Crônicas De Hogwarts I escrita por Ennaz


Capítulo 3
Um passeio em 2020


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo foi particularmente trabalhoso. Havia muitas informações novas a apresentar aos marotos. Por essa razão, é o maior capítulo até agora.
Saboreiem mais um capítulo, e no final, caso venha a deixar uma review, não esqueça de comentar as partes que mais gostaram, e indicar onde eu estou deixando a desejar, para que eu possa melhorar e escrever um capítulo melhor que o outro.
Aproveitem a leitura.



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Recapitulação dos capítulos anteriores:

– Remo J. ... Lupin? – assombrou-se o próprio ao ler seu nome e informações talhadas no mármore. – Não pode ser... eu morri?

– Casado e pai de um menino. – leu Sirius.

– Isso... só pode ser uma brincadeira de mal-gosto!

Remo irritou-se.

– Dois de maio de mil e novecentos e noventa e oito? Por favor, tenha dó! Ainda estamos no dia três de setembro de setenta e quatro! O que eles querem? Nos convencer que viajamos no futuro num piscar de olhos sem vira-tempo, e viemos parar num futuro em que supostamente ocorreu uma guerra e uma batalha e que eu morri nela? O que querem? Qual é o motivo? Tiago, por um acaso isso é alguma brincadeira idiota sua? – perguntou Remo, pegando o amigo pelo colarinho.

Como Tiago era mais alto, Remo teve que puxá-lo para baixo e elevar o rosto para encará-lo nos olhos.

– Remo, solte o Tiago agora! – mandou Sirius. – Isso não é nenhuma brincadeira dele!

– Então deixe-o responder! O que me diz, Tiago?

– Eu não tenho nada a ver com isso. – disse Tiago, firmemente.

O suficiente para Remo soltá-lo. Seu semblante caiu. E começou a chorar aos pés da estela.

Tiago pôs a mão em seu ombro enquanto chorava.

[...]

– AAAAAAHHHHHH! TEM MORTO ANDANDO COMO VIVOOOOO!!! SALVE-SE QUEM PUDER!!!

[...]

– Bom. Quarto ano. E então... vocês devem achar que estão em mil e novecentos e noventa e oito, ao menos, estou correto?

– Na verdade, eu imagino que estamos no ano de, pelo menos, dois mil e dezessete. – disse Rute.

– Hã?

– Por que acha isso, Rute? – perguntou Remo.

– A Prof.ª McGonagall foi a última diretora a morrer. E em seu quadro, a sua morte está datada no dia vinte e um de julho de dois mil e dezessete. Estou correta?

– Que excelente poder de observação, Srta. Castle.

– Agradeço pelo elogio.

– Sem dúvida, vocês não se encontram no ano de mil e novecentos e setenta e quatro, sem dúvida, nem no ano de noventa e oito. Nem no mesmo século. Muito menos no mesmo milênio, como a Srta. Castle observou. Mas vocês se encontram, neste exato momento, no dia trinta e um de agosto de dois mil e vinte.

– O que?!

– Dois mil e vinte?

– Tudo isso?

– Menos do que esperava. – disse Rute, levando os outros a ficarem surpresos com ela e fazer Tiago se perguntar se ela era normal.

– É. Surpreendente para vocês. Com certeza. E incrível demais para ser verdade. Então, para me ajudar, decidi chamar um dos meus maiores amigos do tempo de escola.

– Por que um amigo de escola seu seria capaz de nos ajudar? – duvidou Sirius.

O Prof. Longbottom se dirigiu até a lareira da sala. Pegou um pouco do pó de flu no jarro sobre o console da lareira. Então disse:

– Harry Tiago Potter.

Capítulo 3

Um passeio em 2020


Tiago levou um susto quando viu uma cabeça surgir no fogo. Não que ele nunca tivesse visto dois bruxos se comunicarem via lareira. É que a cabeça no fogo era idêntica a sua. O cabelo rebelde. O formato do rosto. E os óculos. Tornavam a cabeça, que não era muito nítida devido ao bruxulear da imagem, muito parecida com a dele.

– Ocorreu algum problema, Neville? – perguntou a cabeça. Sua voz era surpreendentemente parecida com a de Tiago, também. A diferença é que ela era mais grossa.

– Um problema sem precedentes. É de suma importância que você venha ao meu escritório o mais rápido possível.

– É tão sério assim?

– Se fosse mais sério, reuniria a AD inteira aqui.

– Já estou indo.

E a cabeça sumiu.

– Quem era aquele? – perguntou Tiago.

O professor trocou um olhar preocupado com a Prof.ª Harrison. E respondeu:

– Logo o apresentarei a vocês.

– Você já disse que ele se chama Harry Tiago Potter. – apontou Rute.

– Quem é esse Harry Tiago Potter? – perguntou Tiago.

– Ah, bem... isso logo será respondido.

– Vou esperá-lo na entrada. – disse a Prof.ª Harrison e saiu.

Quando ouviram o som da gárgula se fechar no fim da escada. Remo perguntou:

– Esse... Harry Tiago Potter... por que ele não usa a lareira para vir até aqui? Não havia uma lareira ligada a rede de flu?

O professor avaliou bem a pergunta antes de respondê-la:

– Depois que a guerra contra Voldemort terminou, todas as formas de viagem diretamente para as propriedades de Hogwarts foram suspensas. Inclusive a rede de flu. Sendo apenas permitido usar o modo de comunicação via lareira. Apenas em ocasiões especiais uma lareira é ligada a rede de flu para transporte.

– Para tomarem essa medida, algo muito ruim deve ter acontecido. – disse Rute.

– Hogwarts foi invadida por Comensais da Morte. Dumbledore foi morto nesse dia.

– Invadiram Hogwarts? – impressionou-se, Lílian.

– Mas Hogwarts é o lugar mais seguro que existe no mundo inteiro! – Tiago argumentou.

– Não significa que ela não seja impenetrável. Infelizmente descobrimos isso da pior maneira.

– Então você estava durante a Batalha de Hogwarts?

O professor riu sem humor diante da pergunta de Rute.

– Sim, estive – respondeu por fim, tão baixo que Tiago teve de fazer um esforço moderado para entender – eu lutei contra os comensais. Apesar de todo o orgulho que sinto. De todo o crescimento pessoal que aquilo me proporcionou. A guerra não era de fato necessária. A guerra nunca é necessária. Porém, foi necessário lutarmos por nosso arbítrio. E por mais tristes que sejam... sacrifícios são necessários nessas horas.

– Parece que o senhor perdeu amigos nessa guerra. – disse Lílian.

– É... perdi muitas pessoas queridas. Mas eu não fico triste por isso. Realmente. Dá saudade. Mas... Harry uma vez me disse para não termos pena dos mortos. Mas que é para termos pena dos vivos.

– Essa frase é muito Dumbledore – comentou Sirius, fazendo os outros rirem.

– É, não é? – riu o professor.

– Mas então... – Remo disse – pode nos explicar sobre a minha morte enquanto esperamos seu amigo chegar?

– Creio que terei de esperar o Harry para poder falar a respeito. Ele, melhor do que eu, sabe como falar sobre isso.

– Oh...

– E quanto a nossa situação? – disse Rute – O que irá nos acontecer?

– É – disse Lílian – como será resolvido?

– Primeiro devemos entender o que aconteceu para procurarmos uma solução.

– Ah, não tenho paciência para tal. – reclamou Tiago.

– Concordo. Por que simplesmente não começamos a procurar por alguma coisa que nos faça voltar? – Sirius apoiou. – Um vira-tempo, talvez.

– É uma ideia. Devo concordar. Mas as circunstâncias em que tudo isso aconteceu, o que eu ainda não consegui acreditar, são tão estranhas e misteriosas que é necessário que encontremos a fonte. Se não a neutralizarmos, talvez aconteça novamente.

Remo abriu a boca para questionar mais, no entanto, batidas apressadas na porta o interromperam.

– Prof.ª Harrison? – o professor atendeu bem-humorado.

– Diretor Longbottom, o Sr. Potter acabou de chegar.

– Entrem.

A professora abriu a porta e entrou, abrindo passagem para a versão mais velha e mais alta de Tiago.


O garoto ficou boquiaberto ao encarar aquele homem. Esguio. De rosto magro. Cabelo rebelde tão negro quanto o carvão. Óculos de aros redondos. O homem era a cópia de Tiago, exceto pelos olhos. Eles eram... verdes?

Harry Potter trajava simples, porém bem arrumadas e ajustadas vestes de trabalho. Ele entrou sério, com a preocupação estampada em seu rosto. Mas quando ele encarou Tiago, a confusão transpareceu nítida, e perguntou:

– Tiago? Você não estava na casa do tio Jorge, com Fred, Louis e Monise?

– Er... hã? – foi tudo o que Tiago conseguiu responder.

Nervoso, o Prof. Longbottom falou:

– Harry. Não sei como vou lhe dizer isso, mas... esse não é seu filho, Tiago. Esse... é Tiago Potter.

Mas o bruxo já não ouvia mais nada. Ele encarava Sirius como se visse um fantasma. O garoto, sem saber o que fazer. Trocou olhares nervosos com todos os colegas e disse:

– Er... sou Sirius Black... prazer.

O bruxo piscou chocado.

– Ah... Prof.ª Harrison, leve os garotos para... fazerem alguma coisa enquanto eu converso com o Harry.

– Claro, professor. Crianças, que acham de irem para Hogsmead comprar vestes novas e comer alguma coisa? – a professora os chamou com apressados gestos repetitivos.

Nervosos. Eles fizeram o que a professora mandou.

Um a um, eles saíram da sala, sendo seguidos pela bruxa.


A carruagem sem cavalos corria pela estrada de terra que ligava Hogwarts ao vilarejo vizinho, Hogsmead. Dentro do carro, os três marotos se encontravam sentados de frente para as garotas e Tiago se sentara logo de frente para a professora.

– Aquele é o Harry Potter que mencionam na estela? – perguntou curioso.

– Si- Im- é ele, sim. – ela respondeu em meio a um forte solavanco.

– O cara que o Tiago acha que seria seu filho? – riu Sirius.

– Isso eu não sei responder.

– Foi ele quem matou Voldemort?

– Sim. Foi ele.

– O que ele faz, agora? – perguntou Remo.

A professora já ia responder, quando pareceu mudar de ideia.

– É... é melhor deixar ele contar isso a vocês. Afinal, agora que chegamos, é melhor comprarmos vestes mais na moda para vocês.

A carruagem parou diante de uma loja de vestes bruxas: Glamour e Mágica Escarlates.

A porta do carro se abriu sozinha. E a professora saltou primeiro. Seguida pelas garotas. Tiago foi o último a sair.

Mal entrou na loja, a professora foi imediatamente saudada por uma mulher de cabelo ruivo vivo e cacheado que lhe chegava até a cintura. Olhos puxados muito azuis. Rosto de traços suaves. Tatuada com pequenas borboletas e florzinhas nos braços. Os dois lados do pescoço e o lado direito do rosto e testa.

– Esmê!

– Scar!

As duas mulheres se abraçaram, enquanto gritavam escandalosas:

– Há quanto tempo que eu não te vejo!

– Garota, que saudade!

– Não veio mais me ver!

– Estive ocupada; ser professora de transfiguração, diretora da Grifinória e diretora substituta em Hogwarts não é nada fácil. Eu organizo as listas dos alunos em cada ano. Reviso a lista de alunos novos. Preparo as aulas de sete turmas diferentes a cada semana. E sou a responsável pelos maiores encrenqueiros da escola, justamente por serem da Grifinória. É um trabalho árduo, flor. São detenções a administrar. Horários a serem organizados. É uma loucura!

– Imagino.

A professora e a mulher ruiva usavam roupas extravagantes. A diferença era que a Prof.ª Harrison usava vestes que a faziam ter a aparência de professora extravagante. E a lojista ruiva vestia roupas que a faziam parecer uma socialite excêntrica. Ela usava um xale felpudo, cor de salmão. Suas vestes brilhantes tinham a cor azul-marinho. E tinha na mão um leque que parecia oriental.

– O que veio fazer aqui, fofa?

– Vim comprar vestes para cinco adolescentes de catorze anos.

Indicou Tiago e os outros.

A mulher desconhecida os avaliou de cima a baixo. De repente, Tiago se sentiu ridículo com os chinelos felpudos.

Escondendo a boca com o leque, ela disse algo que Tiago não pôde ouvir.

Fechou o leque num “tec” alto, e anunciou sorrindo abertamente:

– Pois vieram ao lugar certo, crianças. Meu nome é Hiiro Kikuchi. Apelidos: Scar, Escarlate, Scarlett e Rouge. Estilista bruxa. Japonesa. E filha rebelde de uma família yakuza! Acompanhem-me e melhorem seus looks!

Com um gesto amplo pedindo ao grupo que a seguisse, a mulher adentrou o interior da loja.

Ligeiramente nervosos, eles foram encorajados pela professora a entrar.


A primeira coisa que Tiago descobriu sobre a mulher ruiva e a professora. É que as duas eram incansáveis. A toda a hora, uma aparecia com um conjunto de vestes para ele. Experimentou de tudo. Desde a mais simples veste, até uma colorida que suspeitou fortemente ser feita para palhaços. Por fim, optou por uma veste verde-escura, por cima de uma camisa branca e calça escura. Visual complementado por um par de tênis na cor marrom. Assim teve permissão para relaxar na recepção. Mas não esperava encontrar Lílian, sozinha, sentada numa das cadeiras de espera. Usando um simples vestido turquesa de passeio no lugar das vestes e a camisola.

De repente a lembrança que tinha de pedir desculpas para ela voltou nítida. Mas era orgulhoso demais para tal. No entanto, o culpado era ele. Sendo que a garota agora estava triste, por causa dele, para piorar. Detestava ver pessoas tristes. Poucos sabiam disso. Mas ele odiava ver gente triste.

Constrangido. Tiago sentou-se a três cadeiras de distância. Ficaram em silêncio. O orgulho de Tiago engalfinhara-se numa briga com o desejo dele de fazê-la sentir melhor. Até que Sirius chegou usando vestes negras, com um visual parecido com o de Tiago. Só que mais desleixado e lustroso.

– Cara, essa mulher é maluca – disse ao sentar-se ao lado do amigo – e totalmente pegável.

– Sirius, estamos no futuro. Ela tem idade para ser sua filha.

– Mas não é. E se conseguirmos voltar para o nosso tempo, vou procurá-la quando...

Rute chegara usando uma camisa polo coral, calça-jeans e sandálias turquesa de salto plataforma.

Sirius a seguiu com os olhos enquanto a garota se juntava à amiga, falando das roupas trouxas que também estavam à venda na loja.

– Acredita que ela me rejeitou? – sussurrou para Tiago.

– Depois que você disse isso pela milésima vez, começo acreditar – Tiago respondeu irônico.

– Agora que vocês estão apresentáveis podemos sair para almoçar. – a Prof.ª Harrison apareceu com a sua amiga Hiiro e Remo.

O último era que podia ser chamado de impecável. Suas vestes se encontravam perfeitamente em ordem. Gravata bem amarrada. Camisa abotoada e para dentro da calça. Colete. E capa bege na medida.

– Frutinha. – disse Sirius.

– Só por que eu me visto bem?

– Mãozinha no quadril não vai te dar cara de macho.

Remo tratou logo de tirar as mãos, enquanto Sirius e Tiago riam.

– Quer almoçar conosco, Scar? – perguntou a professora á mulher ruiva.

– Oh, não, meu bem. Tenho um compromisso no Beco Diagonal. Espero vê-la em breve. Você e a Safi, também. E mande um oi e um beijo para a Âm, Ôni, Ame, Ru e para o Jas, não se esqueça dele.

– Considere seu recado já dado. A gente se fala, Scar.

E eles puderam partir. Para o alívio de Tiago.


Na rua, o cheiro gorduroso e salgado que provinha do Três Vassouras chegou às narinas de Tiago. Ele sentiu seu estômago começar a reclamar da falta de comida. A professora os levou para a taverna onde desfrutaram do especial do dia. Após ficarem satisfeitos com peixes e legumes, a professora deixou-os escolher o próximo lugar que queriam ver. As garotas escolheram primeiro; preferindo ver a Dedosdemel.

Ficaram fascinados com a quantidade de doces novos no mercado. Encheram seus bolsos de caixas de feijõeszinhos de todos os sabores, sapos de chocolate, diabinhos negros de pimenta, sapos de chocolate de menta, tortinhas de abóbora. Entre muitos outros doces. Estando satisfeitos com as compras dos doces. Os meninos puderam escolher, então. E juntos, após trocarem sorrisos marotos, e Lílian temer por seu dia, disseram:

– Zonko’s!

– Ah... hã? – fez a professora, confusa.

Os garotos trocaram olhares preocupados.

– Zonko’s. A loja de logros e brincadeiras, Zonko’s. Todos conhecem. – explicou Tiago.

– Hã... loja de logros e brincadeiras?

– É.

– Zonko’s?

– É.

– Eles fecharam.

– Hã?

– O que?!

– Sério?! – Lílian exuberou-se.

– Por que fecharam?

– Bem... – ela pensou – acho que foi por causa da guerra... creio que podem culpar Voldemort por isso.

– Ah! Aquele bruxo pilantra filho de uma dragoa! – irou-se, Tiago.

– A nossa alegria acabou. – Sirius desabou aos pés da professora.

Os transeuntes mais próximos olharam para eles e foram embora dizendo que eles eram malucos. Ou que estavam tendo um péssimo dia.

– Ah, mas não acabou, não. – disse a professora.

– Como não acabou? A nossa única fonte de alegria do mundo bruxo já era.

– Não acabou porque eles abriram uma nova loja de logros e brincadeiras no lugar.

– Ah, é? Abriram?

– Abriram uma nova loja de logros? – parecia que Lílian tinha recebido a notícia de que o Natal tinha sido cancelado.

– Gemialidades Weasley. Trabalhei na loja sede deles quando estudava para ser professora. Eles tem uma filial aqui. Se são fãs da Zonko’s, vão amar a loja.


De rosto comprimido na vitrine, ao lado de Sirius e remo. Tiago babava, namorando o kit Mata-Aulas exposto bno mostruário.

– Vomitilha. Nugá sangra-nariz. Febricolate. E fantasias debilitantes? – Lílian leu o conteúdo da caixa com desagrado.

– Ah, é. Esse kit é uma verdadeira dor de cabeça para nós, professores. – a professora mexia no único pingente de seu cordão, sonhadora, enquanto dizia – Usei muito ele no meu tempo de escola. É uma sensação engraçada quando você faz come o fantasias debilitantes. Era muito engraçado observar as caras que os professores faziam quando meu nariz sangrava por causa do nugá sangra-nariz e eles não faziam ideia. Era ainda mais divertido pregar peças nos outros. Usar os detonadores-chamarizes para parar as aulas de poções.

Ela riu contrariada.

– Agora que sou professora, não vejo graça nenhuma nisso. Tirarei muitos pontos de vocês caso façam essas coisas comigo. – acrescentou séria, e um olhar ameaçador na direção dos marotos.

Tiago a encarou e riu.

– Vamos ver o que mais tem lá dentro.

E correu loja adentro.

A Gemialides Weasley era uma loja cheia de cores e sons engraçados. Um homenzinho de madeira subindo lentamente os degraus de patíbulo com duas forcas chamou a atenção de Tiago.

– Forca reciclável – leu – soletre certo ou se enforque.

– Maneiro. – Sirius mexeu no boneco.

– Ah, isso é legal. – dissera Lílian, ao se aproximar. – Mas triste.

– Marcas Negras comestíveis! Gente! Venham ver isso! – chamou Remo para outro mostruário. Onde ele se encontrava com Rute.

Eles correram para ver.

Encaixados em buracos redondos de papelão, se encontravam vários tubinhos pretos de plástico. No rótulo lia-se: Marcas Negras Comestíveis; deixam qualquer um doente.

– Marca Negra não é o símbolo que Voldemort usa?

– Sim. É. – respondeu Tiago.

– Uma caveira com uma cobra saindo da boca como se fosse uma língua. – descreveu Sirius da memória.

Lílian pegou um dos tubos e analisou a imagem da marca negra.

– Parece mais que essa caveira está vomitando uma cobra.

Tiago riu, observando que a garota estava certa. A caveira fazia caretas enquanto uma cobra morta saía de sua boca.

Então Lílian abriu um dos tubos e bateu-o em sua mão até uma marca negra em miniatura cair em sua mão. Ela o analisou primeiro e a comeu. Rute pareceu querer objetar a ação, mas demorou demais, Lílian já tinha jogado a marquinha negra na boca. Tiago observou Lílian mastigar lentamente esperando algo acontecer e depois engolir. Por um momento pareceu que nada aconteceria. Mas então Lílian começou a fazer careta e segurar a barriga. Massageou o estômago enquanto perdia a cor. Começou a suar. De repente, sem aviso, ela caiu. Remo a amparou a tempo.

Todos avançaram para verificar como ela estava. Remo pôs sua mão na testa dela.

– Ela está com muita febre. – anunciou, quase desesperado.

– Não se preocupem – a lojista, que momentos antes conversava amigavelmente com a Prof.ª Harrison, veio socorrê-los – é apenas o efeito das marcas negras comestíveis. O efeito passa logo.

Depois acrescentou com um sorriso soturno:

– Temos um lugar especial para clientes curiosos em demasia.

Tiago estremeceu.

Mas o lugar não passava de um quarto no fundo da loja com leitos de hospital e baldes perto das camas.

A lojista fez um gesto com sua varinha, e as velas acenderam, iluminando o quarto.

– Como não temos muitos clientes por causa das férias, não temos mais de um incidente por dia. Então, o quarto é todo seu até que surja alguém tão curioso quanto você, meu bem. – a lojista disse sorridente para uma Lílian esverdeada, no colo de Sirius. – Pode colocá-la em qualquer cama.

Sirius a colocou sobre o leito mais perto. Onde ela ficou encolhida.

– Ela vai ficar assim por quanto tempo? – perguntou Tiago.

– Só meia hora.

Lílian choramingou.

– Vou ficar aqui com ela. – disse Rute. – Podem ir.

Tiago assentiu rapidamente com a cabeça e saiu. Sirius e Remo desejaram melhoras e o seguiram.

– Nota mental: tomar cuidado com o que provarmos nessa loja. – disse Sirius.

Tiago riu ao concordar.

– Essa loja é incrível. – disse ele – Jamais vi nada mais útil que o kit mata-aulas.

– Vai comprar um Tiago? – perguntou Remo, temeroso.

– Vou, mas só depois. Não vou dar bandeira com a professora por perto.

– Sabiam que a Gemialidades Weasley oferece um Serviço de Encomenda Coruja? – a lojista surgiu atrás deles com catálogos em mãos – E ainda envia-

– Clara, o que você está cochichando para eles? – perguntou a professora também surgindo do nada.

– Nada, Esmeralda, amiga. Vai ver a sua aluna, deixe-me trabalhar.

A professora pôs as mãos nos quadris, endureceu a expressão e disse:

– Não se esqueça que eu já trabalhei na Gemialidades Weasley, Clara. Eu sei muito bem o que você está oferecendo aos meninos.

E se afastou para avaliar as chamadas penas caneta-tinteiro a mostra, ainda que lançasse olhares desconfiados para a lojista.

– Continuando, meus queridos fregueses, a Gemialidades Weasley oferece um Serviço de Encomenda Coruja, onde entregamos nossos produtos camuflados de perfume, xarope para tosse, etc. assim não correrão o risco de ter suas encomendas confiscadas.

– Mas que ideia mais genial! – exclamou Sirius.

– Fiquem com os catálogos, dê dois para as suas amigas, e mandem uma coruja com um pedido quando puderem, ou simplesmente quiserem.

Ela entregou cinco catálogos e correu para se juntar a Prof.ª Harrison, onde começou a falar das vantagens das penas caneta-tinteiro e outras penas que ali tinha.

Animados, Tiago, Remo e Sirius ficaram vagando pela loja. Marcando no catálogo o que mais gostavam para comprar depois. Tiago e Sirius assinalaram quase as mesmas coisas, como o kit mata-aula, cremes de canário, caramelo incha-língua, os Fogos Espontâneos Weasley. Enquanto que Remo circulou a forca reciclável e a pena caneta-tinteiro.

Já passava das quatro da tarde quando Lílian finalmente se recuperou. Ela e Rute receberam de Remo um catálogo, cada uma. De início, Lílian criticou o kit mata-aulas que, segundo ela, incitava a desordem e a anarquia. Mas se interessou pelas penas e se encantou com os minipufes. Achando os cremes de canário e o caramelo incha-língua ideias muito divertidas. Rute gostou dos fogos e dos detonadores chamariz, se intrigando com as orelhas extensíveis.

O sol já estava baixo e Tiago brincava com uma forca reciclável, com Sirius e Remo. Quando a Prof.ª Harrison anunciou que voltariam para Hogwarts.

– G! – disse Tiago, com a esperança que a palavra fosse narigudo. Mas o homenzinho de madeira deu mais um passo em direção a forca.

– Crianças, está na hora de voltar, o diretor Longbottom acaba de solicitar nossa presença na sala dele.

Dissera a professora, também chamando a atenção das meninas que brincavam com os minipufes.

Lamentando o fim do passeio, Tiago seguiu a professora com os outros, até a carruagem que os esperava. Sempre comentando sobre as novidades que eles tinham encontrado, atravessaram a estrada de terra, seguindo até chegar aos pés das escadas da entrada, na carruagem. Apressados, pegaram o caminho mais rápido para o escritório do diretor. Subindo escadas secretas, atravessando passagens secretas e pegando atalhos. Até que chegaram de frente para a gárgula e subiram a escada circular para a antessala do diretor. A professora parou diante das portas duplas e bateu apressadamente.

– Pode entrar, Prof.ª Harrison. – o Prof. Longbottom permitiu.

Por fim, eles entraram. A professora abriu e segurou uma das portas para eles. E a fechou quando Rute entrou por último.

Tiago sentiu-se perturbado por encontrar Harry Potter ainda na sala. O homem o encarava como se visse um fantasma. Não só a ele como também a todos.

– Sentem-se, senhores. – o Prof. Longbottom indicou o jogo de sofás.

Eles o obedeceram, cada um se sentando com o seu amigo mais íntimo.

Com os cinco acomodados, e a professora sentada numa das cadeiras da mesa do diretor. O Prof. Longbottom começou:

– Eu e o Sr. Potter decidimos contar a verdade sobre as coisas a vocês. Mas não tudo de uma vez.

– O que isso significa? – perguntou Remo.

– Significa que eles nos contarão as coisas aos poucos. – disse Tiago.

– Mas isso também significa que eles poderão modificar algumas coisas. – Sirius desconfiou.

Longbottom riu.

– Não. Apenas significa que tentaremos protegê-los de sofrer algum tipo de colapso. Não sabemos até que ponto uma pessoa aguenta ao saber sobre o seu futuro.

– Lhe garanto que aguentamos. – disse Tiago. – Remo leu sobre a própria morte na estela, e ele está bem.

– Mas sofri muito. – Remo rebateu.

– Está do lado de quem?

Longbottom e Harry Potter riram.

– A verdade é que estamos preocupados com como e quando vocês obterão respostas para as suas perguntas. – disse o Harry Potter.

Tiago não desgrudou seus olhos do rosto do bruxo.

– Eu e Neville decidimos que seria melhor para vocês ficarem em Hogwarts como alunos normais. Que, por alguma razão, começaram a estudar em Hogwarts a partir do quarto ano. O problema é que faz parte do currículo do quarto ano partes da história bruxa relacionadas a vocês.

– Estamos nos livros de história da magia? – Lílian surpreendeu-se.

– Sim. Estão. E muitas dessas partes possuem revelações que eu gostaria de evitar que vocês soubessem antes de estarem preparados devidamente. Mas, sabendo que vocês acessaram informações chaves através da estela do saguão. Creio que o melhor seria responder às perguntas que vocês tem, relacionadas a ela. Então... podem perguntar.

Silêncio. Até que...

– Como eu morri?

– Você é meu filho?

Remo e Tiago perguntaram ao mesmo tempo.

– Nossa...

– Logo essas...

Gemeram Neville Longbottom e Harry Potter.

– Não se esqueça que o Remo também tem um filho – lembrou Sirius.

– O que, eu tenho? – espantou-se Remo.

– É, não viu na estela? Casado e pai de um filho.

– Menino – corrigiu-o Rute.

– É. Isso.

Eles encararam Harry Potter.

– E então? Vai nos explicar? – Tiago cobrou.

Longbottom e Harry Potter trocaram olhares. A professora aparentava estar tensa os observando.

– Começarei por você, Sr. Lupin. – disse Harry Potter.

Remo assentiu.

– A sua morte, para mim, é um tanto obscura. Você morreu durante uma batalha, onde muitos eram mortos por muitos. Nem sempre é possível identificar quem desferiu a maldição da morte em quem. Porém. Você morreu lutando ao lado de sua esposa. Que também morreu.

– O que? Deixei um filho sozinho?

– Não se preocupe. Ele foi criado pela avó. E eu, como padrinho dele, cuidei dele, também.

– Eu o escolhi como padrinho?

– Ei! E eu, aqui? – Sirius magoou-se.

– E eu? – Tiago fez o mesmo.

– Isso não importa, agora. – Harry Potter os interrompeu. – O que deve interessá-los, no momento é saberem as respostas das duas perguntas.

– E agora é a vez de responder a minha pergunta. – exigiu Tiago.

Dessa vez, uma sombra de preocupação passou pelos olhos de Harry Potter. Olhos extremamente verdes e estranhamente familiares, pensava Tiago.

– Você é o meu pai que por alguma razão obscura veio parar no ano de dois mil e vinte com apenas catorze anos.

A resposta o atingiu de tal forma que Tiago não conseguiu falar mais nada.

Era uma sensação muito estranha.

Ele os via discutirem, preocupados, sobre a sua saúde emocional, psicológica e mental. Para depois passarem a discutir sobre os materiais que eles deveriam receber para estudar. Os uniformes. E tudo o mais. Sempre lançando olhares de esguelha para verificar se ele despertara, ou estaria piorando.

Mas Tiago não absorveu aquelas informações como deveria. Sendo gravadas em algum lugar de seu cérebro para serem para sempre esquecidas. Não entendia por que aquilo o afetara tanto. Ele já sabia. Bom... suspeitava. Mas talvez não acreditasse.

Ele não acreditava na possibilidade. Mesmo com as brincadeiras e comentários sobre ele ser pai de Harry Potter, o herói que matou Voldemort, Tiago não acreditara. Mas aquelas palavras, proferidas com tanta simplicidade e sinceridade exerceram um impacto tão forte. Que Tiago parecia ter se desligado do mundo exterior por um tempo, até que toda a informação fosse processada corretamente.

– Eu sou seu pai? – finalmente disse, quando todos já se preparavam para se recolherem aos seus aposentos.

Harry Potter pareceu ter sido pego de surpresa. Que, desarmado, respondeu:

– Sim... você é meu pai...

Após mais um tempo de silêncio, com Tiago avaliando seus sentimentos, ele disse, por fim:

– Mas que sensação estranha... pai, aos catorze, de um homem adulto... isso é muito bizarro!

Neville Longbottom riu. Todos assumiram semblantes risonhos e mais relaxados.

– Se para você isso está estranho, imagine pra mim. – riu Harry Potter.

– E... quem seria sua mãe?

O bruxo herói parou de rir, ganhando uma coloração vermelha no rosto. Ele pigarreou para responder:

– Isso... eu prefiro esperar um pouco mais para lhe responder.

Tiago não gostou muito da resposta, mas achou que seria apenas isso que ele conseguiria do cara mais velho que bizarramente era seu filho. Portanto, disse cheio de marra:

– Eu aceito essa resposta por enquanto. Mas depois, eu vou querer saber com quem eu tive um filho.

Dessa vez todo mundo caiu na gargalhada.

– Disse alguma besteira? – perguntou Tiago, abobalhado.

– Prestou atenção no que você disse? – disse Sirius.

Então Tiago sentiu seu rosto queimar.

– Deixando isso de lado – disse Harry Potter – como veremos a questão das casas para eles? E os quartos?

– Como eles vieram do passado, imagino que não há problemas colocá-los nas casas em que já estavam. – respondeu Longbottom.

– Então eles vão ficar na Grifinória?

– Penso que seja o melhor.

– Ganhei mais cinco alunos pelos quais sou imediatamente responsável? – perguntou a Prof.ª Harrison.

– Sim.

– Ora, ouviram isso? – ela se voltou para Tiago e os outros abrindo um largo sorriso – Vocês são meus filhos agora.

Para então endurecer a expressão e acrescentar a seguir:

– O que significa que os repreenderei duramente se cometerem deliberadamente qualquer erro que seja. – então ela voltou a sorrir docemente – Espero que nos demos muito bem enquanto estiverem conosco.

Tiago trocou olhares confusos com Sirius. Mas a professora não tinha terminado. Assumindo o ar de um sargento ela mandou:

– Sete em ponto, hora de jantar.

Batendo as mãos, tocou, não só os cinco adolescentes como também o diretor e o herói de guerra Harry Potter, para fora da sala, em direção ao Salão Principal. Sempre dizendo:

– Vamos! Depressa! Estamos atrasados. Nós, britânicos, não ganhamos a fama de pontuais nos atrasando para o jantar. Então, andem. Andem! Andem! Andem!


No Salão Principal, eles saborearam uma refeição na mesa da Grifinória. Já que, por coincidência ou não, todos os oito, com a inclusão dos dois professores e de Harry Potter, são e foram da Grifinória. Comeram tortas, fritas, bolos de carne, e legumes assados ao fogo e beberam suco de abóbora. Para depois se satisfazerem com a sobremesa: gelatina, tortinhas de abóbora, entre outros.

Depois que se fartaram. A professora fez os seus novos alunos se recolherem na torre da Grifinória, enquanto o diretor Longbottom se despedia de Harry Potter.

– Se vocês forem pegos vagando pelos corredores escuros de Hogwarts, eu juro que os farei cumprir as piores detenções que Hogwarts já presenciou. Escrevam o que estou dizendo: sou criativa e sempre cumpro minhas promessas. – disse com o dedo em riste para eles, depois acrescentando com um sorriso amoroso no rosto – Seus pijamas foram lavados e colocados sobre as suas camas. Seus dormitórios são os do quarto ano. Os encontrarão facilmente. Tomem um banho. Escovem os dentes. E tenham uma boa noite de sono. Até amanhã, meus amores.

E saiu.

Mudos. Tiago e Sirius se viraram lentamente um para o outro. Com espanto, Sirius disse:

– Essa professora é louca.

– Mas muito divertida. – Tiago abriu um largo sorriso. Já pensando no desafio que a Prof.ª Harrison parecia representar para um maroto.

– Será muito difícil aprontar com ela por perto, não é? – sorriu Remo.

– Certamente ela os fará amadurecerem. – disse Lílian.

– Ela é uma ex-marota. Portanto, ela sabe o que esperar de um maroto. – Rute comentou.

– Como sabe que ela já foi uma marota? – perguntou Tiago.

– Na frente da loja Gemialidades Weasley. Ela falou de algumas peças que pregou quando aluna.

– Você lembra?

– Lembro.

– Hã...

– Que boa memória. – disse Sirius.

Rute abriu seu já conhecido sorriso misterioso. Bem o tipo que fazia todos temerem pelo que fazem perto dela.

– Espero que todos tenham uma boa noite de sono – disse ela, suavemente. – Estou indo dormir.

– Estou indo com você, Rute. – e Lílian subiu para o dormitório feminino com a amiga.

– Vamos também. Estou imensamente cansado. – disse Remo.

– Ei, Remo, já olhou a lua? – chamou Sirius, para a janela.

Tiago e Remo se juntaram a ele e entenderam logo o que ele queria dizer. A lua estava quase cheia. Estando muito próximo para ficar completa.

– Ah, não. E agora? O que faço? Falta muito pouco para a lua cheia. – desesperou-se Remo.

– Quando será?

– Parece que será amanhã, ou depois de amanhã. – disse Tiago.

Após um tempo de reflexão, Tiago finalmente disse:

– Vamos falar com o Prof. Longbottom.


Hogwarts vazia causava uma estranha sensação de solidão. Assim constatou Tiago quando andou pelos corredores vazios ainda iluminados do castelo. Se já fosse ano letivo, os corredores ainda estariam cheios de alunos retardatários correndo para as suas casas.

Apressados, e quase correndo, torcendo para não toparem com a zeladora, pois ela os faria perder tempo. Eles atravessaram todo o caminho até o sétimo andar. De frente para a gárgula, Tiago deu a senha. A gárgula saltou para o lado e eles subiram a escada para a antessala. Tiago bateu na porta.

Silêncio. E o Prof. Longbottom responde:

– Seria um dos meus novos alunos que se encontra aí fora?

– É... sim, professor... sou eu, Tiago. Sirius e Remo também estão comigo. Podemos entrar?

– A não ser que sejam dementadores querendo me pegar, podem entrar.

Tiago abriu a porta, então, e entrou. Sirius fechou a porta por ser o último a entrar.

– O que os fez vir até mim?

Tiago mordeu o lábio inferior e olhou para Remo. O amigo, nervosamente, deu um passo a frente e contou:

– É que... eu sou um lobisomem. Sofro de licantropia.

Se eles esperavam alguma reação do professor, certamente não foi essa:

– Ah! É verdade. Que bom que me lembraram.

– Ué? O senhor já sabia? – perguntou Tiago.

– Bem... é que o Sr. Lupin foi meu professor de DCAT quando eu cursava o meu terceiro ano. O melhor professor que já tivemos. E devo acrescentar que ele foi o meu terceiro professor em sete.

– Mas... aí ninguém deveria saber que tenho licantropia. Senão seria demitido a força pelos pais dos alunos.

– E isso foi segredo até nosso professor de poções – Longbottom lançou um olhar de esguelha para o retrato de Severo Snape, que voltara a fingir dormir em sua poltrona – espalhou esse segredo durante um jantar de fim de ano.

– O que? Ele sabe?

– Como ele soube?

– Sempre conseguimos despistá-lo, o que aconteceu?

– Não sei ao certo. – disse o professor – Talvez seja porque ele preparava a poção Mata-Cão.

– Poção Mata-Cão?

– Que poção é essa?

– Uma poção relativamente nova. Ela permite que o licantropo se transforme, mantendo sua mente humana. O transformando num lobo manso.

– Existe tal poção?

– Sim. Existe. E creio que o Prof. Slughorn poderá prepará-la com a mesma excelência de Severo Snape. Ele podia ser um professor aterrorizante, mas era um exímio preparador de poções. Não se preocupem, crianças. Vão dormir.

– Mas a transformação pode ser amanhã.

– Então pedirei ao Slughorn assim que saírem. E a nossa enfermeira poderá cuidar do senhor, Sr. Lupin. Portanto. Se acalmem e vão dormir. Creio que a Prof.ª Harrison não os perdoará com facilidade se os pegarem andando por aí.

Não vendo opção. Tiago, Sirius e Remo acataram ao pedido do professor. E saíram.


Tiveram a sorte de não encontrarem ninguém no caminho de volta. Nem professora. Nem zeladora. Nem Pirraça.

A senha foi dada a Mulher-Gorda por Tiago: rabo de gato. E Sirius comentou ao entrarem:

– Viram que incrível que o professor disse?

– Sim. A Poção Mata-Cão. – disse Remo maravilhado.

– Não. O Prof. Slughorn ainda está vivo e dando aulas!

Tiago riu até que viu Lílian Evans sentada na poltrona frente à lareira, onde o fogo recém-aceso queimava.

– Vamos dormir, Tiago? O dia foi muito agitado, estou morto. – disse Sirius.

– Vão na frente, alcanço vocês.

Remo e Sirius viram Lílian, trocaram olhares, deram de ombros e saíram.

Vendo-se sozinho. Tiago se aproximou de Lílian e se sentou no sofá ao lado da poltrona.

Tentou dizer alguma palavra de desculpa, mas não veio palavra alguma. Achou que seria fácil, mas não era. Ele detestara brigar com ela. Gritar com ela. Mas gritara. Odiara. Entretanto, ele tinha feito a besteira de brigar com ela... por nada. Ele queira pedir desculpas. Todavia, o seu estúpido orgulho não permitia. Ensaiou mentalmente o que deveria dizer. Porém sempre sentia seu rosto queimar. Seu coração acelerar. Suava frio. E agora? O que ele deveria fazer?

Ela tinha ficado triste o dia inteiro por causa de Tiago. Por causa da briga. Ela não era triste. Ela não vivia triste. Era uma das pessoas mais divertidas e engraçadas de Hogwarts. Uma das razões que fazia Tiago implicar tanto com ela. Ele a queria alegre de novo. Abriu a boca e se forçou a dizer:

– Er... eu queria...

Lílian o encarou, esperando.

– Eu queria dizer... que eu sinto muito... por ter gritado com você.

Finalmente.

Mas a pior parte foi esperar a garota dizer alguma coisa.

E por um tempo que Tiago achou longo demais. Ela não disse nada. Até que...

– Tudo bem.

– Tu-tudo bem?

– É. Tudo bem. E... acho que devo lhe pedir desculpas, também. Você estava nervoso... deveria ter entendido...

– É? Ah, bem... tudo bem...

Por um curto e estranho período de tempo, eles ficaram se encarando. Talvez esperando que um falasse mais alguma coisa. Talvez apenas olhando. Fosse qual fosse o motivo. Eles se encararam por um tempo. Até que Lílian desviou o olhar. E disse:

– Consegue acreditar em nossa... atual situação?

– O- o que? Estamos conversando sem você me chamar de imaturo?

– Ah, não – disse ela risonha – mas da nossa situação. Estamos no futuro. São quarenta e um anos de diferença. Se alguém me contasse que isso aconteceu com ele, eu o chamaria de louco.

– Pior que eu penso igual. Quarenta anos no futuro?

– Quarenta e um.

– É. Isso.

O silêncio caiu sobre eles novamente enquanto observavam o fogo. Até que Tiago, curioso, perguntou a Lílian:

– E é por isso que você está aqui embaixo? Está tentando acreditar?

Ela o encarou nos olhos para responder:

–É... acertou... estou tentando acreditar... puxa... o Sev... ele morreu... tentei perguntar ao... Harry Potter, querendo saber como o meu melhor-amigo morreu, quando você estava naquele estado catatônico, sabe? E...

– O que... ele respondeu?

– Disse que ainda não estou pronta para saber. Acho que ele só estava me enrolando. Mas... deixa isso pra lá – ela se levantou – Está na hora de dormir. Então... boa noite...

E subiu a escada para o dormitório feminino.

Ponderando as informações. Pensando com os seus botões. Tiago ficou um tempo na sala, até decidir subir. Logo encontrou o dormitório indicado pela Prof.ª Harrison. Uma placa sobre a porta dizia alunos do quarto ano. Era um quarto diferente. Dois andares acima do que o antigo quarto de Tiago. Ao entrar, foi saudado pelo silêncio. Remo e Sirius já dormiam, duas camas estavam com as cortinas fechadas. Encontrou sua cama entre as camas de seus amigos, descobrindo seu pijama nela. Pegou-o e foi tomar um banho. Após quinze minutos de banho quente, Tiago se sentiu mais relaxado. Vestiu-se e foi se deitar.

Fechou as cortinas para impedir que a claridade da lua quase cheia o incomodasse. A posição de sua cama ficava de frente para a janela do quarto. Pensando no dia extraordinariamente fora do comum que tivera. Adormeceu.


Acordou com alguém abrindo sua cortina e a luz do sol ferindo seus olhos semifechados.

– Tiago, acorda! – Sirius o chamou.

Tiago teve vontade de espancá-lo. Tinha tido um sonho tão louco, que o perturbara a noite inteira, que ele não tinha nem vontade de sair da cama para poder descansar de verdade. Mal se importava com a detenção da McGonagall. Estava com dor de cabeça e queria descansar. Então, com raiva, pegou as cortinas e as fechou, gritando:

– Me deixe em paz! Eu quero dormir!

E se deitou.

– O que? São dez horas. Dormimos muito. – disse Remo, abrindo as cortinas.

Tiago fez um barulho semelhante ao de rosnado, ao enfiar o travesseiro na cara.

– Anda, Tiago,a Seleção é hoje, precisamos arrumar as nossas coisas.

– Seleção? Que Seleção? A Seleção foi a três dias.

Silêncio.

– Acho que ele acredita que ainda estamos em setenta e quatro. – disse Sirius, por fim.

– Bem... eu também custei a acreditar quando acordei. Mas aí eu encontrei os livros aos pés da cama. As edições de dois mil e vinte. Ainda não acreditando, coloquei o uniforme e tentei acordar vocês dois, mas vocês reclamaram de dor de cabeça, não quis discutir, também estava muito abatido. Então desci para tomar o café da manhã. Me encontrei com as meninas. Fomos juntos para o salão principal. E no salão Principal, encontramos a Prof.ª Harrison reclamando em bom e alto som com o Prof. Longbottom na mesa dos professores, que seu nome saíra Prof.ª “filho de Harry” por causa da pena-revisora velha que ela tinha. E que a pena-copiadora copiara o mesmo erro em todos os horários de aula, e que ela tinha que fazer tudo de novo, porque não tinha visto. Por causa dos cinco alunos do passado que eles não contaram que teriam que surgiram repentinamente no dia anterior.

Tiago acordou de vez. Sentou-se na cama e encarou Remo sem querer acreditar no que ouvira, mas acreditando.

– O que você disse? – perguntou.

– Ótimo, ele acordou.

– Dê uma olhada em seu novo material.

Então ele viu.

Em seu criado-mudo. Uma pilha de dez livros. Caldeirão. Telescópio. Balança. Frascos. Kit de poções. Penas e tinteiros. Vestes novas. Em fim. Tudo que um aluno bruxo de Hogwarts precisava para sobreviver um ano inteiro na escola.

– Vamos, vista-se.

– Como a Seleção será realizada as sete, creio que poderemos relaxar até lá. Daí colocamos os uniformes e nos misturamos aos alunos.

– Vamos. As meninas estão nos esperando para aproveitarmos o nosso último dia tranquilo.

Finalmente entendendo que tudo o que ele passara no dia anterior não fora sonho. Tiago bufou irritado. E se levantou. Pronto para começar um novo dia estranho.


Enquanto isso, a quilômetros de distância para o sul, no pequeno povoado de Hood, nos arredores da Floresta de Sherwood. Rua Maid Marian, número sete. No segundo quarto do último andar da casa de quatro andares. Naquela manhã do dia primeiro de setembro de dois mil e vinte. Alvo Severo Potter amarrou o cadarço de seu tênis. Pegou seu malão e a gaiola de sua coruja: Frigga. E desceu. Pronto para o início de seu quarto ano na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.


Continua...


No próximo capítulo:

A terceira geração entra em cena.

Quem são os novos alunos de Hogwarts?

Alvo reencontra seus velhos amigos e, em Hogwarts, descobre que terá novos colegas de turma.

Quem são Tiago Potier, Sirius Blake, Lílian Eva, Remo Luck e Rute Castles?

Descubra a resposta desta e de outras perguntas que você tem em mente lendo o próximo capítulo.

Que venhamos a nos encontrar novamente o quanto antes.


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Notas finais do capítulo

É... por hoje é só. Espero que tenham gostado. Não se esqueçam de dizer que parte mais gostaram. Onde eu melhor mandei bem. E de falar onde eu preciso melhorar.
O teclado do meu notebook parou de funcionar adequadamente. As teclas i, f, h e o traço que eu uso para começar as falas pararam de funcionar. Tive de conectar outro teclado ao notebook para poder escrever.
Uma informação irrelevante que eu achei valer a penas compartilhar com vocês.
Boa noite, bom dia e boa tarde para quem fica.