Casas destruídas, ruas vazias, veículos queimados. Era só o que se via em toda a Panem. Pessoas morrendo de fome, rebeldes sendo torturados e crianças escondidas em tocas. Os tempos de escuridão tinham voltado e tomaram conta até mesmo da Capital. Sentado em sua cadeira, o presidente Snow avaliava as treze imagens que apareciam na enorme tela da sala de reuniões. Sua mão estava fechada dando pequenos socos na mesa enquanto ele ouvia as informações ditadas por uma voz mecanizada que vinha do painel de controle.

“Os distritos onze e doze foram completamente esvaziados senhor, e a população está marchando em direção à Capital. Os distritos oito e quatro conseguiram imobilizar as tropas de Pacificadores que enviamos e o distrito dois se mostra descontente com o fim repentino dos Jogos. Os muros da zona leste da cidade estão sendo forçados e, em menos de quarenta e oito horas, serão postos a baixo caso a força à qual estão sendo submetidos permaneça uniforme. Todos os edifícios já foram esvaziados e as pessoas estão sendo levadas com os aerodeslizadores. Em menos de quinze minutos um deles estará pousado no topo do edifício presidencial à sua espera, senhor.”

Snow toca o painel com a ponta dos dedos e aumenta o retângulo que mostrava a imagem da Capital. Não havia ninguém fora das casas, e os aerodeslizadores planavam de um lado para outro ininterruptamente, com o máximo de pessoas que podiam transportar. Ele tocou em um botão e outra imagem apareceu, agora do lado de fora da Capital. Milhares de pessoas se espremiam contra o muro que protegia a cidade. Ele era imenso e repleto de armadilhas como cercas elétricas e arame farpado, no entanto nada disso parecia ser capaz de refrear os avanços da multidão em fúria. A cena se repete nos demais cantos do país. Ele jamais poderia imaginar que um simples gesto de uma menina tola pudesse gerar tamanha discórdia. Enquanto uma era vista como mártir, sua salvadora foi exaltada como líder da revolução. Elas não passavam de um símbolo, e apenas matar a sobrevivente não faria com que a situação fosse contornada. A equipe de Pacificadores atirava sem piedade, mas eram poucos se comparados ao contingente de reivindicadores.

O Presidente trincou os dentes e ordenou por meio de um holograma que as tropas de retenção dobrassem a resistência, não poupando ninguém. Durante alguns dias ele tinha conseguido mascarar a situação pelo menos aos habitantes da Capital, entretendo-os com os jogos e manipulando as transmissões televisivas como era de costume. Mas com a invasão no sistema de rádios comunicadores no país foi impossível abafar o caso. Eles haviam retornado com toda a força depois de quase cem anos de submissão. Tudo levava a crer que dessa vez seria ainda pior.

As nações amigas a Panem cederam seus exércitos, mas estes só chegariam após dois dias, e até lá não haveria espaço para nenhuma distração. A decisão de cancelar o fim dos jogos veio do organizador principal, Seneca, que se matou logo depois. Os Jogos Vorazes eram inúteis agora que não instigavam mais medo nas pessoas, e chegou a um ponto em que mostrar diariamente a imagem da garota que desafiou publicamente o poder da Capital era nada além de desvantajoso e perigoso.

Um sino soou atrás da porta e o presidente Snow se levantou vagarosamente da cadeira. A última coisa com a qual se preocupava era com os quatro jovens presos na arena abandonada do centro da cidade. Enquanto embarcava no aerodeslizador em direção ao refúgio provisório desejou que eles morressem dolorosamente. Pelo menos de uma coisa tinha certeza: a morte de Katniss não seria divulgada, e no que dependesse dele ela seria efetiva como o desfecho da revolta, que aconteceria em breve.