Zayn’s POV

- O que é isso? – perguntei para Sophie quando vi um caderno em sua mão.

- Meu caderno de desenho.

- Você gosta de desenhar? – perguntei a olhando admirado.

- Eu amo desenhar. – ela disse com os olhos brilhando.

- Sério? Eu também. – disse sorrindo. – Posso ver seus desenhos?

- Claro, tio.

Achei uma mesa e a sentei em uma cadeira, me sentando ao seu lado. Abri o caderno e arregalei meus olhos. Ela desenhava muito bem para a idade que tinha. Claro que não eram desenhos perfeitos, mas eram bonitos.

- Você desenha muito bem, Sophie. – falei e ela sorriu.

- Brigada tio, mas não se compara aos desenhos da mamãe.

- Ela ainda desenha? – perguntei incrédulo.

- Só de vez em quando, mas ela nunca me deixa ver um dos cadernos dela.

- Um dos cadernos? Como assim? – perguntei confuso.

- Tem um caderno que ela faz desenhos meus, de paisagens, meu e dela, entre outras coisas. E tem um caderno que é como se fosse um diário dela. Pelo menos é o que eu acho.

- Você sabe onde está esse caderno? – perguntei com segundas intenções.

- Exatamente eu não sei, mas com certeza está em lugares altos, onde eu não alcanço.

Mia só desenhava quando estava feliz ou triste. Provavelmente esse caderno secreto era de lembranças. Desenhos de nós dois juntos, nos divertindo e sendo felizes.

- Oi minha linda. – Louis chegou dando um beijo na bochecha de Sophie.

- Oi tio Louis. – ela o abraçou.

Louis ficava todo mole quando o assunto é criança. Seria um ótimo pai. Acho que eu também seria. Ou não?

- De quem é esse caderno? – Louis falou pegando o caderno de minha mão.

- É meu. – Sophie disse com um sorriso enorme.

- Você desenha muito bem, pequena. – ele disse fazendo um carinho nos cabelos dela.

- Obrigada. – ela sorriu novamente. Que educação invejável. Tenho que dar os parabéns para Mia.

Louis ficou conversando com Sophie sobre os desenhos dela enquanto eu viajava em meus pensamentos. De repente um me atingiu em cheio. Quem é o pai de Sophie? Você deve estar me achando um completo idiota por só pensar nisso agora, mas fazer o que se eu sou lerdo? Ok, aquilo tinha me intrigado muito. Será que a Mia teria me traído? Ou ela dormiu com o primeiro que viu pela frente depois de eu terminar com ela?

- Tio, o que a mamãe tem? – Sophie perguntou, interrompendo meus pensamentos malucos.

Louis a olhou com preocupação. Eu o encarava e ele percebeu. Louis desviou o olhar dela, passando pelo meu. Pude perceber que alguma coisa estava errada com ela.

- São só exames de rotina, minha linda. – ele falou tentando parecer o mais verdadeiro possível.

- Sophie, vamos ver o tio Harry? – falei a pegando no colo e olhando para Louis.

- Eu posso brincar com os cabelos dele? – ela disse e eu ri.

- Pode sim.

A entreguei para Harry e arrastei Louis para um canto onde só eu e ele pudéssemos conversar.

- O que ela tem? – minha voz saiu meio trêmula. Merda.

- E-eu não s-sei. – se entregou. Gaguejou mentiu.

- Fala logo a verdade, Louis. – eu disse com a mão já em sua camisa, o encostando na parede. Desde quando eu fico tão nervoso assim?

- A anemia dela está forte novamente. – ele disse suspirando derrotado. Mas não era só aquilo.

- O quê mais?

- Ela não está nada bem. Essa é a verdade. – Louis encarava o chão.

- M-mas ela parecia tão bem... – falei o soltando.

- Ela sempre parece bem. – ele riu sem humor. – Qual é Zayn, você sabe muito bem que ela pode estar morrendo por dentro, mas por fora está com um puta sorriso no rosto.

Isso era verdade. Mia odiava chorar, preferia rir a falar que estava sofrendo. Mas como sempre, seus olhos não mentiam. Quando ela sentia saudade dos pais e da irmã, sempre cantava e via comédia, só para não chorar.

- Ela está muito mal? – perguntei olhando para o chão.

- Acredite, se ela estivesse bem não estaria em Londres.

Aquilo fez meu coração doer, como se tivesse levado uma facada. Era por minha causa que ela sumiu, por minha causa que ela foi embora de Londres. Se ela soubesse o quanto eu me arrependo disso até hoje...

- Você ainda gosta dela? – Louis perguntou baixo, como se fosse proibido falar aquilo.

Eu não disse nada, apenas olhei o nada. Eu não gostava dela. Eu a amava. Muito. Encostei na parede e deixei meu corpo cair até o chão. Abracei minhas pernas e escondi minha cabeça. Era muita coisa para assimilar em muito pouco tempo.

- Eu a amo. – disse em um sussurro tão baixo que duvidei que Louis tivesse ouvido. Mas sei que ele ouviu.

Senti três tapinhas em meus ombros e passos se afastando. Louis entendeu que eu precisava de um tempo sozinho. Vários pensamentos de culpa me bombardeavam. E pensar que eu poderia estar do lado dela, a ajudando a passar por isso. Senti as lágrimas escorrendo por meu rosto. Ela é a única mulher por quem eu chorei e às vezes ainda choro. Não percebi que estava chorando tão forte até me pegar soluçando.

Não sei quanto tempo passei ali, mas sei que foi bastante. Eu ainda estava do mesmo jeito. Quem passasse por ali me acharia um louco, mas eu estava pouco me fodendo para o que os outros pensavam. Senti mãos acariciarem meus cabelos. Ergui a cabeça e me deparei com Sophie.

- Por que você está chorando, tio? – Sophie disse limpando minhas lágrimas delicadamente.

- Por nada, minha linda. – disse fungando.

- É claro que tem um motivo. – ela era persistente. – Pode falar tio, eu te ajudo a resolver seu problema. – eu ri com ela tentando me ajudar.

- É que eu fiz uma coisa muito ruim com uma pessoa e hoje eu me culpo muito por isso. – e nesse momento eu estou desabafando com uma criança de no máximo quatro anos.

- Mas eu tenho certeza que você pode corrigir seu erro. – ela sorriu pra mim.

Eu a abracei bem forte. Ela foi capaz de ascender uma chama de esperança em mim que ninguém tinha conseguido até agora. Ela retribuía meu abraço na mesma intensidade. Eu amaria tê-la como filha...