negros incompreensiveis que só eu podia ver, afinal se eu não fosse a unica as outras pessoas ao meu redor já estariam assustadas, mas agiam da forma normal que não me importava.

Junto dos desenhos havia suas pegadas que se demarcavam por serem vermelhas e parecia que só eu podia vê-las também, mas...

eles eram dois certo? Então porque só havia um par de pegadas deixadas por eles? Pegadas que iam em direção ao bosque.

Pare para ir ver.

Eu olhei eles indo embora meio que séria e pensando, carregando um balão em uma mão e um convite em outra. Então fui embora e talvez você percebesse para mim, mas eu não podia; cada uma de minhas pegadas, aqueles rastros que mostravam que eu ia embora e eram a prova de que eu estava lá antes, eram desenhos e figuras indecifraveis. A cada passo meu no chão uma nova marca aparecia, uma diferente da outra.

Talvez você percebesse e eu não, mas eu era especial... mesmo que não soubesse.

No céu a única coisa não azul voando era um balão vermelho perdido, outra coisa que ia embora.

PARE PARA IR VER!